Artigos Diversos

O perigo anda a espreita

Volta e meia circulam notícias da tentativa de cercear a liberdade de expres-são. Mesmo com vinte e cinco anos de democracia, o fantasma da censura está sempre à espreita. O fantasma agora se apresenta através do decreto assinado pelo atual governo federal, que prevê a criação de uma comissão governamental para acompanhar o editorial dos veículos de comunicação.

Acho estranho, até mesmo sem propósito que tal atitude advenha das cabeças de homens que sofreram com a ditadura militar, ao menos que eles pensem que naquela época, aquelas atitudes foram legítimas, caso contrário, me parece coisa de doido. Pois não me parece racional que aqueles que ontem sofreram, se tornem hoje, os algozes do país.

Não vivenciem a ditadura militar, nasci no meio dela. Sou um legítimo filho da revolução e, sempre tive a liberdade de expressar o meu pensamento, expor meus pontos de vistas, criticar e ser criticado por algo falado e escrito por mim, o que é mais do que justo. Como disse o filósofo francês René Descartes: Penso, logo existo. Então, eu completo: “Se existo e penso, tenho o direito de expressar a minha opinião”.

A tentativa de controlar a informação é sim (mesmo que muitos digam que não), uma forma velada de cercear pensamentos, logo, há sim, um cheiro de censura no ar. Pois disfarçar a ameaça de censura usando o subterfúgio de proteção aos direitos humanos é a mais pura vilania e estampa o desejo de que a liberdade, no mínimo, seja vigiada.

Acho que sempre que se tenta ressuscitar o fantasma da censura, todos aqueles que vivem da palavra, tem o dever de se manifestar e levantar a bandeira de: “Não à censura!”. A liberdade de expressão é um direito sagrado na Constituição Brasileira e, qualquer ato que atente contra esse direito legitimamente garantido é uma afronta à Democracia do país.

Não a nada mais saudável para o crescimento de um povo, do que ver este povo expressando os seus pensamentos e emitindo as suas opiniões. Regimes Ditatoriais e Totalitários, que cerceiam a liberdade de expressão, só fazem mal. E a história está cheia de exemplos.

A palavra é a minha voz e, mesmo que sejam apenas poucas palavras, o direito de expressar o meu pensamento e emitir a minha opinião foi duramente conquistado e deve, com todos os esforços, ser plenamente preservado.

Faça sempre o seu melhor

É sempre complicado quando nós nos colocamos como vidraça, ainda mais quando fazemos isso para mostrar nossa arte. Seja ela o teatro,  a dança, a música ou outra arte entre as tantas que existem e que nos encantam, as pedras, com certeza, vão nos atingir, isso é inevitável.

 

O que devemos ter em mente é que nunca conseguiremos agradar, nem gregos, nem troianos, pois a arte é muito subjetiva e cada qual vai recebê-la de uma maneira. O que devemos ter como certeza, é que temos a obrigação de dar o nosso melhor, sempre!

 

E como as pedras são inevitáveis, procuremos aprender, cada vez que uma delas atingir nossa vidraça, pois talvez tenham nos atingidos porque não demos o nosso melhor. Ignorar as pedras que nos atingem, pode ser fatal para que quer fazer da sua arte o seu ganha pão. É certo também, que não devemos dar mais valor do que elas merecem.

 

O segredo de muitos que atingem o sucesso com as artes, talvez não esteja no grande talento que estes possuem, mas sim, no poder de entender que se deve fazer o melhor sempre. Mas, qual o melhor? O seu! Faça tudo com a verdade que você acredita, pois a sua verdade vai lhe dar a certeza que, mesmo o caminho sendo longo, sua vitória será certa.

 

E não dê às pedras, mais importância que elas mereçam. O ser humano é um insatisfeito por natureza, isso ninguém vai mudar. Nunca tenha essa pretensão. Procure fazer que sua verdade, faça que sua arte, mude você. Isso, por certo, será o começo para que você faça o seu melhor.

 

A vida é uma gangorra e nas artes, não poderia ser diferente, ora sucesso, ora fracasso, ora vitórias, ora derrotas, mas se sua verdade estiver a frente daquilo que você faz e a busca pelo seu melhor for a excelência de seu trabalho, não haverá pedras que destruirão sua vidraça por completo. Você sempre será capaz de recompô-la e colocá-la a mercê de novas pedras. Por isso, faça o seu melhor, sempre.

 

Bem, à todos que por mais um ano despenderam um pouco de seus preciosos tempos para lerem meus artigos, meu muito obrigado. E estejam certos que procurei sempre dar o meu melhor. Um Feliz Ano Novo à todos e, que no próximo ano, nós possamos, novamente, trocar essa energia.

Alimentando monstros

Lá se vão dez anos do primeiro BBB e com o passar de todos esses anos, a praga dos “realitys shows” só fez crescer na televisão brasileira. Cada dia que passa o monstro está maior e cada vez mais voraz e sedento e, se multiplicado aos milhões, atrás de seus quinze minutos de fama. A televisão não pode ter se rendido por completo a esse tipo de entretenimento.

Não é uma questão de saudosismo por esse ou por aquele programa, é pela televisão como um todo. Aquela caixa mágica que era a sensação das casas, não é mais o veículo de comunicação de outrora que informava e divertia, só tem câmeras para as bisbilhotices. Só se interessa com o que se passa com a vida alheia, e quanto pior, melhor.

E, atrás deste modelo de televisão, mais e mais pessoas, buscam de uma forma desenfreada, fazer algo de estranho, bizarro, indecente e até inacreditável, apenas para chamar a atenção das câmeras da TV. A televisão de hoje em dia é só fofocas, desgraças e invasão da privacidade alheia.

Não se pode querer depois, a televisão “x” ou a televisão “y”, vir na imprensa para reclamar dos números da audiência. A televisão ficou um negócio sem graça e por deveras desinteressante, diante de tantas opções de diversões nos dias de hoje.

A opção que as redes de televisão fizeram por um entretenimento pobre, acabou por mudar completamente a relação televisão e telespectador. Uns, nem a vêem mais e nutrem profunda ojeriza por ela, outros, fazem o possível e impossível para aparecer em suas telas.

Agora o que interessa para as redes de TV, é bisbilhotar a vida alheia. E na esteira de mais um BBB, vem aí uma novela que vai “brincar” de invadir a privacidade alheia e uma série que vai se ocupar de mostrar a vida dos “paparazzis”. É o fim! Aliás, torço para que seja.

Tomara essa onda chegue logo ao fim e as redes de televisões coloquem a disposição do telespectador, algo que realmente valha à pena, algo que não seja alimentar monstros sedentos por aparecer e se mostrar em suas telas. Pois, não há nada mais sem graça e constrangedor, do que bisbilhotar a vida dos outros.

Samba, Futebol e Teatro

Se o Brasil é conhecido mundialmente como o país do samba e do futebol, é chegada a hora, de que pelo menos internamente, ele seja conhecido como o país do Teatro. E não falta muito para isso, pois o teatro vem sendo bem difundido dentro das escolas pelo país afora.

 

Mesmo que ainda seja considerada uma arte para poucos, devido aos altos preços dos ingressos, algo que todos sabemos o porquê (mas isso é assunto para outro dia), o teatro está em toda parte. Nas escolas, nas periferias, nas ruas, encantando cada vez mais gente.

 

Várias iniciativas vêm sendo tomadas para que mais e mais crianças tomem contato com a arte do Teatro e isso, logo, logo, vai transformá-lo tão popular quanto o samba e o futebol. Esforços como o que vem sendo feito pelo Governo de São Paulo, com a campanha de popularização do teatro deviam ser realizadas por todas as prefeituras do país.

 

Hoje o teatro já não sofre tanto preconceito como o que sofria há anos atrás, muito pelo contrário, fazer teatro hoje em dia é cult, está na moda. Portanto, momento melhor do que este para torná-lo popular, não podia existir e talvez não aconteça outra vez.

 

Neste momento tão propício para se difundir o teatro, não cabe torcer o nariz para tudo o que se vê, pois muitos ainda não dominam a arte de interpretar e outros tantos são apenas aventureiros aproveitadores, o que importa é que mais e mais pessoas saibam, façam e vejam teatro, mesmo porque, o público vai saber separar, no momento certo, o que é teatro do que não é.

 

Agora é hora de fazer do Teatro, a nossa arte de fato, a essência, aquilo que nos diverte e nos educa, pois nem mesmo as novelas, algo de tão grande popularidade no país, resistiria tanto tempo, se não fosse a arte do Teatro. Então, viva o Teatro Futebol Clube, ou a Escola de Samba do Teatro, enfim, viva o Teatro Brasileiro.

Dramaturgia Infanto-Juvenil

Tatiana Belinky, Ricardo Gouveia, Gabriela Rabelo, Vladimir Capella, Cláudia Dalla Verde, Zeca Capellini, Ronaldo Ciambroni, Oscar von Pfhull. Silvia Ortoff, Ilo Krugli, Walmir Ayala, Olga Reverbel, Maria Clara Machado, sem sombra de dúvida, são grandes dramaturgos que dedicaram grande parte de suas vidas e obras ao público infanto-juvenil. Muitos já morreram, outros pararam de escrever e foram trilhar outros caminhos e meia dúzia deles ainda continuam escrevendo, de forma bissexta talvez, mas produzindo.

Desnecessário seria enfatizar que os textos geniais foram escritos até a década de 80 ou 90 talvez. Depois desse período houve - e ainda há - uma grande escassez de dramaturgos para essa faixa etária.

Podemos perceber pelos guias de teatro da cidade de São Paulo, além a escassez de textos, a escassez de espetáculos. E esses espetáculos – salvos raríssimas, raríssimas mesmo – exceções, não tem nada a dizer. É um amontoado de bobagens e só “ganham” o público infanto-juvenil pelos estonteantes cenários, figurinos, efeitos e uma belíssima iluminação, mas que não significam coisa alguma.

Sei muito bem da dificuldade de montar um espetáculo infanto-juvenil. Em vários teatros as montagens só podem ser apresentadas no proscênio para não desmontar o cenário do espetáculo adulto que se apresenta logo em seguida. Houve um tempo em que se anunciava: “Venham ver o espetáculo tal (infanto-juvenil) que será apresentado no cenário do espetáculo tal (adulto)”. É um absurdo e tanto, mas se não há remédio, o jeito é fazer dessa forma.

Os espetáculos infanto-juvenis da atualidade são impecáveis nos quesitos: figurinos, iluminação, cenários, sonoplastia, maquiagem, grandes efeitos cênicos, etc. Mas o texto, infelizmente, desapareceu. Stanislavski já dizia que “o texto é para o teatro o que o caroço é para o fruto”. Agora quando há o texto, infelizmente ele cai naquele didatismo tosco, naquelas moralidades repugnantes do politicamente correto e aquele dedinho em riste de algum adulto dizendo o que ele deve ou não deve fazer... Um horror!

Tatiana Belinky disse uma vez que o “politicamente correto” é uma grande bobagem. A criança/adolescente tem que passar por experiências transformadoras: rir, chorar, ter medo, claro que tudo na medida certa. Trata-se do teatro educativo-formativo. E é nesse teatro que eu acredito.

Por que os bons dramaturgos da atualidade que escrevem para o teatro adulto, não produzem pelo menos um ou dois textos por ano para o teatro infanto-juvenil? Claro que o empenho ao escrever esses textos tem que ser o mesmo empenho que emprega num texto adulto.

E por favor, dramaturgos que queiram se aventurar nessa empreitada, não subestimem a inteligência das crianças. Elas não são bobas. Ainda mais as de agora.

Infelizmente essa geração está perdendo uma etapa muito importante da infância. Estou cansado de ver crianças com roupinhas curtas, com o rostinho carregado de maquiagem e dançando funk no recreio da escola. É isso mesmo. Já presenciei essa cena em várias escolas que lecionei. Pra que essa erotização e banalização? Por que não brincar de amarelinha, pula-sela, esconde-esconde, pular corda e outros jogos típicos da idade? Por que não dar a oportunidade da criança ser e agir como criança?

Vladimir Capella escreveu e dirigiu espetáculos antológicos como “Panos e Lendas” e “Avoar”, compostos por jogos. Peguei carona na ideia e escrevi “Vamos Brincar de Roda?” nos mesmos moldes. E são espetáculos deliciosos para os atores e para o público, pois não estão restritos apenas a uma faixa etária. Trata-se do “teatro para todas as idades”, do bebê ao vovô. O ideal seria investir pesado nesse tipo de teatro.

Os contos de fadas perderam seu encanto? As histórias de fadas, bruxas, duendes, as peripécias de Pedro Malazartes, os contos de Grimm, as fábulas de Esopo estão ultrapassadas? Monteiro Lobato está “batido”?

São perguntas que nós, pais e educadores devemos nos fazer. Vamos retomar essas histórias. A TV, a Internet e outros meios de comunicação não mostrarão isso para as crianças. Então, cabe a nós fazer isso.

E retomo aqui uma frase de Stanislavski: “O Teatro para a criança deve ser igual ao do adulto, só que melhor.”. Fica o desafio para dramaturgos, pais e educadores. Se quisermos um mundo melhor, é preciso formar seres humanos melhores e mais dignos. E como diz o velho ditado: “é de pequeno que se torce o pepino”.

Lei Rouanet, pra quê?

Definitivamente não é nada fácil produzir um bom espetáculo teatral. A dificuldade para conseguir verba para realizar a empreitada é uma tarefa árdua e nem sempre bem sucedida, mesmo com a tal Lei Rouanet. Então eu pergunto: Quantos de vocês conseguiram se beneficiar da lei?

 

Artistas consagrados não encontram nenhuma dificuldade, tanto que, ás vezes, até provocam polêmicas e celeumas pelos tais beneficiamentos. Até para recuperação de prédios culturais, tem gente que consegue levantar grana pela tal Lei, mas aposto que você, que está aí, lutando a duras penas, consegue alguma coisa!

 

É propagada aos quatro ventos o beneficio da referida lei à cultura nacional, mas na prática, se o artista é de pouca expressão, não consegue se favorecer da lei, pois quem é o empresário que vai arriscar seus tostões em um bando de artistas desconhecidos?

 

A mudança da lei vem em boa hora, pois a classe artística que anda sempre com o pires na mão está á míngua, sem conseguir nenhuma mísera verba para montar os seus espetáculos, mesmo com alguns esforços por parte do poder público, que tem criando projetos de incentivos, visando amenizar a situação.

 

Não adianta o governo criar o tal vale cultura para incentivar a população à ir ao teatro, se quem faz cultura, não consegue captar verba para produzir os tais espetáculos. O governo precisa encontrar meios para que todo artista consiga viabilizar suas produções, e não se trata de chorar por subsídios, pois, o que aconteceu, foi que a Lei Rouanet acabou tendo o seu propósito desviado com o passar dos tempos.

 

Uma política justa que contemple tanto o artista consagrado, quanto o artista sem tanta expressão em termos de mídia, já seria um bom começo. A renúncia fiscal já se mostrou não ser um bom caminho, pois acaba privilegiando apenas os artistas consagrados, o que acaba sempre causando um mal estar geral.

 

Que a prática democrática se faça presente na nova lei de incentivo à cultura que está em discussão, e passe a distribuir com justiça social, as verbas de apoio à cultura para todos, fazendo que todo artista, seja lá de onde ele for, tenha o mesmo direito, sem regalias e nem privilégios.