A descentralização dos incentivos

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Não é de hoje que essa questão dos incentivos culturais causa divergências. Cada vez mais tem ficado claro que esse método de incentivo que existe hoje em dia, está mais do que ultrapassado, pois sempre acaba beneficiando as pessoas que já estão na mídia, quando deveria contemplar justamente os que estão fora dela.

Não cabe aqui discutir a questão do talento do artista ou da importância e relevância do projeto, a questão é o método centralizador que acaba naturalmente selecionando os que têm mais mídia, e por conseguinte, dão maior visibilidade aos patrocinadores.

Os artistas dos grandes centros acabam se beneficiando em detrimento  dos artistas que moram em regiões mais afastadas. Ou será que não existe nenhum projeto que mereça um incentivo longe das capitais? O que acontece é que não é viável para que nenhuma empresa investir num projeto de um "Zé" qualquer. Qual retorno ele lhe traria? Mas a Lei não é para beneficiar o artista? Ou só os famosos é que são artistas de verdade?

Os próprios métodos de incentivos culturais lançados pelos governos, de certa forma, também são bem centralizadores e é claro, acabam beneficiando os artistas das grandes cidades. Mais uma vez, quero deixar claro aqui, que não se trata de uma questão de talento, que isso fique bem claro. A questão é a captação dos incentivos que acabou se desviando no caminho.

Acho que a regionalização poderia contribuir bastante para diminuir as desigualdades nesta questão. Digamos que o governo de um Estado ou até mesmo o Governo Federal lance um edital de incentivo, a subdivisão em microregiões, contemplaria projetos de todos os cantos e não só de um lugar, e por conseguinte, acabaria contemplando artistas que estão muito longe da mídia.

Pois é o que acaba acontecendo quando os editais centralizam a participação de projetos, aqueles das grandes cidades acabam levando vantagem, até mesmo porque, as condições de quem mora nos grandes centros são completamente diferentes das de quem mora no interior.

Mais uma vez, desconsiderando a questão do talento, vejo que a descentralização dos incentivos passa por começar a premiar projetos de artistas novos, que realmente precisam de incentivos para tocarem seus projetos, pois os artistas que já dispõem da mídia são capazes de agregar patrocinadores que os auxiliem em seus projetos, já aquele "Zé", acaba sempre sendo relegado a um segundo ou terceiro plano e tendo que arcar com suas próprias forças, os projetos que deseja montar.

O fato é que essa Lei de incentivos que está em vigor, acaba sempre premiando aquele que tem mais condições para tocar a sua arte, enquanto aqueles que realmente precisam de incentivos, têm de vender balinhas no sinal para tocarem seus projetos.