Quinta-feira, Julho 28, 2005

Countdown

Vivemos em uma contagem regressiva. O mundo é uma contagem regressiva. Nossa vida é.

Então porque se preocupar, porque levar tudo com seriedade se, de fato, tudo vai acabar?

Aí está a questão: Por não sabermos quando vai acabar, quando a vida vai acabar, nos imaginamos imortais. Nos preocupamos com dinheiro, luxo, garantia e segurança, como se nunca fôssemos morrer.

Mas quando algo tão precioso quanto a vida vai acabar, e sabemos exatamente quando, deixamos de nos preocupar? Não, mas tentamos viver o tempo que nos resta, intensamente.

Dizemos tudo o que normalmente esperaríamos muito tempo para dizer; Mostramos o que não era para ser mostrado tão cedo; e amamos. Amamos, porque se não o fizermos, não teremos, talvez, outra chance.

É possível viver uma vida em dois dias?

O tempo nos consome. O tempo nos ensina. O tempo nos faz sofrer.

Mas esse tempo, esse mesmo tempo que agora tira o que é tão especial, irá trazer de volta, para renascer, acabar, destruir, ou simplesmente amar.

3 Comments:

At 30/7/05 09:26, Cibele Alemar said...

Vai ai um texto meu. Acho que estavamos pensando no mesmo assunto, porem atraves de angulos divergentes.

La vai... Bjos.

Todos estão me olhando, é como se estas pessoas vissem em meus olhos uma sombra de medo, de duvida... A brisa que sopra leve, já não refresca este corpo que insiste em perecer ao tempo e a lagrima que cai em meus olhos, ainda é a mesma, carrega uma antiga magoa que o calendário não desmarcou. As gotas que começam a cair, tentam lavar esta alma que aos poucos se deixou manchar, que o tempo sublinhou em questão de dias e que agora se torna cada vez mais amarelada, empoeirada, quase que negra.
Os olhos estão cerrando e o sentimento de culpa, de fraqueza, inunda todo o ambiente. É agonizante aos olhos de quem assiste a cena e, desesperador a alma de quem a vive. Talvez neste exato momento, seja a minha chance de relembrar o quanto pude e quis fazer por todos aqueles que um dia se orgulharam de mim, ou por aqueles que se apoiaram em mim, ou tudo o que pude fazer e não fiz seja lá por quem for. Este é o momento de julgar o quão inútil foi esta passagem, o quanto acumulei de bagagem e quanto ela será útil àqueles que estão ficando. Estou pensando em um epitáfio, o instante é apropriado. Talvez seja... “Eis uma alma que não se contentou com o que aprendeu”. É... Se parece comigo.
Porque? Agora estou pensando e vejo que realmente não me contentou a vida, ela não fez de mim um alguém importante, daqueles que marcam passagem. Eu fui mais uma e isto me revolta, me causa nojo, de mim mesma, por não ter conseguido tudo o que quis e por não me satisfazer com o que tive. Sonhei com um mundo só meu, com concepções minhas e conquistas minhas. Não vivi em paz, acho que não lutei o bastante, ou melhor, travei uma guerra minha, onde eu não ganhei de mim, eu não resisti àquilo que fizeram de mim, eu só queria ser eu e, meu outro eu, insistiu em ser aquilo que desejaram, tudo o que foi imposto e ensinado como modo de vida. Estou lutando agora, pelo que sempre desprezei, a vida.
E se um dia alguém se lembrar de mim que seja com repulsa, com desprezo, por que eu não fui nada do que eu acreditava, pelo contrario, vivi a contradição das minhas crenças, dos meus paradigmas, me pus a mercê de uma sociedade saturada de valores e princípios, imunda em conceitos de convívio e sobrevivência. Mas, felizmente aqui estou eu contemplando um momento único, não sei se considero feliz, acho que meu corpo tenta revertê-lo, apesar de minha alma apreciá-lo, o que importa é que me sinto bem.
Minhas vistas se embaçam cada vez mais e agora posso dizer que meu corpo vê a realidade que minha alma sempre enxergou, vejo que algumas pessoas choram sem saber o sentido da vida, outras lamentam a ida de um simples corpo que dias antes fazia parte da podridão da humanidade... Eles não sabem o quanto é melhor a desvinculação, a espiritualização de uma partícula que antes se encontrava jogada ao acaso em um enorme vácuo. Acho que está surgindo... Parece engraçado mas, não consigo pedir um pincel para gravar o epitáfio, ainda estou com a historia do epitáfio rondando a mente e acho que finalmente consegui resumir em algumas palavras o meu intervalo de vida, “Este é o ser desprezível que nasceu, cresceu, morreu e não viveu.” ‘Aqueles que gostarem, deixo como minha única herança valida e aqueles que não se tocaram deixo meus sinceros pêsames, pois certamente estão iludidos com a vida.

 
At 30/7/05 19:17, Christian Gurtner said...

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At 31/7/05 00:49, Christian Gurtner said...

Pelo menos uma pessoa que vai gostar do meu romance. Se não da trama, das idéias.

"Iludidos com a vida" .. resume tudo. Aonde a sociedade vai chegar? Lugar nenhum. Estamos no fim de uma estrutura que não deu certo.

Obrigado pelo texto, Cibele. Diz tudo para uns, e nada para outros. Creio que é exatamente aí o cerne do que você escreveu.

Bjos

 

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