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O talento pede uma chance

A dificuldade que se tem de encontrar o seu espaço no mundo das artes é enorme, e muitos, tenho certeza que sabem muito bem do que eu estou falando. Quantas portas são fechadas? Quantos “nãos” são recebidos? E o sonho sempre ali presente, acompanhando, como se fosse o combustível, impulsionando mesmo apesar de tudo.

O estranho disso tudo é o conceito que se tem do que é bom, não desmerecendo ninguém, pois todo mundo tem um gosto, e isso não se discute. Mas, o que incomoda de fato é a subjetividade do que é considerado talento. O que na minha opinião é claro e latente, talento não se discute, se admira e se aplaude.

Tudo bem que a gente sabe que muito mais do que ter talento é ter alguém importante que nos apadrinhe, pois como diz o velho ditado: “quem tem padrinho, não morre pagão!” E os interesses desses padrinhos, muitos vezes, não levam em consideração o talento de ninguém, o que é uma pena.

A vida é feita de histórias de talentos que são desperdiçados por nunca terem uma chance, mesmo que seja uma única chance. Seja aonde for, na música, no teatro, no cinema, na televisão, muitos deixam os seus talentos adormecerem diante de tantas respostas negativas.

Quantas pessoas que vocês conhecem, que por mais que tentem, nunca conseguem fazer que o seu talento seja reconhecido? Será que quem tem talento, nunca tem um amigo influente? Realmente eu não consigo entender os critérios que são levados em conta quando se lança o “novo”.

Por que será que é tão difícil para quem tem talento, mostrá-lo para todo mundo? Por que será que as pessoas que têm o poder de revelar o artista novo, não encontram os talentos? Existem muitos por aí, nos palcos de um teatro amador, nos palcos de um barzinho, nas letras de um texto inédito, mas não os encontram!

Eu sei que está cheio de gente querendo ser artista, e não só eu, mas muitos aqui, até já abordaram esse tema algumas vezes. Muito mais do que se tornar um artista apenas buscando se tornar famoso, há de se deixar que o talento venha a ser o primeiro critério de escolha de um novo artista, seja na música, no teatro ou na literatura.

Diante de tanta mediocridade que nos é apresentada, e que ensurdecem os nossos ouvidos, embaralham os nossos olhos, e subestimam a nossa inteligência, faço aqui um coro para que o talento alcance o seu lugar. Será que não basta de tanta coisa mais ou menos? De tanta coisa de qualidade duvidosa? Até quando o talento vai ser o que menos importa? A gente tem direito a coisa boa, e o talento só pede por uma chance.

Multiplicadores da arte

Muito mais importante do que ficar discutindo se as pessoas buscam o teatro apenas preocupadas em conseguir fama e sucesso, ou um emprego na televisão. Muito mais do que se importar com as pessoas que buscam o teatro apenas para sua promoção pessoal, é ressaltar o trabalho incansável que é desenvolvido, quase como sacerdócio, pelos chamados, “oficineiros”.

Essas pessoas renegadas, que quase sempre são mal remuneradas, quando o são, e que abdicam de parte de suas vidas, dedicando boa parte de suas horas para serem o que eu chamo de: multiplicadores da arte, precisam um pouco mais de valorização.

São centenas desses abnegados espalhados pelo Brasil a fora, encostados em apertadas salas, em velhos galpões, em fundos de quintais, interessados única e exclusivamente em poder transmitir para as pessoas, quase sempre desfavorecidas, um mínimo de noção do que seja arte e cultura.

Esses multiplicadores da arte, que apesar de não contarem com condições favoráveis e recursos suficientes para realizarem um trabalho decente, conseguem com a obstinação que só um brasileiro tem, realizar verdadeiros milagres, que até um Santo duvidaria que fosse possível ser realizado.

E o mais importante nisso tudo, é o poder e a força que essas oficinas têm para transformar a vida das pessoas, pois sabemos que a imensa maioria que participa desss oficinas, jamais conseguirá se tornar um ator ou uma atriz famoso. Mas com certeza, os ensinamentos que são passados nessas oficinas, que como também deve ser de conhecimento de muitos, são realizados sem o mínimo de apoio, cumprirá, na pior das hipóteses, a missão de tornar o jovem, um cidadão melhor.

Talvez, muitos desses “oficineiros”, nem possuam um vasto conhecimento da arte, repassam apenas, tudo o que puderam absorver em oficinas que participaram, pois muitos desses “oficineiros”, são crias de outras tantas oficinas culturais, e não cabe aqui radicalizar, quanto ao grau de conhecimento sobre os conceitos da arte que estes possuem, temos sim é que apoiarmos cada um desses multiplicadores da arte, para quem sabe um dia, venhamos a ter, um povo muito mais culto.

E que essa semente se espalhe mais e mais, gerando outros multiplicadores, e que mesmo apesar de todas as dificuldades que encontrem pelo caminho, eles sejam capazes de transmitir cultura a quem precisa, pois os governantes, andam muito mais preocupados em arrecadar mais impostos, do que proporcionar uma possibilidade a mais de cultura para o seu povo.

Vai aqui, os meus respeitos e a minha admiração, à todos vocês, multiplicadores da arte, que levam às pessoas tão carentes de tudo, a possibilidade de ter um outro olhar sobre a vida. E que a luta de cada um de vocês, possa ser recompensada através de muitos aplausos.

E lá vem mais um BBB

Antes de mais nada, queria pedir desculpas à todos por ter de mais uma vez tocar neste assunto. Talvez eu esteja sendo até repetitivo demais, mas é que realmente fico muito entristecido sempre que as chamadas para esse programa são colocadas no ar.

E já começou um festival de pessoas se colocando ao ridículo, fazendo coisas mais do que absurdas, em atos quase que desesperados para alcançar de alguma maneira, o que muitos chamam de chance de aparecer. Para mostrar o quê? O seu novo sicilicone? O seu bíceps? O vazio de suas cabeças? Ou o quanto a futilidade vende no país?

Durante meses, vão se discutir nos bares, nos salões de cabeleireiros, nas esquinas, o dia a dia de uma casa, e a vida fútil de pessoas fúteis que se prestam a um papel de seres amestrados, que fazem caras e bocas, e têm sentimentos e reações ensaiados, para vender algo que não se é. Para quê?

A fama, o glamour do mundo artístico é sedutor, uma droga alucinógena, que acaba tirando as pessoas da realidade, mas é claro que o sucesso é maravilhoso. Eu pergunto: quem não queria ter fama, ser conhecido na rua, dar autógrafos? E por conta disso, muitos vendem sua alma ao diabo!

Ah, mas muitos podem me perguntar: Mas, tem o prêmio! Um milhão de reais! Então, eu pergunto: Sua alma vale um milhão? A minha não está a venda! É claro que essa pode ser a chance de muitos para se darem bem na vida, pois de outra forma, jamais conseguiriam chegar nem perto deste mundo glamouroso mostrado pela televisão.

Não estou aqui para julgar ninguém, e nem tenho essa pretensão, cada um faz da sua vida o que bem entende, mas também tem que ter a consciência de tudo o que possa lhe acontecer por conta disso. Eu apenas prefiro um outro caminho, mesmo que as vezes sinta a vontade de desistir, pois é difícil enfrentar o desafio de levar às pessoas, algo que realmente valha a pena.

Acho que um país que necessita tanto de cultura, de educação, de valorização dos valores cívicos, de ética e de moralidade, perde-se um tempo precioso mostrando como as pessoas passam pela vida consumindo futilidades.

Enquanto eu puder, da maneira que eu puder e do jeito que for possível, eu vou lutar contra essa maré, pois acredito que o que vale mesmo a pena, o que traz uma recompensa, é poder aprender sempre. Eu sei que todos precisamos de diversão, mas que essa diversão, no mínimo, nos melhore como seres humanos, nos proporcione mais educação e mais cultura, porque quando se quer apenas distração, vai-se ao zoológico ver macacos exibirem-se, pois este é o propósito deles.

E quando enfim o programa for ao ar, procurem algo para fazer, ao invés de perder seu precioso tempo o assistindo, porque todos sabemos não servirá para nada.

A crise na teledramaturgia

Não é de hoje que dizem que a teledramaturgia está em crise. Será? Muitos dizem que estamos vivendo uma crise autoral. Eu não acho! Outros dizem que o formato da telenovela se esgotou. Mas, como explicar o zum zum zum que toma conta do país, na última semana de uma novela? Acho que o problema é outro.

Todos nós sabemos que a novela passou a ser um produto muito rentável para as emissoras de televisão. Muito embora, seja uma obra cara, a inclusão de cada vez mais anunciantes, a faz uma excelente vitrine, que quanto maior a audiência, mais possíveis compradores dos produtos anunciados, e consequentemente, um lucro maior para ambos os lados. Será então, esse modelo de vitrine o verdadeiro motivo da crise na teledramaturgia?

Participando de um debate com alguns autores de telenovelas, onde esses e outros assuntos foram discutidos, uma questão veio a baila. A interferência das altas cúpulas das emissoras, que estão preocupadas única e exclusivamente com a questão mercadológica do negócio. Tirei então minha conclusão. Não existe crise na teledramaturgia brasileira, o que há é uma crise oriunda dos executivos responsáveis pela aprovação dos projetos de teledramaturgia, que atrás de mais lucros, engessam o autor, delimitando o seu grau de criatividade, em troca de um modelo óbvio e que garanta o espaço para inclusão dos seus anunciantes.

O medo de arriscar em um produto novo, também é o que tem feito, principalmente as novelas da “Globo”, parecerem as mesmas. Parece aquela velha receita de bolo da vovó. Junte todos os ingredientes, bata e coloque para assar, em dez minutos, tem-se um bolo quentinho. Ora, dramaturgia não tem fórmula, e o tempero é o que dá o sucesso ao produto. Talvez esse conceito de dramaturgia tal qual um bolo é que esteja levando as novelas, principalmente as da “Globo”, a terem seus índices do ibope em ligeira queda.

Vocês podem até dizer que houve na “Globo” uma tentativa de inovar chamada “Bang-Bang”, só que nem mesmo o autor teve tempo de explorar a sua idéia. Talvez os executivos responsáveis, arrependidos da tentativa, trataram logo de tentar refazer o mesmo bolo de sempre. Resultado: A receita desandou totalmente. E a partit daí, só o convencional.

Outros podem dizer: - Mas a “Record” tem tentado invovar, eu eu digo: Ainda bem! Muito embora, precisamos de um tempo maior e da continuidade do processo, para termos a certeza que existe alguém tentando remar para uma nova direção. Algo que chego a duvidar, pois quando se trata de bussiness, se o retorno não for o satisfatório, aborta-se o projeto, e pronto!

Acho que a tal crise na teledramaturgia esteja longe de ser algo que tenha a ver com o autor que escreve novelas. É claro, que as vezes eles acabam repetindo uma coisa aqui, outro ali, afinal de contas, trata-se de dramaturgia que procura retratar a vida real, e as vezes, as coisas se repetem também na vida real.

Hoje a novela é reconhecidamente um produto cultural e não há como negar. Mas, enquanto os executivos continuarem preocupados apenas em faturar com elas, a coisa só tende a piorar. Pode ser que quando eles derem conta desse quadro, seja tarde e eles percebam que tenham perdido a galinha dos ovos de ouro. E aí? Só saberemos o desfecho disso tudo no próximo capítulo.

Escrevendo para teatro

Como tem gente escrevendo para teatro! Por um lado é muito positivo que exista tanta gente colocando a criatividade a serviço do teatro, mas por outo lado, tem muita gente misturando as coisas. Arquétipos, conflitos, peripécias, nós dramáticos… A complexidade de se escrever um texto de teatro torna o objetivo não tão simples assim.

Está certo que as vezes o impulso é que comanda nossos desejos, só que tem gente que anda escrevendo coisas por aí, que deixa qualquer um de queixo caído. É um emaranhado de palavras e idéias mal resolvidas, cheio de erros de ortografia, divididos em cenas para dar um aspecto de texto de teatro, que se Sheakspeare tivesse a oportunidade de ler, morreria outra vez.

Até entendo que são muitos os fatores que contribuem para que muitos que estejam envolvidos com o teatro, se aventurem em um universo não tão familiar assim, pois um coisa é o texto como instrumento de uma montagem teatral, a outra, completamente diferente, é escrever um texto.

Acredito que muitos até nem se dão conta das dificuldades que enfrentam quando tentam mostrar a verossimilhança dos personagens que permeiam a história que se quer contar. Outros sequer visualizam as dificuldades de se montar a “carpintaria teatral”, sem falar da narrativa propriamente dita, e a sua necessária melopéia.

Acho até lovável que muitas pessoas se interessem em escrever para o teatro, mas, precisamos admitir que há de se reunir alguns predicados que vão muito mais além de ser apenas uma pessoa com criatividade. Precisa-se ser um bom leitor, de livros e até de dicionários, ser um bom observador, gostar de ouvir histórias, e acima de tudo, conhecer um pouco as regras da língua portuguesa. É certo, que volta e meia a gente acaba escorregando em uma vírgula aqui e outra ali, mas algo que se queira ver transformado em uma obra literária, precisa respeitar no mínimo, a ortografia.

Um texto de teatro que possa ser classificado como dramaturgia e figurar realmente como obra de literatura, precisa conter alguns elementos na sua construção, o principal deles é o conflito. Um texto sem conflito, não é um texto de teatro, é apenas a narração de um fato. O conflito é quem vai conduzir a história até que se desembarcar na resolução do problema que foi exposto, e isso tudo tem que ser movido por alguma ação, pois é essa unidade de ação que conduzirá a história.

Por isso, se você realmente gosta de escrever textos teatrais, precisa conhecer algumas das ferramentas da dramaturgia, pois são elas que vão dar a sustentação necessária ao seu texto, e provocar no público que irá assisti-lo, a catarse necessária que justifique o seu desejo de escrever e contar a história.

Dramaturgia não é um simples experimento, e ninguém cresce no teatro brincando de escrever peças teatrais. Se você realmente quer nos fazer companhia nessa árdua tarefa de contar histórias através de diálogos, vá em frente, mas procure se atualizar, se aprimorar, pois não basta escolher um modelo e um estilo para seguir, porque não há uma receita para se fazer o texto perfeito. Estude e desenvolva o seu estilo, para poder um dia servir de modelo para alguém.

Vamos fazer teatro?

Não entendo muito bem o que vem acontecendo nos dias de hoje. Há uns tempos atrás, esse era um fenômeno exclusivo do futebol, pois todo menino, queria porque queria, ser jogador de bola. Confesso, eu também quis. Mas, agora também há um outro fenômeno acontecendo, o objetivo de meninos, e de meninas passou a ser um só. Serem estrelas de televisão!

Só o que vem acontecendo é algo um pouco absurdo. Pessoas clamando por uma chance, como se isso fosse vital para suas vidas! Não consigo entender! Até os pais de hoje em dia, embarcam nessa viagem de ter um filho estrela de televisão.

Por quê? Fama? Sucesso? Dinheiro? O que move tantos jovens a fazerem tantos sacrifícios para se tornarem artistas de televisão? Muitos invertem a ordem das coisas e acham que só porque são bonitos e graciosos, têm condições de serem guindados a nova estrela juvenil.

Fica cada vez mais claro, que a questão fundamental do ator que é aprender a interpretação, está relegada a um segundo plano, ou melhor, a um quadragésimo plano. Muitos não a levam com a devida seriedade. Quantos cursos brotam pelo país a fora, prometendo transformar o seu filho em um artista? A maioria, não passa de caça-níqueis.

Se vocês querem realmente se tornarem artistas, façam Teatro. Mas, teatro de verdade. Aprendam essa arte que é tão difícil e exige muita e muita dedicação. Quando vocês conhecerem de fato o teatro, e deixarem se encantar por ele, garanto que essa questão de se tornar um artista de televisão, ficará em um segundo plano, ou melhor, em um quadragésimo plano. Pois, a satisfação de viver esse universo do teatro, lhe será plena.

Acho que todo sonho é legítimo, só que para tornar o sonho realidade, precisa-se trilhar um caminho de estudos, dedicação e disciplina, em busca de um ideal de vida. E nunca abra mão de uma boa leitura, pois ela, além de necessária, lhe ajudará a não cometer alguns erros, principalmente de caligrafia, que podem acabar lhe comprometendo no futuro. Assim, tenho certeza que se você, aonde quer que você esteja, mesmo em uma cidadezinha, com o seu grupo de teatro amador, levar o teatro a sério, e fizer dessa arte de interpretar a sua verdade, tudo poderá ser possível.

Antes de pensar em televisão, vamos fazer teatro. Esse é o melhor caminho. É claro que todos querem estar nessa vitrine, mas há de se ter cuidado, pois a selva é de pedra e os animais são ferozes, necessitando estar preparado para o enfrentamento. Caso contrário, a decepção pode destruir uma carreira que poderia ser promissora.

Por isso, moçada, Teatro na veia! E extravasem essa vontade de ser uma estrela em cima dos palcos, pois alguém pode estar na platéia te assistindo, e se tornar seu fã. Então, não despreze essa oportunidade, atrás de algo que pode vir até você em forma de reconhecimento.