Artigos Diversos

Vocação para Arte

Aproveitando esse momento em que o Papa Bento XVI visita o Brasil, e que vem a baila a questão da vocação da vida religiosa, surgiu-me a idéia de falar da vocação para a arte. Não diferente da vida religiosa, quem tem vocação para arte, uma hora ou outra, acaba sendo chamado a cumprir o seu destino.

Queiram perdoar-me os católicos mais fervorosos, não se trata de nenhuma heresia, apenas uma correlação com o tema vocacional, pois trata-se de um dom divino, o talento que possuem aqueles que são escolhidos para transmitir arte ao povo, dedicando suas vidas à isso.

Já é sabido que a vida do artista é feita de muitos sacrifícios, talvez por isso, muitos tentem distrair sua vocação com outras coisas, desviando-se de seu destino e vivendo uma meia vida, com frustrações imensas e arrependimentos mil.

Mas, como definir o gosto pela arte, de uma vocação? Não sei explicar e acho até complicado de mensurar. Sei de muitas pessoas que levam suas vidas tendo a arte com uma espécie de válvula de escape, um prazer que se dão após um dia estressante de trabalho, de certo, esses não têm a vocação ou ainda não receberam o chamado.

Quando aqueles que têm a vocação para a arte estão a frente de projetos culturais, nota-se que estes fluem com muito mais energia e brilhantismo, percebe-se no olhar, a realização do trabalho, muitas vezes sem remuneração, tendo com paga, apenas a satisfação de transmitir cultura ao povo e o prazer de expressar o dom recebido de Deus.

Por outro lado, fazendo novamente uma correlação com a religião no que tange a questão dos charlatões, quando pessoas que buscam apenas ganhos financeiros e projeção pessoal, encabeçam os projetos culturais, procuram fazer tudo dentro do esperado, quase nunca conseguem, nota-se o fracasso anunciado, pois, fica faltando a magia que emana da vocação, o fazer pelo dom, a fé!

Talvez, por isso, que os artistas que têm o dom e a vocação para transmitir cultura ao povo, sejam de uma maneira geral, discriminados e criticados, quando por muitas vezes, largam suas vidas, em prol do bem da arte. É uma questão de escolha, vocação, tal qual a do menino que decide dedicar sua vida a religiosidade.

Confesso ter recebido o chamado, mas ainda estou preso a vida com a qual desviei-me do caminho da arte até agora, e sei que está cada vez mais difícil conciliar as manifestações da vocação pela arte, da minha vida comum. Por hora, tenho consseguido satisfazer minha vocação através da minha dramaturgia, mas também sei que o tempo de escolha está chegando ao fim. A decisão já foi tomada, só falta colocá-la em prática.

Que a fé e a vocação de cada um, se manifeste para o bem da arte e da cultura.

A Quem Interessa a Cultura?

Em um país de dimensões continentais como o nosso, onde há muitas urgências e problemas de grande relevância, como a desigualdade social e a violência, dois pontos importantes se destacam e merecem uma atenção maior do que vem sendo dada. A Educação e a Cultura. A educação, todos sabem como vai, mas isso é assunto para outro dia, já a cultura, bem…

Desde os primórdios, a cultura sempre foi a base das civilizações, na Antiga Grécia, na Roma Antiga, no Egito, e até no Velho Continente, a cultura sempre teve status e importância na vida do ser humano e na condução pelos governantes, e serviu de alicerce para humanidade.

Até mais que a educação, a cultura tem um papel fundamental para o desenvolvimento das pessoas, pois também é através dela que o homem adquire instrumentos necessários para a sua evolução, e com a qual, se torna capaz de entender coisas sobre sua própria vida.

Não basta termos apenas o conhecimento de nossa cultura popular, algo aliás, que a maioria da população não tem, precisamos de um banho de cultura universal, que seja capaz de fornecer ao povo, conhecimentos suficientes para que este possa, de uma forma geral, compreender o que acontece na sociedade em que vive. É claro que a cultura popular de um povo é a matriz e a raiz de um país, explica comportamentos, atitudes e ações de seu povo, e também deve ser explorada como mais um instrumento que elevará o grau de evolução de seus habitantes.

Dizer que o povo precisa de comida e moradia, muito mais do que cultura é ter um pensamento simplista e óbvio, pois, como diz a música dos Titãs: “A gente não quer só comida, quer diversão e arte, para qualquer parte”. E não importa o tamanho da cidade, seja metrópole ou vilarejo, o povo desses lugares é sedento de cultura, de diversão, e arte sim, pois, todo povo tem sede de saber, pena que alguns governantes não vêem assim.

A cultura deveria vir sempre acompanhada da educação, mas, se mal temos a segunda, como podemos querer que se tenha a primeira? Povo culto e educado, faz um país melhor. É claro que isso não é a solução para a construção de um país mais justo, pois o homem é um bicho que pode ter desvios de conduta, e isso, nada tem a ver com o grau de cultura e educação que um povo tem, tem a ver com a natureza do ser humano. Mas, um povo culto e educado, por certo, saberá o que fazer quando o seu semelhante praticar atos e ações que venham a prejudicá-lo.

Então, eu pergunto: A quem interessa a cultura? A mim, a você, a todo mundo que quer fazer desse país um lugar melhor, onde o respeito e a ética façam parte do dia-a-dia, onde todos, tenham a oportunidade de conhecer seus direitos e deveres, para que possa ter o discernimento para saber escolher as pessoas que vão conduzir os rumos de uma vida melhor para cada um. E a cultura, sem sombras de dúvidas, faz parte da base de dados que dará essa condição.

Do Papel ao Palco

Quando começo a escrever um texto, seja ele adulto ou infantil, o processo desde a concepção da idéia até o ponto final no texto pronto, sempre é diferente, a única coisa que não é diferente é o trabalho que dá, muito embora para mim, seja por demais prazeroso. A complexidade de se contar uma história através de diálogos, não é nada fácil.

Depois de muito trabalho e algumas noites mal dormidas, visto que, o sono, volta e meia é atrapalhado pelos conflitos dos personagens e pelo rumo que a história deve tomar, consigo pôr o ponto final.

Pronto, mais um texto terminado. Nada disso! Agora vem a principal parte para mim, a leitura do texto. Minha esposa é a primeira leitora, e que tanto ler e reler meus textos, se tornou a principal crítica deles, e confesso: ela pega pesado. Pois bem, depois de várias leituras, muitas folhas imprimidas e rasgadas, e inúmeras correções ortográficas e de estrutura cênica, tenho o texto pronto, lido e relido. Enfim, mais um trabalho concluído.

Mas, e daí? O que adianta ter o texto concluído sem ter como encená-lo? Pois, texto de teatro só é teatro em cima do palco, de outro modo, não passa de dramaturgia, não é mesmo? Para quem faz parte de um grupo de teatro, a tarefa acaba sendo facilitada, já para quem não faz, como fazer para ver sua história em cena?

Durante anos, não tinha como divulgar meus textos, apenas mostrava-os para alguns amigos, está certo que sempre tive um certo medo de expor o que eu escrevia, hoje já superado, graças a Deus. Com a internet e os sites de relacionamentos consegui enfim, ter um bom espaço de divulgação para os meus textos, e através desses canais de comunicação, inclusive esse site, pude ver montados dois de meus textos e espalhar o meu trabalho Brasil a fora.

Acontece que me deparei com um dilema que até então não havia dado conta, ceder gratuitamente os direitos de meus textos para vê-los encenados ou cobrar pela cessão desses mesmos direitos? Durante muito tempo, o que eu mais queria era ver meus textos no palco, isto já me bastava, mas, com o tempo, refleti: se quero viver da minha dramaturgia, necessito ter um mínimo de valorização, pois escrever um texto é um trabalho árduo e como tal, merece ser remunerado.

É certo que as dificuldades de se montar um espetáculo são grandes e os incentivos quase nenhum, e que muitas pessoas despendem o seu tempo para fazer teatro em grupos amadores, apenas pela divulgação da arte, e posso atestar que conheço muito bem esse universo, pois por um bom tempo fiz parte de um. Só que acho não haver nenhuma dificuldade em se pagar pelos direitos autorais, pois os mesmos, quase sempre, são pagos através da bilheteria, sem onerar em nada o espetáculo. Então, por quê alguns insistem em não pagar? É claro, que cada caso é um caso, e é certo, que não só eu, mas como outros dramaturgos, não se negarão a liberar a cobrança dos direitos autorais para projetos sociais.

Acredito que, por menor que seja a remunaração pelos direitos autorais, ela é justa e representa um estímulo para todos que se dedicam a dramaturgia, uma arte quase marginal. E contrapondo um ditado popular, nem só de arte vive o homem, ele necessita do pão. E o caminho entre o papel e o palco é longo, difícil e quase sempre sem oportunidades.

Todos nós, que de alguma forma estamos ligados ao teatro, vivemos pela arte, mas seria melhor se todos conseguissemos viver da arte que se faz.

A Força do Teatro

Nos anos dito de chumbo, o Teatro foi um dos grandes instrumentos com os quais se foi possível enfrentar a ditadura militar. Em cima do palco, grandes atores e atrizes, davam vida às histórias criadas por grandes dramaturgos, que com muito talento, conseguiam driblar a censura, e mostrar ao povo tudo que se passava com o país.

Com muitas perdas e muitos sacrifícios, a ditadura juntamente com a censura, ficaram para trás, a democracia tomou conta do país. Mas, o que aconteceu com a força do Teatro? Muitos dizem que a abertura influenciou na queda de criação, e o fato de se ter conquistado a liberdade de expressão, tirou o poder do Teatro de ser um instrumento de informação mais contundente.

Talvez pelos anos em que foi um dos principais instrumentos contra a ditadura, o Teatro sofreu um certo desgaste, natural, eu acho! Foi preciso uma oxigenação, e na minha opinião, foi essa oxigenação que deu origem a um teatro menos compromissado, politicamente falando, trazendo à tona, um Teatro descontraído, de cotidiano, de pura diversão, dito comercial.

Esse Teatro dito comercial, tal qual o Teatro engajado dos tempos da ditadura, têm força, e por mais que divirta muito mais que informe, esse Teatro dito comercial, também é competente e tem o seu valor. Mas isso é assunto para uma outra oportunidade. O que importa agora é a força que o Teatro pode ter.

Muito mais que uma arte, o Teatro sempre teve uma importância social muito grande, principalmente quando chega às camadas menos favorecidas da sociedade, ajudando a instruir essa população carente de cultura e informação.

A situação em que passa o país, faz pressupor a necessidade de uma revolução, mas, sem armas, sem brigas, sem perdas de vida. Uma revolução feita pelo poder da palavra e da ação, e o Teatro tem essa força! É preciso uma mobilização da arte contra esse processo degenerativo em que passa o país. Não é possível suportar tanta corrupção, tanta violência, tanta desfaçatez de certos homens que usufruem do dinheiro público para o seu bel prazer.

E é preciso apressar o passo, pois alguns homens estão tentando sorrateiramente e de uma forma camuflada, implantar a censura no conteúdo de programas de televisão, através da classificação indicativa, numa tentativa de inibir a criação ou talvez, de proteger interesses de alguns.

Dramaturgos, diretores e atores, precisamos empunhar essa bandeira para mostrar a força que o Teatro tem. Que é possível, em cima de um palco, passar a limpo novamente esse país. É chegada a hora da luta, de mostrar a força do Teatro como um instrumento transformador para uma sociedade diferente, não sei se melhor, mas, diferente.

A importância dos Festivais

Longe do grande público e da cobertura da grande mídia, os festivais de teatro sempre fazem a festa da classe teatral em várias partes do Brasil. Não é de hoje que esses festivais são importantes para a formação de atores, diretores, dramaturgos e de toda a gente que é envolvida na preparação de uma peça teatral. Nesses festivais é possível conhecer a diversidade cultural do Brasil e o jeito peculiar que cada região tem de mostrar as concepções e interpretações sobre os espetáculos que apresentam.

Certa vez, participando do Festival Nacional de Ponta Grossa, tive a oportunidade de assistir espetáculos do Acre, Rio Grande do Norte, do Interior de São Paulo, da Região Sul do país, e trocar conhecimentos que me foram enriquecedores. Imaginem só, a quantidade de cultura que foi possível absorver. Foi incomensurável! Um caldeirão de sotaques, de hábitos, de interpretações, e assim, com certeza, acontecem em todos os festivais que são realizados pelo Brasil.

Os grupos de teatro que de alguma maneira têm a possibilidade de participarem, devem participar dos festivais, pois, além da vantagem do enriquecimento cultural advindo da diversidade proporcionada nesses festivais, o público é em quase toda sua maioria, formado por gente ligada ao teatro. É a oportunidade que se tem de obter uma visão mais crítica sobre os trabalhos, podendo assim, apurá-los e afiná-los para que se possa mostrar ao público em geral, um espetáculo seguro, revigorado e com uma qualidade ainda maior.

O que há de se lamentar é que nem todas as cidades realizam festivais de teatro, e algumas, que sempre os realizavam, também já não os realizam mais. Seria importante que isso acontecesse em todos os lugares, pois os festivais também são uma forma de fomentar a cultura, não só da cidade e região onde ele é realizado, como entre os grupos que vêem de fora para participarem, pois estes, levam de volta as experiências adquiridas, numa corrente contínua.

Os governos que têm programas de incentivos à cultura, bem que poderiam transferir parte dessas verbas para a realização de festivais de teatro em seus Estados ou Cidades, se possível, até custeando os espetáculos que viéssem de fora da região, com passagens e estadias, por certo, aumentaria o intercâmbio entre todos, e contribuiria para o desenvolvimento do teatro e da cultura.

Esses festivais, poderiam também, ser incrementados com Concursos de Dramaturgia, o que fomentaria e facilitaria, o surgimento de novos autores no cenário teatral, pois novos dramaturgos não encontram muitos espaços para divulgarem seus trabalhos.

Que a classe teatral e os organizadores de festivais por este Brasil a fora, continuem com essa parceria, promovendo o intercâmbio de conhecimento e revigorando cada vez mais, a classe teatral. E que a mídia e os governos, divulguem e invistam de uma maneira mais contundente em festivais, pois são neles, que são revelados os grandes atores, diretores e dramaturgos que farão com que esse ciclo de teatro não desapareça.

A importância dos festivais de teatro deve ser levada em consideração quando se discute os rumos da cultura, pois nos festivais é que aparece o novo, o experimental, e o contemporâneo.

Alma de Artista

Hoje em dia, o que tem de gente querendo ser artista é um absurdo, chega as raias da loucura. Parece que não teremos mais, médicos, advogados, engenheiros, dentistas, professores, contadores… Mas, como identificar um artista entre tantas pessoas? Pensei, repensei, tornei a pensar e no fim, cheguei a uma conclusão: Um artista a gente conhece pela alma!

Alma de artista exala sensibilidade por todos os poros. É capaz de emocionar com gestos simples, sem dizer nada, faz chorar e rir com a naturalidade de quem diz: Bom dia! Tem uma luz que ilumina qualquer espaço que ocupe.

Sim, podem acreditar! Um artista a gente conhece quando conseguimos enxergar a sua alma. Uma alma que exala poesia escrita em algumas mal traçadas linhas, às vezes até desconexas, pelo dedilhar das cordas de um violão, pelas piruetas dadas sobre sapatilhas surradas, pelo canto sutil de uma voz que ecoa em nossos ouvidos como sinfonia, por uma interpretação simples e natural que transborda emoção, mesmo que a cena seja apenas a expressão do silêncio.

Eu sei que não é fácil separar o joio do trigo, ainda mais quando a própria mídia se encarrega de plantar a confusão entre o que é ser artista ou não. Tem horas que não sabemos, se o que vemos é o básico, e se esse básico é clássico, ou esse clássico é erudito, ou esse erudito é popular, ou ainda, se esse popular é o báscio que se quer mostrar. Mas, pelo sim ou pelo não, diante desta confusão descrita acima, procure pela alma, a alma do artista vai te cativar.

É claro que muitos que circulam pela mídia têm sonhos, que outros tantos têm a oportunidade, e outros têm apenas a curiosidade, mas o artista de verdade, se sobrepõe a tudo isso, e nos fala através de sua alma. E cabe a nós, simples mortais, acolher essa alma como um presente divino, pois, a alma do artista transcende a matéria que alguém nos tenta vender.

Por certo, muitos fazem sucesso, outros alcançam a fama por outros tantos desejada, outros são apenas levados pela esteira da mídia, e se contentam como celebridades instantâneas e descartáveis, mas, se você quiser conhecer um artista de verdade, abra bem os olhos e desarme o seu coração, porque um artista vai muito além de um corpo sarado e bonito.

A alma de artista exala verdade, seja sobre um palco, sobre um trapézio, sobre um picadeiro, ou sobre o asfalto quente de uma praça qualquer, e se você deixar, a alma do artista vai lhe fazer rir, lhe fazer chorar, lhe emocionar, e com certeza, vai lhe fazer um pouquinho mais feliz.

Estão vendo? Para ser artista, não precisa muito, apenas vocação, dedicação, um pouco de estudo, uma boa dose de sacrifício e alma, alma de artista!