A desconfortável situação do teste

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Não importa se indicado, não indicado, experiente, novato,
seguro ou inseguro, todo mundo fica numa situação desconfortável quando
vai a um teste.

Primeiro porque isso mexe muito com o
ego da gente. Para começar a saga (pelo menos a minha, tá?) já fico
ansiosa para hora do teste. E o engraçado é que quanto mais ela se
aproxima menos eu quero ir. Na realidade é óbvio que quero ir mas fica
difícil admitir que a gente pode não pegar o trabalho e ficar com o ego
esmagado. Artista com essa coisa do ego é foda!

Segundo
porque nos sabemos rigorosamente avaliados. Naquele momento ou se faz
exatamente o que os orientadores querem ou perde-se. Ninguém quer saber
se você está num bom dia, num mal dia, whatever. Todo dia tem que ser
dia.A ante-sala dos testes (seja ela qual for) já não
favorece. Fica ali você, sentado, tirando a pelinha do canto da unha,
olhando pra nada; o loirinho do lado olhando fixamente pra sua própria
mochila; a nega bonita lendo todos os panfletos pendurados nos murais.
Ninguém se conhece. Todo mundo se sabe concorrente.
Eu, por exemplo, costumo me afastar das pessoas que estão tentando adivinhar do que o teste será composto. Eu me nego
a passar por especulações que me deixam ainda mais nervosa antes de um teste.
É
meio esquisito você tentar se enturmar com a galera na ante-sala de um
teste. Acho estranho puxar papo tipo: “E aí, você veio de onde?”, “Se
preparou para o teste?”, “Prazer, sua concorrente, Tatiana”. Não rola
para mim. Isso é pessoal, eu sei. Mas eu não consigo fazer rápidas
amizades quando estou nervosa.
Ambiente de teste pra mim é sempre meio sofredor apesar de já ter passado muito em teste!

Bom, passada a fase inicial do constrangimento entramos no teatro ou no estúdio.

Aí,
em alguns casos, todo mundo faz o teste junto. O orientador do teste
autoriza que todos subam ao palco, tirem seus sapatos e se coloquem num
círculo. O primeiro exercício será coletivo e ritmico. Por sequência,
passamos ao individual ritmico. Logo depois um coletivo de canto e mais
uma vez, um individual de canto.
- O foda do individual é que você sabe que, além dos orientadores do teste, existem seus concorrentes querendo que você
dê uma bela desafinada - . E todos te olham. Assim como você olha pra eles quando está esperando sua vez.
Passado
isso, um exercício corporal. O exercício exige bastante cuidado e
atenção. Tudo que eu não tenho. Mas sou disciplinada e quando subo num
palco eu me transformo, fico atenta e espertíssima.
No meio de um
dos testes o orientador chama a atenção de alguém que você achava que
estava arrasando. Aí você fica ainda mais insegura (por ter achado
errado), tremendo horrores e com vontade de mudar de idéia na hora. Mas
não dá mais tempo, você é persistente e vai ficar.
Você faz
sua parte tentando esquecer que está sob pressão, olhos e línguas
afiadas. Sob orientadores rigorosos, gente que tem 30 anos de
teatro. Ufa.
No resultado final, no frigir dos ovos, você passa
pelos testes até que tranquilamente. Acaba o teste, você respira e tem
certeza absoluta que exagerou na dose de agonia. Nem foi tão mal assim,
vai. E nem demorou tanto quanto achávamos que ia demorar, foi só 1:30
hs. Você já participou de leituras mais longas, fala aí.Quando passa a gente se acha talentoso.
Quando reprova a gente pensa em mudar de vida.
Quando chamam pro teste dá frio na barriga.
Quando não chamam a gente se frustra.
Vida dura essa de artista. Vida de gente iluminada.
Vida de teatro. Vida da gente.
Da gente que adora de paixão ser artista.