O teatro infantil tem uma característica diferente do teatro adulto, mas nem por isso deve ser encarado como algo inferior. O que acontece é que diferentemente do espetáculo adulto, onde texto e interpretação são pontos chaves, no teatro infantil, a magia do espetáculo como um todo, acaba fascinando o público mirim que enxerga ali, muito da magia e da brincadeira de faz de conta que ele conhece apenas através dos livros.
E quando de repente, sem que esse público espere, ele se vê sendo convidado a participar do espetáculo, não apenas como um simples espectador, mas como parte integrante da história, a magia se torna completa e o fascínio é ainda maior, o público acaba se entregando de corpo e alma. Mas essa interação pode ser perigosa para quem está em cena.
Não é raro ver espetáculos infantis usando o expediente da interação como alavanca para aproximar a platéia, na maioria das vezes, a resposta é positiva e a criançada adora, pois é levada a participar do espetáculo. Mas, vale lembrar que sempre existe o risco de se perder o fio e aquilo que se pretendia ser uma interação pura, passa a ser brincadeira de animação e neste momento, o teatro infantil sai de cena.
Por conta de alguns espetáculos que escorregam nesse tipo de interpretação, baseada no princípio da interação, onde o público acaba sendo fundamental para apresentação, muitas pessoas ainda têm a idéia de que o teatro infantil é apenas brincadeira para distrair criança e não pode ser levado tão a sério.
Não que seja contra quem usa esse expediente, acho até interessante, pois aproxima a criança do teatro, levando muitas delas a quererem freqüentar cursos para um dia estar do outro lado do palco. Só me incomoda quando aquilo que devia ser uma interação, descamba para a balburdia e os atores deixam de ser personagens de uma história, para se transformarem em animadores de festas infantis em cima de um palco.
É óbvio que existem histórias que até levam automaticamente a interação com a platéia e outras, que de tão boas, acabam conduzindo a platéia a uma interação espontânea com os atores, afinal de contas, no teatro infantil a interação está sempre presente e é sadia, pois é a demonstração sincera de quanto aquele público mirim está se envolvendo com a história que é contada.
Mas, como não estou aqui para julgar ninguém, muito menos para criticar o trabalho de quem o faz com dedicação, tentando passar de alguma forma, a magia do teatro, que cada qual descubra a medida certa entre a interação e a interpretação, visando sempre levar ao público mirim, a magia de uma boa história e assim, manter viva a chama do teatro infantil.
Ontem o colunista Paulo Sacaldassy escreveu uma coluna com um pequeno puxão de orelha aos “piratas” da dramaturgia (clique aqui para ler o artigo)
Resolvi então complementar o que o Paulo disse com esse artigo.