A Incômoda Reflexão

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O riso é o melhor recurso para a descontração. Rir é bom, rir é gostoso. Evidente, então, que a platéia prefira ir ao teatro para dar boas gargalhadas. Ninguém em sua sã consciência (e vacinado!) escolhe passar a vida chorando. Bem, pelo menos quase ninguém! Há sempre alguma exceção sisuda por aí maldizendo a si mesmo e ao mundo.

Neste contexto a comédia se mostra como uma opção mais eficiente de casa cheia. O caminho mais curto para o sucesso é fazer rir. Situações estapafúrdias e personagens caricaturais são ingredientes indispensáveis de uma boa peça cômica.

O público quer exorcizar seu tédio e a melancolia, sair do teatro mais leve, de bem com a vida... Para cair novamente neste mundo monótono, que poucas perspectivas oferece para a vida que se deseja viver mas não se consegue. Muitos obstáculos se erguem entre nós e os nossos sonhos. Infelizmente a comédia é incapaz de abordar nossa existência com profundidade.

O riso, para se efetivar, exige do espectador que expulse de sua mente o mundo real e mergulhe num mundo menos sombrio. Um mundo em que não identifique no palco os problemas que lhe causam angústia. E ali, na platéia, não seja uma presa de suas frustrações. Se a comédia, mesmo assim, se disponha a abordar alguma questão espinhosa, fará de forma que a descaracterize, para proporcionar o riso. Mas não faz por demérito, é que simplesmente esta é a sua essência: fazer rir. E rimos do que não sofremos na pele. Um exemplo: faça uma piada a um presidiário, insinuando que ele só vai sair da cadeia daqui a dez mil anos. Ele não vai achar graça alguma.

Agora, cabe ao drama apresentar um mundo, digamos, mais "redondo". O nosso mundo. Com o pé no chão e o céu, muitas vezes, nublado. Prescindindo do que, na comédia, é quase uma imposição: o final feliz. E quanto mais pautado na realidade, melhor. Que seus personagens sejam convincentes a ponto de tocar o expectador a fundo, esse é o seu grande intento. As suas dores, as nossas dores; As suas esperanças, as nossas também. Mesmo que em contextos diferentes, mas despertando o mesmo germe da emoção e do sentimento inerente a todo ser humano.

Em todas as suas matizes - Alegria, tristeza, ódio, dor, etc - o drama toca e abre as portas para a reflexão. Um processo que pode não ser tão agradável. Cutucar nossos conceitos e os ranços que herdamos pode ser doloroso. Mas é um dos passos fundamentais para uma consciência maior do mundo e de nós mesmos. E o drama se presta a isso.