Artigos Diversos

Amador ou Profissional? Eis a questão!

Na maioria das vezes, as pessoas são apresentadas ao teatro ainda na escola. Muitos nem se dão contam que um dia podem se tornar atores ou atrizes de sucesso. A aula, regada a uma peça de teatro, acaba sendo uma grande “brincadeira”, mesmo que o exercício seja levado a sério, pois alguns mais tímidos e outros nem tanto, usam a apresentação para se provocarem durante o ano.

Passada essa fase escolar, onde se é apresentado ao teatro sem compromisso algum, sempre tem alguém no grupo que leva aquela “brincadeira” um pouco mais a sério, e resolve procurar um grupo de teatro de verdade, pois sua alma foi tocada pelo bichinho do teatro.

São muitos os grupos que de uma maneira amadora conseguem fazer teatro de uma forma competente, mesmo com todas as dificuldades inerentes ao teatro, como a falta de espaço para ensaios, a falta de verba e as dificuldades de espaços para apresentação. Muitos são de muito bom nível, e são deles, que saem quase sempre, os atores e atrizes que chegarão a televisão.

Quando se está em um grupo amador, onde se faz teatro por amor e não se ganha nada por isso, tem-se a chance de aprender de verdade e na prática, as dificuldades de se fazer teatro em nosso país. Muitos optam por essa vida de teatro amador por toda a sua existência, mas outros, querem fazer desta arte o seu meio de subsistência, e é aí que depara-se com um grande dilema. Fazer teatro de uma forma amadora apenas para alimentar a alma artística ou partir de vez para uma carreira profissional e enfrentar todas as suas dificuldades?

Muitos jovens que atuam em grupos amadores, e vêem outros jovens fazendo sucesso na televisão, querem também fazer parte deste mundo, o quanto antes, melhor, e isso não é de hoje, pois, quem gosta de teatro de verdade, vive ou viveu um dia esse dilema. Mas quase sempre, o peso das responsabilidades, acaba interrompendo carreiras brilhantes, e muitas vezes, o teatro deixa de conhecer talentos que, ou não tiveram, a coragem suficiente para enfrentar as dificuldades, ou optaram por não correr riscos, e continuar apenas o seu teatro de forma amadora.

Acho que não se pode condenar, nem um, nem outro, cada qual deve escolher para a sua vida o que realmente quer no momento em que vive, as vezes, não á a hora de embarcar em uma aventura, e se jogar no mundo do teatro de uma forma desesperada, pois corre-se o risco de vender a alma ao diabo, e se perder na essência de sua alma de artista. As vezes é melhor trabalhar com o teatro amadorísticamente, mas consciente de estar preparado, para na oportunidade certa, encarar o desafio de viver profissionalmente do teatro.

A escolha é difícil, ainda mais quando se é jovem, por isso, não há a necessidade de precipitação, pois a história mostra que o teatro está cheio de atores e atrizes que tinham uma outra profissão, e no momento certo, deixaram o amadorismo para serem profissionais do teatro. E na maioria das vezes, com muito sucesso.

Entre o sonho e a realidade

Há uns tempos atrás escrevi um artigo cujo título era “Eu quero ser artista”, o qual tratava da busca desenfreada e quase sem medidas que as pessoas hoje em dia têm para se tornarem artistas. O que pude perceber é que o sonho está se sobrepondo a realidade. E isso é preocupante!

Na minha opinião está se criando muita expectativa em cima de uma profissão que se destaca pela necessidade de muito estudo, ensaios e muita prática, aliás, como todas as outras profissões, exige-se dedicação plena para o seu exercício. Mas, virar artista hoje em dia é sinal de status.

A minha preocupação é com os inúmeros jovens que buscam quase que alucinadamente e muitas vezes até com o apoio desmedido dos pais, algo que pode ser efêmero e causar marcas profundas nesses jovens. Pois, é claro e notório, que muitos só querem ser atores e atrizes para trabalharem na “Globo”.

É fácil de se notar na mídia, exemplos de jovens que conhecem o caminho da fama, do sucesso, da popularidade, e que ao caírem no ostracismo, perderam completamente a noção do certo e do errado, se sujeitando a todo tipo de trabalho, e muitas vezes acabam se entregando às drogas, e se envolvendo invariavelmente em polêmicas, apenas para se manterem em evidência.

Há de se tomar muito cuidado quanto a essa questão de querer ser artista e viver da arte, principalmente em um país como o nosso, onde a cultura é quase sempre relegada a um segundo plano e onde os artistas que fazem arte no submundo, longe das lentes da televisão, são quase sempre, desprestigiados.

Tudo bem, todo mundo tem direito a sonhar, mas há de se encontrar um equilíbrio entre o sonho e a realidade, pois são poucos os que conseguem construir uma carreira de sucesso e passam a ser respeitados como artistas de verdade, alcançando assim, um nível de estrelato. A menos que você, que sonhe indiscriminadamente em ser artista, se submeta a algo do tipo “Big Brother”, ou coisa do gênero, para se tornar artista a qualquer custo!

Querer ser artista, vai muito além do sonho, por isso, se você sonha em se tornar um artista, procure encarar essa profissão como a de um médico, de um advogado, de um contador, de um jornalista, há de se ter muita seriedade, disciplina, e acima de tudo, a consciência das dificuldades, pois o “ser artista”, não vai lhe garantir um emprego na televisão e nem vai te trazer um sucesso meteórico, a não ser em algumas exceções que só o acaso pode proporcionar.

O equilíbrio entre o sonho e a realidade está em ter a consciência da capacidade que se tem, do caminho que se vai percorrer e do objetivo que se quer conseguir. Ser artista, apenas para poder aparecer na televisão, não é suficiente, e acabará lhe levando à uma vida de frustrações e infelicidades.

Então, dê asas aos seus sonhos, mas não perca de vista a realidade de um lugar seguro para pousar se alguma coisa não sair como foi sonhado.

A discriminação do artista

Engraçado, enquanto a gente segue nossa sina de forma anônima no meio da multidão, levando nossa arte, as pessoas que nos cercam, quase nunca acreditam em nosso talento, e as pessoas que não nos conhecem quase sempre nos discriminam. Pergunto à vocês: Quantos já não foram chamados de loucos, vagabundos, e outras coisas do tipo, só por ser um simples artista perdido no anonimato?

Cheguei a conclusão que as pessoas só reconhecem como artistas, os atores e atrizes que aparecem na novela das oito, ou o cantor, cantora ou banda, que tem sua música tocada exaustivamente nas rádios, fora isso, mais ninguém é considerado artista, tamanha a discriminação.

Não sei se alguma vez vocês sentiram ou presenciaram alguma manifestação de discriminação contra algum artista desconhecido pela grande maioria, talvez sim, isso é muito comum em barzinhos, onde músicos, sempre desconhecidos, tocam a noite toda como se fizessem mero acompanhamento para um bate-papo informal.

E as peças com atores desconhecidos? A dificuldade de colocar público no teatro se torna quase uma missão impossível. Na maioria das apresentações, o público é formado, na sua maioria, por nossos amigos e familiares, que ao final, nos falam duas ou três palavras de incentivo, mas quase sempre nos aconselham a voltar a vida normal.

Não consigo entender porque o artista que se tornou conhecido do grande público, tem mais valor do que o artista que faz o seu trabalho ainda no anonimato. Talvez a psicologia possa dizer alguma coisa. Quem sabe não é algo sobre o exemplo a seguir. - Fulano está na mídia, eu quero ser igual à ele! É até compreensivo, mas o que não é, é o desrespeito e o preconceito contra os anônimos.

Se a pessoa está ali, se apresentando como artista e você ali, como espectador, subentende que de alguma maneira, você veio prestigiar aquele artista desconhecido, certo? Então eu lhe pergunto: Por que desvalorizar esse trabalho? Neste fim de semana mesmo, presenciei um caso desse. Na escola onde estudam minhas filhas, houve uma apresentação de um grupo de música desconhecido do grande público, que diga-se de passagem, de muito talento, e que foram contratados para a festa do dia dos pais, mas o que ocorreu? Alguns pais, motivo final daquela apresentação, simplesmente discriminaram os músicos, que ali no palco, se empenhavam para passar algo agradável, permitindo que seus filhos, gritassem, corressem, pulassem, de uma tal forma, que me coloquei no lugar daqueles músicos, e me senti muito constrangido. Não tive dúvidas sobre o que escreveria!

O que o artista quer, é simplesmente o reconhecimento de sua arte. Que ele seja respeitado, mesmo que seja um anônimo, porque aliás, naquele instante em que ele se apresenta à você, está deixando de ser anônimo, e se você prestar atenção somente no talento, não desrespeitá-lo, nem discriminá-lo, quando se der conta, vai encontrá-lo trabalhando na novela das oito, ou cantando a sua canção preferida, e aí então, o que você vai mais querer, é que ele lhe dê, um concorrido autógrafo.

O artista é bom quando ele é bom no que faz, não precisa estar na mídia, por isso, quando você for assistir à alguma apresentação de um artista desconhecido, assista-o como se fosse seu fâ número um, pois ele está ali, fazendo aquilo para você.

Teatro Infantil - Um Subproduto

Não é de hoje que se tenta dar ao Teatro Infantil, uma respeitabilidade tal qual a que acontece com o Teatro feito para o público adulto, mas acho que o problema está na forma pela qual o Teatro Infantil é encarado por todos os que o fazem por esse país afora.

Levando-se em conta os inúmeros pedidos de “pecinhas” de Teatro que são solicitadas para serem apresentadas em escolas para comemorar uma ou outra data festiva, chego a conclusão que será muito difícil, o Teatro Infantil ser considerado um produto da arte, pelo menos aos olhos de quem não consegue ver o Teatro Infantil, além de “historinhas para crianças”.

Um outro ponto que ao meu ver faz o Teatro Infantil ter esse aspecto de subproduto de Teatro é o fato de muitos usarem o Teatro Infantil como laboratório para novos atores e atrizes, dando portanto, um caráter de algo sem muita responsabilidade e sem a importância devida, quando teria que ser justamente ao contrário.

Algumas produções até se preocupam em mostrar um trabalho com mais profundidade, capricham nos figurinos, cenários e até nas interpretações, mas a grande maioria, peca pelo desprestígio que dá à uma peça de Teatro Infantil. Por mais seriedade que se tenha na sua concepção, sempre fica no ar, um aspecto de menos responsabilidade.

É óvio que é muito salutar que usem textos de Teatro Infantil como instrumento de apoio pedagógico, levando para as crianças, o lado lúdico contido nessas histórias. Só acho que o Teatro Infantil é tratado com um simplicidade quase que ofensiva, pois a qualquer momento, alguém vem e solicita “pecinhas infantis”, como se escrever uma história infantil, fosse a coisa mais fácil do mundo.

Não sei se existe alguma receita, ou alguma fórmula para mudar esse quadro, e talvez o monstro não seja assim tão feio quanto eu esteja pintado, mas o que eu acho é que há de se fazer alguma coisa para melhorar esse produto chamado “Teatro Infantil”, procurando ao menos, dar uma seriedade e o devido valor que esse Teatro merece.

No dia em que o Teatro Infantil deixar de ser apenas uma brincadeira para criança, não for mais usado de uma forma despretensiosa, e for reconhecido com a grandeza e a importância que merece ter, talvez deixe de ser um subproduto do Teatro, e passe a ser reconhecido como um verdadeiro instrumento de apoio ao desenvolvimento da criança, assim tal como é um livro infantil.

Não quero aqui impor condições e regras, nem tão pouco desfazer-me daqueles que fazem Teatro Infantil com dedicação e seriedade, apenas propor que todos que estejam de uma forma ou de outra, ligado ao Teatro Infantil, repense a verdadeira função que este tem dentro do movimento teatral como um todo, e a única coisa que espero de verdade é que tratem o Teatro Infantil como um verdadeiro produto da arte.

É tempo de comédia

O teatro sempre foi marcado por fases, principalmente no Brasil. Houve a fase das grandes companhias, a fase das montagens dos clássicos, a fase dos ensaístas, a fase do engajamento político e social, e hoje, parece que estamos vivendo a fase das comédias.

A procura por textos de comédia é tanta, que está causando um problema típico de economia, a lei da oferta e da demanda. Há muitos mais atores procurando textos de comédia, do que textos de comédia disponíveis para montagens.

Não sei como e quando surgiu esse movimento que tem feito a procurar por comédia crescer dessa maneira. Talvez os últimos espetáculos do gênero que obtiveram enorme sucesso popular, tenham influenciado essa procura desenfreada, quase que desesperada, por textos de comédia.

O que tenho notado também, é que os atores querem textos de comédia de preferência com poucos personagens, cada vez mais descompromissados e seguindo uma linha muito mais para esquetes do que para o formato aristotélico do texto. A história é apenas um detalhe, o importante mesmo é que se faça rir.

Não sei qual a opinião dos acadêmicos sobre o tema, pois a comédia sempre foi um gênero meio que renegado, justamente por ter essa linha de descomprometimento com o conteúdo, mas há de se convir, que com o jeito que anda a vida, não há condições de agüentar uma, ou uma hora e meia de discussões filosóficas e existenciais em cima de um palco, não é mesmo?

Só em uma coisa eu tenho discordado nessa história de comédia. Acho que os textos deveriam manter uma linha mais aristotélica, explorando um conteúdo irônico, quem sabe, fazendo um humor mais politizado, usando o teatro como forma de escancarar o desmando, principalmente dos “Homens de Brasília”, e os atores, por sua vez, se preocuparem menos com textos do tipo “besteirol”.

Talvez essa nova fase do teatro, seguindo a linha dos espetáculos de comédia, possa contribuir com um novo momento em nossa cultura, usando a força do teatro para incomodar aquele espectador que ri sem parar, sentado em sua cadeira, e mostrar o quanto é cômica a tragédia de sua vida, e assim, quem sabe, com muito humor, dar uma chacoalhada na população.

Eu particularmente, enquanto dramaturgo, tenho procurado desenvolver muito mais textos cômicos, do que textos dramáticos, pois na minha opinião, acho muito mais prazeroso escrever e se deliciar com histórias leves e bem-humoradas, do que ter que conviver dias com aquele texto que retrata a vida na sua forma nua e crua.

E se o povo quer comédia, que seja então, um tempo de comédia, pois como diz o velho ditado: “rir é o melhor remédio!”

O exercício da leitura dramática

Nessa última semana fui convidado para ser orientador de um projeto de leitura dramática, onde novos autores tiveram a oportunidade de mostrar seus textos, e onde todos nós pudemos trocar muitas informações a cerca da questão do texto e suas reais funções dentro de uma montagem teatral.

Apesar de também ser um autor novo que preferiria estar do outro lado, apresentando os meus trabalhos, o encontro serviu para que eu pudesse pôr em prática os conhecimentos que adquiri nesses três últimos anos, em que fiz cursos de dramaturgia e de história do teatro, e a troca foi muito boa.

Embora o evento fosse aberto ao público em geral, poucos gatos pingados acompanharam o desenrolar das leituras dramáticas, até entendo, pois quem não participa de alguma forma das coisas que envolvem o teatro, realmente se sentiria um pouco deslocado, mas, e a classe teatral?

Contando o pessoal do grupo que promoveu o encontro, só alguns poucos atores, atrizes e outros interessados, se dispuseram a enfrentar as quatro horas de debates a cerca dos dois textos apresentados, claro que com direito a um intervalinho, um cafézinho e alguns biscoitos.

Tudo bem que se tratava do primeiro encontro de um evento que não é muito comum, mas o pessoal ligado ao teatro que não foi, perdeu muita coisa boa, pois em virtude da discussão da estrutura dramática do texto, pôde se trocar informações que são de grande relevância na montagem de um espetáculo.

Sobre os dois textos apresentados, foi possível discutir as suas deficiências estruturais, tanto cênica, quanto dramática, ficando claro como um texto que não esteja muito bem escrito, pode interferir no resultado final de uma peça de teatro. O encontro serviu também, para que as pessoas presentes verificassem, o quanto é complicado e complexo o processo que envolve a criação de um texto, e que dramaturgia vai muito além de se ter uma idéia e colocá-la no papel em forma de diálogos.

Depois desse encontro, fiquei com a impressão que esse processo deve ser incentivado, não só para mostrar novos autores, mas também para que atores e atrizes tomem conhecimento de como funciona o processo de criação de um autor, facilitando assim, o seu trabalho de interpretação.

Mesmo sendo a primeira experiência, fiquei com a sensação de que todos ali presentes, puderam absorver muitas informações, as quais serão colocadas em prática quando da realização de seus próximos trabalhos. E o gosto de quero mais ficou no ar, dando a certeza que em breve esse mesmo exercício será repetido.

E quanto aos novos autores e seus textos, muito coisa do que foi escrito, pode ser aproveitada, e certamente, diante de tantas trocas de informações, eles serão capazes de refazerem seus textos, os deixando com uma dramaturgia consistente e que causarão boa impressão quando forem montados, e sem sombra de dúvidas, hão de escrever mais e mais textos.