Artigos Diversos

O exercício da dramaturgia

Hoje em dia, existem várias pessoas ávidas por se tornarem autores de novela, tal é o número de comunidades que são encontradas nos sites de relacionamentos falando desse assunto. E fazem sinopses, escrevem capítulos, escalam elencos, diretores, escolhem temas de abertura, as trilhas, mas, será que a grande maioria realmente conhece a estrutura dramática? Pelo que vejo, penso que não!

O que dá a impressão é que essas pessoas querem apenas entrar para televisão, como se a dramaturgia televisiva fosse a excelência. Ora, todos sabemos que a dramaturgia televisiva, principalmente a das novelas, é descartável, e muitas vezes, não respeita criação de personagens, verossimilhança de fatos, etc e tal, e preocupa-se mais com a luta pela audiência do que com outra coisa.

O trabalho de dramaturgia não é uma coisa fácil, mesmo na simplicidade de se contar uma simples história com dois ou três personagens. É consativo, minucioso, e por muitas vezes precisa ser refeito, mesmo quando a história lhe parece perfeita. Imagine esse trabalho numa obra complexa como uma novela, por exemplo? Precisa-se ter o perfeito domínio da estrutura dramática para não naufragar no meio do caminho.

Talvez o caminho mais fácil para esse pessoal fosse o teatro, mas como teatro não dá fama, muitos não querem perder tempo escrevendo “historinhas”. Tolos, pois, através da carpintaria do teatro é que se tem a condição de aprender a ter o domínio da estrutura dramática que servirá de base para sustentar dramaturgias maiores como novelas.

E olha, isso não é uma opinião única e exclusivamente minha, todos os autores consagrados que escrevem novelas atualmente, são desta mesma opinião. Teatro e cinema, são os caminhos mais seguros para se chegar a televisão, tentar encurtar o caminho indo direto à televisão é entrar num caminho quase sempre suícida, e muitos que pensam assim, ficam e ficarão pelo meio do caminho.

Agora eu pergunto: Qual a diferença em escrever uma peça de teatro, ou um roteiro de curta-metragem, e escrever uma sinopse para novela? Para os novatos, a resposta é uma só: A peça de teatro, ou o roteiro, tem a possibilidade de serem montada ou filmado, já a sinopse… fatalmente envelhecerá no fundo da gaveta.

Então, mesmo que o objetivo final seja esse, se tornar um autor de novela, perca um pouco de tempo exercitando a dramaturgia através de uma peça de teatro, ou de um roteiro de curta-metragem, com certeza, sua dramaturgia ficará mais consistente, e por conseguinte, suas sinopses serão muito mais elaboradas, o que resultará em uma história bem contada.

O exercício da dramaturgia é algo que tem que ser constante, e realizado até a exaustão, o que implica em escrever várias vezes a mesma história, e ao final, perceber que se faz necessário reescrevê-la novamente. Só assim a gente fortalece nossa dramaturgia, e reuni condições para encarar o desafio de escrever uma novela.

Escrever dá uma preguiça…

Dois amigos que dividiam o mesmo sonho de tornarem-se roteiristas, dramaturgos, ou quem sabe, novelistas de sucesso, encontram-se após algum tempo, e um virou-se para o outro e disse:

- E aí, escrevendo muito?
- Caramba, tive uma idéia incrível para escrever uma história! Você não acredita! Quando eu escrever, vai ser o maior sucesso!
- E ainda não escreveu por quê?
- É que eu ando meio sem inspiração!

Pronto, chegamos ao ponto! Quem acredita que só vai conseguir escrever quando bater a inspiração, deve repensar o sonho de se tornar escritor, pois, com certeza, isso não passará de um sonho.

Escrever, como qualquer outra arte, demanda uma equação simples: cinco por cento de inspiração e noventa e cinco por cento de transpiração. Escrever é um exercício que se aprende escrevendo, e não existe outro jeito para se tornar escritor, por mais que se tenha criatividade e idéias em abundância.

Contar uma história pode até parecer uma coisa simples, mas quando chega o momento de colocá-la no papel é que se descobre que a tarefa não é assim tão simples como antes se pensava.

Há de se ter muita disposição para se dedicar a arte de escrever. É necessário aprender a escrever, mesmo quando não se tem nenhuma inspiração, e acima de tudo, ter disciplina e praticá-la continuamente. Se esse é o segredo, não sei, mas, aquele que consegue escrever uma ou duas horas por dia, todos os dias, terá mais habilidade e estará mais condicionado, do que aquele que escreve, oito, dez, ou doze horas em um único dia.

Ás vezes, se tem muitas idéias, mas não se tem o dom de escrever. O gostar das letras, não é pré-disposição para ninguém se tornar escritor, por isso, não há o porque ficar triste se não conseguir, afinal de contas, o que seria dos escritores, se não houvessem os leitores?

Uma coisa muito importante para quem pensa em viver das letras é que não se deve esperar grandes remunerações, nem uma popularidade imediata, pois escrever não traz notoriedade, nem tão pouco é capaz de dar a independência financeira logo no primeiro trabalho. Escrever, acima de tudo é cativar o outro através de suas palavras, e isso demanda um certo tempo, e uma boa dose de insistência.

Então, aquele que assim mesmo quer isso para sua vida, deve deixar a preguiça de lado, e começar por escrever uma folha por dia, no outro dia, escrever duas folhas, depois, escrever três, e quando menos esperar, terá colocado a sua história no papel.

E tenha a certeza de uma coisa, o exercício da transpiração lhe ajudará a completar o que a sua inspiração não for capaz de produzir.

Sucesso X Fama

O que é mais importante para um artista? O sucesso, ou a fama? É uma dúvida que assombra a maioria das pessoas, principalmente as que iniciam na arte, seja ela qual for, teatro, cinema, dança, etc. Um grande amigo meu, deu-me uma definição que acabei achando perfeita: “Sucesso é ser bem sucedido naquilo que nos propomos fazer” Ele tem razão! Isso é a mais pura verdade!

Muita gente que pensa em fazer arte hoje em dia, e procura principalmente o teatro, chega com a intenção de poder estar o mais rápido possível, fazendo parte da novela adolescente da televisão, e assim, se tornar a celebridade instantânea do momento. Será que essas pessoas buscam o sucesso, ou querem somente a fama?

A fama e a notoriedade a qual muitas pessoas são guindadas da noite pro dia, só demonstram que o conceito está invertido, pois faz as pessoas acreditarem que o mais importante é a fama, que ela sim dará o sucesso almejado. Mas, o que faz essas pessoas serem famosas, ganharem popularidade, se quase sempre elas não têm nada para mostrar, além de bíceps e silicones?

É triste ver pessoas submeterem-se ao ridículo de se exporem em programas do tipo “reality shows“, afim de obterem apenas seus quinze minutos de fama, e depois? Depois, sempre acabam fazendo qualquer coisa para continuarem na mídia, pois não existe nenhum trabalho consistente que justifique tal exposição.

Muitos passam uma vida inteira longe dessa fama efêmera e passageira, mas, são extremamente bem sucedidos naquilo que se propuseram. Quantos escritores são bem sucedidos, premiados, consagrados, renomados, e não têm um por cento da fama dessas celebridades instantâneas? De certo, você já ouviu falar em alguns deles. Você acha que eles não têm sucesso?

Existem uma diferença enorme no conceito de fama e sucesso que se tem hoje em dia, e muito disso, se deve à televisão, que pinta o artista como um semi-deus, que vive uma vida de rei e rainha, regada a festas e badalações, onde o mais importante é o vestido do estilista famoso, ou o novo par de silicones, ou ainda, o romance com fulano de tal, e daí?

É muito duro alcançar o sucesso, não é uma tarefa simples, mas quem o quer, deve buscá-lo dia-a-dia, incansavelmente, sempre focado no objetivo de realizar aquilo que se propôs fazer, e pelo qual, espera conseguir agradar o maior numero de pessoas, para assim então, receber o reconhecimento e conquistar a fama.

Não vale a pena perder tempo correndo atrás de quinze minutos de fama, pois eles chegam e vão embora do mesmo jeito. Um trabalho contínuo e com um objetivo, pode até demorar para alcançar o seu reconhecimento e conseguir o sucesso, mas, com certeza, obterá muito mais do quinze minutos de fama.

Nem tudo está perdido

Parece que depois de muitos protestos, mesmo que velados, alguém se mostrou realmente preocupado em preservar a profissão de ator, pelo menos é o que vejo na intenção do Sindicato dos Atores do Rio de Janeiro, que resolveu negar autorização para participação em programas de TV, de pessoas que se lançam ao estrelato através dos “BBBs” da vida.

Já não era sem tempo que fosse tomada uma atitude desta, pois não é possível que pessoas que passam anos e anos estudando, se aprimorando para exercer a sua profissão com dignidade, tenham suas chances podadas por pessoas que estão preocupadas apenas em aparecer na mídia.

Nada contra essas pessoas que se submetem a programas do tipo “reality show”, pois cada um faz da sua vida o que bem quer, se elas optam em sujeitar-se à exibição em programas desse tipo, o problema é exclusivamente delas, mas, o que realmente é inaceitável, é que essas pessoas, após colocarem-se numa vitrine expondo seus dotes naturais, se achem capazes o bastante para atuarem como atores e atrizes.

Espero que essa atitude tomada pelo Sindicato do Rio de Janeiro seja seguida pelos sindicatos de outras regiões, pois já estava mais do que na hora de se ver preservado, o direito de quem escolheu ser ator, e que busca incansavelmente o aprimoramento da profissão, na esperança de conseguir um dia, a oportunidade de mostrar o seu talento.

Tal atitude também vem contribuir para desestimular outras pessoas, que para realizarem o sonho de serem artistas, desejam participar de programas do tipo “reality show”, para aparecerem na televisão, e assim, se acharem no direito de fazer parte de uma novela, em detrimento de quem tem de fato e de direito, a incumbência de participar.

Está mais do que na hora de colocar essas pessoas nos seus devidos lugares. Se a pessoa quer apenas aparecer na mídia, ficar famosa e sujeitar-se a tudo o que essa aparição possa lhe render, que seja assim. Mas, que essas pessoas, não tenham o desplante de posarem como atores, e acharem que podem exercer as suas funções.

Muito bem-vinda a resolução do Sindicato, e que ela possa ser comemorada e repassada para toda à classe artística, a fim de manter viva a esperança da respeitabilidade para com a profissão de ator, que jamais deve ser comparada como algo simplista, que qualquer pessoa aparecida, possa ser capaz de realizar.

O ator e seu personagem

Uma boa interpretação agrada muita gente, principalmente quando o ator tem a medida certa do que pede o personagem, sem estereótipos, sem exageros dramáticos, deixando claro, o quanto emprestou de seu corpo e de suas emoções para compor e dar vida a uma outra pessoa.

O pessoal que está começando na arte, e anseia loucamente aparecer na televisão, precisa ter a consciência, de que o trabalho de um ator, vai muito além do que ter diálogos decorados e falados de maneira correta e no tempo certo, precisa-se conhecer o personagem, talvez mais do que a si mesmo.

Pode ser que o grande problema de quem está começando e até de muitos que estão na arte há algum tempo, seja justamente este, o não conhecimento do personagem o qual interpreta, fazendo com que sua atuação pareça sempre artificial, deixando a leve impressão de algo falso.

Quantos espetáculos com bons textos não cativam o público por conta de uma má interpretação? E quantos espetáculos com personagens comuns, acabam cativindo o público por conta do trabalho do ator, que por conhecer o seu personagem, o faz uma pessoa importante, ao ponto dele merecer que sua história seja contada?

Muitos dizem que na televisão não é possível que o ator possa compor um personagem com todas as nuanças, pode ser que nas novelas isso não ocorra, mas nas minisséries, isso é muito possível, tanto que na minissérie “Queridos Amigos”, alguns atores estão mostrando o quanto são talentosos.

E por quê? Porque com certeza, eles estudaram os seus personagens, e os conhecem como se fossem os próprios, e quando então entram em cena, dão-nos a impressão, que interpretar é algo tão simples como andar para frente.

Para o ator é fundamental conhecer o seu personagem, ás vezes mais do que a si próprio, pois só assim, ele poderá mostrar ao público, o quanto é talentoso e competente na sua arte de interpretar.

E é bom lembrar que uma boa história se faz com bons personagens, e só podemos contar essa história se conhecermos de fato os personagens que a viverão.

A hora do teatro

É chegada a hora e a vez do teatro, mas de todo o teatro, não apenas de uma parte privilegiada. É a hora daquele teatro feito com sacrifício, e que acaba quase sempre sem incentivos. Do teatro sem estrelas globais, que batalha incansavelmente para colocar o seu espetáculo na rua.

É chegada a hora também, de um novo modelo de incentivo, que contemple todo o segmento do teatro, pois é sabido, que a Lei Rouanet, acaba no final, beneficiando apenas os artistas de grande mídia, pois os empresários, aproveitam-se disso, para atrelar as suas marcas, ao artista de sucesso.

Não me parece justo também que somente os projetos do eixo Rio-São Paulo realizados com artistas consagrados, no fim, acabem levando a melhor por suas próprias condições. O artista que está no Sul, no Norte, no Nordeste, ou ainda no Centro-Oeste, deve, e merece ter as mesmas chances de arrecadar incentivos.

A maioria dos artistas envolvida com o teatro, hoje tem essa consciência, que é preciso buscar um mecanismo mais justo, e que contemple todo aquele artista ou grupo que se pré-disponha a realizar o seu espetáculo, seja lá de onde quer que ele seja.

Como escrevi em um outro artigo, ainda acho que a indústria da cultura será a grande geradora de empregos deste país, e creio que talvez o início deste processo, passe pela reformulação dos modelos de incentivos fiscais. Talvez nem seja necessário uma outra lei para isso, acho que nem seja mesmo, apenas encontrar algum instrumento legal que proteja toda a classe teatral, e preserve a igualdade entre todos.

É certo e sabido que artistas de grande mídia, sempre levarão vantagem sobre os outros, pois famosos levam e levarão vantagem por si só. Mas, a culpa não é deles, e eles nem estão errados em buscar aquilo que a lei lhes oferece, então, onde está o problema? Acho que é fácil de se enxergar.

Já que dia 27 é o dia mundial do teatro, fica aqui esse artigo, como mais um manifesto de apoio à classe artística teatral, que tem buscado um novo modelo de incentivo fiscal, onde cada grupo ou artista de teatro, possa reunir condições reais para levar a sua arte à todos que não têm a oportunidade de assisti-la.