Quem sabe o que criança quer?

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Adulto é mesmo presunçoso, pretensioso e se julga o dono da verdade, pois que lhes deu, ou dá o direito para dizer o que uma criança gosta ou não gosta de assistir no teatro? Quem lhes deu, o dá o direito de achar que esta ou aquela peça de teatro, ou que este ou aquele programa infantil de televisão, não serve para as crianças?

 

Em que lugar está escrito que criança não gosta de cenas de pastelão, de tombos e cacetadas? Existe alguma pesquisa feita com crianças afirmando isso? Eu, pelo menos, não conheço. Será que eles nunca viram como criança se diverte diante destas situações? Ou a simples recusa por tais situações reflete apenas uma visão presunçosa destes adultos?

 

Escrever para criança, não é fácil, e não há como negar isso, pois consiste justamente neste desafio, o de não ter a pretensão nenhuma de querer adivinhar o que uma criança quer ou não. É preciso pensar como criança, que curte a brincadeira sem se dá conta do que é certo ou errado. Agora me digam uma coisa: Que criança não ri até ficar com dor de barriga, quando vê uma outra criança se estatelando no chão?

 

Ou eu vivo em outro planeta, ou não reconheço mais o universo que vivo, onde minhas filhas se divertem com situações como estas. Aliás, aqui entre nós, qual o adulto que não racha o bico quando vê um outro igual, se estatelar no chão? Essa coisa de politicamente correto quer reinventar a criança, tanto, que até no Teatro Infantil, “estudiosos” condenam textos que tenham isso ou aquilo, ficam ditando regras do que é certo, ou errado, do que é bom ou mau. Quem tem de ter opinião sobre isso é a criança. Se o adulto gostar, muito que bem, senão, ombros pra ele.

 

Eu, quando vou escrever um texto infantil, tenho como público alvo, a criança e é a ela que tenho de conquistar, afinal de contas é sobre o universo dela que estou escrevendo. Jamais me preocupo qual vai ser a reação dos adultos e como eles vão receber o meu texto. Se a criança gostar, missão cumprida.

 

Tem um texto meu que ficou em cartaz anos atrás, que a crítica achava muito clichê, que alguns adultos não enxergavam nele algo construtivo, mas para surpresas destes adultos, as crianças que iam assistir ao espetáculo, suplicavam para que seus pais as levassem outras tantas vezes. Vê como é estranho o que é gostar, não é mesmo?

 

Por isso, e depois disso, não costumo dar ouvidos ao que os adultos falam sobre os meus textos infantis, ou sobre de como é que deve ser o texto infantil ideal. Para mim, o texto infantil ideal é o que a criança gosta, e não o que adulto quer. E ponto final.