Artigos Diversos

A Beleza Está nos Olhos de Quem Vê

Como a maioria das “máximas” você certamente pode suspeitar do teor da afirmação acima. Mas pelo menos com essa eu concordo totalmente. Afinal de contas, como explicar a paixão que certas coisas provocam em alguns ao mesmo tempo em que geram desprezo ou indiferença em outros? E no mundo das artes isso é flagrante.

Conheço uma outra frase, proferida por uma ex-professora de História da Arte: “O que é bom é bom e pronto. A história está aí pra provar”. Também concordo com essa frase, apesar de ter que ser entendida de maneira um pouco mais profunda. Mas o fato das obras verdadeiramente boas não estarem sujeitas aos gostos pessoais (pelo menos não totalmente) não desvalida outro fato, o de que a beleza de algo e sua conseqüente admiração gerada numa pessoa é totalmente pessoal.

Sou um amante das artes em geral, embora tenha uma dedicação ao cinema e à música infinitamente superior às outras. Sou também um amante das discussões. Não as discussões no sentido de brigas, mas sim no de longos debates a respeito de um tema qualquer. Porém há alguns meses certo tipo de discussão tem cada vez perdido mais espaço em meu dia-a-dia. Discussões acerca de arte, em qualquer forma. E explico o porquê.

Peguei-me muitas vezes tentando mostrar as diversas qualidades que fazem de um filme, por exemplo, uma obra que considero sublime. Tentando mostrar essas qualidades para alguém que por sua vez ignorou ou detestou o mesmo filme. E como quase toda discussão dessas, no fim o máximo que pode acontecer é haver duas ou mais pessoas irritadas. Porque dificilmente um consegue convencer o outro de seus argumentos. Claro que é possível. Eu mesmo muitas vezes passo a admirar mais uma obra quando elucidado por algum entusiasta dela. Mas o que está me fazendo ter cada vez menos vontade de discutir esse assunto não é o fato de não convencer alguém de meus argumentos. É o fato de que não gosto de dissertar sobre coisas caras aos meus sentimentos.

Falar racionalmente sobre coisas com as quais temos uma relação extremamente emocional é muito difícil e na maioria das vezes muito frustrante, tanto para quem ouve quanto para quem discursa. Creio que a exceção esteja nos poetas, que conseguem pôr sentimento ao pensamento. Mas como eu e a maioria de nós não temos esse dom, esse exercício torna-se inútil.

Dificilmente conseguirei expressar o que o quadro “Na Campina”, de Renoir, causou em mim; o significado que o filme “Antes do Amanhecer” tem para mim; a emoção do olhar de Liliana Castro mirando meus olhos durante uma apresentação do espetáculo “Alice Através do Espelho”. Ainda mais se o ouvinte do discurso for alguém que não gosta de alguma das obras citadas. Ninguém gosta de ouvir alguém falando mal de algo que gosta muito. E acho que o ponto é justamente esse. Há coisas que são feitas para serem sentidas e não ditas.

Há mil fatores que nos faz emocionar com uma música, peça, filme. Esse sentimento é o resultado de toda uma vida. E muitas vezes até da circunstância em que nos deparamos com a obra. Muitas vezes por mero acaso. Tentar convencer outra pessoa disso é uma tarefa pouco possível e também pouco confortável. Se deparar-se um dia sendo o único apreciador de uma obra no meio de várias pessoas, não se preocupe. Nela há beleza que só os seus olhos foram capazes de ver. E isso não é maravilhoso?

Arte Dá Trabalho

Durante muito tempo eu achei que para realizar uma obra de arte perfeita, ou perto disso, o empenho e trabalho não faziam tanta diferença. Achava que certas obras só eram possíveis graças ao gênio de seus criadores, que eram capazes de criar genialidades sem se esforçar. Mas quando eu também comecei a participar da criação, seja no teatro ou no cinema, no meu caso, percebi que é a dedicação e empenho que fazem toda a diferença.

É claro que os gênios existem. Mas aquela história de 10% inspiração e 90% transpiração é muito verdade. Porque até para os gênios é preciso trabalho. Muito trabalho. É a dedicação a uma obra que fará dela boa ou ruim. E mesmo que haja talento, sem trabalho não basta.

Há alguns meses atrás eu acompanhei os ensaios de uma peça de teatro. Uma peça com elenco famoso e de talento reconhecido em sua maioria. Acompanhei os ensaios até a pré-estréia e estréia. E nas apresentações o que eu via nos ensaios se confirmou. O empenho por parte da maioria do elenco não era grande. Como se o fato de só serem eles mesmos bastasse para que a peça fosse boa. Mas o que ocorreu não foi isso. E o resultado foi a meu ver e de muitos outros, insatisfatório.

Eu acredito muito no trabalho árduo na criação. E falando das artes dramáticas, sou um defensor dos ensaios e principalmente, da imersão naquele texto e mundo que será retratado. Quanto mais propriedade o ator tiver sobre a obra e mesmo a equipe que fica atrás do palco ou câmera, maior a chance do resultado final ser mais convincente e envolvente para o espectador.

Nesse nosso mundo muitas vezes vemos atores serem escalados por seu talento. Mas muitas dessas vezes, o ator, apesar de bom, não se encaixa bem no personagem. Ou o pior, é uma pessoa muito difícil de lidar. E isso não vale só para os atores e sim para qualquer pessoa de uma equipe. Uma pessoa considerada talentosa, mas que traz muitos problemas de convivência, é uma pessoa que não considero recrutar. E quem já passou por uma situação dessas talvez me entenda melhor.

Creio que os malefícios acabam sendo maiores que os benefícios. E mesmo que o desempenho desse profissional seja muito bom, pode afetar o desempenho dos outros envolvidos. E isso tem a ver também com a dedicação e dessa experiência teatral que citei anteriormente. Há muitos atores que já têm certa notoriedade e que por isso acham que não têm que se esforçar mais. Que qualquer coisa que apresentem já valerá. Mas isso não poderia ser mais equivocado.

Afinal, os grandes gênios das artes são reconhecidos também por sua total imersão em seus trabalhos. Toda aquela genialidade passa a não ser tão sobrenatural aos nossos olhos quando conhecemos o processo do artista e vemos a quantidade de tempo dedicada à obra.

Talento há. Alguns têm mais, outros menos. Mas não se deixe enganar. O que pode fazer toda a diferença é o seu empenho. Tendo talento ou não.

Direção de Atores

Existe certo preconceito com atores de teatro. Mais especificamente com o tipo de atuação que o teatro exige. São incontáveis as vezes em que vi alguém falar mal da atuação de algum ator de novela ou cinema usando o adjetivo “teatral”. Eu concordo plenamente que uma atuação “teatral” na maioria das vezes não cai bem no cinema ou na televisão. Mas o problema é que isso gera em muitas pessoas a errada noção de que a atuação no teatro não é tão boa quanto em outras mídias, especialmente o cinema.

Isso reflete claramente a falta de costume que a maioria da população tem em ir ao teatro. Mas a discussão aqui não será essa. Muitos realizadores de cinema, especialmente os mais novos, com quem convivo, têm preconceito com atores que fazem teatro e muitas vezes evitam escalar esses atores para suas produções, temendo a “atuação teatral”. O que esses realizadores deveriam saber é que o desempenho de um ator depende muito da direção deles.

Já vi atores muito bons ficarem ótimos num filme e péssimos em outro, tudo por causa da direção que lhes foi dada. Se o diretor não aponta as falhas, corta os exageros, ajuda o ator a construir aquele personagem, o resultado pode ser constrangedor. E o é quase sempre para o ator, que tem sua figura exposta. Por isso acredito que a omissão de um diretor quando vê que um ator pode prejudicar um filme e mais ainda, sua imagem, é um ato de sabotagem. Um ato que chega a ser antiético, como quase toda omissão.

Porque depois que o filme estiver pronto é muito fácil para o diretor apontar como problema a atuação de um ator e elenco, quando o que ele deveria saber é que metade de seu trabalho como diretor é dirigir seus atores. Essa, pelo menos, é minha opinião como diretor e ator.

“Atuação teatral” para mim não é algo ruim. Especialmente se for vista num teatro, oras. O problema é que geralmente a maneira de se atuar num palco é diferente da que se deve usar no cinema ou televisão. E como a maioria dos atores tem sua formação no teatro, que ainda hoje é o lugar que predominantemente cria os profissionais da arte dramática, cabe aos diretores de cinema e televisão cuidar para que seu elenco não traga as características do palco para a nova mídia.

É óbvio que o próprio ator deve cuidar disso e se policiar, mas é um trabalho que muitas vezes só fica aparente para quem está de fora, daí a importância do diretor. Vejo hoje em dia, principalmente aqui no Brasil, muitos filmes com a função do “Preparador de Elenco” ou mesmo “Diretor de Elenco”. E para mim tal função é absurda. Deixo claro que não tenho nada contra quem desempenha essa função. O que me deixa pasmo é ver que muitos diretores abrem mão disso. E como disse antes, grosso modo acredito que metade do trabalho de um diretor é dirigir seu elenco. Se ele abre mão disso, para mim deixa de ser considerado diretor na acepção geral do termo. É claro que se certo diretor não é muito bom dirigindo atores, certamente que ele requisitará ajuda para não prejudicar o filme. Mas creio que na maioria dos casos não é isso que acontece. Há uma acomodação por parte desses diretores, que se têm dificuldades em trabalhar com atores, logo apontam outra pessoa para fazer isso ao invés de tentar aprimorar seu ofício. O mérito quase todo passa a ser desse “Diretor de Elenco”.

Pobre desse diretor, que não sabe o quão maravilhoso é guiar um ator até o ponto em que quer chegar. E triste desse ator que não possui um diretor em quem confiar e a quem admirar.

Por isso digo que “atuação teatral” não deve ser usado de maneira pejorativa, mas sim para designar simplesmente um estilo. Não são todos os atores que conseguem trabalhar bem em todas as mídias. E mesmo que consiga, isso não deve ser visto como algo que faz dele um “ator de verdade”. Há atores de teatro, atores de TV, atores de cinema, atores de rádio. Há alguns que atuam em mais de uma mídia. Há outros que atuam em todas. O que importa é que em cada uma delas ele tenha ciência de suas características próprias. E principalmente, que seu diretor esteja lá para ajudá-lo.

É Preciso Descentralizar a Cultura

Outro dia assistia a um programa jornalístico (não me lembro o canal) onde uma questão cultural foi discutida. Um dos participantes disse que no Brasil a centralização da cultura é muito grande. Quase toda manifestação artística encontra-se presente no eixo Rio – São Paulo. E quando falamos de oportunidade para se mostrar, aí acredito que a concentração nesses pólos é ainda maior. O entrevistado disse também que temos no interior do Brasil várias cidades que são pólos de outras áreas. Há grandes centros econômicos, turísticos, industriais, educacionais até. Mas quando falamos de artes e cultura, daí a história já é outra. É apenas nas capitais que os artistas têm real possibilidade de exibir seus trabalhos para um grande público. O que por conseqüência faz com que apenas nas capitais o público tenha chance de acompanhar a produção cultural.

Bom, o painel é ainda pior, já que nem todas as capitais têm esse benefício. Na verdade a minoria. E percentualmente falando o eixo Rio – São Paulo deve ficar com quase todo o “bolo”. E como o entrevistado discutiu, da mesma forma que há pólos dos mais diversos setores no interior do Brasil, é necessário que haja também pólos culturais. As artes têm que chegar até a população que está fora das capitais.

Atualmente na cidade de São Paulo há cerca de 130 peças de teatro em cartaz, cerca de 60 filmes e mais algumas dezenas de mostras, eventos e shows. No Rio de Janeiro os números devem ser parecidos. Eu não possuo dados nacionais, mas acho que poderia apostar sem medo que os números dessas duas cidades somados devem representar pelo menos a metade de todos os eventos culturais acontecendo nesse momento no país. E isso é algo muito preocupante.

É fato que a educação é a base para qualquer sociedade. E é na verdade o que difere os países ditos de Primeiro Mundo dos ditos de Terceiro. Sim, porque as diferenças econômicas e sociais nada mais são do que reflexo da educação que se deu para seu povo. Um povo mais instruído é um povo com mais capacidade de exigir de seus governantes e de por si só tomar atitudes que beneficiem toda a sociedade. Um povo menos instruído é mais facilmente coagido, contenta-se muitas vezes com pouco e pensa mais nos próprios problemas do que no conjunto. E se a educação é a base de tudo, a cultura também está aí. Porque a cultura é o que aprimorará essa base. É o que ajudará a desenvolver o senso crítico. É o que ajudará as pessoas a se tornarem mais sensíveis. É de fato e sem medo de ser clichê, o alimento da alma.

Portanto quando vemos que em quase todo o país as pessoas não têm acesso a cultura (e bem sabemos que também não têm à educação), é de se preocupar. Principalmente porque quando a educação, que é controlada pelo estado, falha, a cultura produzida por membros dessa sociedade poderia vir para tentar amenizar essa falha. O problema é que isso não acontece. Os caminhos, principalmente financeiros, levam os artistas às capitais. Possivelmente Rio ou São Paulo. A volta quase nunca acontece. E isso faz com que grande parte de nossa população seja privada da cultura, a que deveria ter direito garantido.

Ouvimos falar de grupos de teatro e até mesmo cinemas itinerantes que rodam o Brasil levando as artes a quem não poderia ir até elas. Mas esses casos são muito poucos para um país tão grande e com tanta gente. E na verdade não deveriam nem ser necessários. A cultura não precisa ser itinerante. Ela precisa ser local, fixa, constante. E para que isso aconteça é preciso de apoio do estado e da sociedade. E bem sabemos que com o estado nunca pudemos contar muito, em qualquer época de nossa história. A meu ver cabe à sociedade tomar para si essa responsabilidade. Nós somos o poder e não o estado como grande parte da população é levada a crer. E o interesse de nos munirmos de cultura é todo nosso. É claro que isso deve partir daqueles que têm condições de financiar ou incentivar essa produção. Mas deve vir também dos artistas em querer criar onde nada nunca é criado. Mesmo que o desejo de estar em voga em Rio ou São Paulo seja grande é preciso perceber que não há espaço para todos nesse centro. E que muito melhor seria se houvessem muitos outros centros. Se ninguém tivesse que sair de suas cidades para poder produzir cultura.

O fato é que um grande projeto é preciso para levar a cultura para todo o país, da mesma forma que outros setores conseguiram esse sucesso como dito no começo do texto. É errado pensar (e acredite, muitos pensam) que as pessoas de São Paulo ou Rio são mais cultas, por exemplo. Que em outras cidades não há esse interesse. A verdade é que elas simplesmente não têm a oportunidade. E a cultura, como quase tudo na vida, é uma questão de hábito. E um bom hábito só é possível com uma boa educação.

Só um Minuto de Arte

A rapidez é uma característica da modernidade. E na maioria dos casos acaba sendo também um mal. Um mal porque faz com que, pra começar, quase tudo que não seja rápido seja descartado. As pessoas fazem cada vez mais coisas em cada vez menos tempo e acabam criando uma aversão a tudo aquilo que necessita de mais tempo para ser executado ou apreciado.

As artes sofrem muito com isso. Filmes ditos “lentos” têm dificuldade de serem vistos. Alguns dizem que “falta ritmo”. Ora, creio que ritmo não é sinônimo de rapidez. Os museus sofrem também. A não ser que seja uma exposição muito badalada e promovida dificilmente as pessoas usam seu tempo para esse fim. E mesmo que o façam, não costumam parar durante muito tempo diante de uma obra. O que parece valer mais é apenas o fato de poder dizer que foi à exposição.

Até mesmo a música, tão presente em nosso cotidiano, não é mais tratada como um acontecimento em si. Meu amigo Thiago Araújo uma vez escreveu sabiamente que a música, nos dias de hoje, funciona apenas como trilha sonora para alguma outra atividade. Ouvimos música enquanto navegamos na internet ou dirigimos um carro. Mas não mais paramos para simplesmente ouvi-la.

O teatro sofre tremendamente, como se poderia imaginar. Afinal, a própria concorrência artística possui mais velocidade, como o cinema, a TV, a música. Não é de se estranhar que hoje em dia eu ouça tanto das pessoas: “não gosto de teatro”. Mas é de se lamentar. E acredito que mesmo existindo vários fatores que afastam as pessoas do teatro, a velocidade moderna é uma das mais responsáveis. Afinal, até o começo do século XX pelo menos, o teatro era a mais popular forma de entretenimento. E justamente quando o mundo começou a aumentar sua velocidade de maneira geométrica, o tempo para a apreciação de atividades diminuiu. Inclusive o tempo do lazer. O tempo das artes.

E isso se reflete nas obras atuais. Pelo menos no Brasil, as peças que fazem mais bilheteria são aquelas que têm texto leve, simples e geralmente cômico. Nada de errado nessa descrição, pelo contrário. O problema é que junto a isso ocorre uma tremenda falta de qualidade. E se for falar de peças que exigem uma maior atenção do público, um maior envolvimento de raciocínio, daí estaremos falando de um tipo de teatro (e artes em geral) que encontra cada vez mais dificuldade de ser aceito.

O imediatismo é uma praga terrível, que nos deixa sempre na superfície e faz com que cada vez mais as pessoas não queiram se aprofundar. Em nada. Diversas vezes já ouvi de colegas, durantes discussões acerca de algum tema (discussões saudáveis, amigáveis): “não quero falar sobre isso, é muito complicado” ou “nossa, você pensa demais”. Para mim sentenças assustadoras, porque revelam que a velocidade moderna tornou-se o parâmetro da maioria da população.

Não sei apontar respostas para o problema apresentado. E acredito que para muitas pessoas isso nem seja um problema. Mas espero que você leitor reflita um pouco sobre esse tema fundamental apresentado de maneira ínfima nesse texto. Se você, mesmo inconscientemente, se vê muitas vezes sem paciência para apreciar algumas das artes citadas ou mesmo para atividades cotidianas, peço que faça um esforço para tentar desacelerar. Porque só se todos nós resolvermos fazer isso é que será possível voltar a uma época onde o que importava era dar tempo as coisas e não tirar o tempo de quase tudo.

Posso parecer um saudosista, mas acredite. Para quem faz e aprecia arte, esse trem bala que se tornou o tempo moderno vai acabar descarrilando.

Faça Teatro!

Faça Teatro! É um dos melhores conselhos que posso lhe dar. Porque ele não é específico e arriscado. Não está sujeito a interpretações errôneas. É um ótimo conselho porque significa “se você quer compreender um pouco melhor a vida, os outros e você mesmo, divertindo-se um bocado no processo, recomendo”.

Assistia uma vez ao programa da Marília Gabriela no SBT, onde na ocasião ela entrevistava um bem sucedido empresário brasileiro, do qual não lembro o nome. No fim do programa ela pediu que ela deixasse uma dica para todos aqueles que planejavam entrar no mundo dos negócios e obter um sucesso como o dele. E foi para surpresa dela e também minha que a dica que ele deu foi: “faça teatro!”.

Mas justamente por já ter feito teatro, depois aquela dica não me pareceu tão surpreendente assim. Quem já fez vai me entender. O teatro é um microcosmo. Ali é possível viver experiências muito intensas num curto período de tempo. É como se tivéssemos a chance de viver uma vida inteirinha de maneira condensada. Uma “dose de vida na veia”, digamos.

Na época que fiz oficina de teatro lembro-me das apresentações das pessoas e de seus motivos para fazerem teatro. Os mais variados possíveis. Um colega fazia Engenharia Naval (!) e sempre quis saber o que passava pela cabeça de um ator quando estava em cena; uma violoncelista clássica queria se conhecer melhor e se expressar; um físico com alma de Clown tentando manter as duas paixões; claro, a típica garota tímida que procurava no teatro uma forma de se soltar. Histórias diferentes, mas que a partir de certo momento se misturaram e passaram a não fazer mais diferença. Porque num certo momento éramos todos artistas, com um objetivo em comum.

Depois de alguns meses juntos, semanas, nos tornamos amigos. E passamos a dividir emoções que provavelmente nenhum de nós imaginou que viveria lá. Passamos a descobrir coisas sobre nós mesmos que não conhecíamos. Tudo era tão intenso, tanto na alegria quanto na tristeza, que chegava a ser inebriante. Viciante. Esperávamos a semana inteira pelos momentos que passaríamos lá. Uma amiga mesmo chegou a dizer que a semana dela só fazia sentido durante as aulas e com aquelas pessoas.

Para o bem ou para o mal muito do que sou hoje como pessoa, devo aos meus amigos e professores de lá. E pessoalmente, acho que foi para o bem. Creio que me tornei uma pessoa melhor. E o mesmo já pude ouvir e comprovar nas experiências de outros amigos.

Foi um dos melhores momentos que vivi e tornou-se base de comparação para todas as alegrias e experiências que viveria depois. Por isso recomendo a você. Seja num curso profissionalizante; seja numa oficina; seja num curso comunitário ou no seu colégio; quem sabe uma companhia própria. Não importa como ou onde, mas siga esse único conselho, mesmo que uma única vez. Faça Teatro!