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E se for clichê?... Paciência!

De uns tempos pra cá sempre que eu penso em escrever alguma nova história, um bichinho fica me azucrinando no ouvido: – Cuidado para não ser clichê? – Olha lá, acho que isso é clichê?– Nossa! Isso está muito clichê! Mas como não ser clichê? Não sei se esse bichinho azucrina os ouvidos de meus colegas militantes da escrita, mas só sei que de tanto ele me azucrinar os ouvidos, resolvi escrever este artigo. Dizem que quando a gente fala do problema, mais fácil fica para resolvê-lo, não é mesmo?

 

Então, para começar, vou logo atacando o eixo do meu problema: eu não consigo entender muito bem, qual o problema de ser ou não ser clichê. Se o público se identificar com o que eu escrevo, se a história, mesmo mostrando um lugar comum já trilhado outras tantas vezes, seduzir as pessoas, que mal tem? Por acaso o óbvio é um caminho proibido?

 

Dizem que usar o que outros tantos já usaram é falta de criatividade, deixa o seu texto mais pobre, não acrescenta nada, e blábláblá, blábláblá, mas agora me expliquem uma coisa: Quer coisa mais clichê de que uma novela? E qual o problema? A estrutura melodramática das novelas acaba levando para algumas situações clichês, não há como fugir. E só por isso, seus atores são menores, ou piores? E por que apesar de ser clichê, o povo vê?

 

Vejam só quantos questionamentos esse bichinho que fica me azucrinando as idéias não consegue me responder? Acho que tudo isso passa pela questão do gosto pessoal de cada um. Se eu gosto do jeito que o autor conta a sua história, mesmo que ele trilhe caminhos já conhecidos, eu vou prestigiá-lo. E se ele usa a sua criatividade para, mesmo se utilizando de clichês, contar a sua história? É, realmente não devo dar muito ouvidos para esse bichinho, viu?

 

O engraçado, é que quando comecei a escrever, nem dava bola para esse tipo de preocupação, aliás, nem ligava, ou melhor, nem pensava nisso, escrevia a minha história, do jeito que eu achava que ela deveria ser e pronto. Por que agora vou me incomodar com isso? Será que por ter a certeza que só as gavetas leriam as minhas histórias, esse bichinho não me dava o ar da sua graça? Ai, ai, ai, ai, ai! Pode ser isso! Será?

 

É, parece que vou ter que aprender a conviver com esse bichinho que azucrina os meus ouvidos, ou melhor, aprender a ignorá-lo, pois diante de tantos questionamentos, dúvidas e exemplos de que ser clichê na verdade não quer dizer que o seu texto seja ruim ou bom, vou optar em permanecer fiel ao meu estilo de escrever. E se um dia, assim por um acaso, uma hora ou outro, eu for clichê, paciência!

Ensaiar é preciso

Não é de hoje que ouço comentários de diretores e de alguns atores mais experientes, sobre a dificuldade que há de se reunir pessoas para montagem de um espetáculo teatral. Mas se tem tanto jovem querendo fazer teatro, por que tanta dificuldade? Estranho, não é mesmo? Só que esta, eu mesmo respondo: É que essa galerinha que chega ao teatro, quer logo de cara entrar em cena.

 

Ora! É preciso que eles saibam que a montagem de um espetáculo teatral não é tão simples assim. É certo que muitos, vindos de experiências em montagens escolares e, portanto, achando-se plenamente capacitados a assumir qualquer papel que lhes for designado, não aceitam qualquer coisa. Pura bobagem. O que precisa ficar claro é que tornar-se um ator e manter-se como tal, demanda tempo e estudo.

 

Eu até entendo a ansiedade dessa galerinha que quer ver aquilo que está escrito e decorado, ganhando corpo e se tornando um espetáculo, mas se ela não se dispor a ensaiar, o espetáculo não saí. E alguns, por pura preguiça, largam produções pela metade, por acharam um saco ficar ensaiando, ensaiando e ensaiando.

 

Só que ter o texto decorado na ponta da língua, ou fazer gracejos sobre um palco, ou ainda brincar de faz-de-conta, não é nada em termos de teatro. Antes de reunir condições para assumir a responsabilidade de interpretar qualquer papel, o aspirante precisa entender que é fundamental e necessário, ensaiar, ensaiar e ensaiar, quantas vezes forem necessárias. Às vezes, se leva mais tempo ensaiando, do que o tempo que as apresentações ficam em cartaz.

 

Aliás, a vida de um ator é ensaiar, se exercitar, ensaiar, estudar, ensaiar, interpretar e ensaiar. Uma roda vida sem fim que faz com que a cada dia, o ator apure mais e mais o seu talento, lapidando cotidianamente a sua arte de interpretar. Teatro não é uma arte que se faz de supetão. Não é apenas lendo e decorando o texto que se é capaz de interpretar.

 

Se vocês repararem bem nas “interpretações” de grandes figurões das artes cênicas que estão em cartaz nas várias novelas na atualidade, vão perceber o quanto a falta de ensaio faz falta. Nem mesmo a experiência de anos é capaz de sustentar uma boa interpretação. Como na TV é tudo rápido, sem tempo de ensaiar, é possível ver “interpretações”, se dá para chamar assim, que dão nos nervos.

 

Por isso, se você quer mesmo fazer teatro, mesmo que ainda não queira seguir carreira profissional, precisa ter a consciência de que se faz necessário muito ensaio antes de se colocar um espetáculo em cartaz. Não tenha tanta pressa em aprender, pois se você seguir a profissão, vai precisar fazer isso diuturnamente. E não interessa qual papel você for interpretar, seja o papel principal, ou apenas uma florzinha estática que compõe o cenário, vai precisar de ensaio, ensaio e ensaio.

Quem sabe o que criança quer?

Adulto é mesmo presunçoso, pretensioso e se julga o dono da verdade, pois que lhes deu, ou dá o direito para dizer o que uma criança gosta ou não gosta de assistir no teatro? Quem lhes deu, o dá o direito de achar que esta ou aquela peça de teatro, ou que este ou aquele programa infantil de televisão, não serve para as crianças?

 

Em que lugar está escrito que criança não gosta de cenas de pastelão, de tombos e cacetadas? Existe alguma pesquisa feita com crianças afirmando isso? Eu, pelo menos, não conheço. Será que eles nunca viram como criança se diverte diante destas situações? Ou a simples recusa por tais situações reflete apenas uma visão presunçosa destes adultos?

 

Escrever para criança, não é fácil, e não há como negar isso, pois consiste justamente neste desafio, o de não ter a pretensão nenhuma de querer adivinhar o que uma criança quer ou não. É preciso pensar como criança, que curte a brincadeira sem se dá conta do que é certo ou errado. Agora me digam uma coisa: Que criança não ri até ficar com dor de barriga, quando vê uma outra criança se estatelando no chão?

 

Ou eu vivo em outro planeta, ou não reconheço mais o universo que vivo, onde minhas filhas se divertem com situações como estas. Aliás, aqui entre nós, qual o adulto que não racha o bico quando vê um outro igual, se estatelar no chão? Essa coisa de politicamente correto quer reinventar a criança, tanto, que até no Teatro Infantil, “estudiosos” condenam textos que tenham isso ou aquilo, ficam ditando regras do que é certo, ou errado, do que é bom ou mau. Quem tem de ter opinião sobre isso é a criança. Se o adulto gostar, muito que bem, senão, ombros pra ele.

 

Eu, quando vou escrever um texto infantil, tenho como público alvo, a criança e é a ela que tenho de conquistar, afinal de contas é sobre o universo dela que estou escrevendo. Jamais me preocupo qual vai ser a reação dos adultos e como eles vão receber o meu texto. Se a criança gostar, missão cumprida.

 

Tem um texto meu que ficou em cartaz anos atrás, que a crítica achava muito clichê, que alguns adultos não enxergavam nele algo construtivo, mas para surpresas destes adultos, as crianças que iam assistir ao espetáculo, suplicavam para que seus pais as levassem outras tantas vezes. Vê como é estranho o que é gostar, não é mesmo?

 

Por isso, e depois disso, não costumo dar ouvidos ao que os adultos falam sobre os meus textos infantis, ou sobre de como é que deve ser o texto infantil ideal. Para mim, o texto infantil ideal é o que a criança gosta, e não o que adulto quer. E ponto final.

O que há com o humor da TV?

Engraçado, com tanto show de “stand up comedy” pelo país afora, por que está cada vez mais difícil encontrar um bom programa de humor nas TVs abertas? São raras as tentativas de oferecimento de um humor renovado, revigorado e que de fato nos leve ao riso espontaneamente. São sempre programas repetidos, requentados, com um humor ultrapassado e que nem pelo ridículo, consegue nos fazer rir.

 

As poucas tentativas que inovam e nos mostram o humor pelo humor são logo tiradas do ar, ou colocadas em horários onde os números de televisores ligados, não recompensam tamanho esforço e a renovação acaba não chegando ao grande público. A insistência com a mesmice, ainda que seja para privilegiar e prestigiar velhos e competentes humoristas, afasta cada vez mais os teles-pectadores, que buscam o humor na internet.

 

Sei que não é tarefa das mais fáceis fazer humor e que velhos e talentosos hu-moristas merecem e precisam ser privilegiados, para tanto, se faz necessário uma outra visão de humor, algo que venha de encontrar ao que realmente cativo o público, não há mais espaços para programas requentados, correndo o risco, a TV que insistir neste modelo, de ver seus programas esvaziados e a conseqüente queda da audiência.

 

Não que eu seja ranzinza, nem mal-humorado, muito pelo contrário, até que sou uma pessoa que sempre procura enxergar o lado engraçado da vida. Acontece que não consigo ver graça nos programas que se dizem ser de humor. Por mais esforço que eu faça, o máximo que consigo assistindo esses programas, é ficar constrangido com o excesso do ridículo que alguns humoristas são capazes de passar.

 

Talvez, com a popularização da internet e a enxurrada de vídeos mostrando situações engraçadas disponíveis a quem quiser ver, tem feito com o que já não era nada fácil, ficar ainda muito mais difícil. A arte de fazer humor com tanto oferta a disposição não tem mais espaço para humor ingênuo e descompromissado de tempos atrás. Fazer rir está cada vez mais difícil.

 

Eu, particularmente, já não perco meu tempo vendo os programas de humor que a TVs abertas insistem em oferecer nas suas redes, pois eles são tudo, menos engraçados. O pior é que sai ano e entra ano, lá estão os mesmos programas pensando que o povo está se divertindo com eles, mas, mal sabem eles, que tudo não passa de uma questão do hábito de deixar as TVs ligadas.

 

Mas, pensando bem, existem tantas outras maneiras de encontrar o humor, pela internet, pelas apresentações de “stand up”, no cinema, no teatro, não é mesmo? Se as TVs abertas preferem insistir nos seus ultrapassados humorísticos, são só elas que tem a perder. Só fico com pena de quem só tem as TVs abertas para se divertir.

A aversão ao novo

Pode parecer até um paradoxo, mas a coisa é assim mesmo. Embora muitos clamem pelo surgimento de novos nomes, principalmente quando o assunto é teledramaturgia, existe uma aversão danada para qualquer novidade na área. O novo, sempre tem um pré-julgamento, até mesmo antes que sua obra seja apresentada. E é invariavelmente recebida com um pé atrás.

 

Antes mesmo que sejam apontados os pontos positivos que o novo se propõe a apresentar na sua obra, os pontos negativos do que ele está fazendo é sempre carregado de tinta. Qualquer deslize, por menor que ele seja, ele é impiedosamente atacado, ás vezes de tal forma, que o novo jamais conseguirá uma outra chance.

 

É certo que não é por ser novo que trabalhos sejam feitos sem qualidade, mas algumas deficiências são inerentes à condição de novo, e só com muita experiência e exercitando seguidamente o seu talento, é que o novato reunirá condições de consolidar o seu nome. Quem quer apostar no novo, tem que ter a consciência das imperfeições iniciais, pois, até mesmo os mais experientes, volta e meia, escorregam em seus trabalhos.

 

Quando se trata de teledramaturgia, e não me restrinjo só às novelas, também incluo, séries, minisséries, seriados, e qualquer outro trabalho de dramaturgia na TV, o funil é por demais estreito e esta aversão ao novo, só contribui ainda mais para as dificuldades de uma renovação. Sempre que há tentativas de incluir um novo roteirista à frente de alguma produção, a batalha é árdua.

 

Ás vezes, esta aversão ao novo, parte até mesmo de roteiristas iniciantes que no afã de alcançarem as suas oportunidades, saem logo apontando erros, defeitos e deslizes, no trabalho daqueles novatos que conseguiram a tão sonhada chance para mostrarem o seu trabalho, e o fazem sem pensar, pois, com certeza, iniciantes que são, certamente também cometeriam os mesmos erros, defeitos e deslizes.

 

Por outro lado, a crítica especializada, reforça ainda mais essa aversão, fazendo cobranças infindáveis nos trabalhos dos novatos, contribuindo para que o público, de uma forma geral, rechace qualquer tentativa de novidade na TV. E ás vezes, por mais talento, criatividade e habilidade que o novato tenha para contornar a situação, ela se torna insustentável e a conseqüente queda de audiência detona o trabalho que tinha tudo para ser um sucesso.

 

É ou não é um paradoxo? Ao mesmo tempo que se cobra a inclusão de novos no mercado da teledramaturgia, do outro lado, a aversão ao novo é cada vez mais contundente e desencoraja quaisquer emissoras de TV, que na dúvida, preferem apostar um pouco mais na experiência. E o novo? Bom... o novo tem de continuar apostando no seu talento, esperar e se preparar cada vez mais para enfrentar a temida aversão ao novo.

Será desta vez o fim do Palhaço?

Acabei de ler uma notícia publicada na revista americana “Forbes”, listando as dez profissões que perderão terreno e “encolherão” nos próximos anos e, por incrível que pareça, na lista consta á profissão de artista performático, onde se incluem o mágico, o malabarista, o dançarino e o palhaço. Todos, segundo a reportagem, estão perdendo terreno para os videogames e algumas tendem a desaparecer.

 

Quero dizer que discordo de parte desta lista, pois, na minha opinião, artista performático não deveria ser parte integrante da lista, visto que, bem mais que uma profissão, ser artista é uma condição de espírito. Se o artista é capaz de se manter financeiramente ou não, isso é assunto para um outro artigo. E não é uma reportagem americana que decretará o fim de um artista, pois sempre haverá um espaço para que este artista demonstre sua arte.

 

Dançarinos sempre conseguirão empregos em programas de auditórios de TV, existem tantos no ar, não é mesmo? Os malabaristas e os mágicos sempre terão espaço, até mesmo nos mesmos programas de auditórios. Quantos já não foram demonstrar suas habilidades em vários deles? E o Palhaço, bem, o Palhaço está em outra categoria. Palhaço é a alegria da vida, pois ontem, hoje e sempre, apesar de todas as dificuldades que um artista tem para viver de sua arte, o Palhaço sempre divertiu e divertirá a garotada. E não tem e nem terá, internet, nem vídeogame, que afastará o Palhaço do seu ofício.

 

Uma coisa é fato: entre todos os artistas performáticos citados na reportagem, o Palhaço é o que causa o maior encantamento e não pode haver explicação lógica para acreditar no seu fim. Isso só pode ser coisa de americano, ranzinza e mal-humorado. Pode-se até discutir sobre a sua popularidade, se está em baixa ou não. Eu acho que sempre estará em alta. Para mim, palhaço é palhaço e isso já basta.

 

O Palhaço pode estar longe da grande mídia, longe dos olhos dos pequenos de hoje em dia, mas a culpa não é dele. O fato de ser cada vez mais raro encontrarmos um Palhaço, não quer dizer que a profissão está encolhendo, ou está sumindo, ou que chegará ao fim. O Palhaço está sempre pronto para aprontar mil e uma travessuras e trocar o choro do rosto de uma criança, pelo mais largo sorriso. E ele pode estar ali, ou aí, bem do seu lado, duvida?

 

Só mesmo esses americanos, industrializados, robotizados, que não sabem e não conhecem o valor de uma emoção é que acreditam no encolhimento de uma arte. Arte é muito mais que profissão. E quando se trata de um Palhaço, isso chega a transcender a lógica do que é real ou imaginário, pois o rosto maquiado de um Palhaço espera apenas um pagamento: um sorriso.

 

Por mais que novas mídias tomem a vida das pessoas e as afaste da arte performática, sempre haverá um artista disposto a romper essa barreira e quebrar a parede com a qual o ser humano tem se isolado cada vez mais. Bem, e o Palhaço, esse jamais terá fim, pois, quem um dia conheceu um Palhaço, jamais conseguirá apagá-lo da memória e sempre estará a espera de um dia reencontrá-lo.