68ª Mostra Macu de Teatro
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Last Updated on Wednesday, 14 August 2013 22:37
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Published on Thursday, 05 June 2008 00:00
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Written by audrey
Dia 06 de junho começa a 68ª mostra do Teatro Escola Macunaíma. A partir do tema “Diversão” 43 peças serão apresentadas nos quatro teatros do próprio Macunaíma até o dia 13 de julho. Confira alguns destaques da mostra:
Viúva, porém honesta, de Nelson Rodrigues, direção Lucas de Lucca dias 06/ 07 e 08 de junho; A casa de Bernarda Alba, de Frederico Garcia Lorca, direção Luiz Baccelli dias 10/ 11 e 12 de junho; Meu pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos, direção Giseli Ramos dias 28/ 29 e 30 de junho; Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, direção Márcia Azevedo dias 01/ 02 e 03 de julho; O cortiço, de Aluisio Azevedo, direção Alex Capelossa dias 05/ 06 e 07 de julho.
Os ingressos custam R$ 12,00 (estudantes e pessoas com mais de 65 anos têm 50% de desconto). Todas as peças terão duas sessões em cada dia a primeira às 19h, a segunda às 21h. Rua Adolfo Gordo nº. 238 Campos Elíseos, São Paulo. Confira a programação completa no site www.macunaima.com.br
Isso não é Teatro
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Last Updated on Friday, 06 September 2013 13:26
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Published on Sunday, 01 June 2008 18:43
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Written by Germán Milich
“Os homens criados pelos deuses foram dotados de inteligência; olharam e, naquele momento, sua vista se estendeu e conseguiram ver e conhecer tudo o que há no mundo… Grande era a sua sabedoria; sua visão chegava até os bosques, as rochas, os lagos, os mares, as montanhas e os vales… eles agradeceram, mas o Criador e o Formador não ouviram com prazer.
– Não está bem o que dizem nossas criaturas, nossas obras; sabem de tudo: do grande e do pequeno –disseram.
– O que faremos com eles? Que sua vista só alcance o que está perto, que só vejam um pouco da face da terra! Refreemos seus desejos, pois não está bem o que vemos. Por ventura eles vão se igualar a nós, seus criadores, que podemos abarcar grandes distâncias, que sabemos e vemos tudo?
Isto disseram o Coração do Céu, Furacão, Chipi-Caculha, Raxá-Caculhá, Tepeu, Gucumatz, os Progenitores, Ixpiyacoc, Ixmucané, o Criador e o Formador. Assim falaram e em seguida mudaram a natureza de suas obras, de suas criaturas.
Então o Coração do Céu jogou nos homens uma nuvem sobre os olhos, os quais embaçaram, como quando alguém sopra num espelho. Caiu um véu sobre seus olhos e só conseguiram enxergar o que estava perto, só isso ficou claro para eles.
Assim foi destruída a sabedoria e todos os conhecimentos dos quatro homens, origem e princípio da raça Quiche”.
Popul Vuh (Livro sagrado dos Maias)
I
A Sociedade Secreta dos Caolhos
Se a gente se deixar levar pelos donos do Teatro e da Arte, o teatro não existe.
Reza a lenda que numa inspirada noite de celebração dionisíaca (ou bacanal, como os romanos a chamariam uns seculinhos depois), um cara doidão se afastou do coral que integrava e respondeu-lhe. O coral não deu mole e retrucou; foi o primeiro diálogo encenado da história (pelo menos oficialmente reconhecido). Ninguém sabe por que esse homem fez isso, talvez só tentou ser espontâneo, seguiu um impulso ou simplesmente estava a fim de inventar modinha. Talvez foi improvisado, talvez estava tudo planejado, não importa, inventou o Teatro. Infelizmente para ele, nessa época não existia a patente de registro de propriedade intelectual, portanto, ficou de domínio público. Logicamente que existem divisões, tem o grupo dos que pensam que o teatro não tem dono e os que pensam que o teatro é de todo mundo. Parece que é o mesmo, mas não é.
Os que participam do grupo que acham que o teatro é de todo mundo, pensam de seguinte forma, “se o teatro é de todo mundo também é meu e, se é meu, eu que mando…”, portanto eles se sentem no direito de dizer o que é teatro e o que não é. Por exemplo, quando Sófocles aumentou o número de personagens da tragédia, foi sucesso de público, mas os donos do teatro deixaram bem claro: Isso não é teatro! Foi por essa época que fundaram a Sociedade Secreta dos Caolhos, com o objetivo de fazer do mundo um único país habitado por cegos, onde a Sociedade reinasse para sempre.
Eles se incomodam com tudo aquilo que não é como eles imaginam que deveria ser, não conseguem compartilhar o domínio. Se escondem detrás de autores sempre mais brilhantes que eles e criam muros de palavras, paredes de incompreensão, intolerância e, talvez no fundo, ódio. Ensaiam frente ao espelho várias formas de pronunciar a frase, imaginam a cara de admiração de quem está ouvindo:
- Isso não é teatro, honey!…
- isso não é teatro, bicho!… (risos).
- Isso não é teatro, você não acha?!…
Têm vários tipos de propriedades, pois como os Caolhos mal se suportam entre eles, foram inventando distritos, reinos e um monte de divisões nessa infinita porção de nada que lhes pertence. Existem os donos de um autor, por exemplo, que só eles sabem interpretar, pois se aprofundaram no seu universo (eles adoram criar universos). “Quando Shakespeare escreveu tal frase quis dizer tal coisa”, é a receita que usam para dizer o que eles gostariam de ter dito, mas não conseguiram pensar. Também há aqueles que se diplomaram numa técnica de algum cara que, com certeza, nunca pisou numa faculdade. A frase muda um pouquinho:
– Isso não é clown!
Adoram tecnicismos:
– A máscara não se usa desse jeito!
E comentários inteligentes:
– Tem que esvaziar para a máscara ficar mais neutra, pô!
Os Caolhos se perdem em discussões sobre tamanho – “A minha é maior que a sua!” - e esquecem que a máscara mais perigosa é invisível e se chama Mentira.
Segundo os Caolhos, de toda a produção artística da nossa cidade, 95% dela não é o que diz ser - não é teatro, não é clown, não é Shakespeare - e unicamente 5% cumpre a promessa da verdade.
Dentro da Sociedade Secreta existem os mestres e professores que, ano após ano, repetem invariavelmente as receitas sagradas que constituem a seu parecer o Verdadeiro Teatro, fazem escritos transferindo posses de estilos, assinam diplomas outorgando conhecimento. Asseguram-se de transmitir a ciência de falarem sobre si próprios e espantar a morte aos gritos a seus discípulos que admirados aprendem as infinitas formas de ocultar o sol com a peneira.
O Tigre