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COELHO DE MORAES

Áte é um termo grego antigo e quando falamos de Grécia, - Hélade, - nos vem à memória o Teatro e suas manifestações em comedia, tragédia: dramas constantes.  

Áte está presente em Homero, ou na coleção de compiladores que seguiram o aedo, ou ainda na coleção de pessoas que recebeu esse nome de Homero, e Áte é, em geral designado como conduta imprudente e inexplicável, dando a parecer que o herói não sabe o que faz, quando, pula do abismo ou se joga nas águas mortais, para a outro salvar...  sem qualquer referência explícita à intervenção divina; espécie de loucura ou obscurecimento do estado normal da consciência que permite não pensar duas vezes ou deixar que os instintos mais profundos determinem a conduta.

Parando para colocar a cabeça em ordem vemos ai o ator ou atriz sobre o palco no momento da sua arte. Áte com Arete e temos a virtude da arte teatral na multiplicação da tragédia.

No entanto, Áte é  quase sempre palavra traduzida por desgraça, ruína, ou simplesmente tragédia no mau sentido; é termo recorrente nos textos trágicos, lembrando que se dá  tragédia quando o herói se vê frente ao inexorável sem poder fugir de seu destino e sabendo que o seu fim se aproxima ainda assim não foge do que tem que fazer.

Tomemos Lacan, agora, e quando falamos de atriz e ator devemos falar de psicanálise. Ou pelo menos devemos falar de inconsciente e suas urdiduras.  Usemos outra tradução para Áte:  "Essa é uma palavra insubstituível. Ela designa o limite que a vida humana não poderia transpor por muito tempo. Talvez ai o campo de ação do herói. Não se é herói impunentemente e nem todo mundo nasceu para isso. Uma vez transposto tal limite, - e esse é um movimento que se impõe à personagem –, sobrevém o caráter, a um só tempo, enigmático e desumano. Desumano no sentido de não civilizado, de cru.

E nesse contexto o teatro se faz Política e ação pratica na polis. Enquanto no palco se desenvolve uma dramaturgia que  apresenta-se desprovida de qualquer referência que possa assegurar orientação entre o bem e o mal, temos, em paralelo, o o caos bem orientado pela ordem (cosmos?) da justiça munida de razão política, que não sustenta por muito tempo o discernimento do seu próprio gesto. Agindo na peça o ator sofre a tragédia de saber que pode morrer naquele papel, pois as forças sociais, que se arbitram detentoras da lei suprema,  o pressionarão de alguma forma, mas atriz e ou ator  agirão assim mesmo. A lamina está pendente e mesmo assim a vitima cope no carrasco. A peça durará duas horas. O sociedade pode ter sido afrontada. Muita gente vai assistir a peça pelo entretenimento, mas não percebe que foi plantado o ovo da serpente.  

Lembremos de Antígona. Ela não está aí para demandar, lutar ou argumentar em favor de nada. Coloca-se, de saída, como morta entre os vivos, para quem o fim já está consumado, como algo necessário e definitivo. Tragédia. A atriz que a representa faz renascer o problema a cada dia desde 2500 anos atrás. Resistência. Teatro. Por mais bobinho que seja sempre será alguém na pele do Outro.

E entre atrizes e atores e gentes de teatro a  questão da morte comporta desdobramentos na  discussão sobre  tragédia.

Tomemos a passagem da obra de Sade em que fala da existência da MORTE-EM-VIDA e advoga contra a naturalidade do crime. A morte da atriz e dos atores, em favor da personagem, constituem o signo capaz de distingui-los de  mero animal; tal é o gesto sagrado e dionisíaco que será capaz de humanizá-los e eternizá-los na memória da platéia. Esta  MORTE-EM-VIDA é o que se trata de evitar no dia a dia das pessoas, mas é o que mais se exercita, - a morte do simbólico. É preciso consentir na própria morte.

Há a pulsão de morte e a influência de certa filosofia que propaga os limites do ser como SER-PARA-A-MORTE (Heidegger). SER-PARA-A-MORTE é o que é próprio para atores e atrizes, na ocultação de si no palco. Sob máscaras. É a barreira que se impõe à ordem simbólica; a solução trágica, de enfatizar um ponto que não admite qualquer conciliação.

Atrizes e atores são tomados como expressão  autêntica de postura conseqüente, que mantém estreito vínculo entre o desejo e a morte: representação do  puro desejo de morte. Lacan novamente.

Será isso impasse? A vertente trágica do desejo? A vertente trágica  passível de receber outro tratamento através de investigação acerca da comédia?

Da comédia poderá brotar o passe para a vida? A PULSÃO-DE-VIDA?

Mas, esse já é outro tema.