Artigos Diversos

A futilidade da fama pela fama

A busca desenfreada pela fama anda cada vez mais acelerada, que já não se medem mais esforços para alcançá-la. As pessoas querem ser famosas e só. A necessidade de se fazer importante no meio da multidão faz com que pessoas simulem a morte, inventem fofocas, fabriquem brigas e desentendimentos, forjem relacionamentos, tudo, mais tudo mesmo para entrar na mídia.

Pessoas se colocam em situações constrangedoras e, às vezes, até bizarras, apenas para desfrutar de popularidade. Pra quê? Uma enxurrada de futilidade que norteia canais de TV, revistas de fofocas e portais da internet, ocupando espaço e dando espaço para quem não tem nada à acrescentar. Parece que foi criada mais uma profissão no país, a de “famoso”.

Sentou na primeira fila de um programa de auditório e teve seu rosto brindado com um “close”, pronto, nasceu ali mais uma emergente, candidata a famosa que não medirá esforços para não mais sair de foco. A necessidade que as pessoas tem de serem tratadas e sentirem uma celebridade é algo que assusta pelo alto grau das imbecilidades e futilidades que estas são capazes de fazer.

Tantos talentos desperdiçados, tantas coisas a serem acrescentadas para se produzir um país melhor, e enchem a mídia com pessoas desinteressantes, mulheres exibicionistas e gente vazia, preocupadas em serem reconhecidas como alguém famosa. E o pior é que a mídia transforma cada uma delas em famosa da hora.

E dá-lhe notinhas: É fulana que aplicou não sei quantos mililitros de silicone, é sicrana que fez mais uma sessão de fotos nua para uma revista masculina, é beltrana que espalha ter um caso com um jogador de futebol e, assim, a futilidade da fama pela fama, vai enchendo a nossa vida com coisas vazias, sem nos perguntar o que isso nos interessa.

E enquanto o espaço é preenchido por essas pessoas muito “famosas”, o teatro vai ficando para trás, a cultura vai ficando para trás, o talento passa a não ter mais tanta importância assim e a formação em arte dramática, algo totalmente desnecessário. Hoje em dia, o espaço que seria para um artista demonstrar a sua arte, está loteado por famosos que não tem nada a dizer, algo realmente muito triste.

A mídia de hoje em dia se divide em notícias sobre desgraças e violências, e notícias sobre a intensa e frenética vida de futilidades desses “ilustres famosos” e o espaço para aquilo e para aqueles que tem algo a dizer, fica ali escondido, quase que invisível diante dos olhos das pessoas que querem apenas receber um pouco de cultura e conhecimento.

O humor no fio da navalha

Com a vida tão estressante que levamos nos dias de hoje, nada melhor do que assistir um bom programa de humor e dar boas gargalhadas, não é mesmo? Só que fazer humor não é uma brincadeira assim tão simples, aliás, pode ser muito mais perigoso que se possa parecer. Fazer humor é estar sempre no fio da navalha, um escorregão e, vupt!

O humor é algo que tem que ser engraçado e nos levar ao riso fácil sem que seja ridículo, grosseiro, apelativo ou preconceituoso, um desafio e tanto, não? Qualquer descuido e, vupt, a navalha corta a carne sem dó! E então, o que seria apenas para rir, acaba virando algo constrangedor, causando por vezes, reações por ofensas sentidas.

Conceber uma piada em cima de uma condição desfavorecida de alguém, usando apenas uma suposta inferioridade, é arriscado demais, sempre acaba causando cortes indesejáveis em quem quis produzir o humor. Criar o humor em cima de uma situação desfavorável de alguém é o caminho mais seguro, pois a outra pessoa, por não estar naquela situação, se sentirá livre para se divertir com ela.

Sempre que se pretende partir para a desqualificação do Ser humano, o reduzindo a um Ser pequeno e parte integrante de uma minoria, o humor acaba destorcido e sempre descamba para a ofensa. Fazer rir tem que ser algo que conquiste o outro pela situação engraçada e não pela condição desfavorável. Rir é bom e deve-se rir do que a pessoa passa e não do que ela é.

Talvez more aí, as muitas reclamações de que hoje em dia o humor está meio sem graça. A grande maioria dos humoristas perdeu a mão e, em troca de arrancar o riso a qualquer custo, aposta na desqualificação do Ser humano ao invés de apostar na situação constrangedora que este Ser humano vive. Um engano imperdoável para quem quer fazer humor.

O humor reside justamente no fato da pessoa não se encontrar, ou não se ver, na mesma situação desfavorável que o outro, por isso é que a pessoa ri. Não parece ser inteligente, acreditar que alguém em sã consciência, mesmo que esteja estressado, render-se-á as gargalhadas com piadas que desdenham de uma condição humana, mas não mesmo!

Uma das melhores coisas que existe na vida é poder dar boas gargalhadas, mas rir de uma situação constrangedora e nunca de uma condição humana. Quem faz a opção de fazer humor usando a segunda, vive se cortando com a navalha.
 

DESISTIR DE NÃO SOFRER


Coelho De Moraes

 

O que seriam atores? Loucos sob controle?

A psicopatologia tem a ver com a descoberta de que nossa experiência psíquica é sempre sofrida. São durezas. São ataques repentinos. São formas de subtração. São formas de reconstrução.

Mas a construção da personagem é parto que se faz a cada ensaio. Os detalhes do corpo. Os detalhes da fala e da voz. Os detalhes das formas de pensar.

Tem a ver com a (re) construção de visão da dor de cada um; singularidade ligada à história do desejo e da frustração do desejo de cada um. E sobre o palco é o que mais se assenta. Não reafirmaria a historia do desejo, mas, a pratica histórica de apresentação do desejo. Em seguida sua frustração, favorecendo a historia que se conta. E mais contemporaneamente a possibilidade de nada se resolver e vermos a peça terminar com uma incógnita. Desejo suspenso. Frustração. Retorno á realidade.

Em termos de coletivo de trabalhos gerais de equipe teatral tem a ver com a aceitação criativa que o outro propõe, muitas vezes diferente da referência que o diretor deseja; o FIXO em teatro não existe; existe sempre o DINÂMICO de onde deriva a palavra DRAMA (aquilo que toma movimento); existe a atitude não resignada, mas respeitosa, atitude não submissa desta experiência, que no fim, é a experiência de sofrimento e dor (não a dor que nos leva à pena, mas, sim, a dor da parturição, a dor de dar à luz, dentro das devidas  proporções que só as mulheres sabem como é).

Essa dor, que é uma dor expositiva, dar à luz, expor no palco,  está ligada à história de cada um e tem que se mesclar com a história de todos; um grupo é um fenômeno; um grupo de artes cênicas pode passar por processos, mas o coletivo bem equilibrado é fenômeno.

A análise poderá ser um espaço de experiência e de criação de si; a análise em relações humana é coisa importante; análise em teatro é terapia coletiva obrigatória,  onde se aprende com a própria dor e se aprende a desistir de sofrer, pois caso contrário não haverá obra para encenar.

Atrizes e atores estão propensos ao sofrimento.

Uma das condições, além da vaidade, da autopromoção, da vitrine, do orgulho de se mostrar, de ser contador de historias, é a de que se prevê um sofrimento a cada noite de espetáculo (com ou sem Stanislaviski).

A atriz e ator estarão prontos para doar pedaços da alma.

Questão esta que está inserida nos canais da livre escolha. Livre escolha da  alma, subir aos patamares superiores do palco e expor noticias de todos os tempos com variadas roupagens e interpretações: atriz e ator tornando-se divinos, passo a passado com os deuses do teatro.

Se Pico de la Mirandola  opera com a retomada da idéia do ser humano como microcosmos do universo, sabemos dizer que o ator e atriz são deuses do espaço entre de palco que se lhes é reservado a cada apresentação.

A questão já representação, (re) apresentação dos fatos é coisa já presente na mitologia das mais diversas culturas da antiguidade. Se tal idéia implicava a definição do ser humano como um produto composto das coisas do mundo, (através da persona o mundano se abate sobre a Terra), em Pico de la Mirandola ressurge um conceito que nos faz pensar em outra direção: acentuar sua diferença essencial, que se dá pelo poder

inerente ao espírito artístico, de poder assemelhar-se a qualquer elemento, graça, força, imagem, idéia,  segundo sua própria vontade, sem ter, no entanto, forma definitiva em nenhum deles, pois a natureza do artista define-se por seu movimento e por sua insubstancialidade.

Fala Pico:

“A ele foi dado possuir o que escolhesse; ser o que quisesse. Os animais, desde o nascer, já trazem em si, o que irão possuir depois. Os espíritos superiores, a partir do início, ou logo depois, já eram aquilo que pela eternidade seriam. No ser humano, todavia, quando este estava por desabrochar, o Pai (os deuses)  infundiu todo tipo de sementes, de tal sorte que tivesse toda e qualquer variedade de vida.

 

Ou seja, está no ser humano a multiplicidade de representações. O ser humano como espelho múltiplo. E isso não é feito sem dores.

Talvez não exista uma concepção mais extravagante da liberdade humana. Self flexível, moldável, alterável, que todos praticam no dia a dia das ruas , que atriz e ator escolhem praticar no dia a dia dos palcos.

Concedem, os deuses do teatro, ó Dioniso, ó Apolo,  ao ser humano a capacidade de moldar-se de acordo com sua vontade, transformando-se em besta, planta ou anjo.

Esta proposta de Pico rompia com a concepção escolástica (ver Tomás de Aquino), segundo a qual, o SELF é fixo, e, inalterável, dado por sua posição no cosmos; sem contar  a tradição agostiniana (patrística), que enfatiza a intervenção da Graça divina, na salvação da natureza humana corrompida pelo pecado, predestinada ao inferno.

Mas os deuses dizem que ninguém está perdido nem vai ao inferno que é região que não existe pois teríamos que aceitar um lugar onde não se dá a presença divina. É que os humanos usam muita máscara e se perdem nelas. Os artistas de teatro estão ai para que, usando máscaras, sofram ao removê-las nas peças e escancarar a verdadeira face humana.

 

 

No teatro não se fala só pela boca

Muitos que chegam ao teatro, ávidos pela hora de subir ao palco, mal sabem de quão árdua será a tarefa até que se possa chegar ao tão sonhado ponto. Muitos e muitos exercícios são necessários, muitas e muitas leituras são necessárias e algo, que talvez nem lhes tenha passado pela cabeça, se mostrará quase que como fundamental: No teatro não se fala só pela boca.

O que ao primeiro momento pode causar espanto, ou até mesmo acreditar-se ser algo simples de entender, com o tempo vai se mostrar algo que pode por muito trabalho a perder. E eu lhes pergunto: O que fazer com as mãos quando se está em cena, hein? É um problema, não é mesmo? Este é o primeiro sinal que não se fala só com a boca.

O domínio do corpo em cena não é algo tão fácil de se alcançar e é resultado de muitos anos de estudo e dedicação do fazer teatral. Aprender que a voz nem sempre é importante em cena e que cada movimento representa algo, demanda muita prática. Quantas vezes um simples olhar nos faz entender toda a cena?

Não adianta decorar o texto, falar articulado, ter a voz impostada, e não saber como se movimentar em cena, ou não saber onde colocar as mãos. Estar em cena, embora pareça brincadeira de faz de conta, não tem nada de brincadeira, por isso, quanto maior for á preparação, maior domínio do corpo se terá em cena. A voz é apenas mais um elemento que vai compor a sua personagem.

Não tenha pressa em querer subir em um palco, pois, uma subida antes da hora, pode vir a ser algo muito desastroso e deixar grandes seqüelas em suas lembranças. O gostar ou não gostar é inerente a todo o Ser humano, não se pode agradar à todos, mas podemos estar bem preparados para enfrentar a negação daqueles que não gostarem do nosso trabalho.

Então, lembre-se que só a voz não sustenta a sua interpretação, é preciso muito mais. É preciso saber como é o olhar, como é o andar, o que fazer com as mãos, e até mesmo saber como impostar a voz corretamente. E como se faz para conseguir isso? Exercícios, exercícios e exercícios. Depois disso, talvez você esteja preparado para subir em um palco de verdade.

Eu sei como o teatro é encantador e nos apaixona ao ponto de não percebermos o quanto temos que melhorar, mas a busca pela perfeição tem de ser o objetivo. E, para matar a vontade de subir em um palco, sugiro que o faça primeiro durante os seus árduos exercícios ou em pequenas apresentações que sirvam como aprendizado do fazer teatral. A princípio, pode parecer pouco, mas tenha certeza que será de grande importância.

E para finalizar, vou deixar uma coisa para se pensar. E se por um acaso, a sua personagem for muda, hein?

A cultura como fonte de renda

Apesar de sempre ser relegada a um segundo plano e financiada quase sempre por migalhas dos orçamentos públicos, a cultura, assim como qualquer outro negócio, é sim uma fonte de renda e tem a capacidade de movimentar uma forte cadeia produtiva, que começa ainda na concepção do evento e vai até a sua realização.

Muito mais do que ser apenas uma opção de lazer e de entretenimento, a cultura é um negócio em franco crescimento dentro do país, pois, com a melhora do padrão financeiro, o estímulo para se investir em cultura tem movimentado todo setor. Dos “stand up comedys” aos grandes musicais inspirados nos sucessos da “Broadway”, é grande  o volume de produções.

Indiferente á falta de verba e de apoio governamental, muitas pessoas vem apostando no sucesso da arte e da cultura como sua fonte de renda e investindo talento, tempo e dedicação, na criação de novas opções de cultura. Fazer cultura de um jeito rentável, ainda beira a utopia, mas já se vislumbram as oportunidades de se viver de arte com dignidade.

Traçando um paralelo com outros negócios, a profissionalização da cultura tem contribuído, e muito, para esse salto, tanto de qualidade, quanto de rentabilidade. Pensar a cultura não apenas como lazer e entretenimento, mas sim como uma indústria que emprega mão de obra especializada, tem mostrado alguns bons resultados.

Embora pareça incompatível a relação entre arte e finanças, o uso da segunda, planejando, orçando e produzindo a primeira, pode garantir o sucesso e a rentabilidade do projeto e fazer com que a cultura, como cadeia produtiva, valha a pena. Mas, é claro que o artista tem que pensar muito mais em sua arte, a diferença é que ele precisa fazer sua arte rentável, para poder se dedicar, mais e mais á ela.

O artista de hoje, tem que fazer com que sua arte, faça parte da grande cadeia produtiva que movimenta o setor cultural, procurando levar lazer, entretenimento, reflexão, emoção, à quem lhe assiste e, poder fazer isso, não apenas como um simples “hobby” e sim, como sua profissão. Transformar sua arte em algo realmente profissional, não significa estar diminuindo a sua qualidade artística, muito pelo contrário.

Se o setor cultural está em franca expansão, movimentando a economia e sendo capaz de gerar emprego e renda, por que o artista, principal veículo de divulgação e execução da arte, tem de se colocar à margem disso tudo? A arte, sempre vai ser arte, mas o artista, como todo profissional que trabalha com cultura, precisa fazer da sua arte, a sua fonte de renda.

Em teatro não tem figuração

Já vi e ouvi muita gente dizer que não faria uma peça porque o papel que lhe fora dado não tinha fala nenhuma. E daí que não tem? Já vi muitos textos onde a personagem sem fala é da verdade, a resolução do conflito. Quando se está em cena, tudo é importante, pois no teatro não há espaços para objetos, falas ou personagens soltos, tudo tem um ligação precisa. No teatro não tem figuração.

 

Engana-se aquele que acredita que, só se protagonizar um espetáculo é que terá o merecido reconhecimento. Este é um pensamento errado, pois, não é porque é o protagonista que tem uma importância maior. Pode ter maior evidência, isso sim, mas já vi grandes atores roubarem a cena do protagonista, fazendo papéis ditos sem importância.

 

Para um ator, a grandeza da personagem é o que interessa de fato e muitos até preferem personagens menores na importância, mas enormes na sua capacidade de permitir o exercício pleno da interpretação. No teatro, um olhar, um gesto, uma respiração, tem o mesmo peso do que um diálogo de uma lauda inteira.

 

Não se deve se sentir diminuído quando se é convidado para fazer algum papel que julgue pequeno, é preciso enxergar dentro da pequenez do papel, a magnitude das possibilidades interpretativas que aquela personagem irá lhe proporcionar. Invista, investigue, esmiúce a personagem e dê à ela a importância de um protagonista.

 

O teatro permite tantas possibilidades que é ingenuidade pensar que se faz em cena, uma simples figuração. Figuração é algo para o cinema, para a televisão, onde elementos estranhos à cena não fazem realmente importância. Tanto faz se é um homem ou uma mulher que atravessa a rua quando o carro do vilão atropela a mocinha na tela do cinema ou da televisão, mas no teatro isso pode resolver o conflito.

 

É assim, o ator é sempre protagonista quando pisa em cena, não importa se ele vai falar sem parar, ou se vai se plantar feito estátua em um canto da cena, pois em dramaturgia, tudo que está em cena tem uma relação e um motivo de ser, portanto, o estar calado, pode ser de fato o verdadeiro motivo daquela montagem.

 

Portanto, não se envergonhe e nem se aborreça por conta de papéis pequenos, pois no teatro eles não existem, recusá-los pode representar o desperdício de uma grande oportunidade de mostrar o quão grande é o seu talento.