Não sei quando isso começou, nem como e nem porque, o que me interessa é entender a razão e de quem foi a idéia de interferir deliberadamente nos rumos da criação de um escritor. Agora o escritor não tem mais a liberdade de criar, pois não pode isso, não pode aquilo, isso é prejudicial a isso, isso é prejudicial a aquilo. Tudo o que for mostrado, tem que ser de acordo com esse tal do politicamente correto.
Agora eu pergunto: Quem é politicamente correto? Será que ninguém nunca jogou papelzinho na rua pela janela do carro? Será que ninguém nunca passou o sinal vermelho, nem de madrugada? Será que ninguém mais fuma um cigarro, nem na sua casa? Será que ninguém mais fala palavrão, nem sozinho no banheiro? Será que não tem mais violência contra mulher e nem contra a criança? Nem assassinatos, assaltos, estupros e chacinas? Então por que o escritor não tem liberdade para retratar casos como esses?
Acredito que a baixa audiência das telenovelas é muito em função do reflexo do pensamento que prega a obediência à esse tal do politicamente correto. Ai eu pergunto novamente: Quem está enganando quem? Se a arte procura mostrar a realidade da vida através de histórias ficcionais, então por que não se pode mostrar o comportamento humano como de fato ele é? Ou os habitantes desta nossa República Tupiniquim são todos sujeitos acima de qualquer suspeita e cumpridores do politicamente correto? É claro que não!
Minha posição como autor é bem claro, não posso abrir mão de criar os meus personagens do jeito que eles tem de ser, sob pena de estar contribuindo para o fracasso da minha própria história. Só quem não sabe como se cria uma história, pode aceitar a interferência, mesmo que branca, desse tal politicamente correto, ainda por cima usando a desculpa que certos assuntos não podem ser tratados em certos horários por causa das crianças. Será que o pai ou mãe fumante se esconde no banheiro para que o filho menor não o veja fumando?
A vida não é cor de rosa e a formação do caráter de um ser humano passa por vitórias e derrotas, sucessos e fracassos, ilusões e desilusões, felicidades e tristezas e pelo que lhe faz bem e o que lhe faz mal. A mistura de todas essas experiências é que possibilita a formação de um cidadão conhecedor do que lhe serve ou não, mesmo porque, ninguém é obrigado a ser politicamente correto, cada qual é como é, por isso existe o livre arbítrio.
Muito da criação dos autores vem sofrendo prejuízos por conta desse tal do politicamente correto, pois muitos personagens sofrem cortes em suas características, comportamental e psicológica, por conta de não poder agir e pensar de acordo com o seu comportamento. Coisas que outrora eram naturais, visto se tratarem de características de um personagem, personagem estes que reflete as atitudes de um ser humano normal, hoje soam como ofensivas.
Querer culpar a falta de criatividade do autor por conta de insucessos nas suas histórias, entendo ser a maior injustiça que se comete hoje em dia. No meu ponto de vista, o maior culpado disso tudo, é esse tal de politicamente correto.
Um certo dia, há mais de vinte anos atrás, um amigo soube que um grupo de teatro estava selecionando pessoas para novas montagens, e lá fomos nós, queríamos conhecer como funcionava aquele universo tão novo. Eu e este meu amigo, éramos parceiros, fazíamos músicas juntos. Está certo que nossas músicas só os mais íntimos chegaram a ouvir. Mas a decisão de conhecer o Teatro foi primordial pro resto da minha vida.
Eu nunca havia pensado em algum dia fazer parte do universo do Teatro. Eu já escrevia meus primeiros poemas, fazia algumas letras com este meu amigo, gostava de cultura, mas o que eu não imaginava era a capacidade que o Teatro tinha para transformar a minha vida. Eu, que até então tinha perspectivas reduzidas para vida, fui apresentado a um mundo novo, um mundo que o Teatro foi capaz de mostrar.
O Teatro me estimulou a leitura, aguçou minha curiosidade, me apresentou aos grandes nomes da literatura, da dramaturgia, me fez exercitar a facilidade que eu já mostrava para escrever e, acima de tudo, abriu a minha cabeça para a vida, ampliando minhas expectativas de futuro e fazendo minha vida realmente valer a pena. Foi através do Teatro que percebi o quanto a vida era muito maior que as divisas do meu bairro.
Não me tornei ator, mesmo porque, meu censo crítico me convenceu que deveria parar o quanto antes. Mas, o Teatro ficou em mim. Eu já estava contamina-do pelo tal bichinho do Teatro. Resolvi, porém, me dedicar a dramaturgia. Nos primeiros tempos, apenas como um “hobby” e hoje em dia, algo que tento fazer de profissão. E tudo, porque um dia, eu conheci o Teatro.
É claro que nem todos vão se tornar atores, diretores, ou autores de teatro, mas quem conhece o poder que o Teatro tem de transformar a vida, sabe o quanto essa arte faz bem, principalmente quando é levada às pessoas dentro de um universo onde as expectativas são diminutas e o Teatro, algo que é feito apenas para quem tem dinheiro para assistir.
Por isso, quando sei que estão levando o Teatro à estes universos, onde a realidade é tão difícil e onde o Teatro pode ser, talvez, a única possibilidade de uma chance para que alguns possam ter suas vidas transformadas, costumo ceder meus textos para serem usados neste grande trabalho social. Pois, assim como um dia vi meu universo ser transformado pelo Teatro, hoje, com o meu humilde trabalho, eu posso contribuir, de alguma forma, para que outros tantos jovens possam ter a chance que um dia o Teatro me deu.
Não existe outro lugar onde se possa tudo. Nas páginas de um livro você pode ser herói, você pode ser um príncipe encantado, uma doce e linda princesa, um desbravador, um terrível pirata dos sete mares, a mais assustadora das bruxas que corta os céus em sua vassoura voadora, um melancólico vampiro, a melhor das bailarinas e até mesmo o mais temido dos vilões. Dentro das páginas de um livro cabe o que você puder imaginar.
Nas paginas de um livro, a viagem é segura, emocionante, estimulante, excitante, edificante, gratificante e tudo mais de “ante” que você puder imaginar. Quem já se aventurou por entre as páginas de um livro, sabe muito bem o que estou falando. Quem é apresentado à um livro dificilmente troca o gosto de se aventurar por entre as páginas, por um outro lazer qualquer.
Já dizia Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros”. E quanto mais esses homens se habituarem a ler livros, muito melhor será o país. O conhecimento que vem atrelado a todo poder de imaginação que um livro possui, modifica a vida de qualquer um. O livro abre a cabeça, amplia os horizontes, dá poder de decisão e enche de cultura e sabedoria a quem o lê, e esses, são os combustíveis necessários para transformar a sua vida.
A primeira vista, o livro pode não ser muito atrativo, algo chato e cansativo, sem graça mesmo, ainda mais se ele lhe for imposto como matéria de escola e empurrado a contra gosto. Realmente não tem como se apaixonar por algo que nos é dado por obrigação. O livro deve ser objeto de desejo, que aguce a curiosidade e faça despertar em você algo diferente. E por imposição, nada é legal, não é mesmo?
O livro deve ser apresentado bem cedo, quando ainda só nos interessa as figuras. Devemos nos acostumar em tê-lo como nosso companheiro na hora de dormir, o nosso amigo de todas as horas, a diversão perfeita para os dias chuvosos, ou para piqueniques em parques ensolarados. O remédio certo para as noites de solidão e nosso par perfeito para as horas de relaxamento. Quanto mais se está com o livro, mais com o livro você faz querer está.
Mesmo em tempos de grandes modernidades, o livro soube se adequar e hoje se faz presente no mundo virtual em versões eletrônicas e podem ser lidos nas telas de um computador. Talvez os livros nessas versões não contemplem o fascínio que há em cada página de um livro tradicional, que ao ser virada, faz a gente viajar na imaginação.
E é assim, quem conhece o livro, sabe muito bem o que ele é capaz de nos proporcionar. Quem não conhece, ou acha que livro é algo chato e sem graça, procure algo que seja a sua praia e experimente se aventurar, você vai se surpreender. Existe um livro para cada tipo de imaginação e imaginação para todo tipo de livro. Boa leitura à todos!
Você já teve a impressão de que é o ator coadjuvante e não o protagonista de sua vida? Se sentiu, parabéns. Isso demonstra que foi capaz de duvidar de sua capacidade de comandar o próprio destino. E isso é bom. A maioria não suporta conceber um mundo que não seja de certezas. A dúvida para essas criaturas é algo doloroso. Para elas, reina a ilusão de que são donas do próprio nariz. Pode ser, e é mesmo, assustadora a idéia de que vivamos numa “matrix” real. Mas pense um pouco. Aquelas opiniões que costuma defende com unhas e dentes são suas mesmo? Quer dizer, foram fruto de um trabalho mental que reconheceu a validade delas? Ou talvez algum “formador de opinião” acabou implantando em sua mente. E, como bom papagaio, você acolheu de asas abertas. É triste, mas muitas vezes nem nos damos ao trabalho de pensar. Pegamos já pronto. Sem filtrar nada. Como num supermercado de convicções. Dessa atitude, resulta aquelas conversas insuportáveis em que todo mundo diz a mesma coisa. Algo como “o importante é ser feliz”. Eu odeio essa frase! Não porque seja um infeliz de carteirinha. Mas, porque pensamentos redundantes como esse exterminam a possibilidade de se criar um diálogo interessante. Não digo o encontro, mas a busca por algo que se aproxime da verdade. Até porque, imagine se alguém resolve ser feliz matando os outros? Ah, tudo bem. Afinal, o importante é ser feliz, não é mesmo? Então, se for com metralhadora, bala pra que te quero! Verdades enlatadas como essa, são a essência da alienação. E alienação, amigos, está em toda parte. Infelizmente, teatro não poderia estar livre dessa praga..
A alienação como processo que anula a personalidade. Fabricante de robôs de carne e osso. Pare pra pensar. Esse não é o melhor dos mundos, obviamente. Pelo contrário, é palco de colossais injustiças em que nós somos os personagens. E ser coadjuvante ou protagonista, vai depender de você. Por isso, ao assistir um espetáculo, não bata palmas só por bater. Exija originalidade. Preze pelo conteúdo. Só cenários pomposos não bastam. Procure assistir a algo que toque em você, como indivíduo. Evite o bando de papagaios que idolatra uma peça porque tem um finalzinho feliz e chavões idiotas. Que se deslumbra com besteiras. Não se iluda. Já se deu conta do quanto famigerada é a claque? Aquelas palmas e risadas gravadas para fazer com que o expectador vire uma “maria-vai-com-as-outras”. Há todo um movimento, na maioria das vezes sutil, para que você não pense por conta própria. E se você não pensa por conta própria, não tem personalidade. Não existe conscientemente. E um público acéfalo é o sonho da alienação no teatro. Um público que consome e não pensa. Só assim será capaz de aplaudir um produto ao invés da arte.
Vivemos tempos difíceis, pregamos aos quatro cantos sermos politicamente corretos, mas temos desvios profundos de caráter, pois perdemos a noção de discernimento entre o limite do que é certo ou errado. Andamos apressados pela vida em busca do vil metal e trocamos sem nenhuma vergonha e sem nenhum sentimento de culpa, o “ser”, pelo “ter”.
Trocamos abraços apertados, por meros recados em sites de relacionamentos, trocamos telefonemas, por breves torpedos enviados por celulares e, a cada dia que passa, nos afastamos mais e mais do convívio humano, perdendo assim a capacidade de nos importarmos com a vida alheia. A menos que essa vida alheia esteja exposta nas telas da televisão como uma simples mercadoria a venda.
Nos importamos cada vez mais com coisas que pouco, ou quase nada, impor-tam, enchemos nossas vidas de assuntos fúteis e preocupações banais, ocupando nosso tempo com espiadinhas em programas vazios, esquecendo de como o tempo passa rápido demais. E, com tudo isso, acabamos deixando de fora de nossas vidas, algo que só tem a nos engrandecer: a cultura. E segundo uma recente pesquisa, as pessoas não se interessam mais por cultura.
Vejo com muita tristeza o resultado desta pesquisa, pois ela só vem corroborar com a idéia de que estamos num caminho quase sem volta e que a escolha de trocar o “ser”, pelo “ter” é cada vez mais evidente. Tanto que este resultado mostra, que já não nos importamos com nós mesmos. Deixamos de dar atenção às nossas vidas, para enchê-las de vazio. Não nos preocupamos mais no que somos e sim no quanto temos.
Mas, mesmo com este resultado estarrecedor mostrado pela pesquisa, que pinta um quadro muito triste para o nosso futuro, devido ao desinteresse em obter cultura que atinge um número enorme de pessoas, resta ainda um pequeno fio de esperança, pois ainda existem aqueles que se propõem a fazer e a levar cultura, mesmo que as pessoas não queiram dela se servir.
Esses dias ouvi um parábola que falava sobre um palestrante que chegava atrasado para sua palestra e encontra apenas um espectador. Ao indagá-lo sobre se deveria ou não dar-lhe a palestra que havia preparado, recebeu como resposta, o seguinte: “Se eu entrasse no galinheiro para dar comida e encontrasse só uma galinha, daria comida à ela”. E o palestrante então, proferiu sua palestra.
Usando desta parábola, convido todos que militam com cultura, para prosseguirem com suas jornadas como um fio de esperança, mesmo que ainda só haja um único ser interessado em se servir daquilo que vocês tenham a oferecer-lhe em termos de cultura.