“O Teatro dá Alegria a Todos, Exceto a Quem o Faz”
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Last Updated on Friday, 06 September 2013 13:27
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Published on Tuesday, 27 May 2008 00:46
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Written by Julio Carrara
Essa frase foi dita por Isabella (Emanuelle Beart) ao jovem Barão de Sigognac (Vincent Perez) diante da cova rasa onde foi enterrado Matamouro (Jean François Perrier), personagens do melhor filme que já vi na minha vida, “A Viagem do Capitão Tornado”, do genial Ettore Scola. O filme foi rodado em 1990 na Itália e na França e é a quinta adaptação do romance de Théophile Gautier. Conta a odisséia de uma companhia de saltimbancos que atravessa a França do século 17 e leva um jovem barão decadente até Paris.
Vi o filme pela primeira vez, em 1993, no Cine SENAC, em Sorocaba. Após a sua exibição, lembro-me, como se fosse hoje, da minha crise de choro. Estava diante de um dilema: “será que vale a pena fazer teatro?”. Eu era muito jovem e tinha escolhido o teatro como profissão. E tanto o filme quanto a frase de Isabella, me balançou.
Eu estava no 1ª série do Curso Técnico de Processamento de Dados, no colégio Objetivo de Sorocaba. Estudava de manhã e passava às tardes e noites no Teatro, todos os dias, de segunda a segunda. Era a minha paixão e me dedicava muito. E no período da manhã, enquanto estava na sala de aula, em vez de prestar atenção na explicação dos professores, ficava debruçado sobre o texto. No final do bimestre, ao pegar o boletim, vinha o desespero. Notas baixas em todas as matérias. Eu não gostava do curso mesmo. E decidi abandona-lo definitivamente porque aquilo não era a minha praia. Onde eu me sentia feliz mesmo, onde me realizava, era no Teatro.
Hoje revi o filme pela 18ª vez. Fazia muito tempo que não o via. E pela 18ª vez, chorei. O Scola pega pesado. É um nocaute psicológico.
Sempre tive vontade de fazer como a “Companhia Viajante de Arte Cênica”, nome da trupe dos saltimbancos do filme. Comprar uma carroça, selecionar um pequeno elenco e viajar pelo mundo apresentando os espetáculos em vilarejos. Hoje não tenho mais esse desejo.
Concordo, em parte, com a frase de Isabella. O Teatro me dá alegria, sim. É muito bom estar no palco, seja como ator, dramaturgo ou diretor. Você fazer com que os espectadores reflitam sobre a sua existência, coisa rara de se ver hoje em dia. É uma pena que o Teatro, melhor dizendo, a Cultura em geral, não é valorizada como deveria, infelizmente.
Mas a maioria da população brasileira não está nem um pouco preocupada com a Cultura. Pra quê? Temos o futebol. O que se pode esperar de um país que pára durante a Copa do Mundo para ver 22 idiotas disputando uma bola durante 90 minutos?
Como gostaria de ter nascido na Grécia do século V a.C., no berço das artes, onde o Teatro era realmente valorizado. Mas como vivo no Brasil, um país descoberto em 1500, em pleno Renascimento, onde todas as coisas chegam tardiamente, terei que ter mais um pouco de paciência. Sonho em ver um estádio de futebol lotado (o Teatro de Arena grego nada mais era que um campo de futebol dividido ao meio), onde seriam realizados anualmente Concursos de Dramaturgia, como os grandes concursos gregos. É utopia, claro. Mas se isso realmente acontecesse, gostaria de estar vivo para presenciar esse momento.
A Angústia de um Dramaturgo
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Published on Tuesday, 27 May 2008 00:42
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Written by Julio Carrara
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A Angústia de um Dramaturgo
Por Julio Carrara - 05/04/2007
No meu aniversário de 7 anos minha mãe me perguntou o que eu queria ganhar de presente. Fui taxativo: “uma máquina de escrever!” Lembro-me como se fosse hoje da sua reação. Ela arregalou seus olhos claros numa expressão de espanto. Ela esperava ouvir: um skate, uma bike, algum jogo eletrônico, coisas que qualquer garoto da minha idade gostaria de ganhar. Ela sugeriu algo do tipo, mas nada daquilo me interessava. Eu queria uma máquina de escrever. E depois de muita insistência, ganhei o tão sonhado presente: uma Olivetti portátil.
Com a máquina de escrever sobre a mesa, sob o olhar atento da minha mãe, coloquei uma folha no meu instrumento de trabalho e comecei a datilografar. Eu já sabia ler e escrever razoavelmente, mas a vontade que tinha era preencher uma folha inteira só com o meu nome. Foi o que fiz. Escrevi inúmeras vezes JULIOCESARCARRARA JULIOCESARCARRARA JULIOCESARCARRARA Arranquei a folha da máquina e coloquei sobre a mesa. Minha mãe viu aquilo, sorriu, tentando decifrar o que se passava na minha cabecinha e foi fazer seus afazeres domésticos. Ela deve ter pensado: “daqui a pouco ele enjoa e essa máquina vai ficar encostada num canto”.
Para sua surpresa, isso não aconteceu. Todos os dias eu escrevia alguma coisa. Era como um ritual. Eu chegava da escola, brincava um pouco com meus amigos na rua, voltava pra casa, tomava banho, jantava, sentava-se diante da máquina, escrevia e depois ia dormir para no dia seguinte começar tudo novamente.
… E o tempo foi passando… Cheguei na puberdade: espinhas indesejáveis brotavam no rosto, o desejo aflorando junto com o despertar da sexualidade, o primeiro beijo, as inúmeras punhetas, a primeira namorada, a primeira transa, o primeiro porre, o primeiro cigarro, o primeiro baseado, as angústias e decepções, enfim… Eu tinha muitas histórias pra contar. E como sempre fui muito tímido (apesar de não parecer), a maneira que encontrava de extravasar o que sentia era escrevendo. Escrevia muito, de manhã, tarde, noite, madrugada. Até os olhos embaçarem e os dedos doerem.
O barulho irritante da máquina de escrever enlouquecia a todos lá em casa, principalmente quando escrevia no período noturno. Ganhei uma máquina elétrica, que era um pouco menos barulhenta do que a minha velha Olivetti, mas mesmo assim, seu ruído incomodava. Eu PRECISAVA escrever e era reprimido porque minha família queria dormir. Mas logo em seguida, ganhei um microcomputador. Aí sim eu poderia escrever até altas horas que não incomodaria ninguém.
Nunca fiz um curso de dramaturgia, minto, fiz sim, mas o abandonei na segunda semana porque não estava me agradando. Eu odeio fórmulas, receitas, padrões pré-estabelecidos. Meu objetivo sempre foi e sempre será transgredir, cagar pra fórmulas, receitas. Porra, teatro não é culinária… Aprendi fazendo, lendo muitos textos e livros de e sobre dramaturgia.
Durante um bom tempo escrevi por hobbie. Pode parecer egoísmo da minha parte, mas eu escrevia pra mim, pra me agradar. Nunca pensei em agradar os outros.
O dramaturgo é como Deus (se bem que Deus é um péssimo dramaturgo, pois reservou para todos o mesmo final). Ele tem o poder de traçar o destino das personagens que criou com um simples toque com os dedos no teclado, punindo ou recompensando os mesmos. Ele manipula as personagens da forma que bem entender. É uma sensação inenarrável.
Nos meus textos não existem mocinhos ou bandidos por uma questão bem óbvia: ninguém é totalmente bom ou totalmente mau. Cada um tem o seu lado bom e o seu lado mau. Somos seres humanos, com defeitos e qualidades. E é dessa forma que enxergo minhas personagens. Eu tenho uma galeria imensa de anti-heróis. É difícil reconhecer o protagonista e o antagonista num texto de minha autoria, pois todos são, ao mesmo tempo, mocinhos e bandidos. Claro que existe o conflito, porque sem conflito, não há drama.
Recentemente comecei a escrever um novo texto. Não consigo concluí-lo de jeito nenhum. Não estou numa fase criativa. Falta-me inspiração, imaginação, criatividade. Fico horas sentado olhando pra tela em branco, levanto-me, fico na janela tentando decifrar o que está por trás das luzes acesas dos minúsculos apartamentos, imaginando os problemas desses seres anônimos; ouço vozes das pessoas que passam pela rua, olho para uma enorme lua cheia no céu. Sento-me novamente diante da tela. Escrevo uma ou duas linhas. Leio, não gosto, apago. Volto a olhar a tela em branco. Fico angustiado, impotente por não conseguir escrever nada. Choro e penso: “Porra, será que a fonte secou?”. Escrevo mais duas ou três linhas. Leio, não gosto e apago novamente.
Para es´pairecer, entro na internet: abro minha página do orkut, minha caixa de-mails, converso no msn, visito blogs e sites, esperando encontrar algo que possa me inspirar e… NADA. Nada acontece, como no universo das peças de Tchekhov.
Olho para o relógio que marca seis horas, pra tela em branco, pros primeiros raios solares… Minhas pálpebras pesam, minha boca se abre num bocejo, meu corpo pede cama. Preciso dormir e estou chateado porque não produzi nada. Sinto-me um inútil. Não quero repetir velhas histórias. Eu quero de volta a minha criatividade. Mas enquanto ela não volta, vou descansar. Quem sabe um sonho não sirva de inspiração? Talvez, quem sabe. Mas nada como um dia após o outro.