Direção de Atores

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Existe certo preconceito com atores de teatro. Mais especificamente com o tipo de atuação que o teatro exige. São incontáveis as vezes em que vi alguém falar mal da atuação de algum ator de novela ou cinema usando o adjetivo “teatral”. Eu concordo plenamente que uma atuação “teatral” na maioria das vezes não cai bem no cinema ou na televisão. Mas o problema é que isso gera em muitas pessoas a errada noção de que a atuação no teatro não é tão boa quanto em outras mídias, especialmente o cinema.

Isso reflete claramente a falta de costume que a maioria da população tem em ir ao teatro. Mas a discussão aqui não será essa. Muitos realizadores de cinema, especialmente os mais novos, com quem convivo, têm preconceito com atores que fazem teatro e muitas vezes evitam escalar esses atores para suas produções, temendo a “atuação teatral”. O que esses realizadores deveriam saber é que o desempenho de um ator depende muito da direção deles.

Já vi atores muito bons ficarem ótimos num filme e péssimos em outro, tudo por causa da direção que lhes foi dada. Se o diretor não aponta as falhas, corta os exageros, ajuda o ator a construir aquele personagem, o resultado pode ser constrangedor. E o é quase sempre para o ator, que tem sua figura exposta. Por isso acredito que a omissão de um diretor quando vê que um ator pode prejudicar um filme e mais ainda, sua imagem, é um ato de sabotagem. Um ato que chega a ser antiético, como quase toda omissão.

Porque depois que o filme estiver pronto é muito fácil para o diretor apontar como problema a atuação de um ator e elenco, quando o que ele deveria saber é que metade de seu trabalho como diretor é dirigir seus atores. Essa, pelo menos, é minha opinião como diretor e ator.

“Atuação teatral” para mim não é algo ruim. Especialmente se for vista num teatro, oras. O problema é que geralmente a maneira de se atuar num palco é diferente da que se deve usar no cinema ou televisão. E como a maioria dos atores tem sua formação no teatro, que ainda hoje é o lugar que predominantemente cria os profissionais da arte dramática, cabe aos diretores de cinema e televisão cuidar para que seu elenco não traga as características do palco para a nova mídia.

É óbvio que o próprio ator deve cuidar disso e se policiar, mas é um trabalho que muitas vezes só fica aparente para quem está de fora, daí a importância do diretor. Vejo hoje em dia, principalmente aqui no Brasil, muitos filmes com a função do “Preparador de Elenco” ou mesmo “Diretor de Elenco”. E para mim tal função é absurda. Deixo claro que não tenho nada contra quem desempenha essa função. O que me deixa pasmo é ver que muitos diretores abrem mão disso. E como disse antes, grosso modo acredito que metade do trabalho de um diretor é dirigir seu elenco. Se ele abre mão disso, para mim deixa de ser considerado diretor na acepção geral do termo. É claro que se certo diretor não é muito bom dirigindo atores, certamente que ele requisitará ajuda para não prejudicar o filme. Mas creio que na maioria dos casos não é isso que acontece. Há uma acomodação por parte desses diretores, que se têm dificuldades em trabalhar com atores, logo apontam outra pessoa para fazer isso ao invés de tentar aprimorar seu ofício. O mérito quase todo passa a ser desse “Diretor de Elenco”.

Pobre desse diretor, que não sabe o quão maravilhoso é guiar um ator até o ponto em que quer chegar. E triste desse ator que não possui um diretor em quem confiar e a quem admirar.

Por isso digo que “atuação teatral” não deve ser usado de maneira pejorativa, mas sim para designar simplesmente um estilo. Não são todos os atores que conseguem trabalhar bem em todas as mídias. E mesmo que consiga, isso não deve ser visto como algo que faz dele um “ator de verdade”. Há atores de teatro, atores de TV, atores de cinema, atores de rádio. Há alguns que atuam em mais de uma mídia. Há outros que atuam em todas. O que importa é que em cada uma delas ele tenha ciência de suas características próprias. E principalmente, que seu diretor esteja lá para ajudá-lo.