E a criança, como fica nesta história?

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Hoje não está nada fácil escrever um texto infantil, se já não bastasse toda a complexidade que é contar uma história para os pequenos, um outro problema vem contribuindo para essa dificuldade, a questão do politicamente correto. Mas, qual o politicamente correto? O meu, o seu, ou o da criança? Será que a criança não direito de enfrentar as situações adversas? Alguém perguntou para criança o que ela acha tudo isso?

 

Esse zelo exacerbado que chega às raias da neurose, está tornando o ofício de escrever histórias para crianças algo quase mecânico, pois nada pode. A inocência da criança que brinca com as situações que ela vivencia, está sendo fortemente vigiada. E, se já não bastasse toda a violência urbana que acabou empurrando as crianças para dentro das casas, querem decidir o que a criança pode ou não pode assistir.

 

A onda do “bom-mocismo” que tomou conta do país acabou extrapolando e tornando situações que outrora eram naturais, quase proibitivas. O que seria de Maurício de Souza se tivesse criado nos dias de hoje, “A Turma da Mônica”? Chamar um menino de “Cebolinha”, um outro de “Cascão” e uma menina de “Gorducha” e “Dentuça”, lhe decretaria o fracasso, jamais se tornaria o sucesso que é nos dias de hoje. Como tudo na vida, o excesso de preocupação, acabou criando um monstro, e querem que fechemos as crianças em redomas de vidros, distantes de todo e qualquer mal.

 

Será que tal atitude está fazendo bem para as crianças? Como elas poderão discernir o que é certo ou errado? E como elas vão saber se isso ou aquilo é certo ou não, se estão limitadas a aceitar apenas o que lhes é imposto como politicamente correto diante dos olhos de alguns? A sociedade está escrevendo um texto infantil com uma lição de moral no final. Algo muito ruim para criação do cidadão de amanhã.

 

Quando penso em escrever algum texto, contar alguma história infantil, sinto até um frio na espinha, pois sei que certamente enfrentarei muitos problemas, porque pra mim, criança é criança e tem de ser respeitada como um consumidor da minha literatura e do meu teatro e sempre falarei para ela, olhando nos olhos dela, e usando a sua linguagem. A única coisa que faço questão é de que a criança tenha a sua impressão sobre o que escrevi. Ela que vai dizer o que é certo ou errado, e não eu! Eu apenas lhe mostrei as situações.

 

Preocupações com a violência, com a educação, com as drogas e com tudo mais que cerca o universo infantil nos dias de hoje, eu também tenho, pois sou pai. Mas não posso querer esconder das minhas filhas, algo que a vida por certo lhes mostrará. E pintar o mundo de cor-de-rosa, querendo que só o bem faça parte, é utopia. A vida é feita do bem e do mal.

 

Por que será que os vilões fazem tanto sucesso? Porque os vilões é que tornam os heróis, exemplos para criançada. Impedir, esconder, disfarçar todo mal que há no mundo, não vai livrar a criança dos problemas. O melhor é deixar que os autores, usem a sua criatividade, abusem do lúdico e falem a língua da criança, colocando no papel, as situações comuns às crianças. Ou será que as crianças de hoje não tem mais apelidos?