Artigos Diversos

Má educação

Tá lembrado daquele dito espirituoso? As regras existem para serem quebradas. Porém quando o assunto é a criação dos filhos, as regras devem ser cumpridas. Só assim teremos uma sociedade melhor.

Recentemente fui assistir ao espetáculo infantil Peter Pan (todos podem voar) em São Paulo e logo na entrada o segurança disse “a peça não pode ser fotografada ou filmada, nem por câmeras de telefone celular, os funcionários tem autorização de reter o equipamento”. Até ai nenhuma novidade, em outras casas há a mesma orientação. Na metade da apresentação vejo um funcionário do teatro confiscando uma máquina fotográfica. Um pai teve de passar por este constrangimento na frente de seu filho.

Como vamos ter uma sociedade sadia, se os pais não dão um bom exemplo? Não vou entrar na discussão de que atrapalha ou não fotografar a peça e nas questões legais sobre o direito de imagem, isto pode ser tema para um outro dia.

Foi uma cena constrangedora, mas pai e filho aprenderam a respeitar regras. O pai pela vergonha que passou na frente do seu filho e o menino sempre vai lembrar-se da bronca que o pai levou do segurança.

Este foi um caso específico, mas quantos outros maus exemplos que por um motivo ou outro não são repreendidos? Pais passam o legado de impunidade e falta de educação. Com estes exemplos as crianças deixarão de ser o futuro da nação e passarão a ser problemas sociais.

Ih, deu branco!

Tudo parece perfeito, cenário, figurino, atores e atrizes afinados após meses exaustivos de ensaios, a adrenalina a mil a espera do terceiro sinal e junto a tudo isso, a expectativa para que o espetáculo saia como previsto e seja um grande sucesso.

A ansiedade já toma conta das coxias, o texto é passado e repassado por várias vezes antes do espetáculo começar. Cada marcação é revisada cuidadosamente. Não há o que dar errado. Agora é pra valer! Eis então que é dado o terceiro sinal.

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Piada interna

Como reagir quando alguém na “vida real” dá a sua deixa ou fala o texto de uma peça que você está ensaiando?

Termina o texto, correndo o risco de a pessoa não entender, e ter de explicar a cena?

Você entra com a sua fala e quem deu a deixa, sem saber, solta um sonoro:
- Hããã!
E você responde:
- Nada, pensei alto.

Há outra hipótese também, talvez esta seja a mais comum. Fala mentalmente o texto, faz aquela cara de bobo que só a paixão por algo ou alguém é capaz de produzir, seguida daquela chacoalhada de cabeça para desfazer o semblante.

E as montagens feitas há anos, que de tão especiais nunca esquecemos as falas? Sem contar as falas das outras personagens, que de tanto ensaio decoramos também.

É claro que tudo no teatro é extraído do dia-a-dia, só que na maioria das vezes o interlocutor não conhece a peça, e a deixa foi dada na hora mais imprópria para brincadeira. Tenho três cenas que volta e meia surgem fora dos palcos.

Às vezes ao se despedir das visitas que recebemos nos finais de semana em casa a minha mãe diz:
- Não vai fica mais um pouco.
E na minha mente entra em cena Joana furiosa com Jasão em Gota D’água de Chico Buarque dizendo:
- Isto não fica assim!

No trabalho marcando uma nova reunião alguém fala:
- Quando é que nós três vamos nos encontrar de novo?
Eis que me aparece a primeira feiticeira da peça Macbeth de Shakespeare sugerindo:
- No raio, na chuva ou na tempestade?

E a supercampeã, a que mais sai do palco e entra no meu cotidiano, só que esta as vezes não vem certinha, geralmente tenho que adaptar a fala da pessoa.
- Sabe onde eu fui hoje?
Logo respondo:
- A cartomante, aquela que me recomendaram. (Zulmira falando com Tuninho em A falecida de Nelson Rodrigues).

Confesso que na maioria das vezes completo as falas. Não costumo explicar cena nenhuma, acabo servindo de prova para as pessoas afirmarem “esse povo de teatro é tudo doido”.

A vida dura do teatro

Quando se chega a um teatro, acomoda-se confortavelmente em sua poltrona, não se tem a mínima idéia das dificuldades que passam atores, diretores e produtores. Todos só enxergam o produto final, ignoram a complexidade de todo o processo, desde a concepção do texto pelo autor até a apresentação no palco.

E quando o espetáculo então é para o público infantil, o desdém ainda é maior, muito embora sabemos que há espetáculos e espetáculos infantis, mas isso, fica para uma próxima vez.

O que pretendo dizer aqui, resume-se a vida dura que todos que se dedicam ao teatro, levam. Tanto esforço, tanta dedicação, e um mísero reconhecimento. Hoje em dia, só tem um boa bilheteira, os espetáculos encenados por atores televisivos. Só eles apresentam espetáculos de qualidades? Claro que não! Muitos e muitos atores, diretores e autores de pequena ou quase nenhuma mídia, têm trabalhos competentes e de boa qualidade sim, mas são rele-gados a um segundo plano.

Quantos espetáculos montados com grande qualidade que quase não tem bilheteria? Essa é a vida dura do teatro, onde circulam e atuam pessoas que se dedicam pelo amor a arte, e que na maioria das vezes gasta o dinheiro que não se tem, na espera de receber na melhor das hipóteses, aplausos.

Que o público que senta-se confortavelmente na poltrona do teatro para assistir um espetáculo que está na moda, possa compartilhar alguns tostões com os outros espetáculos que embora não estejam na moda, são produzidos com muito sacrifício e muita dedicação, pois pior de que enfrentar a vida dura do teatro é abrir as cortinas e não se ter o público para lhe prestigiar.

A Campainha

Beeeeemmm! Primeiro sinal.
Frio na barriga ouve-se o burburinho do público entrando, quem faz a primeira cena começa a se posicionar. Em fração de segundos é possível “passar” todas as falas da peça ou lembrar de que não foi ao banheiro e geralmente quando lembramos disto a vontade sempre vem. Dependendo do figurino e da distancia dá para resolver o assunto antes do segundo sinal, caso contrario é bom pôr em pratica todas as técnicas de Stanislavski de concentração e preparação de ator que a vontade passa, na maioria das vezes é nervosismo mesmo.

Beeeeeemmm! Segundo sinal.
O ápice da tensão. É nessa hora que sempre me questiono por que fui inventar isso? É tão mais fácil ficar na platéia. O que eu faço? Simulo um ataque? Um desmaio talvez? Não vale a pena, seguindo a máxima: O show deve continuar; com certeza seria substituída por alguém. Enquanto pensei nestas bobagens todas sai totalmente da personagem, para voltar inicio o mantra “calma, calma, se concentre, calma, calma, se concentra…”.

Beeeeeemmm! Terceiro sinal.
MERDA!
Não sei explicar como, mas entre o terceiro sinal e a cortina se abrir relaxo como se nada tivesse acontecido e tudo dá certo.

É esta adrenalina que me encanta no teatro, mais até que o aplauso. O aplauso é importante, gratificante, mas essa apreensão funciona como uma espécie de termômetro. A partir do momento que pisamos no palco na base do “piloto automático” significa que esta na hora de começar estudar novas peças, ensaiar uma nova montagem e se preparar para outra tensão.

Beeeeemmm! A campainha de uma estréia.

O Dia do Teatro

Caros amigos, amantes do Teatro como eu, não sei se a data é para parabenizá-los ou estender a todos, minhas condolências, pois novamente chegamos a mais um DIA DO TEATRO. Será que há o que comemorar de fato?

Reflitamos pois, essa data que vem para dignificar essa nobre arte cultuada por alguns loucos visionários como nós.

Assim, à primeira vista, talvez fosse mais correto, estender minhas condolências, pois quantos e quantos de nós, amantes do Teatro, estão a míngua, correndo feito doidos com um pires na mão, implorando por qualquer apoio cultural? Quantos e quantos de nós estão sem espaços para ensaiar ou apresentar suas produções? Quantos e quantos de nós, sofrem com o desdém da grande mídia?

O Governo dá de ombros, dizendo que criou Leis de Incentivos, tudo bem, elas existem, mas, quantos verdadeiramente conseguem usufruir de fato dos benefícios da Lei?

E insistimos, por quê? Porque nós, amantes do Teatro, ainda enxergamos uma luz no fim do túnel e aguardamos pacientemente o dia em que o DIA DO TEATRO terá motivos para ser comemorado de fato. Um dia onde a classe teatral possa comemorar as alegrias de ver suas produções encenadas, encantando platéias por esse mundo a fora.

Mas, voltemos a nossa realidade nua e crua. O que fazer nesse dia? Pois bem, convido todos à esquecerem as agruras e dificuldades presentes em nossa arte e enchamos as ruas e praças com nossas encenações, pois como diz o poeta: O ARTISTA TEM DE IR AONDE O POVO ESTÁ!

E você, meu amigo, que está lendo esse artigo mas não tem o teatro no sangue e na alma, vá assistir um espetáculo, prestigie, aplauda, compareça… E vocês, amantes do teatro, espero que comemorem essa data, sobre um grande palco iluminado.

E viva sim, O DIA DO TEATRO.