Vale tudo por um público?

Cada vez mais, as comédias escrachadas, os espetáculos chamados "besteirol", os "stand-up comedy" e coisas do tipo vão ganhando força e angariando cada vez mais público. É fato que o público de hoje em dia anda ávido por comédia, quer o riso fácil. Diz que de tristeza, basta a vida! Mas, será que vale tudo por um público?

Essa é uma dúvida que sempre pairará na hora de se produzir um espetáculo teatral. Optar por um clássico ou algo extremamente dramático ou partir para algo do tipo comédia da qual o público sempre estará disposto a assistir? Afinal de contas, é preciso garantir o leitinho das crianças, não é mesmo? Isso acaba pesado na hora da decisão de quem vive de arte. Que atire a primeira pedra, aquele que nunca teve de realizar um trabalho apenas pelo dinheiro, ignorando a qualidade artística do projeto.

Talvez, o ideal seria conseguir encontrar o equilíbrio e apresentar uma comédia que causasse o riso fácil e tivesse um texto com um pouco mais de profundidade, mas, nem sempre se encontra algo assim. Acontece que tem hora que é bem mais fácil ir na certa e garantir a bilheteria, porque tem vezes que desanima fazer apresentações com diálogos profundos e fazê-las para meia dúzia de gatos pingados.

O fato é que não cabe ficar aqui julgando que quem está certo é quem opta por apresentar comédias escrachadas ou quem prefere clássicos, teorias filosóficas e melodramas. A questão é saber se o artista está disposto a se "vender" para atender a vontade do público. Cada um deve saber o seu preço e o que quer do Teatro.

Por mais que muitos roguem pragas, desconjurem e queiram exorcizar aqueles que preferem " vender" a alma para o capitalismo selvagem, precisa-se medir sem preconceitos, o contexto do trabalho. Não é porque se trata de uma comédia, que não pode ser legal. Radicalismo não faz bem para nenhum dos lados.

É certo que essa questão causa e causará discussões infindáveis e que cada lado tentará mostrar a qualidade de sua arte, muito embora, todos sabemos que tem coisas por aí que chamam de arte, que pelo amor de Deus!... Mas isso é assunto pra depois.

O que não pode ser esquecido é que a opção também é do público. É ele quem está atrás das comédias escrachadas, dos "besteiróis", dos "stand-up comedy". O problema não é único e exclusivo do artista, talvez o público prefira mesmo "emburrecer" ou simplesmente se entreter sem maiores questionamentos e reflexôes.

A verdade sobre esse assunto é que os "don quixotes" do teatro continuarão correndo atrás dos seus moinhos de vento, alguns não tão radicais sobre essa questão, tentarão encontrar um meio termo e outros tantos, que pensam a arte como um simples produto de entretenimento, estarão sempre dispostos a venderem suas almas ao diabo, para poderem contar com o teatro entupido de gente.