É tempo de comédia

O teatro sempre foi marcado por fases, principalmente no Brasil. Houve a fase das grandes companhias, a fase das montagens dos clássicos, a fase dos ensaístas, a fase do engajamento político e social, e hoje, parece que estamos vivendo a fase das comédias.

A procura por textos de comédia é tanta, que está causando um problema típico de economia, a lei da oferta e da demanda. Há muitos mais atores procurando textos de comédia, do que textos de comédia disponíveis para montagens.

Não sei como e quando surgiu esse movimento que tem feito a procurar por comédia crescer dessa maneira. Talvez os últimos espetáculos do gênero que obtiveram enorme sucesso popular, tenham influenciado essa procura desenfreada, quase que desesperada, por textos de comédia.

O que tenho notado também, é que os atores querem textos de comédia de preferência com poucos personagens, cada vez mais descompromissados e seguindo uma linha muito mais para esquetes do que para o formato aristotélico do texto. A história é apenas um detalhe, o importante mesmo é que se faça rir.

Não sei qual a opinião dos acadêmicos sobre o tema, pois a comédia sempre foi um gênero meio que renegado, justamente por ter essa linha de descomprometimento com o conteúdo, mas há de se convir, que com o jeito que anda a vida, não há condições de agüentar uma, ou uma hora e meia de discussões filosóficas e existenciais em cima de um palco, não é mesmo?

Só em uma coisa eu tenho discordado nessa história de comédia. Acho que os textos deveriam manter uma linha mais aristotélica, explorando um conteúdo irônico, quem sabe, fazendo um humor mais politizado, usando o teatro como forma de escancarar o desmando, principalmente dos “Homens de Brasília”, e os atores, por sua vez, se preocuparem menos com textos do tipo “besteirol”.

Talvez essa nova fase do teatro, seguindo a linha dos espetáculos de comédia, possa contribuir com um novo momento em nossa cultura, usando a força do teatro para incomodar aquele espectador que ri sem parar, sentado em sua cadeira, e mostrar o quanto é cômica a tragédia de sua vida, e assim, quem sabe, com muito humor, dar uma chacoalhada na população.

Eu particularmente, enquanto dramaturgo, tenho procurado desenvolver muito mais textos cômicos, do que textos dramáticos, pois na minha opinião, acho muito mais prazeroso escrever e se deliciar com histórias leves e bem-humoradas, do que ter que conviver dias com aquele texto que retrata a vida na sua forma nua e crua.

E se o povo quer comédia, que seja então, um tempo de comédia, pois como diz o velho ditado: “rir é o melhor remédio!”