Artigos Diversos

A herança de um teatro marginal

Cada dia que passa, o teatro necessita de uma visão mais profissional, aquela visão de outrora, de que teatro é uma arte marginal e etc e tal, já não combina com os dias de hoje. Querer colocar-se sempre à margem, como uma arte miserável, já está ficando uma coisa ultrapassada. Tem-se que pensar o teatro como uma indústria e, cada grupo de teatro, como uma empresa dessa cadeia produtiva.

 

A postura de catadores de migalhas que circunda entre alguns daqueles que fazem teatro, ás vezes, se mostra deprimente, dá impressão que se planta dificuldades para colher facilidades. Arma-se a choradeira, mas sempre se coloca o espetáculo em cartaz. Algum retorno deve haver, pois ninguém que se diz miserável colocaria um espetáculo em cartaz apenas pela arte. Puro ranço do tempo em que o teatro era de fato marginal.

 

É sabido e de conhecimento pleno de todos que militam na arte do teatro, que não é nada fácil, nem manter um grupo, nem realizar um espetáculo. Mas qual atividade produtiva tem facilidade para manter seus negócios lucrativos num mundo extremamente capitalista e voraz? O teatro não pode permanecer com esse pensamento pequeno e com características minimalistas.

 

Essa idéia de marginalidade que insiste em permanecer em certos setores do teatro, acaba por torná-lo, cada vez mais, uma arte secundária em termos de arrecadação e captação de patrocínio. À medida que o cinema brasileiro adotou uma atitude mais profissional, seu negócio como indústria só faz crescer no cenário nacional.

 

Está mais do que na hora, de deixar para trás, esse pensamento de arte marginal que sempre pairou sobre o teatro. Não cabe mais tratar o teatro como algo menor e desprezível. Cabe á todos que pensam o teatro como uma arte que pode ser grande e, que de fato é, mudar esse quadro de miserabilidade e de que só a marginalidade retrata o verdadeiro teatro.

 

A indústria da cultura merece que o teatro, tal qual o cinema, figure como um de seus pilares de sustentação, podendo contribuir cada vez mais, para o desenvolvimento do país e mostrando o quanto um espetáculo teatral pode ser viável e rentável.

 

Deixemos essa herança de um teatro marginal apenas como história para os livros que contam e contarão a história do teatro no Brasil. A hora é de fortalecer o teatro como uma cultura que faz parte de uma grande indústria que está em franca evolução e não de se apequenar como uma arte relegada à migalhas e a marginalidade.

A Catarse Lúdica nos Jogos Dramáticos

"O professor não ensina, mas arranja modos de a própria criança
descobrir.” Jean Piaget

 

Desde a sua consolidação na Grécia, o teatro se firma como um instrumento didático-pedagógico, visto que Platão considerava a arte como base de toda a educação natural. Mediante a isso esse artigo objetiva repensar o processo educacional na preparação da criança em sua formação sociocultural, fazendo fluir seus aspectos sensoriais e motores enquanto ser em comunidade. Daí a importância dos Jogos Dramáticos na educação, pois através deles o educador poderá levar aos seus educandos um conhecimento diversificado e lúdico para que haja uma liberação de todas as suas potencialidades através da representação.

A valorização do teatro vem desde a época de Platão, que considerava o jogo fundamental para a educação. Aristóteles, como Platão, deu grande destaque a ele na educação, considerando-o de máxima importância, pois acreditava que educar era preparar para a vida, proporcionando ao mesmo tempo prazer. (Reverbel, 2002, p.12)

Para os romanos, o teatro era uma imitação que teria um propósito educacional se pudessem ensinar lições morais. Horacio considerava-o uma forma de educação e não apenas de entretenimento.

Na Renascença, ocorre o surgimento de diversas academias, onde os estudiosos das obras clássicas encenavam peças latinas. Os membros dessas academias tornaram-se professores, e o teatro na escola começou a florescer. É a partir deste momento que o teatro passar a ser trabalhado dentro das salas de aula, como disciplina; e assim novos caminhos continuaram a abrir-se, novos rumos foram apontados e trilhados.

O ensino de teatro na escola foi revolucionado a partir do movimento da Escola Nova. No século XIX o educador preocupava-se mais com os fins da educação do que com o processo de aprendizagem. (Koudela, 2006, p.18)

Entende-se que as primeiras relações sociais da criança ocorrem na educação infantil e através desse teatro-jogo que a criança descobre a vida e a si mesma através de tentativas emocionais e físicas e depois através da prática repetitiva, que é o jogo dramático. (Slade, 1978, p.18)

Para Freire (1996, p. 46), o educador deve propiciar o meio adequado para que os educandos em suas relações intrapessoais e interpessoais busquem “assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de amar.”

A arte e a criatividade são fatores essenciais e presentes na fase infantil. Para Slade (1978, p.35) todas as crianças são artistas criativos. Mas para desenvolver essas habilidades elas precisam ser estimuladas e o propulsor desses estímulos é a escola.

A educação seguindo os moldes platônicos, ou seja, como evolução natural, deve ser centrada na criança. Partindo desse pressuposto que o teatro proporciona experiências que contribuem para o crescimento integrado da criança em vários prismas.

A criança, ao iniciar o ciclo básico, está na idade de vivenciar o companheirismo como um processo de socialização, de estabelecimento de amizades. Por isso Piaget (1975) elucida que a escola deve partir dos esquemas de assimilação da criança, propondo atividades desafiadoras que provoquem desequilíbrios e reequilibrações sucessivas, promovendo a descoberta e a construção do conhecimento.

Koudela (2006, p.22) baseada na definição de Slade afirma que o objetivo do jogo dramático é equacionado pelas experiências pessoais e emocionais dos jogadores. O valor máximo da atividade é a espontaneidade, a ser atingida através da absorção e sinceridade durante a realização do jogo. Para isso a criança deve compartilhar essa atividade lúdica baseada nas vivências e experimentações como incitação da aprendizagem.

Segundo o Parâmetro Curricular Nacional – Arte: o teatro, no processo de formação da criança, cumpre não só função integradora, mas dá oportunidade para que ela se aproprie crítica e construtivamente dos conteúdos sociais e culturais de sua comunidade mediante trocas com os seus grupos. No dinamismo da experimentação, da fluência criativa propiciada pela liberdade e segurança, a criança pode transitar livremente por todas as emergências internas integrando imaginação, percepção, emoção, intuição, memória e raciocínio.

Em vista que o educador é o elo entre o ensino e o processo formativo da criança, ele deverá elaborar as suas aulas, por meio de jogos dramatizados, para assim dilatar as aptidões dos seus educandos. É de mister importância que o professor esteja consciente que ele não passará técnicas e sim impulsionará o fruir da criação emanada da criança

Com isso, percebemos que através dos jogos, os alunos puderam desenvolver as suas capacidades de expressão – relacionamento, espontaneidade, imaginação, observação e percepção. Daí a importância do teatro na formação da criança, por isso nos juntamos a Reverbel (2002, p. 168) que afirma que: “é preciso lutar para que o Teatro tenha seu lugar na Educação, porque se ele existe na sociedade, deve existir na escola.” Por isso é de mister importância que se questione mais sobre a educação, porque ao derrubar as paredes da sala de aula a escola será desafiada a refletir mais sobre nosso quotidiano pedagógico.

 

Por: Diego Albuck e Milena Fernandes

 

Referências Bibliográficas

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Paz e Terra, São Paulo, 1996.

KOUDELA, Ingrind Dormien. Jogos Teatrais. Perspectiva, São Paulo, 2006.

PARÂMETRO curricular nacional – arte/ Secretária de Ensino Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1997. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro06.pdf. Acesso em: 29 abril.2009

PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Zahar, Rio de Janeiro, 1975.

REVERBEL, Olga. Jogos teatrais na escola: Atividades globais de expressão. Scipione, São Paulo, 2002.

SLADE, Peter. O jogo dramático infantil. Summus, São Paulo, 1978.

Geração Twitter

De antemão quero deixar claro que não tenho nada contra o twitter. Tenho minha conta lá e de vez em quando deixo minhas impressões. O “Twitter” empregado no título refere-se à superficialidade das coisas. E é sobre essa superficialidade que irei falar. Tudo está acontecendo muito rápido. Um casal tinha a crise dos 7 anos. Hoje o casal tem a crise dos 7 dias. Não dá mais tempo para pensar e sentir. E como são tantas informações, é impossível se aprofundar. Daí a superficialidade nas coisas. Antigamente – não muito tempo atrás – quando tínhamos que pesquisar algo, dirigíamos à biblioteca e ficávamos horas a fio às voltas com livros empoeirados que sujavam as pontas dos nossos dedos e nos faziam espirrar. E na maioria das vezes não encontrávamos o que queríamos. O material era muito escasso. Com a chegada da Internet facilitou e muito a nossa vida. Basta entrar no Google, por exemplo, digitar o que procura e fazer a pesquisa. E sem sair de casa. Não é o máximo? Encontrei através deste site uma infinidade de textos, artigos, filmes que jamais esperaria encontrar. Obras raras e quase em extinção. Hoje a molecada tem tudo na mão. Basta um simples clique do mouse. São bombardeados de informações. Fui fazer uma pesquisa de campo numa lan-house pra escrever este artigo. E todos os clientes estavam acessando sites de relacionamentos: Orkut, Msn, Facebook, Hi5, Sônico, Twitter e sei lá mais o que. Ninguém estava fazendo outra coisa a não ser isso. Vivendo sua vida virtual e jogando fora a vida real. O ser humano virando escravo de uma máquina. E quando os jovens trazem essa superficialidade para o teatro, simplesmente decorando o texto, subindo no palco e falando o texto sem saber o que ele quer dizer? Jovens que tem medo de se entregar, de se machucar, de atirar, de mergulhar no desconhecido. O que está acontecendo com essa geração? De quem é a culpa? Os jovens quando entram em cena – há exceções evidentemente – parecem que estão numa passarela num desfile de moda e não num palco vivendo um papel. Tudo é muito raso, superficial, como suas próprias vidas. Não há mais adrenalina, brilho nos olhos, tesão por estarem ali. Só vaidade, egoísmo e egocentrismo. Tenho o maior respeito pelos jovens atores, porém confesso que alguns me assombram. Talvez porque trabalhei há uns anos atrás com uma equipe maravilhosa de adolescentes que com 11, 12 anos batiam um bolão no palco em espetáculos que são lembrados até hoje, passados 10 anos. Recentemente estive em um festival de teatro e fiquei observando o comportamento dos jovens ali envolvidos. O que era pra ser um momento de celebração, de comunhão, virou sei lá o quê. Grupos fechados em seus próprios guetos, sem interagir com outras pessoas, não comparecendo nas palestras com artistas renomados porque estavam com ressaca da festa do gueto da noite anterior, e/ou se compareciam estavam “de bode”. Será que depois do twitter, as pessoas vão assistir a um filme de 3 horas, espetáculos de teatro de 2 horas, ler um livro de 200 páginas e escrever um texto com mais de 30 linhas? Será que essa superficialidade vai acabar

Pra quê dramaturgo?

Engraçada essa relação entre os atores, diretores e produtores com o dramaturgo, faço um esforço danado pra tentar entender e, ás vezes, finjo até entender, para não parecer antipático. Mas o fato é que: por que será que os direitos do dramaturgo nunca fazem parte do orçamento de um espetáculo?

 

Uma noite dessas encontrei um colega dramaturgo antes da apresentação de uma peça e não precisou mais do que cinco minutos de prosa para estarmos nos queixando da mesma coisa: a falta do pagamento de nossos direitos autorais.

 

É um profundo desrespeito para com quem passa horas, dias e noites escrevendo e reescrevendo um texto. É certo, que talvez, muitos não se dêem conta desse detalhe, ou fazem de conta que não sabem da necessidade de se pagar direitos autorais para quem escreve um texto. Ora, um dramaturgo não precisa, não é mesmo?

 

Até mesmo no circuito amador, onde se luta com dificuldades para colocar um espetáculo em cartaz, se faz necessário um orçamento para discutir gastos com figurinos, cenários, impressos, etc... O que custa incluir neste orçamento a verba do dramaturgo? Ou não é o texto escrito pelo dramaturgo a razão da tal montagem? Isso desanima quem escreve para teatro.

 

É óbvio que a satisfação de ter um texto escrito por você, montado, não tem preço, mas dramaturgo também tem contas pra pagar. Um esforço e uma consciência maior de atores, diretores e produtores, podia contribuir para diminuir um pouco esse abismo que existe entre o direito de receber e a obrigação de pagar os direitos autorais.

 

Muito mais se pode fazer para isso, não só apenas o esforço e a consciência de atores, diretores e produtores. Os teatros e as casas de espetáculos onde são apresentadas as peças teatrais, podem servir como fiscais dos direitos, ficando responsáveis pela retenção dos direitos do dramaturgo e os repassando para a SBAT, que se encarregaria de repassar os devidos direitos autorais aos legítimos donos. Uma ação simples e viável.

 

Um dia, ainda espero que as horas, dias e noites em que passei e passo, escrevendo os meus textos, sejam devidamente recompensadas. Espero também pelo dia em que todo o dramaturgo possa fazer parte do orçamento para montagem de um espetáculo teatral e figurar na planilha dos pagamentos no final de cada borderô. 

A busca pelo reconhecimento

Não é fácil percorrer o caminho do reconhecimento profissional, seja qual for a sua profissão. A difícil tarefa de ter seu trabalho reconhecido, por vezes, deixa marcas profundas naqueles que não sabem lidar com o descaso com que é tratado o seu trabalho.

 

Transportando esta situação para a arte, esse quadro fica muito mais claro, pois, quantos atores, atrizes, músicos, diretores, dramaturgos, bailarinos, suam a camisa para mostrar sua arte e não recebem nem os aplausos que seus trabalhos merecem?

 

É óbvio, que não é apenas a satisfação pessoal que alimenta a vida do artista, um mínimo de reconhecimento também é o objetivo. Pois, qual seria o sentido de fazer e mostrar a sua arte para ninguém? Quem se mostra, quer agradar alguém e espera que esse alguém o retribua um mínimo de reconhecimento.

 

A indústria do entretenimento deixou de dar o devido valor ao artista de verdade. A principal matéria prima que movimenta a roda dessa indústria, por vezes, é tratada com casca e tudo. E o pior: aspirantes a celebridades recebem mais consideração do que quem passa horas e horas ensaiando o seu espetáculo, o seu show, escrevendo seu texto ou ensaiando sua dança.

 

O quadro se mostra cada vez mais trágico e desanimador. Cada vez mais, o artista recebe apenas tapinhas nas costas e de quando em quando, recebe “um parabéns” pelo seu trabalho e, olhe lá. E, devem se dar por satisfeitos e plenamente reconhecidos, os que conseguem obter tal consideração.

 

A busca pelo reconhecimento merece o mesmo empenho e esforço que é dado para excelência de sua arte, porque não é nada fácil ter que ouvir de alguns, quase sempre recalcados, que seu trabalho não vale á pena. Ou simplesmente ter o seu trabalho ignorado. O que é muito pior.

 

Quem sabe, essa febre de idolatrar os “aspirantes a celebridades”, passe um dia e o artista possa retomar seu lugar na roda que movimenta a indústria do entretenimento. Quem sabe assim, possa obter o devido reconhecimento por sua arte. Enquanto isso, busquemos nós, pobres artistas, o reconhecimento daqueles que acreditam no nosso trabalho.

Nossa "Cultura"

    Eu me pergunto cada vez mais o que significa cultura. Seria realmente aquilo que compenetrados patrocinadores se vangloriam de bancar? Milhões são gastos em publicidade para me convencer (e a você também) de que sim. Mas, ao meu ver, toda essa dinheirama banca tudo, menos nossa cultura.

    A cultura de um país se constitui de manifestações GENUÍNAS do seu povo. Elas bebem no manancial de sua realidade. Só que a nossa realidade, com desigualdades sociais absurdas, é um assunto indigesto para se fazer propaganda. E, infelizmente, é disso que se trata. A partir do instante em que eventos “culturais” são concebidos como produtos, eles deixam de ser arte, deixam de ser cultura, deixam de ser povo. Nada mais que artigo para se colocar uma marca e ser vendido. Dessa forma, no nosso mercado da “cultura”, a seção teatral tem prateleiras repletas de peças que cuidadosamente fazem rir sem acionar os neurônios. Ou, as estrangeiras que são a grife da nossa caolha visão de intelectualidade. Até porque diretor brasileiro que quer ser um grande diretor brasileiro deve emplacar uma peça inglesa, francesa ou de qualquer nação a qual nos curvamos em nossa subserviência artística. Vale tudo, menos apostar e valorizar a nossa tão desprezada dramaturgia. E aí, eu me pergunto: onde foi parar nossa cultura?