Está aí uma combinação que quando bem usada se torna imbatível, mas não é sempre que esta combinação é usada para o bem do público. Hoje em dia, aliás, é muito rara. A baixa qualidade nos programas da televisão brasileira é assustadora. Você não consegue ver mais do que um ou dois programas que realmente valha a pena. Engraçado, a força do dinheiro tem gerado cada vez mais programas de má qualidade ao invés de ser justamente ao contrário.
É pegadinha pra cá, é bisbilhotice pra lá, é exposição do corpo feminino para acolá, e tudo bem financiado, pois anunciantes não faltam em programas que exibem estes conteúdos. Será que o dinheiro está tão fácil que tanto faz se o programa tem ou não qualidade? Ou o que vale é dinheiro em caixa e o público que se exploda?
Isso tudo chega a ser até um paradoxo, pois o anunciante patrocina o programa pensando no retorno financeiro que vai ter com a exposição de sua marca e com tanto programa de má qualidade atrelado a sua marca pode lhe causar efeito contrário. Ou será que a exigência é minha? Parece que dinheiro já não mais combina com qualidade.
Alguns programas, apesar de tamanha má qualidade, apresentam um número considerável de espectadores, fator este que faz com que os anunciantes continuem a atrelar suas marcas à estes programas, com ou sem qualidade. O que interessa é o lucro que o dinheiro vai proporcionar. Empurra-se qualquer coisa, pois o público está disposto a comprar. Acho que o conceito do que é bom e de qualidade mudou um pouco.
Chega ser uma pena ver tanto dinheiro desperdiçado em programas com tanta falta de qualidade. E saber que muitos projetos de boa qualidade se perdem no caminho por falta de verba. Mas, dizer que as TV’s estão erradas, não dá. Isso é “business”. E enquanto tiver público disposto a assistir qualquer porcaria e, anunciantes dispostos a patrocinar tais programas, faz-se qualquer coisa e se contabiliza os lucros, pois, quanto menor o custo de produção, maior o ganho da emissora.
Portanto, é de se concluir que o público consumidor de programas de TV é o retrato de um povo acomodado com a situação, seja ela em relação a sua vida, a política, ou aos programas de TV. Uns até contestam, outros até falam mal, mas acabam sempre se conformando. Já que não se tem outra coisa pra ver, qualquer coisa serve.
E o dinheiro que bem combinado com a qualidade pode produzir tanta coisa boa, ás vezes até mesmo mais econômicas que muitas coisas feitas em certos programas de conteúdo de qualidade sofrível, vai servindo apenas para gerar lucros para quem produz e para quem anuncia, pois para o comprador, serve-se qualquer coisa que ele compra mesmo. Isso sim é um grande desperdício.
Houve um tempo em que o palco era o único lugar para dar vazão às idéias reprimidas e sufocadas pela censura. Estar no palco era ter a certeza de levar ao público, a voz calada e amordaçada pelo um regime autoritário. É certo que alguns espetáculos eram por demais panfletários e retratavam unicamente pontos de vistas de uma política que hoje em dia não faz sentido. Mas, ao menos, o teatro era a voz que satisfazia os anseios de quem não podia falar.
Com o tempo e com a bendita democracia, certos textos perderam força e não houve mais interesse em retratar no palco, histórias que não precisavam de uma voz, pois já eram gritadas em uníssono por toda a população. E o teatro deixou de lado o conteúdo contestador para se derramar em comédias. Acho até justo, depois de anos de agruras e dissabores. Mesmo porque, falar de política não é lá um assunto que dê público, muito embora devesse.
Hoje, o teatro, partiu para novos e outros campos, a busca é pela conquista do público, procurando firmar o teatro como uma grande opção de entretenimento, produzindo espetáculos mais leves, que mais diverte do que questiona ou faz pensar. Parece que o Teatro perdeu o interesse de ser a voz de um povo oprimido. Povo este que agora sofre pela periferia e que tal e qual aos que viveram os anos de chumbo, está sem voz, amordaçado pela indiferença de uma sociedade.
É muito bonito e louvável levar a arte aos menos favorecidos, criando projetos, oficinas, apresentando um mundo cheio de esperança que o teatro é capaz de mostrar. Não deixa de ser uma grande bandeira, esta de incluir os excluídos através da arte do Teatro, mesmo que seja em doses homeopáticas. Quantos já não tiveram suas vidas transformadas pelo Teatro? Mas, podia ser muito mais.
Pena que tudo isso é levado por poucos, loucos que sabem da força transformadora que o Teatro possui. Mas não basta diante do abismo que separa os que sonham, dos que não tem nem este direito. Quem sabe não seja a hora de levar aos palcos um pouco dessas histórias que não podem ser ouvidas? Fazer ecoar nos palcos o grito de igualdade pode ser o caminho par encurtar a distância para a verdadeira justiça social.
O Teatro precisa participar desta revolução, pois tal e qual a censura que calou milhares de vozes, a injustiça social também tem um efeito devastador, pois distancia cada vez mais, emudecendo a voz de quem não tem para quem gritar. Levantar o problema, discutir a situação, questionar as políticas, repercutir, tudo isso é função do Teatro, por isso, quanto mais espetáculos desnudando este quadro, forem montados, mais alto a voz dos excluídos será ouvida.
Já passou da hora de sacudir a cena do país, revirando as entranhas e jogando na cara destes que dizem não se importar com tal situação, que enquanto o abismo for imenso, jamais se viverá em paz. O Teatro é mais que diversão, o Teatro pode ser a verdadeira revolução.
Não existe nada mais desagradável, pelo menos para mim, do que assistir um espetáculo e perceber aquele ator bem canastrão em cena. Caras e bocas, trejeitos e sei lá o que, tudo para dar o tom certo ao personagem, mas nada adianta, nem mesmo o tal talento que o ator pretensiosamente acha ter, é capaz de nos convencer, pois fica nítido que faltou algo: A preparação do ator.
Não falo apenas dos ensaios necessários para a composição do personagem, da marcação de cena, da luz e da concepção geral do espetáculo. Falo da voz, da expressão facial e corporal, das emoções de todas as técnicas de interpretação necessárias para o ofício de ator. Pois, é tudo isso que vai lapidar um precioso talento ainda em estado bruto.
Achar que decorar o texto, saber as marcações e fazer caretas em cena é o suficiente para estar sobre um palco, não leva ninguém a lugar nenhum, só o coloca na alça de mira. Teatro é a arte de iludir e não a de enganar. Aliás, engane-se aquele que pensa ser um ator agindo desta maneira. A preparação do ator é de fundamental importância para o sucesso do espetáculo. E esse tem de ser um compromisso que o ator deve ter com o público.
Não sei se é uma impressão minha, mas tenho sentido a falta de um cuidado maior na preparação do ator, parece que trabalhar o ator passou a ser algo “démodé”. Ensinam meia dúzia de teorias, obrigam a ler meia dúzia de textos e deixam para o ator que tiver talento e uma força de vontade a mais do que os outros, fazer a diferença. Só que não é todo ator que tem talento e força de vontade para tanto. E o resultado, ás vezes é desastroso.
A idéia do espetáculo como um todo tem prevalecido, pelo menos é o que percebo nas apresentações que tenho visto. Fica claro uma preocupação, ás vezes até exacerbada com o resultado do espetáculo, e até as questões de cenário e figurino ganham uma importância maior do que o trabalho de ator. Sempre o que vem em primeiro plano é o espetáculo em si. Difícil ter notícias de alguém dizer: - Estou me preparando para fazer tal papel. O usual é dizer que se está ensaiando uma peça.
É claro que não se pode generalizar, pois deve haver em algum canto, seja em um grupo amador, em escola de teatro, na obstinação de algum diretor, ou sei lá aonde, alguém mais preocupado com o ator do que com o espetáculo. Apenas acho uma pena que isso não seja o exemplo e sim a exceção. Pois de nada adianta ter um bom texto, um bom figurino, um bom cenário, uma boa concepção de espetáculo, se o ator em cena não passa de um canastrão.
Só a formação do ator com bases em exercícios e teorias não basta, para que uma interpretação seja realmente um sucesso, além de toda base necessária, há de se ter a preocupação de uma preparação específica para cada papel que se vai interpretar, pois, afinal de contas, um bom e velho diretor de ator não faz mal a ninguém.
Não há como negar, é evidente o crescimento da exploração do humor como forma de entretenimento para o povo, seja no teatro ou na TV. E falando em TV, é só ligá-la, (você pode escolher o canal que quiser) que tem programas para tudo que é gosto, aliás, tem até os de mau gosto. Mas, cada um é livre para escolher o quer ver e quem os faz, deve ter a certeza que está fazendo o que tem de mais engraçado no momento.
Os programas de TV buscam a qualquer custo arrancar risos do telespectador, mas ás vezes, nem os próprios humoristas se divertem, pois não consigo achar possível que eles achem que realmente estão fazendo humor. Chega até ser deprimente assistir certos humorísticos na TV. Repetitivos, velhos e com humor do tempo do meu avô.
Outra tentativa de se fazer humor nos dias de hoje, são os chamados “Stand up Comedy’s”. Essa forma de se fazer engraçado, responde pela atual febre do momento. Cara limpa, palco vazio, (na verdade, pode ser no bar, restaurante, em qualquer lugar que tem gente a fim de diversão) e a mistura de doses de histórias insólitas com muitas bobagens são o suficiente. Parece que todo mundo agora virou “Zé Graça”. Mas o que se vê por aí é muita gente e muito programa errando a mão. Fazer humor tem se mostrado ser mais difícil do que se pensa.
Tem certos programas de TV, que em troca de alguns números do IBOPE são capazes de coisas inimagináveis. E tentam de tudo, piadas, cutucadas, tortas na cara “estilo pastelão”, tiram a roupa, fazem micagens e caretas, chegam a níveis que beira a debilidade. E quando algumas dessas tentativas não dão certo, partem para expor o ridículo da pessoa, apelando de vez para baixaria e a falta da educação.
É certo que existe muita gente boa, que sabe ser engraçada, sabe fazer um humor que diverte, sabe até entender quando não foi realmente feliz na piada e, acima de tudo, respeita o espectador, não fazendo dele seu refém para algumas tentativas infelizes de demonstrar seu humor. Também é certo que é da quantidade que se tira a qualidade, mas a quantidade que tem tentado é de fazer chorar.
Não falo como especialista, pois nem contar piadas eu sei, falo como espectador, aliás, como telespectador, que chora toda vez que liga a televisão e se depara com a quantidade de programas humorísticos na programação da TV Brasileiro, um pior do que o outro. Tenho impressão que, ou eu ando mesmo carrancudo demais, ou as pessoas que tentam fazer humor, estão errando a mão, e muito.
Eu sei que a tentativa de fazer rir é louvável e deve ser sempre estimulada, mas entendo que a arte de fazer rir é para poucos. Humor tem de pegar a pessoa distraída e desarmada, a ponto que ela não tenha nenhuma reação, a não ser, rir, somente rir. Qualquer coisa fora disto, é apenas uma tentativa de se fazer engraçado.
Diante de tanta falta de respeito com o semelhante, dos interesses individuais se sobrepondo ao coletivo, da indiferença dos privilegiados frente às mazelas da vida, da falta de ética, da indecência, da honestidade, em meio a um mar de impunidade e tudo mais que é noticiado diariamente nos jornais, rádios, televisões, portais da internet, etc, só a arte para clarear as idéias e abrir os olhos de quem se permite enxergar.
É através da arte que uns poucos inconformados manifestam sua indignação, levantam questionamentos, provocam, estimulam o pensamento, injetam cultura, para quem sabe um dia, todos possamos compartilhar um quadro diferente do que se apresenta hoje em dia. A arte não é apenas uma ilusão passageira, ela é o espelho que reflete o que há de melhor e de pior no Ser humano.
Quem acredita que arte não passa de uma simples ilusão, de uma forma lúdica para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia, ou apenas um caminho de fuga que alguns usam para não se depararem com a realidade desesperadora em que vivem, talvez não saiba o bem que faz se permitir iludir e descobrir o quão pequeno se é diante das verdades que a arte nos escancara.
Permitir-se a ilusão que a arte nos oferece, não significa se alienar aos proble-mas, ou se fechar em um mundo de felicidades, onde o pior do Ser humano fica atrás das cortinas, ao final de cada espetáculo. É enxergar os defeitos e virtudes do semelhante, se indignar com os privilegiados frente às mazelas da vida, com a falta de ética e da decência, procurando caminhos que revigore a sociedade para lutar contra a impunidade e a injustiça.
A arte é o maior instrumento desenvolvido pelo Ser humano para escancarar a si mesmo. Muito mais que uma simples ilusão como alguns assim a julgam, a arte faz a ponte entre a consciência e a inconsciência, entre a emoção e a razão, entre a verdade e a mentira, entre o drama e o humor, entre a justiça e a injustiça e faz o Ser humano ser bem mais preparado para enfrentar os problemas que assolam à todos, até aqueles que vêem a arte apenas como uma simples ilusão.
Reconhecer-se sobre um palco ou absorver o que nele é apresentado, é a melhor coisa que pode acontecer com um Ser humano, pois deixar-se iludir diante ao que acontece por intermédio da arte, transforma a vida e nos arregala os olhos para enxergar o que há de bom e mal nas entranhas de todos nós. Quisera todos se deixassem levar por essa ilusão.
Está certo que de nada vai adiantar se apenas deixarmo-nos permanecer na ilusão, precisamos subverter as imagens que nos absorveu por algumas horas para reverter o quadro em que vivemos, onde o que interessa é a idéia que prega: “enquanto não for comigo, não tenho nada a ver com isso!” Façamos da arte, uma arma contra o conformismo.
Quem quer contar uma história, quer contar uma história de alguém, e esse alguém, entre todas as características, tem uma em especial que o torna único. A sua voz! Mas não o timbre e sim a sua fala.
- Óia, hoje vamô prosear um tiquinho sobre essa tar de fala de personagem.
- É isso aí, mano! A treta é massa e o bagulho é louco!
- Não obstante toda a complexidade que o tema nos sugere, vale salientar que um personagem fala de maneira única.
- Só, meu!
- Ôrra! Ô louco, meu!
- Bah! Eu falo como todo mundo!
- Uaí! Eu tumbém!
Esse pequeno diálogo acima, dá perfeitamente a noção de como cada personagem é único e de como cada um é singular e representa perfeitamente o seu interlocutor. Sendo a dramaturgia pautada em diálogos, a forma pela qual o personagem se expressa é de fundamental importância para homogeneidade da história.
Quando o dramaturgo consegue acentuar seus personagens com a singularidade que cada um deles tem, a história se expressa com maior precisão e tudo o que se quer contar, se torna bem mais verossímil aos olhos de quem vê. Cada personagem é o retrato de uma pessoa, tem o seu próprio jeito de falar e é assim quem tem que ser quando se quer contar uma história.
Um diálogo bem construído passa pela fala singular de cada personagem, pois não há conversa linear e ninguém fala igual. Cada característica fica ainda mais acentuada quando o personagem se expressa através de suas falas de acordo com a sua personalidade. Essa voz pode ser marcada por vícios e manias, gírias, cacófatos, erros gramaticais, ou ser de grande eloqüência. Tudo vai depender de quem estiver contando a história.
Quando se escreve e fala com a voz de um personagem, não existem regras gramaticais, não se deve prender-se a isso, mesmo porque, dificilmente encontramos pessoas no nosso dia-a-dia que pratiquem com exatidão, a complexa língua portuguesa. Portanto, quando se quer contar a história de alguém, tem de se falar como este alguém, pois as palavras que você escreve, deve soar como a sua voz.
- Óia, não é que isso tudo é verdade, sô?
- Fiquei boladão!
- O personagem que fala, expressa o que sente pelo jeito que fala, assim...
- Assim? Sei lá! Pode até ser.
É assim, procurando conhecer a maneira de como o seu personagem fala, que você contará sua história de uma maneira bem mais interessante.
- Ôrra, meu! Cê tá cheio de razão!
- Bah! Tu me fizestes pensar, hein guri?
- Óxente! Fiquei cheio de caraminholas nas minhas idéia, vixe?
- Uaí! Mas tá tudo bem claro. Nóis fala como nóis é, ou não é?