Artigos Diversos

E você, o que seria?

Eu queria tomar mais sorvete de chocolate sem medo de virar uma obesa sem limites desfilando minhas gordurinhas, celulites e banhas excedentes na praia de Copacabana.

Eu queria comer todos os petit gateaus do Universo sem me preocupar com o corpinho 2006, com o fato de passar o Reveillon no Rio e não poder estar um bagaço, afinal, o povo comenta. Eu também tenho vontade de sentar na frente de um bolo gigante de creme com morangos e come-lo até passar mal. Mas….

Eu queria trabalhar só as terças, quartas e quintas. Porque segunda e sexta é cruel demais e sacrificado demais. Pelo menos é isso que sinto quando meu despertador canta nestes dias específicos. Engraçado como para mim terça, quarta e quinta é tranquilo trabalhar. Mas na sexta, meus ombros estão sempre mais pesados e o relógio sempre anda mais devagar. E na segunda.. putz … vocês sabem como é a segunda.

Se tivesse chance gostaria de deitar numa cama de bronzeamento artificial e ficar torrando lá dentro. Entraria branca leite e sairia morena cor do pecado. Mas minha avó sempre disse que esses “procedimentos, Tatiana, resultam em câncer de pele, menina. Não invente”. E cagona que só eu mesma, deitei numa dessas 3 vezes com minha mãe. E morri de medo do câncer. Ai ai.

Se fosse possível, voltaria no meu passado só uns instantes e corrigiria alguns erros: nunca teria perdido 12 quilos por sofrimento, jamais teriam arrancado minha apêndice e nunca teria conhecido um médico que acredita que a cabeça traz doenças pro corpo. Eu nem sequer teria entrado num hospital caso não quisesse chamar atenção.

Eu correria mais de carro sem medo de morrer, diria tudo que penso pros meus superiores, e não daria satisfação para ninguém. Ninguém mesmo. Eu odeio dar satisfação na realidade.Eu diria 3 coisas proibidas para alguém, afastaria da minha vida aqueles amigos que a gente sempre tem mas não sabe
exatamente porque tem. Aqueles que às vezes, você sabe que não te desejam o melhor, que não te querem no estado de felicidade que você está e principalmente: aqueles nos quais a invejinha nem sempre é branca e das boas.

Se pudesse, entraria numa avião sem medo nenhum e ia dizer na cara do Bush que acho ele um bosta. E de preferência com o
dedinho bem apontado pro nariz dele. Óbvio que eu faria isso, afinal, eu não daria satisfação pra ninguém, lembra? E ainda por cima, eu nem teria medo de ser presa porque a verdade como ela é, não seria classificada de DESACATO A AUTORIDADE.

Eu viveria de fazer teatro, viveria das coisas da alma, dançaria na rua sem medo de ser chamada de louca. Eu estrearia 3 espetáculos por ano, me dedicaria somente a arte e montaria um grupo de muito talento. Mesmo com pouca grana. Porque na verdade, eu nem ligaria de ficar sem grana, com contas atrasadas e devendo pra todo mundo. Eu produziria “VEM BUSCAR-ME QUE AINDA SOU TEU”, “CAMILA BACKER” e “É IMPOSSÍVEL SER FELIZ SOZINHO”.Eu teria nascido bem antes para viver a época de Vinícius, Tom e Toquinho. Teria tido 19 anos na época da ditadura e provavelmente
hoje estaria sumida. Seria subversiva só pra ser contra as regras e minha mãe teria sofrido a dor de perder uma filha novinha. Eu teria sido exilada, teria pedido asilo política na Jamaica e cantaria todos os reggaes que a gente nem sabe que existe. E usaria aquelas boininhas verde, vermelha e laranja que todo mundo diz ser dos “maconheiros”.

Eu teria mais coragem de voltar atrás em algumas determinadas decisões e não teria voltado atrás em outras determinadas
decisões. Talvez tivesse perdido minha melhor amiga pra uma sensação de ter sido traída, pra uma briga que tivemos 2 anos atrás. Talvez tivesse perdido o amor da vida se quisesse resolver
uma história mal resolvida quando ela tocou a campainha da minha casa.
Nunca teria me perdido da Rany, não estaria há 1 ano sem saber da Mari e teria voado muitas vezes pra Lisboa pra sentar no colo da minha mãe e sentir o cheiro dela.Eu na realidade não seria isso que sou. Seria bem mais e bem menos.
Seria outra eu diria. Eu seria talvez, Julia Bevilacqua.
Eu teria 19 anos e estaria me arrasando por aí. Eu seria com certeza uma mulher bem menos responsável.
Mas eu não posso.
Porque sou, assim como vocês todos aí, produto do meio em que vivo.
taticavalcanti@uol.com.br
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O que acontece comigo (e imagino que, com todo mundo) na estréia

Eu sempre fico com medo na verdade.
Um medo bom, um vício paranóico de achar que tudo vai dar errado mesmo depois de tanto estudo, pesquisa e ensaio. Um frio na barriga do qual sou definitivamente dependente. Aquela coisa de não dormir uma noite antes, de ter medo de esquecer marcação, texto, blá blá.
Depois que me descobri atriz e que me disseram por aí que era dotada do mínimo do talento necessário pra subir num palco, não consegui mais não ser artista. É um troço visceral, tipo respiração. Eu sonho com teatro, com coxia, com elenco, com comida de rabo da direção. Eu sonho muito com o terceiro sinal tocando até me ensurdecer. E depois de surda, tudo dá errado, naturalmente.

A estréia é sempre assim. Me dá medo, tesão, paixão e uma adrenalina que eu não costumo sentir com qualquer aventura.

Ah!, eu maluca confessa, atriz de nascença, marketeira por necessidade, sempre tive uma ligação forte com o teatro. Forte mesmo. Tipo relação entre pais e filhos. Eu me sinto filha do teatro e tive a sorte de encontrar uma diretora, Monica Lopez, que me ensinou tudo que sei e me aprovou no terceiro teste que fiz na vida.A minha ansiedade e intimidade com o palco é tão séria que me leva a cometer determinados atos falhos. No dia da estréia, lá vou eu no palco, quando todos estão se arrumando, se maquiando, se controlando pra não enlouquecer e faço um furinho imperceptível na cortina pra ver o público: se a maioria é novo, velho, casal, solteiro… (também já aconteceu de eu chegar pra execução do plano e ele já ter sido realizado. Por outro curioso desesperado). Furinho feito, menos medo do desconhecido, do que vou encontrar quando abrirem as cortinas e eu tiver que sair impostando a voz num grito de dor insuportável.

Agora passo pra fase da oração. Porque se não rezo, sempre acho que tudo vai ser uma merda e que o público e a crítica serão implacáveis conosco. Então rezo uma oração que inventei não sei quando, pedindo que os Deuses me abençoem e que eu possa fazer o melhor. Que o elenco esteja afinado, que o público animado e que tudo aconteça com a maior energia do Universo.

Ajoelho no palco, fico arrepiada e tenho certeza de que encontrei meu lugar no mundo. Sempre choro, sabia? E minha entrega à mágica transformadora do choro misturada com a mágica do teatro me permite chorar soluçando de felicidade. É fantástico.
Um choro de lavagem de alma, de sentir uma força bem maior que a gente, de um Universo de fantasia que sempre me deixa com a sensação de que esse e todos os outros mundos podem ser melhores.
Ah… como eu amo fazer teatro, como me fascino mais e mais mesmo tendo esbarrado em muitos obstáculos durante minha caminhada pela arte.

Tá bom vai, eu sei que quem ama não desisti… e…. sim, eu desisti! Mas nunca pra sempre. Desisti 4 vezes. E voltei sempre quando sentia estar ficando com a alma murcha e sem cor.
Exatamente. Teatro alimenta minha alma, me faz melhor, coloca meus desequilíbrios equilibrados, impede que eu perca a cabeça por qualquer bobagem, faz meu corpo mais leve.

Estou hoje, 24 de novembro de 2005, há exatos 2 anos sem subir num palco - por motivos óbvios, sabe? Tenho que pagar minhas
contas que não se sustentam com porcentagem de bilheteria, preciso ter uma rotina financeira que me assegure as noites de sono que tanto tenho adorado e sou dependente da segurança que o teatro não me deu. Dói horrores, eu odeio, eu viro um bicho sem fazer teatro. Renato que o diga. Renato que me incentivou. Que me mandou voltar.Cheguei no ponto máximo do meu limite. Estava murchinha, sem cor, sem o ritmo gostoso que o teatro dá pra minha vida e que
me fascina tanto.
Estou voltando … …. e como é bom voltar para casa….

Tati Cavalcanti

taticavalcanti@uol.com.br

O que elas mais querem nesta vida (PARA OS MENINOS)

Então você arruma suas malas e sai. Fica desse jeito mesmo: a gente não se vê mais e nem se fala. A gente na realidade nem tem mais o que falar um pro outro.

Eu cheguei num ponto que estou cagando se temos 2, 3 ou 10 anos de namoro porque eu falei 200 vezes a mesma coisa. Eu repeti muitas vezes pra você não falar mais grosso comigo e sabe o que você fez? Falou GROSSO de novo, de novo e de novo. E eu não aguento mais isso.

Eu não quero viver a vida inteira com um animal, mau humorado. Eu quero mais da minha vida… Eu quero passear no Ibirapuera, quero um companheiro de toda hora, quero muito desta vida, meu bem!!!

Eu não posso passar o resto da minha vida repetindo as MESMAS coisa pra um cara que nem você que não quer ser diferente!!! Você sempre diz que quer, mas cadê a mudança?? Você acha que eu sou idiota?

Eu tô cansada das suas grosserias, dos seus maus humores. Eu quero ir no bingo, eu quero tomar sorvete, eu quero ir no shopping bancar a fútil enlouquecida e você sempre de cara feia! Qual o problema?? Sabe do que mais? Eu quero um cúmplice pros meus piores segredos, um amante na minha cama e um marido pra vida inteira. Eu quero muito mais beijo na boca, eu quero mais sexo, eu quero mais amor, eu quero mais. Muito mais. E enquanto eu quero você passa o tempo todo reclamando.

Sabe o que toda mulher quer na vida? Cafuné antes de dormir, massagem pra acordar, um cara que abra a porta do carro pra ela entrar, um cara que sorria pra dizer que sou linda e amável. É isso que eu quero!! Entendeu? Não, né? Você NUNCA entende as coisas que eu falo, é impressionante!

Ah eu quero um romântico incorrigível, um menino bonzinho, um homem forte. Um cara que me dê segurança, sacou????
Eu acreditei tanto em você… eu achei que você fosse ser menos radical, menos inflexível, menos duro com as coisas da vida. Eu não tenho culpa se você não gosta da sua vida mesmo tendo tudo que quer e precisa!!! Eu não tenho culpa se você olha no espelho e não gosta do que vê!!!

Olha, eu não vou mentir… eu amo você mas com você não fico mais. Eu?? Passar o resto da minha vida com um homem assim? Eu tô é fora, queridinho! Eu tô cagando se você vai sofrer, se eu vou sofrer. Eu tô cagando, entendeu??? Eu quero ser livre, eu quero dançar louca em cima de um salto, eu quero sex appeal. Eu quero um homem com senso de humor. Eu quero outras coisas. Coisas que você, definitivamente, não tem! Eu quero e eu vou.

Sai da frente, me deixa passar. Sai por favor.
Se você não me deixar ir embora agora eu vou fazer um escândalo que você nunca viu nada parecido! Você nunca me viu louca… Sai da frente, ANDA!!!!!!

Enquanto ela estende seu discurso solitário, ele a pega pelos braços, beija aquela boca com um beijo bem melado. Ela sente as pernas amolecerem, o corpo tremer um pouquinho, o coração bater num ritmo exagerado de bateria da Gaviões em dia de desfile. Ela amolece inteira, ela solta o corpo devagarinho. Ela se entrega ali mesmo. A entrega que ela tranto queria.

E ele entendeu de uma vez por todas:
O que elas mais amam neste mundo é fazer as pazes. 

Obrigada a todos que fazem arte

Eu pensei muito sobre o que escrever nesta coluna.
Segunda-feira é o dia em que mais tenho dificuldade de postar coisas no blog e de escrever na coluna porque sempre estou tão descansada que a cabeça não funciona. É incrível mas tem sido assim desde que assumi o compromisso com o Cris de escrever
duas vezes por semana aqui.

Por causa desta dificuldade resolvi que iria escrever um texto. Um texto desprovido de enormes pretensões e de elogios. Um texto para dedicar a todos os meninos e meninas que, de alguma maneira, se dedicam a arte do teatro.

Esse povo lindo que são os artistas.
Uma gente que levanta cedo pra um teste, que não se importa de ficar sentado numa daquelas salas de estar apertadas (comendo as unhas) por horas e horas até que venha sua vez de gravar;
Da gente que nunca acha ruim receber cachê de comercial 40 dias depois (mesmo duro!);
Da gente que não acha nada mal colecionar problemas na pele de tanta maquiagem;
Da gente que corre de ônibus, de carro ou de metrô, mas que corre sempre atrás de um trabalho legal;
Da gente que prefere ir ao teatro e ver Shakespeare do que ver concurso de morena do Tchan na televisão;
Para a gente que consegue enxergar na arte uma das possibilidades de salvação do mundo da fome, da violência, da má formação de crianças, da conduta duvidosa de adolescentes que vivem em cima da linha entre a vida honesta e o crime;
Da gente que acha graça num palhaço, da gente que ri numa estréia, da gente que vê emoção numa comédia escrachada e uma válvula de escape pros nossos problemas habituais que nunca são poucos.

Um texto e só. Mas um texto que, quando escrevi, lembrei de todos os meus amigos atores que deram certo e nos que continuam correndo atrás na tentativa de conseguir um lugar embaixo deste sol tão disputado a tapas e testes.
Pensei nos globais com quem convivo, nos anônimos atores de teatro que querem o reconhecimento.

Quanta gente é artista sem ter chance de ser mais artista ainda…

Então sem querer ser escritora nem atriz nem nada, eu queria dizer obrigada.
Obrigada a todas as pessoas que encaram o teatro, a dramaturgia, o cinema com o respeito que eles merecem.

Muito obrigada a vocês que fazem valer a pena 8, 9, 10 meses de ensaios, gritaria de diretor e o frio na barriga costumeiro das estréias.

Obrigada de coração é o que digo a vocês.
Que a gente construa um Brasil melhor com a ajuda da nossa generosa arte.
Que a gente faça valer tudo que nos ensinaram. Que a gente seja sério na medida certa, disciplinado exatamente como o teatro exige, astutos, espertos, rápidos, com sangue quente borbulhando nas veias na hora da cena mais difícil de nossas vidas.
Que a gente seja sempre isso.
Artistas de alma. De coração.
Porque é isso que vale.
É só isso que vale.

taticavalcanti@uol.com.br

Na contramão do padrão. Graças a Deus!

Pra quem não sabe, trabalhei com agência de publicidade por 5 anos. Comecei no Universo como redatora e revisora, passei pra coordenadora de conteúdo online e terminei como atendimento. Saí disso porque não aguentei o ritmo intenso de trabalho, as madrugadas sentada na frente do micro, o salário baixo e a falta de um dia fixo pro mesmo ser depositado. Mas também é preciso dizer aqui que não trabalhei em uma W/Brasil nem na Young. Ponto.

Por causa dessa minha passagem pela Publicidade virei fã de campanhas, costumo entrar em sites de agência e dar uma olhada nas campanhas nacionais, em seus conceitos. Adoro.
Sabemos que a propaganda brasileira está entre as melhores do mundo e temos uma gama maravilhosa de profissionais que fazem isso perfeitamente bem. Mas aconteceu algo muito interessante esta semana na Universo das agências e seus clientes.

Recebi de minha mãe (e depois fui conferir se tinha acontecido mesmo), um e-mail que me fez pensar em como ainda tem gente boa por aí. Gente de conteúdo, não de embalagem.

A academia Runner veiculou um outdoor que indagava o seguinte:
“Neste verão, você quer ser baleia ou sereia?”

Uma mulher enviou a eles a sua resposta e distribuiu o seguinte e-mail:”Ontem vi um outdoor da Runner, com a foto de uma moça escultural de biquini e a frase: neste verão, você quer ser baleia ou sereia?

Respondo, pessoal da Runner:

Baleias sempre são cercadas de amigos.
Baleias têm vida sexual ativa, engravidam e tem filhotinhos fofos. Baleias amamentam. Baleais andam por aí, cortando os mares e conhecendo lugares legais como as banquisas de gelo da Antártida e os recifes de coral da Polinésia. Baleias têm amigos golfinhos. Baleias comem muito camarão. Baleias esguicham água e brincam muito. Baleias cantam muito bem e tem até CDs gravados. Baleias são enormes e quase não tem predadores naturais. Baleias
são bem resolvidas, lindas e amadas. São inponentes, charmosas e dançam uma dança que fascina.

Sereias?
Sereias não existem, são lendas absolutas. Se existissem viveriam em crise existencial: sou um peixe ou um ser humano?
Não têm filhos.
Matam os homens que se encantam com sua beleza…
São realmente lindas, não discordo, mas tristes e sempre solitárias…

Runner, querida, prefiro ser baleia!!!!”

Reza a lenda que 3 dias depois da distribuição deste e- mail a academia retirou o outdoor.taticavalcanti@uol.com.br
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A tênue diferença entre ser atriz e ser famosa

Uma mãe conversando comigo.
A filha dela tem 18 anos, é loira, alta e falsa magra. A mãe em questão estava esperando a filha em questão durante um teste que  coordenei.  A menina não tinha lá a melhor cara do mundo por estar sendo submetida àquele teste. Mas estava ali, com texto decorado, roupa passada e arrumadinha, combinando o brinco com o cinto e o sapato.

Uma adolescente normal, com cara de "tô nem aí pra tudo isso" ansiosa para ir embora. A mãe timidamente se aproxima e sem timidez alguma me sonda.

Mãe: Você que está coordenando os testes?

Eu: Sim Senhora. Está precisando de alguma ajuda?

Mãe: Não não… Está vendo aquela ali? É minha filha. Tem um talento que poucas têm!

Eu: Hum, que bom!!! Então ela vai tirar esse teste de letra!

Mãe: Pois é! Olha ela… não está preocupada como as demais meninas. Percebe que ela está super tranquila?

Eu: Percebo, claro. E isso é ótimo. Sempre quem está mais tranquilo faz um teste melhor ainda. A ansiedade e o nervosismo só atrapalham!

Mãe: Ah, minha filha nunca fica nervosa em teste! Ela nasceu pra isso e o talento é tão grande que você nem imagina! Quando tinha 4 anos já se vestia de Xuxa e fingia que era Paquita, você acredita? Dançava igualzinho…

Eu: Que bonitinha, todas as meninas desta idade um dia, quiseram ser paquita.

Mãe: Mas ela é diferente. Quando fez 8 anos foi aprovada num teste pra um comercial mas no dia da gravação passou mal. Não pudemos gravar, você acredita!? Mas logo depois ela também fez um teste pra ser a filha da protagonista de uma novela da Globo e ficou entre as finalistas. Na verdade a criança que fez o papel era amiga do sobrinho do diretor. Eu sei que ela só ganhou por isso e que minha filha, com todo o talento é muito melhor!!!

Eu: Hurum, que ótimo! É difícil ver as mães apoiando a carreira de uma adolescente como a Senhora faz.

Mãe: Ah eu apóio mesmo. Você sabe que semana passada a agência chamou ela pra um teste na Malhação? Ela se saiu muito bem. Eu liguei lá pra saber dos resultados mas me disseram que ainda não têm previsão.. Você sabe como é né… Ah… fiquei tão orgulhosa de ela fazer teste pra Malhação. Imagine que entre as 60 pessoas da caravana que foram pro teste ela foi a segunda a ser chamada pelo diretor?

Eu: Que bom.. Mas a Senhora sabe que a ordem do teste não é medida pelo talento, né? A gente não conhece todo mundo que entra pro teste…. ou seja… a coisa acontece de maneira aleatória…

Mãe: Sei sim, claro que sei. E só pra garantir, encostei no diretor e disse que era mãe dela, que estamos disponíveis pra sair de São Paulo e morar no Rio caso a Globo a contrate. Porque sei que uma hora ela vai conseguir. Já é o terceiro teste que a Globo chamou-a pra fazer!

Eu: Nossa, que ótimo! A Globo mesmo que chamou? A própria produtora de elenco que ligou?

Mãe: Não não.. foi a agência né.. Depois que percebi que ela realmente tem muito talento juntei dinheiro pra ela estudar teatro, sabe! Dizem que estudar teatro é importante porque a pessoa aprende a improvisar, a ficar com o pensamento mais rápido. Na realidade quero muito que ela faça TV porque ela é muito bonita e tem perfil… mas precisa estudar teatro, né? Fazer o que!!

Eu: Sua filha fez teatro onde?

Mãe: Não fez ainda, nasceu com dom. Está começando a estudar apenas agora. Semana que vem ela vai fazer um teste na Rede TV pra o Teste de fidelidade. Ah, tem que começar por algum lugar, você não acha?

Eu: Não, eu não acho. Mas isso pouco importa… sua filha está estudando onde?

Mãe: Ela estuda com o Beto Silveira. Entrou há poucos dias. Mas está adorando e sei que, em poucos dias será o destaque da classe.

Eu: Que bom ter uma filha de tanto talento, não é mesmo? Sua filha quer ser atriz de TV?

Mãe: Hum.. pode ser também. Ela quer fazer qualquer coisa na realidade. Sendo artista está valendo.

Eu: Entendo. Então, vamos fazer o seguinte? Chame sua filha, quero que ela faça o teste em primeiro lugar.

Mãe: Ah que ótimo. Eu sabia que comigo aqui conversando com você ela seria o destaque deste teste.

Eu: Senhora, estou pedindo apenas pra que ela faça o teste primeiro. Eu realmente não quero ser  protecionista. Só preciso de uma ordem pro teste começar.

Mãe: Ah claro. Com certeza. Em um minuto você vai perceber a filha que eu tenho. Sou tão orgulhosa, sabia?

Eu: Sim, notei. Deve ser gratificante ser orgulhosa dos filhos assim…

Mãe: Ah e o caçula vai ser modelo. Estou apenas esperando que cresça um pouquinho pra levar na agência. As pessoas param no supermercado pra me dizer que ele é a criança mais linda que todo mundo já viu!!!

Eu: Parabéns então pelos filhos lindos e talentosos! Mas, desculpe a pergunta..  a Senhora.. é atriz?

Mãe: Não não… Sou dona de casa.

Eu: Eu acho que existe uma dignidade ímpar em ser mãe e tocar com maestria uma casa.

Mãe: Eu não acho e detesto.. você sabe.. meu sonho era ser atriz!!

Moral da história:
Eu sabia que ela queria ser atriz.
Eu imagino que ela não tenha conseguido.
Eu vi que ela coloca esta frustração em cima da filha dela.
A filha dela fez um teste mais ou menos porque na verdade quer fazer vestibular pra Medicina.
E é desta forma que a arte é colocada: não sabe-se se atriz ou famosa.
O importante é rifar.
 
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