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No texto Considerações sobre o ataque histérico, de 1909, a definição de Freud da crise da histeria "como fantasias traduzidas em linguagem motora, projetadas sobre a motilidade e figuradas como pantomima", aponta para indicativos de teatro e drama e ação cênica. Freud era bem informado dessas coisas e não foi por menos que o complexo de Édipo adveio da peça grega.

Mesmo se a histeria é referida a um teatro da representação inconsciente, a idéia da representação não está ligada a uma representação mental mas a um teatro do corpo. O drama está no corpo, aparentemente, pois é justamente ele que aparece mais... em seguida vemos a expressão e a conjunção dos afetos. O corpo se move. O corpo dramatiza e carrega a atriz/ator, o corpo representa o drama da mente.  Representa um drama natural, uma experiência real ou uma invenção baseada em outras experiências que já se viu?

Lembramos que a palavra Histeros significa útero. Será a histeria uma experiência feminina de todos os tempos para presentificar o corpo e seu desejo, num época em que a mulher era de somenos e não podia estar em cena? E, o que podemos falar dos vários anos de nulidade da mulher?  mesmo no teatro ela desaparecia por homens/atores que se travestiam para darem voz a elas,  parcela da comunidade grega que não tinha voz alguma?  

A experiência plástica do gozo na histeria remeteria mais à dimensão da presentificação, estar ali, estar presente, mostrar o corpo, ocupar espaço, ser reconhecida e vista; em oposição  a isso temos  à da representação, onde se fala pelo outro, mostra a figura do ausente, age ‘de acordo com’ mesmo  não sendo ou sabendo como o outro funciona. O outro é sempre o lado de onde eu sou visto. De mim é o Outro quem fala.  E,  em tudo se pode ver a representação mas exemplificamos:  na filosofia (representação mental consciente),  ou mesmo na lingüística estrutural (representação inconsciente).

Schneider diz do fascínio pela razão estrutural.  Priorizar a linguagem nas formações do inconsciente. Reduzir à ordem da natureza e do infra-humano, como a linguagem do sopro e do grito. Gritos primais. Gritos tribais. Celebrações a Baco.

O psicanalítico privilegia a interpretação da histeria como teatro da representação inconsciente que foi recalcada. Atriz e ator serão recalcados ou desrecalcadores? Cabe à atriz/ator buscar no seu subconsciente essas fontes e expor... por assim dizer... histericamente. O homem não tem útero... como fará? Será que a mulher, em seus princípios, mesmo tendo deusas e mães divinas em ação, tenha sido expulsa das representações por ser a mais apta em terrenos de histeria? Na experiência teatral podemos expor o  consciente do recalcado, mediante estudos?

David-Ménard, outro estudioso, formula a noção de atualidade da pulsão, reportando-se à definição de Freud na carta 52 a Fliess que cito aqui: "Um ataque histérico não se constitui somente como uma descarga, mas como uma ação – drama -  que conserva a característica inerente de toda ação: ser um modo de se obter prazer."

Subir ao palco, exibir-se, mostrar-se, expor-se é uma conduta ligada ao desejo intelectual ou se reporta à busca de prazer?  Talvez não como representação do desejo inconsciente e sim como atualização do erotismo com o próprio corpo: atos masturbatórios através da palavra ou do teatro físico; o histérico coloca o objeto do seu desejo como se ele estivesse lá. Fé cênica. Nessa atualização, presentificação sem interpretação, aquilo que é como é, coexiste a dimensão do movimento - da motricidade, do drama - e de um prazer presentificado. O corpo presentificado no palco, e, a presentificação do prazer no corpo. Para o conceito de DRAMA peço que leiam Junito Brandão.

Mas temos mais questões:  A histeria presentifica com o corpo erógeno seu desejo?  O corpo todo é zona erógena. A crise histérica é apelo, uma cena endereçada ao Outro? A platéia é o Outro que receberá a mensagem e a regurgitará em aplausos ou vaias? Poderá a platéia agir a favor ou contra?  A platéia sentada em sua cadeira moderna tem permissão para agir ou será simplesmente passiva/receptiva? O que muda nela, então?

Deleuze e Guattari, no Anti-Édipo, tomaram  linha de fuga em relação ao corpo erógeno da histeria - privilegiando a formulação do corpo sem órgãos de Artaud. Deleuze associa o corpo sem órgãos de Artaud ao corpo da histeria que eu cito: "Há muita aproximação ambígua na vida, do corpo sem órgãos, o álcool, a droga, a esquizofrenia (...) mas a realidade viva deste corpo podemos nomeá-la de histeria e em que sentido?" (DELEUZE, 1984, p.34).

Reportemos ao quadro da histeria que se forma no século XIX: contraturas e paralisias, hiperestesias, fenômenos de precipitação sempre alternantes e migrantes. O discurso freudiano cartografa esse corpo máquina desejante.  As experiências de Charcot se davam com mulheres e sempre elas davam seus espetáculos teatrais de presentificação de corpo e de prazer.

O sintoma histérico tem a ver com afetos e não com organismos.  

Atriz e ator que estudam a matéria trabalham com seus afetos? Ou serão apenas mímicos de formas e elasticidades pré-programadas nos ensaios? Será isso lícito?  O improviso sobre o tema terá peso maior na presentificação de corpos e afetos?