Até algum tempo atrás eu não tinha a mínima idéia se alguém acharia o que escrevo bom ou ruim, mas como escrever sempre foi o que eu mais gostei de fazer, eu não me preocupava com isso e continuei. Só que resolvi tirar meus textos do fundo da gaveta e colocá-los a disposição de quem quiser ler. Assim pude ter a exata noção se o que eu estava fazendo tinha ou não algum valor.
Confesso que no primeiro momento, colocar meus textos para apreciação de outras pessoas, me causou grande apreensão, mas tive sorte, sempre encontrei pelo meu caminho, pessoas que me mostraram o que eu precisava e, que ainda preciso em meus textos, para melhorá-los e quais caminhos seguir. E em uma coisa todos foram unânimes, recomendaram-me que eu praticasse a escrita, pois assim aumentaria a possibilidade de ter um texto bom.
E como escrever é uma arte artesanal, eles estavam certos, quanto mais se pratica, mas se ganha habilidade para escrever. Mas só essa habilidade me pareceu pouco para distinguir um texto de bom ou ruim, precisava de outras ferramentas. Foi aí que resolvi freqüentar oficinas de dramaturgia, de roteiros, presenciais e on line, li muito mais do que já lia e busquei conhecimento. Dito e feito, escrever se tornou, muito mais prazeroso.
Outra coisa também vem contribuindo para que eu siga a minha trilha pelos caminhos das letras em busca de um bom texto: disciplina. Reservar-me em meu canto e trabalhar artesanalmente cada frase, cada palavra, fazer e refazer quantas vezes eu achar que deva, até que meu texto expresse a verdade que eu queira passar. Sei que nem sempre eu consigo, mas como escrever é um eterno aprendizado, sei que ainda posso chegar lá.
Hoje, já não fico mais tão apreensivo se vão achar ou não, os meus textos bons, ou ruins, ou sei lá o quê, o que sei é que a minha busca por um texto melhor vai ser eterna, e isso, os meus bons conselheiros também me alertaram. Diziam eles: escreva usando todas as técnicas que você adquirir, use toda a criatividade que você tiver e trabalhe suas palavras da melhor forma para contar a sua história, se o texto for bom, os leitores vão dizer.
Depois de tanto tempo escrevendo, o que posso falar sobre o que seja um texto bom ou um texto ruim, é que não consegui encontrar uma receita para isso, pois se escrevemos de forma rebuscada demais, uns nos acham muito chatos, outros nos adoram; se usamos um vocabulário mais coloquial, os acadêmicos nos renegam, mas outros não; se usamos mão dos clichês, uns dizem que apenas requentamos fórmulas batidas, mas outros nem ligam.
E o que o escritor tem a fazer? Praticar, praticar e encontrar seus leitores, sem nunca deixar de buscar incansavelmente, a produção de um texto cada vez melhor, pois só assim, é que conseguirá atingir mais e mais leitores que atestarão o quanto o seu texto é bom. E é isso que busco!
A selva é densa e repleta de animais selvagens carnívoros e sedentos para atacar a qualquer um que os ameace, a demonstração de força determina, na maioria das vezes, quem vence o combate e é preciso muita coragem para enfrentar esse perigo. Mas, antes que você pense que estou falando da vida dos irracionais, quero informar-lhe que é apenas uma analogia com o bicho homem.
O mais predador do reino animal, o homem é capaz de atrocidades que animais selvagens seriam incapazes de cometer, e o mais grave, o bicho homem é capaz do pior dos pecados capitais, a inveja do sucesso alheio. Quando alguém atinge uma posição de destaque, sempre tem alguém para atirar uma pedra, mas este nem se dá conta de quão duro foi o caminho até se chegar ao topo.
Tenho visto muito isto no meio artístico, onde o desfile de egos inflamados é freqüente e provocante, acometendo o bicho homem de outro grave pecado, a ira pelo sucesso alheio. A raiva é tamanha, que misturada a inveja, faz com que o bicho homem, ataque o seu semelhante com doses cavalares de dores de cotovelo, querendo sempre desqualificar a qualquer custo, o árduo trabalho que o outro esteja fazendo.
É claro que é do Ser humano achar que pode fazer melhor do que o outro, pois estamos sempre propensos a nos considerar superiores ao nosso semelhante, mas ás vezes é preciso reconhecer o mérito de quem atingiu um certo patamar. Seja atuando, seja escrevendo, ou dirigindo, ninguém fica tanto tempo exercendo uma função, se não tiver um mínimo de competência.
Muitas vezes, diversos fatores contribuem para que um trabalho não saia a contento, isso, por vezes, independe do empenho e trabalho do artista, são fatores inerentes a sua vontade, pois como se vive em uma selva, há bichos mais fortes que determinam e demonstram através do seu poder, como e de que forma tal coisa deve ser feita. Aos menos ferozes, até mesmo para zelar por sua sobrevivência, só resta acatar a decisão.
Não fique pensando que quando as coisas não saírem ao seu contendo, você, com sua indefectível sapiência será capaz de encontrar soluções melhores e resolver todos os problemas. A selva é perigosa, os bichos são ferozes e o risco é constante. Portanto, saber sobreviver na vida selvagem do mundo artístico, não é tarefa das mais fáceis, principalmente para bichos domesticados que ficam presos em suas gaiolas, bradando ferocidade.
Não vou entrar no mérito do que seja bom ou que seja ruim, pois isso é gosto pessoal de cada um, mas, se um programa, ou uma novela não vai bem nos números da audiência, o bicho homem invejoso e cheio de ira, não hesita em atirar pedras, sem nem mesmo conhecer as dificuldades que é trabalhar numa selva tão arriscada. É muito fácil ficar do outro lado dando palpites e achando que pode fazer melhor, mas só se conhece os reais perigos da selva quando se emprenha na mata.
Sempre penso como seria possível popularizar o teatro, já que não é nada fácil contar com espaços para divulgação e nem tão pouco, levar um espetáculo teatral a qualquer canto, mas vejo com bons olhos a iniciativa de alguns professores que levam até os seus estudantes, o universo do teatro, mesmo que alguns estudantes não se dêem contam da oportunidade que estão tendo.
Não importa se no começo tudo é apenas uma grande brincadeira, se o figurino é improvisado, se a peça é encenada na sala de aula, se alguns sentem vergonha e outros apenas querem rir dos colegas, o que importa mesmo é a iniciativa de levar o teatro para as escolas, pois é esse primeiro contato que vai fazer o teatro se propagar.
Mesmo que sejam pequenas iniciativas e que sejam encenações complementares sobre matérias do currículo escolar, assim, de pouco em pouco, de maneira despreocupada, vai se mostrando aos jovens a arte de interpretar e, quando se percebe, a sementinha do teatro já fincou raiz e muitos deles serão multiplicadores da arte do Teatro.
Mais louvável ainda são as iniciativas de algumas instituições de ensinos que realizam festivais internos de teatro, estimulando mais ainda o interesse dos estudantes e contribuindo de maneira mais incisiva na propagação da arte de interpretar e na popularização do Teatro. A integração escola-teatro também contribui para uma maior interação entre os alunos e isso, é fato.
Não podemos desestimular as poucas iniciativas daqueles que acreditam que o Teatro pode ser, além de uma ótima ferramenta de apoio pedagógico, uma maneira de manter os estudantes ocupados com outras coisas e isso, nos tempos de hoje, tem um peso muito grande, pois como diz o velho ditado: cabeça vazia, oficina do diabo.
Portanto, sempre que posso, dou a minha contribuição para essas iniciativas, autorizando a utilização dos meus textos para as encenações dos estudantes, pois acredito que desta forma, mais e mais pessoas terão contato com o teatro, e, por certo, novos entusiastas se juntarão para tornar o teatro mais e mais popular. E, quem vai dizer que não?
Para encerrar este artigo, quero deixar bem claro que todas as iniciativas que envolvam estudantes e o Teatro, terão sempre o meu apoio, pois acredito que a Escola juntamente com o Teatro, pode fazer muito mais pela educação dos jovens e estes jovens pela popularização da arte de interpretar. E é assim que penso.
Há tempos atrás, a criação artística era a expressão exata daquilo que um artista pensava quando escrevia um texto, quanto rodava um filme, quando compunha uma música, quando dirigia uma cena, quando representava um papel, mas hoje em dia às coisas andam muito diferentes, a criação artística está na alça de mira.
Agora, antes mesmo de exercer a plenitude de sua criação artística, o artista precisa examinar minuciosamente todas as possibilidades da sua obra, analisar se tal coisa não vai ofender fulano, ou se tal comentário não vai expor sicrano, ou ainda se garantir que não há nada que venha a desagradar beltrano. Isto está ficando muito chato.
A arte está perdendo o seu poder de seduzir, de encantar, de emocionar, de contestar, de protestar, de se indignar, por conta de um pensamento mesquinho e reacionário, preocupado em usar a força da censura para inibir e cercear o que o artista tem de mais sagrado, a sua criação. Não consigo entender, que após anos de ditadura, ainda insistam em querer calar o pensamento.
É certo que há excessos que precisam ser reprimidos, mas a liberdade de criação deve ser respeitada e quem deve tomar essa decisão do que serve ou não serve é o povo. É óbvio também, que manifestações de ofensas e que denigram e exponham o ser humano no seu direito garantido na Constituição, devam ser punidas na forma da lei, mas na forma da lei e não com a força da tesoura da censura.
Podemos está perdendo o bonde da história e deixarmos de realizar a maior revolução cultural que esse país já presenciou, por conta de pensamentos ultrapassados e pontos de vistas equivocados, pois com a movimentação das camadas sociais, onde pessoas estão tendo um maior poder de compra e se mostrando consumidores contumazes, ao invés de se oferecer cultura de verdade, abre-se espaço para essa cultura descartável, mas que não fere os princípios da tradição, família e propriedade.
Tolher a criação artística usando como justificativa a preservação do que para alguns representa o que seja politicamente correto ou ainda querer induzir o que seria o melhor para tal idade ou para tal horário é caminhar na direção contrária do que realmente faz uma nação, o conhecimento, pois é ele que dá o poder de discernimento para que se escolha o que serve, o que não serve, o que agride, do que não agride.
Mas, ainda espero que o artista na grandiosidade de sua infinita capacidade de manifestar sua criação artística, consiga vencer os problemas das patrulhas, dos politicamente corretos, da censura e transmita ao povo cultura suficiente, para que este povo, que hoje tem seu direito de opinião subjugado, absorva cultura suficiente para dizer: Basta de Censura! Basta de Controles, Basta!
Por onde anda o Saci Pererê? Por onde anda o Curupira? Onde se escondeu a Mula-sem-cabeça? Alguém sabe por onde anda o Negrinho do Pastoreio? É, alguém apagou as lendas da nossa memória. Alguém sabe onde está o Boitatá? Hoje não vemos mais o Lobisomem quando da lua cheia. Por onde andam as lendas que nos encantavam?
Em que lugar do tempo, deixamos escapar o interesse em divulgar nossas len-das e mitos? Talvez no tempo em que resolvemos compartilhar outras culturas. Perdemos cada vez mais a nossa identidade e, ao tornarmos mais importantes lendas e mitos de outros países, contribuímos para perder contato com nossas raízes e com nossa história.
A cultura de um país é a sua identidade e a preservação do conjunto de lendas e mitos que compõem o que chamamos de folclore, reforçam a característica e a singularidade de um povo. Cada lenda e cada mito contam um pouco da formação de nosso país e de nosso povo. Quando abandonamos a idéia e deixamos de dar importância às festas populares, descaracterizamos cada vez mais o nosso país.
Quanto mais o tempo passa, mais é visível a falta de importância que é dada para as comemorações do dia do folclore. São raras as manifestações e as intervenções que propagam as lendas e mitos populares, muitos, apenas distribuem pinturas com figuras do nosso folclore para as crianças colorirem e assim, cada vez mais vemos nossas lendas e nossos mitos se distanciarem.
Sempre que ouço o desdém que algumas pessoas tem sobre os assuntos da cultura, percebo de como já estamos distantes daquilo que formou o nosso país e ver passar quase em branco o mês do folclore, mostra que o nosso povo já não se identifica com nossas lendas e nossos mitos. Aos poucos, as lendas e mitos se afastam do imaginário popular e não demorará muito para serem esquecidas de vez.
Enquanto se é possível, devemos valorizar as manifestações populares, nossas lendas e mitos, reforçando o conceito que é o conjunto de todas essas coisas que criam a identidade de um povo e, cada vez, que nos afastamos das coisas de nossa terra, mais nos afastamos daquilo que nos representa como filhos do lugar.
Por isso, procuremos o Saci-Pererê, corremos atrás de encontrar o Curupira, vamos atrás de encontrar onde se escondeu a Mula-sem-cabeça, busquemos seguir a lua cheia para encontrar com o lobisomem. Assim, será possível resistir à idéia de apagar da nossa memória a importância de preservar nosso folclore.
Quanto mais a gente aprende, mais temos a certeza de que ainda há muito para se aprender. E como é bom quando a gente tem a noção exata de quanto ainda temos que aprender. Por mais bagagem que se tenha adquirido durante a nossa vida, aprender é um exercício diário e para mim que escrevo o aprender é sempre estimulante e, acima de tudo, de fundamental importância para o desenvolvimento de minha atividade.
Poder mergulhar de cabeça em algo que me dará mais conhecimento e mais habilidade, só vem a contribuir para a melhoria do meu trabalho. E se escrever é um exercício diário, e de fato o é, sempre que sou pego de sobressalto por algo pelo qual tinha certeza que dominava, mas que na verdade não dominava quanto deveria dominar, tenho a exata dimensão que além de exercitar minha escrita, preciso praticar a humildade de reconhecer que aprender é um exercicio contínuo.
A certeza da necessidade de que ainda há algo para aprender serve como um freio para a prepotência e para arrogância que nos toma de surpresa quando na nossa soberba, achamos que sabemos muito mais do que na verdade sabemos. E é isso que nos obrigamos a prosseguir na caminhada do aprender, pois se a escrita é nosso ofício, aprender é a nossa lição. E quem achar que não, deve colocar as barbas de molho.
Não é porque se atingiu um patamar de respeitabilidade que se deve abrir mão do aprendizado, muito pelo contrário, pois quando se torna uma referência, ou se tem o trabalho consagrado, premiado e elogiado, a cobrança por resultados e a exigência pela excelência se torna proporcional e a falta de conhecimento ou de habilidade necessária é capaz de colocar todo prestígio a perder. Portanto, quanto mais bem sucedido, maior a necessidade de se aprender.
Não devemos nos envergonhar de estar sempre aprendendo, pois a humildade de reconhecer nossa imensa ignorância nos faz sábio o suficiente para saber que para escrever, precisamos saber e para saber, precisamos aprender e para aprender, precisamos aceitar que não sabemos nada. Aqueles que desfilam a soberba e se acham tão bons a ponto de não precisarem aprender, uma hora ou outra, vão saber que sabem muito menos que achavam que sabiam.
Escrever é um exercício diário e aprender um exercício contínuo, só assim, admitindo a necessidade de que um complementa o outro, podemos nos qualificar e fazer do nosso trabalho algo que justifique que alguém nos prestigie. Negligenciar o aprendizado por se achar suficiente capaz naquilo que faz é correr o risco de saber que não se é aquilo que sempre se achou que era. Nunca é suficiente o que se aprende e sempre será muito pouco.