TÉDIO TEDIOSO

Não há nada pior que o tédio. A palavra em si mesma causa tédio, um leve "muxoxo", se é que se escreve assim. Me causa tédio ir ao dicionário pesquisar a correta grafia. Vou ao teatro e olho sempre ao meu redor. Busco me distanciar do espetáculo para tentar captar o sanguinolento tédio atacando os espectadores. A coisa é tão tediosa que muitos aplaudem e riem por puro tédio. Pura obrigação! Nada mais causa mais nada! Ouvi dizer que o homem atual só reagia a estímulos externos. Agora nem isso. Tudo causa tédio. Causa tédio saber da morte de Isabella; causa tédio saber que o Brasil não consegue cuidar da Amazônia; causa tédio essa crise infernal; causa tédio saber que uma nova novela vem aí; causa tédio saber que amanhã iremos acordar e começar tudo de novo. E sobretudo causa tédio escrever e até mesmo ler esse artigo. O tédio é uma praga que devemos combater com o mais potente dos pesticidas. Talvez a criatividade e o trabalho e bons pensamentos dêem cabo do tédio. Penso constantemente que porra podemos fazer pelo teatro para que ele seja cada vez menos tedioso. Creio que será uma tarefa árdua e constantante, um duro exercício para toda a vida.Digo isso para mim mesmo, quando tenho um exercício prático da faculdade, quando trabalho com atores, quando trabalho como ator para alguém. O mundo corre com uma urgência urgentíssima! O teatro deve acompanhar esse ritmo. Claro, sabemos que teatro é uma arte diferente, é cênica, é ao vivo, é pulsante, seus elementos formadores são imensamente complexos, ali é tudo artesanal, é massa humana de modelar e que toma forma ao vivo aos olhos de todos, mas o tédio faz com que essa forma se torne disforme, derreta e vire um pastiche de si mesma. Algo podre no sentido ruim da coisa. Pois o podre interessa muito ao teatro. Mas a podridão do tédio, das pessoas olhando o relógio, olhando para os lados, esticando os músculos do pescoço não acotece nem mesmo num filminho de Sessão da Tarde! E o teatro não precisa disso, mas de espectadores sedentos, ávidos e atentos.