Disponibilizei em alguns sites de Teatro grande parte dos meus textos para downloads. Melhor estar na rede do que na gaveta ou guardados em meu computador. E anexado ao texto, meu telefone e e-mail para contato e a frase clássica: Esta obra só pode ser representada mediante a autorização do autor ou da SBAT.
Alguns grupos me procuram pedindo a liberação da peça que desejam encenar. E libero com o maior prazer. Outros simplesmente usam a obra, alteram o título para driblar a SBAT, já que as obras estão devidamente registradas. E o pior: tem a ousadia de adaptar o texto sem o meu aval e/ou conhecimento.
Porra, se acham que tem a manha de adaptar uma obra, por que não escrevem o seu próprio texto? Eu fazia isso quando comecei. Preferiria - se fosse o caso, estragar o meu próprio texto do que mutilar o texto de outro.
Alguns anos atrás, eu recebi um e-mail de um fulano dizendo que tinha escrito um texto parecido com o meu. E anexou o texto junto com a mensagem. Abri o arquivo e comecei a ler as primeiras linhas do prólogo. Não tinha nada a ver com o que tinha escrito. O choque maior foi ler a primeira cena. Aí sim fiquei surpreso. O texto não era parecido, mas igual ao que escrevi, com as mesmas palavras, as mesmas rubricas e a mesma formatação. O fulano só havia acrescentado o prólogo e o epílogo que não davam 10 linhas. Para me certificar, abri as propriedades do documento e encontrei o meu nome como autor e o título original do meu texto, que ele havia mudado também. Tem que ter muita cara de pau para plagiar o texto de alguém, acrescentar algumas linhas, mudar o título, afirmar que a obra é de sua autoria e enviar para o verdadeiro autor para que ele lhe dê um parecer sobre a incrível coincidência - como se o pai não reconhecesse o próprio filho. Fiquei tão abismado com atitude desse cretino, que nem respondi ao e-mail.
O que será que passa na cabeça dessas pessoas? Que os dramaturgos escrevem seus textos no banheiro durante uma cagada? Porque é dessa maneira que tratam nossas obras. Será que não passa na cabeça desses imbecis que levamos dias, semanas, meses e até anos para concluir uma obra? Que ficamos sentados horas e horas a fio diante de uma página em branco com o objetivo de preenchê-la dando vida às personagens? Que não sofremos com eles? Que não vertemos lágrimas ao vê-los sofrer? Que nos sentimos vazios, ocos, após escrever a palavra FIM? Aquele texto que você gerou, viu nascer e que - como um filho - tem carinho, amor e todo o cuidado do mundo, não recebe o mesmo cuidado de outra parte.
Cláudia Dalla Verde escreveu uma frase incrível para o programa de Fada Rock, texto de sua autoria em parceria com Zeca Capellini que montei em 2001: “Entregar uma peça para um diretor é como casar uma filha. Claro que a gente confia na educação que deu à moça, mas será que esse rapaz...?” Não precisava dizer mais nada, não é?
Alguns rapazes mostram-se bons enquanto outros se tornam péssimos genros. Não tem o menor respeito ao autor e fazem o que bem entendem de uma obra. Inserem frases onde não existem, alteram as sequencias ou ordens das falas, cortam frases importantes, enfim, mutilam a sua obra. Se o dramaturgo escreveu: “Porra”, o ator tem que falar “porra” e não “caralho”, “merda”, “droga”... Tudo o que está escrito tem uma razão de ser. E deve ser respeitado pelos pretensiosos diretores e até pelo mais obscuro dos atores.
Certa vez fui assistir a uma montagem de Macbeth num festival de teatro amador. E o que era para ser uma tragédia, se transformou num freak show. Foi, com certeza, a pior coisa que já vi na vida. A única coisa que prevaleceu foi a arrogância do “diretor”, que disse no debate com os jurados após a apresentação:
- Shakespeare já morreu e faço o que quiser com a peça dele!
- Pau no seu cu, idiota – foi a primeira coisa que pensei. – E eu ainda tenho que agüentar mais essa.
Mas tive uma catarse quando um dos jurados se levantou furioso e lhe deu uma tremenda surra verbal. Nunca mais ouvi falar desse ser pretensioso. Com certeza está trilhando um terreno menos perigoso.
Recentemente encontrei no YouTube um trecho de um texto de minha autoria. Estremeci de pavor ao ler a descrição do vídeo, que fiz questão de selecionar e colocar aqui como está postado lá: apresentação de um teatro di conclusão di escola. aprendemos o texto em menos de uma semana...foi a correria e bagunça.”
Quanto ao vídeo nem preciso comentar. Por pouco não enfartei. Não porque o espetáculo é de um grupo estudantil. Tenho o maior respeito pelos grupos estudantis, pois parte da minha formação vem de lá. Conheço inúmeros grupos que desenvolvem trabalhos excepcionais dentro de escolas estaduais. O que me revolta e me deixa muito triste é saber que o meu texto foi “aprendido” em menos de uma semana e com correria e bagunça.
Infelizmente todos os dramaturgos que conheci e conheço já passaram por essa experiência, a de ver sua obra mutilada.
Como é triste! Como é triste!
Está aí um gênero das artes cênicas que hoje em dia me causa certo espanto, pois sem nenhuma tradição em nossos palcos, pois passa longe do que foi o Teatro de Revista e, somente a custa de remontagens de espetáculos consagrados da “broadway”, o Teatro Musical vem ganhando a simpatia tanto da mídia, quanto da crítica. Da até a impressão de que esse gênero é algo superior à arte do teatro.
É claro que reconheço a complexidade e a dificuldade de se montar um espetáculo musical, pois reunir artistas que possuam potencial para cantar, dançar e ainda interpretar não é nada fácil. Encontrar alguém que só interprete já anda tão difícil! Sem contar que montar um espetáculo desse gênero não é para qualquer um. É coisa para peixe grande.
São espetáculos caros, que precisam de grandes patrocinadores, grandes cotas de incentivos, é muito dinheiro em jogo. Talvez esteja aí a razão de tanta popularidade de um gênero que ganhou notoriedade nos palcos de Nova York. O teatro musical feito hoje no Brasil, aliás, importado pelo Brasil é muito mais uma questão de negócio, do que uma questão de teatro.
Sem contar que os espetáculos desse gênero são elitistas, pois não é qualquer um que pode desembolsar a exorbitante quantia para pagar os seus ingressos. A mídia o tem sempre como a melhor opção de entretenimento entre todos os espetáculos teatrais em cartaz e o povo, ora, o povo!...
Se o teatro infantil é o patinho feio das artes cênicas, o teatro musical vem ganhando ares de filho perfeito. Como espetáculo, não há o que questionar. As trilhas são bem cuidadas, os figurinos, lindíssimos, os cenários, monstruosos, tudo para encantar os olhos do público. Pena que é tudo importado e sempre muito caro.
Longe de mim, desmerecer o gênero musical, o acho até bem interessante, quando levamos em conta a questão da formação do ator. Cantar, dançar, interpretar é tudo que um bom ator precisa aprender. Quisera todo ator ter a oportunidade de desfrutar da prática de tamanho exercício artístico. Quisera todo o povo ter a oportunidade de desfrutar do glamour de assistir a um espetáculo musical.
Esse Teatro musical pode até encantar os olhos, pode até conter elementos da arte do teatro, mas sempre será um gênero das artes cênicas, a arte do Teatro será sempre maior, mesmo que a mídia teime em vender um espetáculo musical como Teatro. Teatro é Sófocles, Eurípidis, Shakespeare, Nelson Rodrigues. Teatro musical é apenas um espetáculo de entretenimento.
Abrem-se as cortinas para mais um dia de espetáculo, mas também pode ser uma noite, ou uma tarde ensolarada, ou mesmo de chuva. Sobre um palco, mas também pode ser em uma praça, em uma rua, até mesmo em um ônibus, alguém se propõe a divertir, distrair, provocar, comover, emocionar, questionar, faz pensar, refletir, faz vaiar ou até mesmo aplaudir. Esse é o ator, na dura luta diária de levar o Teatro até onde o povo está; como já dizia a canção.
Isso é o Teatro, meio pobre, meio rico, meio rejeitado, meio deslumbrado, meio cafajeste, meio sedutor, quase sempre sem ter importância, mas ao mesmo tempo, sempre encantador. Isso é o Teatro que vive sob os holofotes dos atores famosos, ou que passa despercebido quando encenado pelos atores anônimos que fazem desta arte um sacerdócio. Isso é o Teatro, de montagens profissionais com tudo do bom e do melhor, ou de montagens simplórias com atores amadores, mas não menos adoradores deste fascinante sedutor.
A alegria de ser parte integrante do Teatro, não se resume a uma data especial. Nem a discursos de protestos inflamados, nem a reclamações e lamúrias, muito menos a pedidos de migalhas, quase sempre ignoradas pelo poder público. O Teatro transcende a uma data para movimentações e mobilizações que quase nunca ecoam mais do que o dia seguinte.
O dia do Teatro é todo dia. Todo dia, em algum lugar, sempre tem e terá alguém fazendo desta arte a sua razão de viver. E todo dia, a cada dia, há e haverá alguém que faz do Teatro uma festa, não apenas em uma simples data para comemorar, aliás, pouco há para isso. Quem vive o teatro, o festeja todos os dias.
Não se pode esperar por uma data para se fazer notar, o Teatro tem, por si só, esse poder. É através do teatro que conhecemos as entranhas do ser humano, que desnudamos os políticos corruptos, que fazemos graças com os desvios alheios e que caçoamos dos nossos problemas, que questionamos e clamamos os nossos deveres e direitos, que criticamos, que manifestamos e que fazemos festa, a festa para o Teatro.
Então, parabéns para quem faz festa para o Teatro todo dia, toda noite, toda tarde, sobre um palco, em uma praça, em uma rua, em um ônibus, pois, anteontem, ontem, hoje, amanhã, depois de amanhã, depois de depois de amanhã, é dia de Teatro. Mas, quem faz questão de um dia para comemorar, um Feliz dia mundial do Teatro!
Quando se trata de teatro, todos os holofotes são direcionados para os textos de conteúdo adulto, raramente um espetáculo infantil consegue espaço parecido. A não ser as mega-produções estreladas por atores famosos que de vez em quando se dedicam a realizar algo para esse segmento e, quase sempre, remontagens de clássicos.
Acontece, que sempre que um grupo se forma, a primeira coisa que fazem é montar um espetáculo infantil. Por que será? Será que pelo fato de não ter os holofotes voltados para sua direção, pensa-se em fazer um trabalho menos compromissado? Ou de fato se tem a preocupação de sedimentar o segmento do Teatro Infantil?
A idéia que passa quando se assiste a maioria dos espetáculos infantis é de que não se leva tão a sério o Teatro Infantil. A impressão é que o teatro feito para as crianças não requer maior esforço da interpretação, fazem certas caras e bocas, e pronto. Muitos até revestem o espetáculo com cenários e figurinos coloridos e só. Mas no palco, brincam de fazer teatro.
Será que não é por conta dessa coisa descompromissada que alguns empregam na apresentação de um espetáculo infantil que contribui para o distancia-mento entre o tratamento dado para um produção adulto e outra voltada para o público infantil? Com tanto gente fazendo teatro infantil, seja de forma amadora ou profissional, o espaço teria que está sendo dividido. Ou será que o Teatro Infantil é alvo de preconceito puro e simples?
Já passa da hora de fazer valer a importância de um espetáculo infantil. O teatro infantil não pode ser só a “peçinha” que é monta na escola. Não pode receber um tratamento menor. É no teatro infantil que habita a essência da magia do faz de conta, que conta e encanta e serve de estimulo para a formação de novos atores e de um novo público.
A seriedade deve ser levada a fundo quando se predispõe a produzir e apre-sentar um espetáculo infantil, tão ou mais, de que quando se pensa em montar algo para o público adulto. Só assim, mostrando e demonstrando o quanto um texto infantil contribui para o engrandecimento de uma criança e de quão é importante o Teatro Infantil para o segmento das artes cênicas, é que se afastará de vez o preconceito que assombra o gênero.
O Teatro Infantil está longe de ser apenas uma brincadeira de faz de conta. Cabe então, a todos que enxergam o teatro infantil com algo de grande relevância dentro das artes cênicas, fazer com que chegue a hora em que este gênero seja divulgado e respeitado como arte.
Não é segredo para ninguém que rir é sempre o melhor remédio e que é através das piadas que são ditas as mais duras verdades. Sem contar o que diz a ciência: que quando um ser humano ri, ele movimenta apenas dezoito músculos da face, enquanto chorando, ele movimenta quarenta destes músculos. Portanto, rir é o melhor negócio, não provoca rugas e ainda por cima, não tem nenhuma contra-indicação.
Então parece estar bem claro o porquê de tanta gente fazendo ou tentando fazer humor pelo país. É quase uma febre. E essa febre atende pelo nome de “stand up comedy”, algo que não é nenhuma novidade, pois grandes feras do humor, como Chico Anísio e Jô Soares já se utilizaram desta expressão inglesa, para fazer rir, há muito tempo atrás.
Mas essa tendência de se apresentar como um “stand up comedy” está em um movimento crescente. É no barzinho, é na pizzaria, na rua, em casas noturnas e até em teatros. Com a “cara” limpa, uma grande dose de “cara” de pau e grande desenvoltura e talento para transformar histórias banais e até mesmo bobagens em algo engraçado, muitos talentos tem surgidos.
A simplicidade de se montar um espetáculo de “stand up comedy” é outro fator que vem fazendo que mais artistas enveredem para apresentações de humor deste tipo. Não há custo com cenário, com figurinos, não se precisa passar o pires para arrecadar recursos, é o artista, a sua “cara” de pau e só.
É certo que “stand up comedy” não é teatro e sim, tão somente um espetáculo de humor. Ele não tem nada a ver com teatro na sua concepção, pois teatro deriva de dramaturgia que reputa uma ação que gera um conflito e deságua em uma revelação e/ou resolução, muito embora nos dias de hoje, exista muita coisa misturada que acaba até por confundir o espectador.
Mas, de uma maneira geral, acho muito interessante e positivo todo esse movimento de levar mais e mais humor e de uma forma bem descontraída e em lugares incomuns, pois se rir é o melhor remédio, que seja possível tomar esse remédio nos mais variados lugares.
Com exceção de alguns maus programas de humor que a TV exibe hoje em dia, onde a tentativa de forçar o riso é descarada, acabando os tornando chatos e sem graças, algumas experiências com “stand up comedy” vem revigorando o humor e fazendo o povo rir espontaneamente, mostrando que são raras às vezes que se precisa de caricaturas para fazer comédia.
Muito tem se discutido sobre a programação da televisão. Que está de má qualidade, que é só baixaria. Tem até editorial em rádio manifestando sua posição contrária. São comentários em rodas de bate-papo, são manifestações de indignação, eu mesmo já fiz aqui as minhas considerações sobre isso. Mas, absolutamente, entrego os pontos. Contra os números não há argumento. É isso que o povo quer!
Não tem como ir contra o BBB e programas do gênero, pois a massificação é tamanha, que por mais que algumas pessoas se manifestem contra esses programas, outras tantas os tornam líderes de audiência. Sem falar nos programas de auditórios de domingo, é tudo sempre igual, e o povo está lá, firme. Talvez para não ficar fora das rodas de conversa no dia seguinte de tra-balho. É isso que o povo quer!
A qualidade de um programa já não é mais o principal requisito para que ele entre na programação. Em um mundo globalizado, onde o dinheiro fala mais alto, o mais importante é enxergar o quanto de retorno financeiro o tal programa vai trazer. Se ele agradar o público, muito que bem, se não, eles fazem o povo passar a gostar. Eles já mostraram que tem tal poder.
É como aquela velha máxima, de tanto se ouvir uma música ruim, aquela tipo chiclete, que sem querer, todos que primam pela qualidade, acabam a cantarolando descontraidamente. Tem coisa que a gente não consegue vencer. E, afinal de contas, é isso que o povo quer! E é dessa conclusão que os alto executivos, tiram á certeza de que qualidade em um programa é um mero detalhe.
Por isso, decidi não mais medir forças contra quem não quer, ou sequer, se acha incomodado com a tal falta de qualidade. O povo está feliz com o que está assistindo, quem sou eu para dizer o contrário? Mesmo porque não tenho armas o suficiente e em grandes escalas, para lutar de igual por igual. É uma virtude reconhecer-se impotente diante de uma força superior.
Enquanto isso, quem pode, deve trilhar o seu caminho, procurando sempre primar pela qualidade e fazendo com que os seus textos tenham sempre algo de novo que possa ser absorvido pelo outro. Mesmo que seja uma comédia rasa apenas para uma noite de entretenimento. Sempre se é capaz de encontrar alguém que se interesse por um pouco de qualidade
É a velha tática de guerrilha, a gente vai minando o adversário pouco a pouco, quando ele se der conta, o povo já estará percebendo a diferença do que é qualidade. Por hora, não adianta espernear contra tudo isso que temos, afinal, ainda somos poucos, e ainda tem mais: é isso que o povo quer.