E o nosso folclore?

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Não há como negar a presença estrangeira em nossa vida, mesmo porque, somos um país miscigenado e essa mistura fez e faz parte do nosso povo. Acontece que essa presença acaba interferindo na moda, na música, na língua, nos hábitos e influenciando de tal forma, que até parece que as coisas deles são melhores do que as nossas. É claro que tenho a consciência que em muitas coisas eles são adiantados, quiçá até mesmo superiores, mas, sobrepor a sua cultura sobre a nossa, me deixa um pouco incomodado.

Tudo bem que em certos segmentos, principalmente o voltado para o público infantil, não temos como competir, pois falta produção cultural para tal. (Deixando claro aqui, o meu voto de louvor ao pessoal que faz a Turma da Mônica; O Cocoricó; O Sítio do Pica-Pau Amarelo; O Ratimbum). E com isso, os desenhos e série infanto-juvenis tomam conta da TV e ditam o comportamento da galerinha. Mas, com o tempo tenho certeza que a gente consegue chegar lá e assumir o mercado. É tudo uma questão de dinheiro.

O problema maior é ver as nossas crianças e jovens vibrando com lendas estrangeiras. Qualquer livro que fale de vampiros, zumbis, vende que é um absurdo. E ainda tem, as bruxas e bruxos e todo aquele frenesi em tempos de halloween. Já até criança batendo na porta do vizinho pedindo doces ou travessuras! E o nosso folclore?

Um país multicultural e de proporções continentais como o nosso, que possui uma infinidade de lendas, mitos e crendices (umas até desconhecidas) e que em seu conjunto foram e são responsáveis pela fotmação do nosso povo, não precisa se apossar de lendas, mitos e costumes de culturas alheias, como se estas fossem de fato nossas. Isso não tem cabimento.

Por que tanta idolatria às "caras de abóboras assustadoras" ao invés de temermos a mula-sem-cabeça? Por que admirarmos jovens vampiros, ao invés de nos encantarmos por jovens lobisomens? Quem precisa de bruxa, se temos a Cuca? Quem precisa de bruxas para fazer travessuras, se temos o Saci, o rei de todas as travessuras? E ainda temos mais: O Negrinho do Patoreio, o Boitatá, o Curupira, a Iara... Não precisamos de monstros alheios.

Há de se fazer uma cruzada em favor da nossa cultura popular. E quem trabalha com cultura e educação tem o dever de levantar essa bandeira, para que não percamos a essência do nosso povo. Temos que fazer valer o nosso folclore, custe o que custar, doe a quem doer, porque senão, não vai demorar muito e teremos crianças achando que o Saci-Pererê é coisa de estrangeiro.

Podemos precisar de muitas coisas vindas dos povos estrangeiros, como aliás, sempre precisamos, mas uma coisa nós não precisamos e nunca vamos precisar: Importar lendas, mitos e crendices. Pensando bem, temos lendas, mitos e crendices o suficiente para exportar se eles assim quiserem.