Teatro Infantil é coisa séria

Quando eu era criança adorava ver desenhos, mas o que eu gostava mesmo era do Sítio do Pica-Pau Amarelo, aquelas aventuras me fascinavam, pena que hoje já não tenho tempo para vê-los. Acho que veio daí meu gosto de escrever para o Teatro Infantil. Esse universo feito de muita imaginação, com certeza, lá no fundo, serviu de base para minha dramaturgia voltada ao público infantil.

É certo que não sou nenhuma assumida, não tenho tantos textos assim para o público infantil, são seis e estou terminando o sétimo, e ainda estou procurando melhorar a qualidade da narrativa, tentando aproximá-lo do que indicam os estudiosos no assunto, mas tudo é claro, sem perder a imaginação. Mas, isso é história para um outro dia. Hoje eu quero falar sobre o Teatro Infantil como espetáculo.

Em primeiro lugar, faz-se necessário separar as “pecinhas” que são apresentadas nas escolas, que servem apenas como complemento pedagógico, sem qualquer valor artístico e não podem ser consideradas Teatro Infantil, do espetáculo de Teatro Infantil propriamente dito. Feito essa separação, podemos então entrar no assunto.

Muitos fóruns e estudos têem sido feitos para melhorar a narrativa voltada ao público infantil, procurando tratar criança como espectadora de Teatro, e muitos já são os textos onde a narrativa deixou de ser baseada em lições de moral. Meio caminho andado. Mas, o que eu tenho ouvido é que o problema está na concepção do espetáculo infantil, que a forma de apresentação ainda padece de um mal. Então, como fazer Teatro Infantil?

Após alguns espetáculos, são vários os comentários que andei ouvido sobre o produto final apresentado. As pessoas que assistem espetáculos infantis, monstram-se sempre um pouco desconfortáveis com que que vêem. Existe um confusão muito grande de como fazer Teatro Infanil, e observando, detectei que há até uma classificação para alguns tipos de apresentações. Tem os espetáculos apresentados pelos “animadores de festas”, que estão mais preocupados em entreter a criança do que fazer Teatro. Tem os espetáculos que são apresentados pelos “contadores de histórias”, que sobem ao palco e ao invés de fazer Teatro, contam, contam, contam… e só! Acho o contador de histórias, hoje em dia, essencial para criança, mas o palco é para Teatro. Há ainda, os “infantilóides”, que comportam-se de uma maneira que nem criança é capaz de se portar. E para finalizar, há aqueles espetáculos que são baseados em muita gritaria e correria, a história é apenas um detalhe.

A mistura da imaginação, da fantasia, com a magia do espetáculo, somado a emoção de se apresentar em um palco, por certo, acaba influenciando no resultado final e muitas interpretações são comprometidas. Pode ser que a concepção não fosse bem aquela apresentada, mas os tipos de interpretações relatadas acima, de uma forma ou de outra, acabam contribuindo para um desdém maior sobre o Teatro Infantil, que fica sendo tratado sempre de forma pejorativa.

É preciso, ao preparar um espetáculo de Teatro Infantil, levar em conta que o trabalho necessita ser dobrado, a interpretação tem de ser verdadeira, não pode ser faz de conta. O Teatro Infantil é coisa muito séria e vai além de uma simples apresentação para crianças. E não basta caras e bocas e musiquinhas animadinhas para ter um espetáculo infantl.

Talvez esteja na hora de tratar o Teatro Infantil com a mesma seriedade com que se trata o Teatro para o público adulto, com muito responsabilidade e verdade no que se faz.

Uma notícia que me chegou dá conta que existem discussões a cerca de que é chegada a hora de incluir como matéria no currículo das escolas de formação de ator, a disciplina de Teatro Infantil, o que acho muito salutar. Quem sabe não comece por aí, um novo capítulo do Teatro Infantil?