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Projeto Teatro-Escola pode ser o caminho

Muito se discute a freqüência do público em apresentações teatrais, mas quais são os motivos que fazem o público que freqüenta teatro ser tão pequeno? São muitos, e não cabe enumerá-los aqui, pois, além de ocupar todo esse meu espaço, entraria em um assunto que prefiro deixar para uma outra hora.

Bem, como falei, os motivos não vêm ao caso agora, tratemos pois, de encontrar meios para mudar esse quadro, e acho que o Projeto Teatro-Escola vem bem ao encontro do que quero falar. Essa parceria Teatro-Escola pode ser um caminho.

Muitas escolas já perceberam o quanto o Teatro é importante e como ele pode ser usado como um instrumento de apoio e até complementar do conteúdo pedagógico. Algumas escolas, atentas a isso, incentivam seus alunos a irem ao Teatro e outras vão mais além, levam espetáculos de teatro à escola ou ainda, vão junto com seus alunos ao Teatro, fazendo um intercâmbio muito interessante, e que pode fortalecer a freqüência do público em apresentações teatrais.

O Projeto Teatro-Escola aparece nesse cenário nebuloso em que vive o Teatro e onde a freqüência do público é ínfima, como uma das soluções, pelo menos no meu ponto de vista, pois, além de se mostrar rentável, cumpri o papel de formar o espectador do futuro, porque levar um público que não foi criado com o hábito de ir ao Teatro a assistir espetáculos é um trabalho lento, mas que deve ser contínuo e de muita insistência.

Acho que não deve se desprezar esse filão, precisa-se sim, de mais espetáculos engajados no Projeto Teatro-Escola, pois é certo que, se a escola se encarrega de levar o filho, o pai, com certeza, deixará seu filho ir.

Mas, como explorar esse filão? No meu ponto de vista, deve-se pensar o Teatro Infantil da mesma maneira em que se pensa o Teatro para os adultos. Por que só os espetáculos para adultos são bem cuidados, bem ensaiados, e tem a aplicação da interpretação pelos atores? Criança também é espectador. E, seguindo a minha linha de raciocínio, se os espetáculos infantis forem bem cuidados e respeitarem a criança a ponto de cativá-la, cumprirá ainda, a parte de formação do espectador do futuro.

Os problemas da baixa freqüência do público em apresentações teatrais, podem ser muios, mas há de se buscar maneiras de se fazer teatro onde se possa ter rentabilidade e público. Por que pensar só em produções para o público adulto? Se nós, adultos, não fomos criados com o hábito de irmos ao Teatro, o azar é nosso!

O Projeto Teatro-Escola através de espetáculos infantis tratados de uma maneira mais profissional, realmente pode ser o caminho, de uma longa estrada que se tem para seguir, em busca da fidelidade de um público que vá ao Teatro pela grandeza de sua importância, e não apenas como um passeio que se faz antes ou depois da pizza.

Uma Luz no Fim do Túnel

Que a televisão vem passando por um mau momento, isso ninguém discute e não é novidade para ninguém. A falta de opção, a má qualidade da programação, a mesmice, a falta de criatividade, etc e tal, é evidente e a maioria concorda. Mas, eis que surge uma luz no fim do túnel, e essa luz só poderia vir de uma direção, da única TV que inova, que arrisca, a TV Cultura de São Paulo.

Todos reclamamos da falta de algo novo, por isso, acho justo que se dê crédito a algo que vem tirando a mesmice da televisão brasileira, principalmente em termos de cultura, pois, afinal de contas, não são todos os brasileiros que têm o privilégio de terem tv por assinatura e contar com uma programação mais qualificada, não é mesmo?

Pois, então? Não sei se vocês sabem, mas está no ar nas noites de domingo, há algumas semanas, um programa muito interessante, e que vale a pena ser assistido. Quem ainda não teve a oportunidade de ver, recomendo que assim que puderem, o façam, principalmente as pessoas ligadas ao teatro e ao cinema.

Talvez quem está acostumado com o palco, estranhe um pouco a linguagem cênica, e também pode ser que quem esteja acostumado com o cinema, estranhe um pouco as tomadas de câmeras, mas o resultado final, vale muito a pena! Uma forma nova de mostrar teatro através da TV.

O nome do programa? Ah, já estava esquecendo, chama-se “direções”. E ele coloca ali, na nossa frente, na tela da televisão, um conteúdo sofisticado, objetivo, criativo, inovador e acima de tudo, com muita qualidade, e o qual espero que tenha vida longa, para que mais e mais pessoas possam mostrar seus talentos.

Diante de tudo que tem sido mostrado nos dias de hoje, o programa “direções” aparece como algo que realmente vale a pena, pois traz ao público geral, novos e consagrados nomes da direção teatral, da dramaturgia e da interpretação, nos oferecendo uma oportunidade única de absorvermos cultura e entretenimento de altíssima qualidade.

Pois é isso pessoal! Fica aqui minha sugestão. Quem puder, sintonize a TV Cultura de São Paulo, todos os domingos, a partir das 21 horas, e assista teatro com cara de cinema ou será cinema com cara de televisão? Sei lá! Só sei que essa mistura deu certo e vocês poderão ver uma luz no fim do túnel.

Ah, só para finalizar, e antes que alguém pense que eu tenho algum interesse na divulgação deste programa, quero deixar bem claro, que não moro na cidade de São Paulo, não trabalho na TV Cultura e não conheço ninguém que faça parte do programa, certo? Estou apenas querendo compartilhar com vocês, a oportunidade de assistirem um programa de alta qualidade e que nos traz uma forma nova de mostrar teatro através da televisão.

O Ator Espírita

É engraçado quando ouço alguém dizer que incorpora a personagem, dá vontade de perguntar se a pessoa está participando de alguma sessão espírita, com todo o respeito que a religião espírita merece. O pejorativo aqui não é o espiritismo em si, e sim o ator, que quando diz incorporar a personagem, mostra claramente o grau de desconhecimento que tem sobre a personagem que vai interpretar.

Sempre é bom lembrar que teatro é a arte da ação, então, toda a ação pressupõe uma outra ação, que nos leva à outra ação, e é esse vai e vem de ações que move a personagem. Não sei se estão me entendendo? Vou dar um exemplo: Uma personagem sente uma enorme dor de barriga, o que a move é a dor de barriga, isso vai causá-la alguma sensação, que foi motivada por uma ação anterior, essas informações é que são fundamentais para se compor a personagem, não adianta ler no texto, se concentrar e incorporar a personagem, não é verdadeiro.

Tem também a turma dos atores sensitivos, que dizem compor a personagem pelo que eles sentem, a tal intuição, se é que vocês me entendem. É óbvio que não se pode levar a sério os atores que entendem interpretação como algo espírita, não é só chegar na hora de interpretar e deixar a personagem “baixar”.

Isso é muito sério, pois existem atores que acham que estão fazendo o seu melhor, que estão dando a sua verdade ao personagem. Mas, não existe a sua verdade, nem tão pouco a tal falada memória emotiva, a personagem é como um ser vivo que tem a sua própria história, os seus sentimentos, as suas emoções, as suas reações, enfim, a sua razão de ser, ela não é abstrata.

Cabe ao ator, estudar a personagem através do texto, e descobrir ali, as necessidades e as motivações para cada ação que a personagem vai viver, tudo tem uma justificativa, não existe a incorporação da personagem, isso é outra coisa, menos interpretação.

Como o próprio nome diz, interpretação, vem do verbo interpretar, que significa representar, logo então, interpretação é a representação, não é simples? Está aí, interpretar é representar para o público, de uma forma geral, as ações, emoções e reações de uma personagem. É mostrar do seu jeito e pelo seu entendimento, o que aquela personagem vê, sente e age. Interpretar portanto, não é incorporar.

Então, você que pretende ser ator ou atriz, repense o seu conceito sobre a arte da interpretação, pois o ator espírita nunca será um ator de verdade, porque nunca conhecerá a alma das personagens que interpreta. Tudo soará sempre artificial, como um ritual, chega-se ao teatro, espera-se o primeiro sinal e concentra-se, ao segundo sinal faz-se as orações, e ao terceiro sinal incorpora-se a personagem e pronto. Depois é só aguardar a abertura das cortinas.

Antes de mais nada, quero deixar bem claro que precisa-se ter muito respeito com a religião espírita, que é quem tem de fato, os ensinamentos necessários que possibilitam incorporar alguém. Incorporar não é atuar e o ator de verdade, interpreta, não deixa a personagem “baixar”.

A Influência da Televisão

Quando a televisão foi criada, não se imaginou que o então aparelho que foi colocado como principal objeto nas salas das famílias, acabaria tendo tanta influência na vida das pessoas. Mas o fato é qual o tal aparelho inofensivo, se tornou um instrumento por demais perigoso.

É claro, e não cabe aqui maiores contestações, que quando bem aplicada, a televisão acaba atendendo e suprindo certas necessidades de informação que as pessoas de uma maneira geral têm. O problema é a sua má utilização e certas influências que de uma forma ou de outra ela acaba gerando.

Poderia descrever aqui inúmeras influências que a televisão é capaz de provocar nas pessoas, desde modos, maneiras e comportamentos, até opiniões e opções político-partidárias, mas o que me interessa descrever aqui é a influência que a televisão tem sobre os jovens e os seus desejos de se tornarem um artista.

Que o fascínio provocado pela televisão é grande, também não se discute, só que é justamente esse fascínio, misturado ao glamour das festas e da vida cotidiana dos artistas que a televisão mostra, que acaba influenciando e confundindo o jovem quanto a sua opção pela vida artística.

É óbvio, que a maioria do jovens de hoje em dia que dizem para todos que querem ser artistas, não sabem, aliás, não têm a mínima idéia do que estão falando, pois talvez o que eles queiram de verdade é apenas aparecerem na televisão, serem famosos, e fazerem parte deste glamour mostrado pela televisão.

Talvez esses jovens nem sejam de todo culpados, na realidade, muitos dos pais que também influenciados pela televisão, fazem de tudo para colocarem seus filhos em evidência, e não medem esforços para torná-los o “artista” da hora, sequer imaginarem, o quão é sofrida e difícil a vida de um artista de verdade, e também têm suas parcelas de culpa.

Não estou aqui para desdenhar o sonho de ninguém, muito pelo contrário, acho até que aqueles que sonham em serem artistas, trabalharem na televisão, serem famosos, devem, enquanto são jovens, esquecerem um pouco tudo isso, e focarem única e exclusivamente em suas formações. Estudem, leiam, invistam em seus conhecimentos, pois a fama é efêmera e jamais deve ser o objetivo.

E essa caixa mágica que enfeita a nossa sala, exerce mesmo um fascínio e uma influência quase que hipnótica sobre todos nós, por isso, precisa-se tomar muito cuidado em não misturar o que é apenas uma vontade de se ver ali na tela da televisão, vivendo toda aquela vida de glamour, da profissão de artista, que na verdade, não tem nada do glamour, e é feita de sacrifícios e construída degrau a degrau, até se consolidar em uma carreira de sucesso.

A Arte da Espera

Como diz o ditado: “o apressado come cru e quente”. Mas, como controlar a ansiedade que ronda a vida do artista, principalmente quando essa espera é por uma tão sonhada e aguardada chance? É difícil, não é mesmo? Suportar a espera para ter o reconhecimento de tanto esforço e dedicação, seja como ator, diretor, dramaturgo, músico, bailarino, e tantos outros artista, realmente é uma arte.

E, parece que quanto maior a ansiedade, maior parece ser o tempo da espera pela chance ou pelo reconhecimento. Os dias estressantes de ensaios, a pré-produção, a estréia que não chega, a reação do público, tudo vira um turbilhão que sacode a vida do artista de uma tal maneira, que ás vezes fica difícil de controlar.

Quando se é jovem, onde se tem urgência de tudo, parece que não vai chegar nunca a tal chance. São oportunidades que pintam, e que muitas vezes são perdidas pela ansiedade, e a espera que parecia ter chegado ao fim, se afasta de novo. E quando já não se é tão jovem assim? A espera é quase uma eternidade.

Como você se sente, depois de investir anos de estudo, esforço, dedicação em busca de um lugar ao sol, e se ver pronto para ter seu trabalho reconhecido após aguardar quase que impacientemente por uma chance, ver assim, sem mais nem menos, cair de pára-quedas, naquela vaga que você tinha certeza que estava pronta para ser sua, uma dessas celebridades instantâneas preocupadas apenas com a fama? Frustrante, não é mesmo?

Então, diante desta situação, tentando ser racional, você se põe em frente ao espelho e diz: “Calma! No fim, tudo dá certo, se não deu certo é porque não chegou ao fim”. Uma ova! O que eu faço com a minha espera? Do que me serve tantos anos de dedicação? Não é fácil a arte da espera.

Poderia descrever aqui mil e uma palavras de incentivo, de otimismo, daquelas do tipo auto-ajuda. Mas, sou incapaz, pois essa ansiedade que é causada pela espera da tão sonhada chance e do reconhecimento, também ronda a minha vida, e não é nada fácil ver gente tão capaz quanto nós, fazendo sucesso, enquanto permanecemos aqui tendo que esperar pacientemente pela nossa vez.

É certo que uns têm mais sorte que outros, pois são as pessoas certas, em momentos certos, e nos lugares certos e, portanto, são premiadas com o reconhecimento de seu trabalho sem ter que suportar tanta espera.

Mas, a alma de artista fala mais alto e é ela que funciona como uma espécia de antídoto contra a ansiedade da espera, e nos faz continuar se aplicando, estudando, levando a nossa arte até onde os nossos sonhos conseguem alcançar.

Quanto à vocês, eu não sei, mas posso afirmar que tem sido uma arte ter que conviver com essa minha espera.

O direito de quem escreve

A vida do teatro realmente é mesmo muito dura, todos nós sabemos o quanto é difícil se manter única e exclusivamente de nossa arte, não é mesmo? Esse quadro é ainda pior para os dramaturgos, que via de regra, são relegados a um segundo plano, quase sempre sem nenhum reconhecimento.

Tal qual a montagem de um espetáculo, a criação de um texto também demanda muita dedicação por parte do dramaturgo, mas quando temos o texto ali, pronto para ser encenado, mal damos conta do trabalho que deve ter sido demandado para por um ponto final na história.

É claro, que quando falamos de teatro, passamos por um turbilhão de dificuldades, e é sabido que muitos, de uma forma amadora, fazem do teatro um dos poucos instrumentos de inclusão social para as camadas menos favorecidas da sociedade e necessitam do apoio dos dramaturgos e suas histórias, mas mesmos esses que fazem do teatro quase que um sacerdócio, tratam os dramaturgos com pouca importância, pois são raros aqueles que comunicam aos dramaturgos a intenção de utilização de seus textos.

Acho que todos fazem parte de um mesmo processo, tal qual os atores, os diretores, os iluminadores, os cenógrafos, os figurinistas, os dramaturgos também precisam figurar como parte integrante dos orçamentos para montagens dos espetáculos, e com isso, terem seus direitos reconhecidos.

É óbvio que quando se pensa em montar um espetáculo, a primeira coisa que se faz é procurar um bom texto, isto posto, começam as escolhas do elenco, cenários, figurinos, patrocinadores, mas quase sempre esquecem de falar com o dramaturgo. Então, eu pergunto: Onde fica o direito de quem escreve?

Pensando pelo lado prático das coisas, mesmo sabendo das dificuldades que são encontradas para colocar um espetáculo na estrada, a baixa freqüência de público, a falta de espaço para apresentações, é preciso pensar em uma forma de se respeitar os direitos vinculados ao dramaturgo.

Talvez nunca se encontre um denominador comum entre os que escrevem com os que atuam, mesmo que um necessite do outro. Porque afinal de contas, o texto de teatro enquanto obra escrita é apenas literatura e só passa a ser teatro quando vai para cima de um palco, mesmo assim, acho legítimo que seja respeitado o direito de quem escreve, pois o ator, bem ou mal, consegue ter um mínimo de retorno naquilo que faz, mesmo que esse mínimo seja apenas suficiente para a pizza após a apresentação.

Na minha opinião, o engrandecimento do teatro, bem como a sua popularidade, além de necessitar de muito apoio e incentivo, precisa sempre contar com diretores competentes, atores infinitamente talentosos e textos muito bem escritos pelos dramaturgos, para quem sabe assim um dia, todos possam conseguir a retribuição pelos seus esforços e empenhos, e serem devidamente remunerados.