O Ator Espírita

É engraçado quando ouço alguém dizer que incorpora a personagem, dá vontade de perguntar se a pessoa está participando de alguma sessão espírita, com todo o respeito que a religião espírita merece. O pejorativo aqui não é o espiritismo em si, e sim o ator, que quando diz incorporar a personagem, mostra claramente o grau de desconhecimento que tem sobre a personagem que vai interpretar.

Sempre é bom lembrar que teatro é a arte da ação, então, toda a ação pressupõe uma outra ação, que nos leva à outra ação, e é esse vai e vem de ações que move a personagem. Não sei se estão me entendendo? Vou dar um exemplo: Uma personagem sente uma enorme dor de barriga, o que a move é a dor de barriga, isso vai causá-la alguma sensação, que foi motivada por uma ação anterior, essas informações é que são fundamentais para se compor a personagem, não adianta ler no texto, se concentrar e incorporar a personagem, não é verdadeiro.

Tem também a turma dos atores sensitivos, que dizem compor a personagem pelo que eles sentem, a tal intuição, se é que vocês me entendem. É óbvio que não se pode levar a sério os atores que entendem interpretação como algo espírita, não é só chegar na hora de interpretar e deixar a personagem “baixar”.

Isso é muito sério, pois existem atores que acham que estão fazendo o seu melhor, que estão dando a sua verdade ao personagem. Mas, não existe a sua verdade, nem tão pouco a tal falada memória emotiva, a personagem é como um ser vivo que tem a sua própria história, os seus sentimentos, as suas emoções, as suas reações, enfim, a sua razão de ser, ela não é abstrata.

Cabe ao ator, estudar a personagem através do texto, e descobrir ali, as necessidades e as motivações para cada ação que a personagem vai viver, tudo tem uma justificativa, não existe a incorporação da personagem, isso é outra coisa, menos interpretação.

Como o próprio nome diz, interpretação, vem do verbo interpretar, que significa representar, logo então, interpretação é a representação, não é simples? Está aí, interpretar é representar para o público, de uma forma geral, as ações, emoções e reações de uma personagem. É mostrar do seu jeito e pelo seu entendimento, o que aquela personagem vê, sente e age. Interpretar portanto, não é incorporar.

Então, você que pretende ser ator ou atriz, repense o seu conceito sobre a arte da interpretação, pois o ator espírita nunca será um ator de verdade, porque nunca conhecerá a alma das personagens que interpreta. Tudo soará sempre artificial, como um ritual, chega-se ao teatro, espera-se o primeiro sinal e concentra-se, ao segundo sinal faz-se as orações, e ao terceiro sinal incorpora-se a personagem e pronto. Depois é só aguardar a abertura das cortinas.

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que precisa-se ter muito respeito com a religião espírita, que é quem tem de fato, os ensinamentos necessários que possibilitam incorporar alguém. Incorporar não é atuar e o ator de verdade, interpreta, não deixa a personagem “baixar”.