Dramaturgia Infanto-Juvenil

Tatiana Belinky, Ricardo Gouveia, Gabriela Rabelo, Vladimir Capella, Cláudia Dalla Verde, Zeca Capellini, Ronaldo Ciambroni, Oscar von Pfhull. Silvia Ortoff, Ilo Krugli, Walmir Ayala, Olga Reverbel, Maria Clara Machado, sem sombra de dúvida, são grandes dramaturgos que dedicaram grande parte de suas vidas e obras ao público infanto-juvenil. Muitos já morreram, outros pararam de escrever e foram trilhar outros caminhos e meia dúzia deles ainda continuam escrevendo, de forma bissexta talvez, mas produzindo.

Desnecessário seria enfatizar que os textos geniais foram escritos até a década de 80 ou 90 talvez. Depois desse período houve - e ainda há - uma grande escassez de dramaturgos para essa faixa etária.

Podemos perceber pelos guias de teatro da cidade de São Paulo, além a escassez de textos, a escassez de espetáculos. E esses espetáculos – salvos raríssimas, raríssimas mesmo – exceções, não tem nada a dizer. É um amontoado de bobagens e só “ganham” o público infanto-juvenil pelos estonteantes cenários, figurinos, efeitos e uma belíssima iluminação, mas que não significam coisa alguma.

Sei muito bem da dificuldade de montar um espetáculo infanto-juvenil. Em vários teatros as montagens só podem ser apresentadas no proscênio para não desmontar o cenário do espetáculo adulto que se apresenta logo em seguida. Houve um tempo em que se anunciava: “Venham ver o espetáculo tal (infanto-juvenil) que será apresentado no cenário do espetáculo tal (adulto)”. É um absurdo e tanto, mas se não há remédio, o jeito é fazer dessa forma.

Os espetáculos infanto-juvenis da atualidade são impecáveis nos quesitos: figurinos, iluminação, cenários, sonoplastia, maquiagem, grandes efeitos cênicos, etc. Mas o texto, infelizmente, desapareceu. Stanislavski já dizia que “o texto é para o teatro o que o caroço é para o fruto”. Agora quando há o texto, infelizmente ele cai naquele didatismo tosco, naquelas moralidades repugnantes do politicamente correto e aquele dedinho em riste de algum adulto dizendo o que ele deve ou não deve fazer... Um horror!

Tatiana Belinky disse uma vez que o “politicamente correto” é uma grande bobagem. A criança/adolescente tem que passar por experiências transformadoras: rir, chorar, ter medo, claro que tudo na medida certa. Trata-se do teatro educativo-formativo. E é nesse teatro que eu acredito.

Por que os bons dramaturgos da atualidade que escrevem para o teatro adulto, não produzem pelo menos um ou dois textos por ano para o teatro infanto-juvenil? Claro que o empenho ao escrever esses textos tem que ser o mesmo empenho que emprega num texto adulto.

E por favor, dramaturgos que queiram se aventurar nessa empreitada, não subestimem a inteligência das crianças. Elas não são bobas. Ainda mais as de agora.

Infelizmente essa geração está perdendo uma etapa muito importante da infância. Estou cansado de ver crianças com roupinhas curtas, com o rostinho carregado de maquiagem e dançando funk no recreio da escola. É isso mesmo. Já presenciei essa cena em várias escolas que lecionei. Pra que essa erotização e banalização? Por que não brincar de amarelinha, pula-sela, esconde-esconde, pular corda e outros jogos típicos da idade? Por que não dar a oportunidade da criança ser e agir como criança?

Vladimir Capella escreveu e dirigiu espetáculos antológicos como “Panos e Lendas” e “Avoar”, compostos por jogos. Peguei carona na ideia e escrevi “Vamos Brincar de Roda?” nos mesmos moldes. E são espetáculos deliciosos para os atores e para o público, pois não estão restritos apenas a uma faixa etária. Trata-se do “teatro para todas as idades”, do bebê ao vovô. O ideal seria investir pesado nesse tipo de teatro.

Os contos de fadas perderam seu encanto? As histórias de fadas, bruxas, duendes, as peripécias de Pedro Malazartes, os contos de Grimm, as fábulas de Esopo estão ultrapassadas? Monteiro Lobato está “batido”?

São perguntas que nós, pais e educadores devemos nos fazer. Vamos retomar essas histórias. A TV, a Internet e outros meios de comunicação não mostrarão isso para as crianças. Então, cabe a nós fazer isso.

E retomo aqui uma frase de Stanislavski: “O Teatro para a criança deve ser igual ao do adulto, só que melhor.”. Fica o desafio para dramaturgos, pais e educadores. Se quisermos um mundo melhor, é preciso formar seres humanos melhores e mais dignos. E como diz o velho ditado: “é de pequeno que se torce o pepino”.