Artigos Diversos

Lugar de pipoca é no cinema

Está certo que o público não foi educado para freqüentar as salas de teatro, a gente até entende, mas alguém precisa avisá-lo que Teatro não é Cinema. Não dá para entrar na platéia levando latas de refrigerantes, salgadinhos, chocolates, pipocas e mais pipocas, fazendo aquela algazarra. Teatro não é lugar de fazer piquenique.

 

Quando você vai ao teatro, você vai para ver a apresentação e isto pressupõe que você tenha algum interesse e, portanto, precisa estar com a sua atenção voltada para o que se passa em cena. Como que alguém que está mais interessada em comer pipocas pode entender o que se passa em cena? Além do mais, com a sua mastigação, com certeza atrapalhará o ator em cena. Aí você diz: - Ah, mas comer pipoca no cinema pode!

 

Concordo com você. No cinema, a pipoca é até uma boa companhia, principalmente quando o filme que passa na tela é de nos dar sono, ou não nos traz nenhum interesse. E o principal: O filme já foi gravado e o ator pouco vai se importar se você come ou não pipocas.

 

O teatro é uma arte feita ao vivo e qualquer movimentação estranha, que possibilite desviar a atenção do ator, ou desconcentrá-lo, pode colocar todo o espetáculo a perder. Teatro é lugar de atenção, de silêncio, de contemplar todo o esforço que o ator fez e faz para apresentar o seu espetáculo. Teatro não é lugar para bate-papos, telefones celulares e comilanças de pipocas com refrigerantes.

 

Outro dia, estava na fila aguardando a abertura do teatro para assistir um espetáculo infantil, quando na minha frente, chega uma mãe e dois filhos, trazendo garrafinhas de guaraná, sacos de salgadinhos, e algumas tantas guloseimas. Então, viraram para ela e disseram: - Não pode entrar com comida no teatro. De pronto ela perguntou: - Mas as crianças vão ficar com fome? E voltaram a afirmar que comida no teatro, não podia. Ela ficou indignada com negativa, mas permaneceu na fila. E o pior que espetáculo tinha duração de cinqüenta minutos. Será que em cinqüenta minutos as crianças dela morreriam de fome?

 

Por isso, acho que dentro da campanha de popularização do teatro, devia-se incluir a campanha de como se comportar dentro de uma sala de teatro. Se é mais importante comer pipoca do que assistir ao espetáculo de teatro, então que se vá ao cinema e se fartem.

Entre dramas e comédias

Todo dia a mesma rotina, maquiagem, figurino, primeiro sinal, segundo sinal, nervosismo, frio na barriga, terceiro sinal, as cortinas se abrindo... Parece uma vida comum de um cidadão comum, não é? Mas, não é! O que essa rotina tem de diferente? Uma mesma história, contada todos os dias, de um jeito diferente, por um cidadão que jamais será o mesmo.

 

É assim, entre dramas e comédias que o ator faz da rotina de uma apresentação algo sempre inovador, mesmo que às vezes ela lhe pareça cansativa, ao abrir as cortinas e o foco o encontrar em cena, aquilo que lhe poderia ser a mesmíssima rotina de todos os dias, se dissipa entre lágrimas e gargalhadas, desaguando num rio de aplausos.

 

Esta é verdadeiramente a missão de um ator: pegar os fatos comuns, de uma vida comum, passados com cidadãos comuns, descritos em formas de ação por um dramaturgo, levá-los ao palco e revirá-los, demonstrá-los, interpretando-os sempre de uma maneira singular, ao ponto de que se alguém for assistir todos os dias, sempre achará que está assistindo um espetáculo diferente.

 

Ator é poder representar a vida sob a ótica de todos os olhos, é poder experimentar todas as possibilidades de sentimentos e emoções, é poder deslumbrar sobre todos os pontos de vistas possíveis e inimagináveis, é poder esgotar todas as sensações entre o riso e a comoção, transformando todos os dias, as mesmas situações que a mesma história rotineira não é capaz de mostrar.

 

É sobre o palco, através da arte de interpretar, que a vida deixa de ser comum e rotineira. É através da rotina das apresentações encenadas dia e noite que o ator nos permite experimentar a possibilidade de poder ver a mesma história de mil e uma possibilidades, enxergando algo que os olhos nus, de cidadão comum não são capazes de ver.

 

Vivendo no palco os dramas e as comédias, externando os nossos medos, os nossos anseios, desvendando nossas mentiras, desfazendo nossas verdades absolutas, violando nossos segredos, desmascarando nossas vidinhas comuns, nossa pequenez humana, nosso egocentrismo, nossa vaidade, nossa felicidade, assim é a vida do ator, sobre o palco, retratando a rotina dos mortais.

 

Pena que muitos, entorpecidos pelo poder de fazer da vida algo diferente a cada interpretação, acham-se semideuses e colocam tudo a perder, colocando as próprias vidas no mesmo patamar da vida comum, de um cidadão comum, que vive sempre a mesma história.

Disciplina e Humildade

O ser humano se acha o máximo e por se achar assim, tem a certeza que já sabe o suficiente, pelo menos para começar a criticar. Basta ter um pouco de noção de como se faz a coisa, para se achar a maior sumidade. E é no campo das artes onde encontramos mais sumidades. Os chamados: sabe-tudo!

 

Tem gente que escreve um livro de poesia e já se diz escritor, tem gente que encena uma peça e já se sente um ator consagrado, tem outros que escrevem peças e se acham grandes dramaturgos, tem outros que fazem curtas e já desfilam como diretores consagrados, e todos se vangloriam de seus feitos, não aceitam críticas e ainda se enchem de glamour.

 

Pode parecer que não, mas tem muita gente assim. E ai de quem discorda de seus pontos de vistas! São auto-suficientes e não precisam mais aprender, pois já mostraram que sabem, pois já fizeram uma vez. Pelo menos é o que eles acham. Mal sabem eles, que o campo das artes pede aperfeiçoamento continuo e muita disciplina.

 

Só através da disciplina se chega à perfeição, muito embora saibamos que em arte, a perfeição é muito relativa, por isso, disciplina é fundamental. Quem acha que só por que já sabe fazer alguma coisa, já tem capacidade de fazer outra, morre no meio do caminho. Quem escreveu um livro de poesia, só vai poder escrever um romance se tiver disciplina. Um ator precisa de horas e horas de disciplina para enfrentar tantos outros papéis. Aquele que teve a felicidade de escrever um texto para teatro, precisará de muita disciplina para refazer várias e várias vezes a mesma história. E um diretor precisará fazer muitos “curtas” até atingir o ponto ideal de filmar o seu longa-metragem.

 

É assim, a vida na arte não tem espaço para seres humanos que se acham o máximo. Nas artes o trabalho é duro e ninguém vai se transformar em escritor de novelas da noite pro dia. Há muita estrada para se caminhar e muitas experiências para serem acumuladas. Nas artes não tem espaço para pressa. Não há espaço para pular etapas. Há muita dedicação e disciplina.

 

E a maior lição de todas: a humildade. Para reconhecer que ainda não está pronto. Para aceitar que não atingiu o que se queria passar. Que não se deu o suficiente para um certo papel. Que podia escrever bem melhor do que fez. E, acima de tudo, reconhecer como é necessário aprender, aprender e aprender.

 

É triste quando recebemos críticas sobre aquilo em que dedicamos toda a nossa verdade, corta o coração. Mas é preciso perceber que o ser humano só será o máximo, quando entender a sua pequenez diante da magnitude daquilo que ele tanto quer fazer. O artista jamais será maior que sua arte.

Amador sim, e daí?

Entre dificuldades para montagens, para poder ensaiar, sem espaços para apresentações, sem qualquer apoio, sem nenhuma verba, quase sem nenhum espaço na mídia para sua divulgação, o teatro amador sempre se superar e, por vezes, e não são poucas, consegue encantar.

 

Não é raro ver atores e atrizes se transformando sobre um palco, transbordando arte e emoção por todos os poros. Vivendo o personagem com tamanha verdade que nem sempre enxergamos em atores ou atrizes, consagrados. E é por momentos como estes que o teatro encanta.

 

Ver num palco, ou num outro espaço, (pois não é sempre que o pessoal amador tem a chance de se apresentar sobre um), um ator justificando cada letra e cada sentimento contido no texto que ele interpreta e não apenas brincando de fazer teatro, revigora a condição do teatro amador, e reafirmar como o lugar ideal para o “fazer teatral”.

 

Pena que entre tantos que buscam o aprimoramento e levam a sério a arte de atuar, alguns ainda fazem do teatro amador um território para brincadeiras, enganações e perversões, atrapalhando e contribuindo para o desprestígio da categoria. Não é porque é amador que tem que ser desse jeito.

 

Essas pessoas que circulam no teatro amador apenas para fazer “tipo”, ou sei lá o quê? Deveriam aproveitar a oportunidade e, realmente, absorver todo o ensinamento que o teatro amador é capaz de dá. Pois não existe nenhuma outra arte, onde se aprenda desde a produção até a interpretação, passando por todas as fases de preparação de um espetáculo. Teatro amador é um lugar que não tem espaço para aventureiros e sim para interessados na arte de atuar.

 

Por isso, aqueles que se dedicam e tratam o amadorismo do teatro com todo profissionalismo, encarando os desafios de atuar com toda a responsabilidade que uma interpretação merece, só tem a ganhar. E, com certeza, para estes, as portas estarão sempre abertas e, por eles, sempre valerá à pena disponibilizar textos para suas apresentações.

 

Teatro é a arte de atuar e não importa se isso é feito de forma amadora ou profissional, o que importa é ver a verdade do ator no exercício do seu ofício na sua maior plenitude e poder levantar e aplaudir por sua atuação. E melhor é poder dizer: Ele é amador? E daí?

A Lei do Direito Autoral

O que é meu é meu, o que é seu é seu, mas alguns acham que o meu, o seu e o do outro é de todos e para todos. Sim! É de todos e para todos desfrutarem, se encantarem, viajarem, se emocionarem, com cada canção, com cada verso, com cada história, com cada ação em cena, e não pra sair por aí tomando de assalto o que deu um imenso trabalho para ser concebido.

 

Já cansei de falar sobre essa questão do direito autoral e das dificuldades que todo autor, seja ele escritor, compositor ou artista responsável pela criação artística, tem em receber os que lhe é de direito e de proteger a sua obra. E isso parece uma situação sem solução e, que a tal mal fadada nova lei do direito autoral também não vai conseguir solucionar.

 

Incluir na lei um artigo permitindo que seja possível fazer uma cópia para uso pessoal ou educacional de qualquer obra, pensando assim estar preservando os direitos autorais dos autores, é não ter consciência da brecha institucional que está sendo aberta para o descalabro da atividade intelectual, pois se hoje, que é proibido, tudo é copiado e até vendido em bancas nas esquinas pelo Brasil afora, imagina depois da permissão de cópia individual?

 

Outra coisa na lei que me parece não fazer sentido, é o fato da proposta de criação de um órgão governamental para fiscalizar a arrecadação dos direitos. Isso me parece mais uma atitude com segundas intenções. E não me venham dizer que estou fazendo terrorismo eleitoreiro, pois depois da lei aprovada, tanto faz quem ocupará o cargo, bastará a aplicação da lei. E aí? Aí o governo já terá nas mãos uma fonte segura para fiscalizar a vida do artista.

 

Não é permitindo cópias e criando órgãos governamentais para fiscalizar que o problema dos direitos autorais será resolvido. Muitos outros fatores contribuem para que os artistas continuem tendo dificuldades de preservar e receber por suas obras. Desde os altos impostos até a velha cultura instituída pela tal lei de Gerson, aquela de levar vantagem em tudo. Se eu posso pegar pra mim, por que pagar?

 

Já que se prega um país melhor, onde a ética desponta como a bandeira á ser empunhada, então devemos começar com a mudança de nossas atitudes. Os simples gestos, por mais insignificantes que sejam, contribuem para formação de um cidadão que preza e respeito o direito do outro. Utopia? Talvez, mas só assim, será possível proteger de fato os direitos autorais de quem dedica a sua vida às atividades intelectuais.

 

No mais, a lei do direito autoral vai ser aprovada, com ou sem aprovação da maioria dos interessados, e nada vai mudar. Autores vão continuar sendo pirateados, autores vão continuar sem receber os que lhe é direito e a vida vai seguir o seu curso. E que cada autor proteja os seus direitos do jeito que achar melhor.

O gargalo da garrafa

É certo que muitos querem atingir o status de roteirista principal do principal produto da televisão que é a telenovela, eu também busco isso. Mas também é líquido e certo que nem todos conseguirão, pois o gargalo da garrafa é estreito e a garrafa não é tão funda assim. Não se trata de falta de qualidade, é apenas concorrência tal e qual a existente em qualquer outra profissão.

 

A concorrência por vezes é desleal, o que não chega a ser nenhuma novidade, mas isso não pode nos desviar do caminho, porque o fato de não se atingir o tal posto não pode frustrar a vontade e o prazer de escrever, porque se isso estiver acontecendo é porque o principal é atingir o posto e o glamour que ele proporciona e não a satisfação e o prazer que se tem em contar histórias.

 

O que aprendi com o tempo é que embora o meu foco seja atingir o posto principal do principal produto da televisão, eu resolvi encarar a concorrência através do meu trabalho, pois se o gargalo é estreito, preciso estar em forma para quando me aproximar dele e estar em condições de entrar. Até porque não sei se um dia vou chegar assim tão perto da boca da garrafa.

 

Tenho buscado aprender com o que as pessoas andam dizendo sobre o atual momento das telenovelas, pois as críticas estão fortes. Dizem que é falta de criatividade, que há um esgotamento do gênero, que é isso, que é aquilo. Inclu-sive se queixam do envelhecimento dos autores e da falta de renovação. Talvez seja um mix de tudo isso, mas deve-se ter a consciência que não há espaço para todos que querem chegar lá.

 

A despeito do envelhecimento de alguns mestres e da repetitiva fórmula empregada por cada um deles para contar as suas histórias, entrar nesse seleto grupo é como atingir o posto de titularidade de jogador da seleção da brasileira. E isso, não se resume apenas em ter ou não ter talento, vide quantos caneludos temos em ação na nossa seleção brasileira de futebol.

 

Ás vezes, as oportunidades, que já são escassas, tornam-se quase inviáveis para quem mora longe da sede das emissoras que produzem o produto novela e, por certo, quem está mais perto, tem as maiores chances. Só que isso não deve desestimular ninguém, pois volta e meia um novo talento consegue ultrapassar o gargalo da garrafa. Portanto, o prazer de contar histórias tem de ser renovado dia-a-dia.

 

E já que um dia o que me fez pensar em atingir o principal posto do principal produto da televisão foi o prazer que tenho em contar histórias, vou seguindo meu caminho criando e contando minhas histórias por meio dos meus textos para teatro, por meio de meus roteiros, me realizando cada vez que vejo um deles sendo produzindo.

 

E se um dia eu vou ter a oportunidade de me espremer no gargalo da garrafa? Não sei. Mas vou seguindo firme e feliz, agradecido pelo dom de poder contar histórias