Quem Tem Boca...

  

   Quem tem boca deve ir a Roma. Chegando a Roma, vendo a imponência do Coliseu, quem tem boca acaba ficando sem palavras. E sem palavras, pra que vai servir mesmo a boca? Em primeiro lugar, serve como tema desse artigo. Já estava sem saber como começar. A boca me inspirou, após um bocejo. Se bem que eu poderia ter aproveitado outra parte do corpo. Quem sabe, a orelha. Ou o dedão do pé. Mas a boca realmente me fascina. Uma boca carnuda. Uma boca santa. Uma boca murcha. Uma boca banguela. Por que não? Numa ótica menos convencional, até uma dentadura tem sua beleza. Imagine um mundo sem a boca. Seria no mínimo estranho. E maravilhoso pra quem tem sogra.

 

    Quem tem boca enfrenta um grande problema. Geralmente não sabe usar. A gente não vem ao mundo com um Manual da Boca. Seria muito interessante uma iniciativa a esse respeito. Deveríamos solicitar da cegonha (cegonha, se você tiver menos de cinco anos) já trazer o rebento com as instruções de uso. Dentre elas, a maneira correta de usar a boca. Especificamente em relação às palavras, é claro. Já que para as outras maneiras possíveis (ou impossíveis) de usar a boca, cada um que se entenda entre quatro paredes. Assim, treinando desde pequena, a criança não correria o perigo de virar um adulto desbocado. Aquele adulto que tem a boca estabanada. Sem o controle da língua. Ah, esses  são um perigo! Estão por toda parte. Em seu estado ainda larval, apresentam-se como adolescentes insuportáveis. Acha que me refiro a quem fala palavão? Não seja quadrado. Os palavrões muitas vezes têm a sua utilidade. Se usados sutilmente, Fogem Daquele Provincianismo. Estou me referindo a quem faz da língua uma navalha. E tem o pior defeito que uma boca pode ter. Viver falando mal de tudo. No teatro, por sinal, reinam as bocas malditas. Não as bocas irreverentes, perspicazes, mas aquelas que deveriam ficar fechadas, mas não ficam. De tanto ver e pôr defeito em qualquer coisa, algo termina mesmo dando errado.

 

   A verdade é claríssma: todos sofrem com quem não sabe usar a boca. Até as palavras. Pois, na maioria das vezes, quem não sabe usar a boca também não sabe usar a gramática.  Ou até agora você achava que as palavras não tinham sentimentos? Claro que elas têm! Imagina o que sente um problema ao ser chamado de “probrema”? Deve doer horrores. Bem lá no fundo da alma problemática. É uma tremenda falta de respeito. Então, se você tem por perto alguém que não sabe usar direito a boca. Não seja indelicado. Não fale nada. Melhor a discrição. Apenas mostre esse texto, recomendando que seja lido.