Direção de Atores
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Last Updated on Friday, 06 September 2013 13:26
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Published on Tuesday, 27 May 2008 01:19
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Written by Felipe Fonseca
Existe certo preconceito com atores de teatro. Mais especificamente com o tipo de atuação que o teatro exige. São incontáveis as vezes em que vi alguém falar mal da atuação de algum ator de novela ou cinema usando o adjetivo “teatral”. Eu concordo plenamente que uma atuação “teatral” na maioria das vezes não cai bem no cinema ou na televisão. Mas o problema é que isso gera em muitas pessoas a errada noção de que a atuação no teatro não é tão boa quanto em outras mídias, especialmente o cinema.
Isso reflete claramente a falta de costume que a maioria da população tem em ir ao teatro. Mas a discussão aqui não será essa. Muitos realizadores de cinema, especialmente os mais novos, com quem convivo, têm preconceito com atores que fazem teatro e muitas vezes evitam escalar esses atores para suas produções, temendo a “atuação teatral”. O que esses realizadores deveriam saber é que o desempenho de um ator depende muito da direção deles.
Já vi atores muito bons ficarem ótimos num filme e péssimos em outro, tudo por causa da direção que lhes foi dada. Se o diretor não aponta as falhas, corta os exageros, ajuda o ator a construir aquele personagem, o resultado pode ser constrangedor. E o é quase sempre para o ator, que tem sua figura exposta. Por isso acredito que a omissão de um diretor quando vê que um ator pode prejudicar um filme e mais ainda, sua imagem, é um ato de sabotagem. Um ato que chega a ser antiético, como quase toda omissão.
Porque depois que o filme estiver pronto é muito fácil para o diretor apontar como problema a atuação de um ator e elenco, quando o que ele deveria saber é que metade de seu trabalho como diretor é dirigir seus atores. Essa, pelo menos, é minha opinião como diretor e ator.
“Atuação teatral” para mim não é algo ruim. Especialmente se for vista num teatro, oras. O problema é que geralmente a maneira de se atuar num palco é diferente da que se deve usar no cinema ou televisão. E como a maioria dos atores tem sua formação no teatro, que ainda hoje é o lugar que predominantemente cria os profissionais da arte dramática, cabe aos diretores de cinema e televisão cuidar para que seu elenco não traga as características do palco para a nova mídia.
É óbvio que o próprio ator deve cuidar disso e se policiar, mas é um trabalho que muitas vezes só fica aparente para quem está de fora, daí a importância do diretor. Vejo hoje em dia, principalmente aqui no Brasil, muitos filmes com a função do “Preparador de Elenco” ou mesmo “Diretor de Elenco”. E para mim tal função é absurda. Deixo claro que não tenho nada contra quem desempenha essa função. O que me deixa pasmo é ver que muitos diretores abrem mão disso. E como disse antes, grosso modo acredito que metade do trabalho de um diretor é dirigir seu elenco. Se ele abre mão disso, para mim deixa de ser considerado diretor na acepção geral do termo. É claro que se certo diretor não é muito bom dirigindo atores, certamente que ele requisitará ajuda para não prejudicar o filme. Mas creio que na maioria dos casos não é isso que acontece. Há uma acomodação por parte desses diretores, que se têm dificuldades em trabalhar com atores, logo apontam outra pessoa para fazer isso ao invés de tentar aprimorar seu ofício. O mérito quase todo passa a ser desse “Diretor de Elenco”.
Pobre desse diretor, que não sabe o quão maravilhoso é guiar um ator até o ponto em que quer chegar. E triste desse ator que não possui um diretor em quem confiar e a quem admirar.
Por isso digo que “atuação teatral” não deve ser usado de maneira pejorativa, mas sim para designar simplesmente um estilo. Não são todos os atores que conseguem trabalhar bem em todas as mídias. E mesmo que consiga, isso não deve ser visto como algo que faz dele um “ator de verdade”. Há atores de teatro, atores de TV, atores de cinema, atores de rádio. Há alguns que atuam em mais de uma mídia. Há outros que atuam em todas. O que importa é que em cada uma delas ele tenha ciência de suas características próprias. E principalmente, que seu diretor esteja lá para ajudá-lo.
É Preciso Descentralizar a Cultura
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Last Updated on Friday, 06 September 2013 13:26
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Published on Tuesday, 27 May 2008 01:14
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Written by Felipe Fonseca
Outro dia assistia a um programa jornalístico (não me lembro o canal) onde uma questão cultural foi discutida. Um dos participantes disse que no Brasil a centralização da cultura é muito grande. Quase toda manifestação artística encontra-se presente no eixo Rio – São Paulo. E quando falamos de oportunidade para se mostrar, aí acredito que a concentração nesses pólos é ainda maior. O entrevistado disse também que temos no interior do Brasil várias cidades que são pólos de outras áreas. Há grandes centros econômicos, turísticos, industriais, educacionais até. Mas quando falamos de artes e cultura, daí a história já é outra. É apenas nas capitais que os artistas têm real possibilidade de exibir seus trabalhos para um grande público. O que por conseqüência faz com que apenas nas capitais o público tenha chance de acompanhar a produção cultural.
Bom, o painel é ainda pior, já que nem todas as capitais têm esse benefício. Na verdade a minoria. E percentualmente falando o eixo Rio – São Paulo deve ficar com quase todo o “bolo”. E como o entrevistado discutiu, da mesma forma que há pólos dos mais diversos setores no interior do Brasil, é necessário que haja também pólos culturais. As artes têm que chegar até a população que está fora das capitais.
Atualmente na cidade de São Paulo há cerca de 130 peças de teatro em cartaz, cerca de 60 filmes e mais algumas dezenas de mostras, eventos e shows. No Rio de Janeiro os números devem ser parecidos. Eu não possuo dados nacionais, mas acho que poderia apostar sem medo que os números dessas duas cidades somados devem representar pelo menos a metade de todos os eventos culturais acontecendo nesse momento no país. E isso é algo muito preocupante.
É fato que a educação é a base para qualquer sociedade. E é na verdade o que difere os países ditos de Primeiro Mundo dos ditos de Terceiro. Sim, porque as diferenças econômicas e sociais nada mais são do que reflexo da educação que se deu para seu povo. Um povo mais instruído é um povo com mais capacidade de exigir de seus governantes e de por si só tomar atitudes que beneficiem toda a sociedade. Um povo menos instruído é mais facilmente coagido, contenta-se muitas vezes com pouco e pensa mais nos próprios problemas do que no conjunto. E se a educação é a base de tudo, a cultura também está aí. Porque a cultura é o que aprimorará essa base. É o que ajudará a desenvolver o senso crítico. É o que ajudará as pessoas a se tornarem mais sensíveis. É de fato e sem medo de ser clichê, o alimento da alma.
Portanto quando vemos que em quase todo o país as pessoas não têm acesso a cultura (e bem sabemos que também não têm à educação), é de se preocupar. Principalmente porque quando a educação, que é controlada pelo estado, falha, a cultura produzida por membros dessa sociedade poderia vir para tentar amenizar essa falha. O problema é que isso não acontece. Os caminhos, principalmente financeiros, levam os artistas às capitais. Possivelmente Rio ou São Paulo. A volta quase nunca acontece. E isso faz com que grande parte de nossa população seja privada da cultura, a que deveria ter direito garantido.
Ouvimos falar de grupos de teatro e até mesmo cinemas itinerantes que rodam o Brasil levando as artes a quem não poderia ir até elas. Mas esses casos são muito poucos para um país tão grande e com tanta gente. E na verdade não deveriam nem ser necessários. A cultura não precisa ser itinerante. Ela precisa ser local, fixa, constante. E para que isso aconteça é preciso de apoio do estado e da sociedade. E bem sabemos que com o estado nunca pudemos contar muito, em qualquer época de nossa história. A meu ver cabe à sociedade tomar para si essa responsabilidade. Nós somos o poder e não o estado como grande parte da população é levada a crer. E o interesse de nos munirmos de cultura é todo nosso. É claro que isso deve partir daqueles que têm condições de financiar ou incentivar essa produção. Mas deve vir também dos artistas em querer criar onde nada nunca é criado. Mesmo que o desejo de estar em voga em Rio ou São Paulo seja grande é preciso perceber que não há espaço para todos nesse centro. E que muito melhor seria se houvessem muitos outros centros. Se ninguém tivesse que sair de suas cidades para poder produzir cultura.
O fato é que um grande projeto é preciso para levar a cultura para todo o país, da mesma forma que outros setores conseguiram esse sucesso como dito no começo do texto. É errado pensar (e acredite, muitos pensam) que as pessoas de São Paulo ou Rio são mais cultas, por exemplo. Que em outras cidades não há esse interesse. A verdade é que elas simplesmente não têm a oportunidade. E a cultura, como quase tudo na vida, é uma questão de hábito. E um bom hábito só é possível com uma boa educação.