Artigos Diversos

Oportunidade para trabalhar na Globo. Você está apto?

Senhoras e senhores, leitores e leitoras.

Para um bom observador, o site Oficina de Teatro é um enorme laboratório. É um “ecossistema” artístico onde pode-se observar os mais diversos tipos de pessoas, idéias e ações.  Andei prestando muita atenção, ultimamente, num ponto em especial: a escrita.  Já escrevi um artigo falando da importância do conhecimento teatral, e agora sinto que devo ir mais além e dizer que falta o conhecimento básico de tudo: falta a leitura!

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Dramaturgo, um injustiçado

Sei que já falei sobre dramaturgia, sobre direitos autorais e muitos outros assuntos relacionados ao texto de teatro, por diversas vezes e de várias maneiras diferentes, mas hoje vou falar do dramaturgo, porque se há alguém injustiçado no meio do teatro, esse alguém é o dramaturgo e não tenho nenhuma dúvida sobre isso.

E nem vou gastar aqui, linhas e linhas falando da dificuldade que é escrever um texto, nem tão pouco me queixar das noites em claro atrás da história perfeita. Não vou nem falar do esforço da transpiração sobre a imaginação quando a história emperra. Isso tudo não tem importância, pois qual a importância do dramaturgo para o teatro? Quase nenhuma.

Afinal de contas, quem se interessa pelos textos de um tal William Shakespeare, ou de um tal Sófocles, de um outro grego de nome Eurípides, ou até mesmo de um certo americano chamado Tenesse Williams, ou ainda de um outro mais próximo de nome Plínio Marcos? Quase ninguém, não é mesmo?

Dramaturgos são realmente pessoas de pouca importância e que não merecem nenhuma consideração quando se pensa em montar um espetáculo. O teatro sobrevive sem eles, pois há outras formas de se expressar o teatro sem necessariamente precisar de um bom texto, não é certo?

Tenho a impressão que dramaturgo é apenas um idiota que perde seu precioso tempo escrevendo histórias que mais tardes serão apropriadas por alguns espertalhões, que em nome da cultura, o tomarão para si, ou simplesmente tratarão de ignorar o autor, o excluindo de qualquer vínculo que possa ter com o texto a ser montado.

Dramaturgo… ainda não sei como e porque acabei me enfiando nisso! Até procuro outras formas de escrever, como a narrativa, os roteiros, as poesias, até as letras de canções, mas escrever para teatro é maior do que eu. Quando penso em escrever uma história, por mais que no final a escreva em outro formato, ela me vem primeiro na forma de carpintaria teatral. E mesmo com toda injustiça, eu ainda insisto.

Espero que um dia esse quadro mude, mas enquanto isso, vou seguindo em frente. E mesmo sabendo que volta e meia serei passado para trás e que outras tantas vezes serei ignorado como autor quando de uma montagem teatral, estou certo que continuarei a trilhar esse caminho, pois a dramaturgia está e estará em mim.

No meio do caminho há sempre uma pedra

Os artistas têm fama de malucos por verem a sociedade por uma outra ótica. Realmente estudamos não apenas para obter uma vaga no mercado de trabalho; estudamos também para compreender às mazelas de nosso país, mas como isto não chega ao grande público a imagem que fica é o lado glamuroso da profissão.

Fala-se muito no chefe bravo, no encarregado estúpido, mas muitos diretores de teatro, coreógrafos e regentes, passam longe de ser uma candura de pessoa. Não são pessoas más, porém a busca pela perfeição, do melhor, do inédito faz com que a rotina dos artistas seja tão estressante quanto a de qualquer executivo.

Passos repetidos a exaustão, dias ensaiando a mesma cena. A nossa meta é o belo, o retorno financeiro na maioria das vezes fica em segundo plano. Até a cena ficar do jeito que o diretor quer é comum ouvimos gritos e mais gritos. A nossa jornada de trabalho é irregular, fim de semana não é dia de descanso, para os artistas sábado e domingo é dia útil. Recebemos criticas, quando digo critica é critica mesmo e não apenas um feedback construtivo.

Falando em feedback geralmente dos diretores ouvimos quando estiver ruim eu aviso ou depois de passar a mesma cena pela quinta vez ouvimos um “ ficou melhor”, ou seja, ainda não está bom. É claro que quando vem um elogio, instantaneamente esquecemos todas as dificuldades e compreendemos o porquê do método e recarregamos as nossas baterias para os próximos ensaios, próximos gritos, próximas critica e etc.

A interação no Teatro Infantil

O teatro infantil tem uma característica diferente do teatro adulto, mas nem por isso deve ser encarado como algo inferior. O que acontece é que diferentemente do espetáculo adulto, onde texto e interpretação são pontos chaves, no teatro infantil, a magia do espetáculo como um todo, acaba fascinando o público mirim que enxerga ali, muito da magia e da brincadeira de faz de conta que ele conhece apenas através dos livros.

E quando de repente, sem que esse público espere, ele se vê sendo convidado a participar do espetáculo, não apenas como um simples espectador, mas como parte integrante da história, a magia se torna completa e o fascínio é ainda maior, o público acaba se entregando de corpo e alma. Mas essa interação pode ser perigosa para quem está em cena.

Não é raro ver espetáculos infantis usando o expediente da interação como alavanca para aproximar a platéia, na maioria das vezes, a resposta é positiva e a criançada adora, pois é levada a participar do espetáculo. Mas, vale lembrar que sempre existe o risco de se perder o fio e aquilo que se pretendia ser uma interação pura, passa a ser brincadeira de animação e neste momento, o teatro infantil sai de cena.

Por conta de alguns espetáculos que escorregam nesse tipo de interpretação, baseada no princípio da interação, onde o público acaba sendo fundamental para apresentação, muitas pessoas ainda têm a idéia de que o teatro infantil é apenas brincadeira para distrair criança e não pode ser levado tão a sério.

Não que seja contra quem usa esse expediente, acho até interessante, pois aproxima a criança do teatro, levando muitas delas a quererem freqüentar cursos para um dia estar do outro lado do palco. Só me incomoda quando aquilo que devia ser uma interação, descamba para a balburdia e os atores deixam de ser personagens de uma história, para se transformarem em animadores de festas infantis em cima de um palco.

É óbvio que existem histórias que até levam automaticamente a interação com a platéia e outras, que de tão boas, acabam conduzindo a platéia a uma interação espontânea com os atores, afinal de contas, no teatro infantil a interação está sempre presente e é sadia, pois é a demonstração sincera de quanto aquele público mirim está se envolvendo com a história que é contada.

Mas, como não estou aqui para julgar ninguém, muito menos para criticar o trabalho de quem o faz com dedicação, tentando passar de alguma forma, a magia do teatro, que cada qual descubra a medida certa entre a interação e a interpretação, visando sempre levar ao público mirim, a magia de uma boa história e assim, manter viva a chama do teatro infantil.

Não precisamos ter medo do Grande Irmão

O ator lida com a fantasia não com a realidade, mas qual o problema em pessoas que surgem para o grande público em um reality show iniciar uma carreira artística depois da fama repentina?

Caso alguém tenha recebido uma oferta de emprego num banco, por exemplo, apesar de não ter experiência alguma na área, ela não fica ouvindo xingos ou chacotas por ser um profissional inexperiente. Pelo contrario em muitos casos os companheiros de trabalho ajudam o profissional inexperiente.

O tempo que as pessoas gastam criticando estes novos atores poderia ser utilizado para estudar. Acredito que tais agressões, talvez inconscientemente, retratam uma necessidade de auto-afirmação, uma insegurança. E a partir do momento que nos sentimos inseguros é porque está na hora de nos aperfeiçoarmos. É assim no mercado de trabalho “tradicional”; quem sente que seu emprego está ameaçado ou que está precisando de novos conhecimentos para progredir faz uma faculdade, uma pós-graduação, um curso de idioma, informática qualquer coisa para justamente manter-se atualizado e não ter medo de perder o emprego para um desqualificado. Por que a classe artística se acha no direito de fazer diferente? Atores têm o direito de agredir publicamente os outros?

Em tese quem se inscreveu em um reality show tinha uma outra profissão (cabeleireiro, advogado, medico, modelo, etc.) e passou a “atuar” em comerciais e novelas depois da fama. Que mal há em tentar? Um famoso de reality show atrai anúncios e audiência. A televisão sempre precisou de imagem, de pessoas que ficam bem no vídeo, então porque uma empresa de comunicação não pode investir em um novo funcionário?

Podemos não gostar de alguém ou do seu trabalho, mas devemos sempre respeitá-lo. Esta atitude respeitosa é principalmente prudente, porque se por ventura estes novos atores se dedicarem e o antigo clichê “só quem tem talento vai sobreviver” se comprovar, com uma carreira de sucesso a convivência entre os atores será péssima.

Muitos me perguntam o que devo fazer para ser ator. Acredito que participar de um reality show é o caminho menos indicado, mas tenho que admitir que a vida nos oferece diversas oportunidades cabe a nós sabermos aproveitá-las ou não.

Direitos Autorais - Complemento

Ontem o colunista Paulo Sacaldassy escreveu uma coluna com um pequeno puxão de orelha aos “piratas” da dramaturgia (clique aqui para ler o artigo)

Resolvi então complementar o que o Paulo disse com esse artigo.

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