Que atire a primeira pedra quem nunca fingiu!

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Eu já fingi. E você?
Duvido que não tenha fingido porque todo mundo fingi.
Aqui no trabalho mesmo tenho uma amiga que vive fingindo, só não sei como ela consegue fingir sempre. O tempo inteiro. E o pior é que todo mundo sabe disso. Ela mesma fala que fingi, que não arrega, que não admiti.
Na verdade eu finjo, você finge, nós fingimos, eles fingem. Que atire a primeira pedra quem nunca fingiu.
Aliás, estou há dias ensaiando este texto sobre o fingimento porque tem me incomodado como o ser humano tem se especializado na arte de fingir.
o Lula fingi que não sabe de nada. O Delúbio fingi que fez tudo sozinho.
Ela fingi que ainda o ama porque é uma acomodada eterna.
Ele fingi que é santo porque a namorada é pra casar e não perdoaria uma escapela que fosse.
Eu finjo que não fico brava com minha chefe nunca porque se ficar provavelmente serei demitida.
Você finge que é feliz só pra não ter que questionar muito.
Puta que pariu, como a gente fingi.
Não. Ele não vai voltar e portanto acho melhor você parar de fingir que ele foi embora só pra te agredir.
Ela não vai te ligar mais porque todo mundo sabe que ela está com outro. Chora mesmo, não precisa fingir que você está achando lindo só pra não admitir que o orgulho vai berrar socorro pra primeira que passar rebolando na sua frente de micro saia.
Grita, chora e esperneia. O orgulho berra, o cotovelo dói pra cacete e mesmo não parecendo, você não vai morrer disso. Acredite em quem já passou e sobreviveu…Não precisa fingir porque todo mundo chora, sofre e tem uma dor de ego. Todo mundo passa por uma situação chata, uma coisa desagradável, um acontecimento que parece ser o pior. Mas não passam de histórias que compõem, que agregam, que somam no resultado total de nosso amadurecimento pessoal.
E nem assim, sabendo disso, a gente pára de fingir.
Fingi que a comida tá ótima, que adora filme de terror só pra agradá-lo e fingi que suco de caju é seu preferido caso seja a única bebida oferecida pela sogra no primeiro encontro das duas.
Fingi que quer ir na balada dos amigos dele, que nem ligou que sua amiga esqueceu do seu aniversário, que não notou a falta do ficante adorável em sua festinha de confraternização de fim de ano entre amigos. Tudo pra não perder a pose, não parecer menor, não se submeter. Tem mulher que fingi orgasmo, tem homem que fingi amor. Tem criança que fingi dor de barriga pra não ir pra escola, tem gente que fingi no currículo que fala inglês só pra passar pela primeira fase das entrevistas.
Talvez porque a gente tenha dificuldade de admitir que perdemos, que fracassamos, que não pudermos ir tão além quanto pensávamos ou que simplesmente não tivemos oportunidade de aprender a fazer melhor. Talvez porque seja duro demais ter que gritar por aí: “Ok, eu estou arrependido de ter feito isso, fui um otário”!
Você sabe que ele quer dizer mas ele não diz. E você quer ouvir a qualquer preço.
Conclusão: você fingindo que nem notou ele não ter dito nada e ele fingindo que não percebeu que você quer ouvir.Assim a gente segue a vida louca, mandando scraps pelo orkut, entendendo cada vez mais o funcionamento do progresso,
querendo todo dia uma novidade tecnológica (porque chegamos num ponto onde não somos mais ninguém sem a tecnologia),
desejando que o outro nem perceba o quanto te magoaram.
Só pra a gente ser maior. Sempre. Como se ficar triste, chorar e sentir dor fosse sinal de inferioridade.
Pobres humanos somos nós. Realmente pobres.
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mail: taticavalcanti@uol.com.br