A ausência do público

Por mais que a produção seja caprichada, que o texto tenha o conteúdo apropriado, que os atores estejam afinados dentro de seus papéis, nada, nada adianta, pois a platéia quase sempre está vazia, ou salpicada de meia dúzia de gatos pingados espalhados pelo teatro e, olhe lá!

 

Meses de trabalho árduo, gastos com produção, quase sempre de próprio bol-so, mais, cenário, figurinos, sonoplastia, tudo cuidado com todo zelo, até a preocupação de fazer um bom investimento na divulgação da peça não consegue ser suficiente e, apesar de tudo, isso não parece o bastante para convencer o público de quão boa é o espetáculo.

 

É lamentável, por vezes, entristecedor ir assistir a um espetáculo e não ver mais do que cadeiras vazias ao seu lado e lá no palco, o artista dando o seu melhor se preocupando apenas com a sua arte, procurando não demonstrar a desilusão pela não presença do público. Muitos espetáculos não agüentam mais do que uma temporada de um mês.

 

Não se pode nomear os altos preços como o grande e único vilão pelo esvaziamento do público teatral, pois, hoje em dia, ir ao cinema está bem mais caro do que assistir um espetáculo teatral, exceção feita apenas aos espetáculos de grandes nomes da televisão, onde os tão falados preços populares não são tão populares assim, mas isso é assunto para uma outra hora.

 

Talvez a resposta mais correta e a mais verdadeira, seja a falta de formação de uma platéia acostumada a ir ao teatro. Durante muito tempo, ir ao teatro sem-pre foi muito caro e um sonho bem distante para a grande maioria da população, mesmo que hoje ainda seja. Mas apesar de toda a campanha de popularização do teatro, nada se mostra eficiente para trazer o público ao teatro. Até espetáculos gratuitos, muitas vezes, não conseguem encher suas platéias.

 

Acho que somente daqui alguns anos, com a insistência em levar as crianças para assistirem uma peça de teatro, principalmente solidificando a idéia de projeto-escola e implementando a campanha de popularização do teatro, além de incentivar cada vez mais os jovens para que estes conheçam o universo do teatro, pode-se ter uma mudança no quadro atual.

 

Por hora, cabe a todos nós que fazemos teatro, continuar a quebrar pedras, respeitar aqueles que se dispõe a prestigiar o nosso espetáculo e, por fim, desenvolver a arte de interpretar para cadeiras vazias e aceita-las como os nossos mais fiéis espectadores, pois, embora elas não batam palmas, sempre nos darão a certeza de uma casa cheia.