Entre a lucidez e a insensatez

Uma coisa é fato, o ator vive entre a lucidez e a insensatez, ora porque necessita ter a clareza de idéias para escolher um bom texto, ora porque precisa se jogar sem receios para fazer uma boa interpretação.

Não sei precisar qual se sobressai sobre qual, mas o certo é que em cena, a insensatez tem e deve pesar bem mais que a lucidez, pois um ator não pode ter vergonha, preconceitos e pudores, há de se colocar a disposição de seu personagem e deixá-lo fluir sem medo, não cabe ali nenhuma racionalidade.

É certo que para a sociedade, de um modo geral, o ator é muito mais um insensato do que um lúcido. Que seja... mas, o cidadão comum, jamais terá a coragem de se colocar como uma estátua viva em meio a uma avenida movimentada, ou de subir num palco travestido de mulher, ou se expor sem receios do que lhe possa acontecer quando de uma apresentação. Só os loucos são capazes!

Todos tolos! Mal sabe essa sociedade, que a lucidez de um ator é capaz de perceber e realizar bem mais do que qualquer cidadão comum, pois a visão de um ator sobre o mundo e a humanidade é muito mais ampla e lhe faz entender com maior clareza, as agruras e mazelas desse mundo. Só os lúcidos são capazes!

Na dúvida, acho que todo ator deve optar em ser muito mais um insensato do que um lúcido, aliás, o lugar comum é muito chato, não é mesmo? E, além do mais, a loucura do ator serve para distrair e/ou comover os cidadãos comuns dessa sociedade. Ah, se não fosse a loucura do ator...

Que todo ator seja cinqüenta por cento lúcido e cinqüenta por cento insensato, mas que sobre um palco, a lucidez de um ator seja deixada de lado e ele se acometa de toda a insensatez que for capaz, para que possa mostrar através de sua loucura, o quanto é necessário ser tão lúcido.