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Artista ou celebridade?

As coisas hoje em dia estão de tal forma, que até parece que tudo está de pernas para o ar, ou fora da ordem, mesmo! Há uma confusão enorme entre o que é ser um artista e ser uma celebridade, principalmente essas instantâneas que pipocam de tempos em tempos e tomam conta de toda mídia.

 

Celebridade, qualquer um pode se tornar, seja lá participando de programas de “reality shows”, casando com alguém influente, armando barracos, correndo atrás de jogador de futebol, até político vira celebridade. Tem até certos artistas, que se acham mais celebridades do que artistas. Bem, esses, na verdade, não sabem direito o que querem: se o difícil sacerdócio da arte, ou os reluzentes holofotes das câmeras.

 

É certo que essa coisa de ser famoso, se tornar conhecido por um grande número de pessoas, ser popular, está no ser humano, todo mundo quer aparecer e ser conhecido, mas tem gente que é capaz de tudo. É uma loucura, loucura, loucura, como diz Luciano Huck. Só que muitas dessas celebridades, as instantâneas, principalmente, surgidas em programas de “reality shows” e que usufruem da grande popularidade alcançada, de uma hora para outra acham que são artistas, pode?

 

O pior é que muitos compram essa idéia e é aí que se faz a confusão. Quem até então era celebridade instantânea, vira artista revelação, e vai fazer teatro, vai fazer cinema, vai fazer televisão e o que se vê, em termos de qualidade artística, é deprimente! Jogam a arte de interpretar na lata no lixo. E não me venham dizer que fulano tem talento e é esforçado, pois isso não se sobrepõe aos anos de estudo e dedicação que um artista tem de ter.

 

Acho que não deviam misturar as estações. Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa: celebridade é celebridade e artista é artista. A diferença é tão clara, se pode ver à olhos nus. Celebridade só quer uma coisa, está na mídia, quanto mais, melhor, seja lá fazendo o quê e do jeito que for! Já o artista nem sempre precisa aparecer, o reconhecimento de sua obra, muitas vezes, já basta!

 

Não se pode quer ser artista se lançando na mídia como uma celebridade, o caminho é justamente o contrário. É o trabalho de um grande artista, que de tão reconhecido, o faz se tornar uma celebridade, não apenas pelo que ele é, mas também pelo que ele faz. A arte dele o faz tão imenso que a mídia tratará de torná-lo popular, tão e mais, como qualquer uma dessas celebridades que pipocam volta e meio no mundo artístico.

 

Ser artista é uma coisa muito séria, que demanda muitos sacrifícios, muitos degraus a subir, um caminho longo a percorrer, muita abdicação, muito estudo e muito trabalho, por isso, tem-se que prestar muita atenção e saber separar o joio do trigo, pois artista tem alma e celebridade tem apenas um corpo ou uma carinha botina, e nada mais.

A superficialidade dos tempos modernos

Ainda ontem, cadeiras decoravam as calçadas das cidades, crianças brincavam soltas pelas ruas, a amizade com o vizinho ao lado, era de fato uma amizade e o respeito ao semelhante era uma virtude. Hoje, carros passam apressados pelas ruas, a violência enclausurou nossas crianças e os vizinhos, quem precisa deles?

 

A vida em comunidade não existe mais, mesmo que em momentos de catástrofes, alguns ainda se mostrem solidários, a maioria é apenas uma casca usando roupas de grifes e passeando de carro importado. Hoje, a cultura do cada um por si é o que está em voga e o meu direito não mais termina quando começa o do outro. Ora, pouco me importa o direito do outro!

 

É isso, não se pode tapar o sol com a peneira, as pessoas estão superficiais, ninguém quer compromisso, ninguém quer envolvimento, parece que as pessoas estão praticando a cultura do eu sozinho, ou do cada um por si. Vive-se com o medo de tudo, até de sofrer. É a superficialidade dos tempos modernos afastando o ser humano das coisas básicas da vida.

 

Tudo isso acaba refletindo nos programas de televisão, nas peças de teatro, nas novelas. Ninguém mais busca o ser humano pela emoção, a preferência é sempre por, barracos, catástrofes, baixarias e pelo riso fácil de piadas sem graça. Não se faz pensar, refletir, não se questiona mais, não se provoca. E mais e mais o ciclo vai piorando.

 

Nestes tempos de relações artificiais, onde bisbilhotar a vida alheia é mais interessante do que entender o porquê de tanta injustiça social, precisamos, nós que temos o poder da palavra, usá-la com toda a nossa força para direcionar o leme deste barco à deriva que se tornou a vida humana, fútil e vazia, onde o mais importante é saber se fulano se separou de sicrana, ou se sicrana está tendo um caso com a beltrana.

 

É claro que não precisamos ser sempre ácidos e melancólicos, muito menos reacionários, até porque, rir é e sempre será melhor do que chorar. Usemos, então, o poder da comédia para criticar, ironizar, apontar os defeitos e até mesmo caçoar da insignificância do homem moderno e a sua interminável preocupação com a matéria.

 

Cada dia que passa, pior fica o ser humano, acomodado na superficialidade das coisas sem importância.  E, se ao invés de tentarmos instigá-lo, provocá-lo, fazê-lo refletir no espelho a sua mesquinhez, continuarmos insistindo em alimentar a sua superficialidade, em pouco tempo, não teremos mais homens interessados em ler nossos livros.

Sem conflito não tem história

Por melhor que seja a idéia que alguém tenha para escrever uma história e contá-la através de uma narrativa dramática, uma coisa é certa: sem conflito não se tem história dramática. Seja ele um conflito interior, um conflito exterior ou contra um terceiro. A ação dramática se desenvolve pelo conflito, qualquer coisa fora disso é apenas a narração de um fato.

 

Não basta uma boa história para contar se não existir uma boa razão. Alguma coisa deve estar em erro para justificar ser contada. É fundamental que a personagem esteja em uma situação desconfortável e disposto a provocar uma mudança, pois é essa situação desconfortável que vai provocar o conflito que vai desencadear a busca pela mudança.

 

Portanto, o conflito é a mola mestre e o fio condutor da história, e toda a ação dramática a ser desenvolvida dever convergir ou vir da necessidade de resolver o conflito em que a personagem está. Assim, tudo o que não levar a dissolução do conflito é descartável e totalmente desnecessário.

 

Tendo claro esse ponto de que o conflito é o principal dentro de uma história, podemos analisar se temos ou não uma boa história para transformar em um texto de teatro. Qualquer coisa fora disso, não é teatro, é apenas a narração de algum fato com ou sem relevância.

 

Muitos textos, tem até uma boa história, tem bons personagens, mas acaba se tornando frágeis pelo fato de não possuírem conflitos que os sustentem. E ter o conflito bem delineado dentro da história, faz com os atores entendam seus personagens e contem melhor a história. Com a dramaticidade que um texto teatral deve ter. 

A melhor coisa que se tem a fazer quando se pensa em escrever um texto para teatro é achar  dentro da história que se quer contar, a situação que colocou sua personagem em desacordo com a história, os motivos que a levaram a tal situação e as formas pelas quais se pode encontrar para ela seja resolvida.  

Qual o valor de uma adaptação?

Não é de hoje que obras literárias são adaptadas. Todas as formas de escritas acabam se servindo de idéias originais para depois adaptá-las ao seu formato. Seja um livro que é adaptado para roteiro de cinema, ou um texto de teatro que adaptado para TV e vice-versa, mesmo porque, adaptar é ajustar uma coisa a outra; amoldar; apropriar, portanto, adaptação tem sim o seu valor.

 

É claro que a primeira reação de quem tem a obra adaptada, ás vezes até mesmo esquartejada, transformada ao ponto de ser quase irreconhecível, é de trucidar, é de fazer picadinho de quem se atreveu usurpar sua tão planejada e gerida idéia, mas, passada a raiva, se dá conta que uma hora ou outra, também bebeu na fonte da adaptação.

 

Que atire a primeira pedra quem não se serviu de histórias clássicas e se arriscou no mundo das letras seguindo os caminhos das adaptações? Não vejo vergonha alguma, nem demérito nenhum em quem faz ou já fez uso desse exercício. Está aí: um exercício. A adaptação de uma obra original é antes de tudo um grande exercício de escrita, principalmente para os iniciantes.

 

Servindo-se de histórias consagradas, os aprendizes de escritores vão tendo contato com as ferramentas que o autor usou para colocar sua idéia no papel. Como ele descreveu e criou seus personagens, como ele desenvolveu o conflito e o solucionou, etc. Tentar reescrever do seu ponto de vista adaptando a his-tória sobre um outro prisma é sempre enriquecedor.

 

O que se tem há lamentar é que muitos aproveitadores, servindo-se da má fé e da desonestidade, transformam obras originais e outras obras, servindo do artifício de adaptação para desfilarem e posarem de autores. Uma pena. Que Deus lhes ilumine o caminho para que não sofram do mesmo mal que causam.

 

Escrever é um exercício contínuo e a adaptação de histórias originais acaba sendo uma ferramenta primorosa para a evolução do escritor. Não obstante tudo isso, a adaptação vai seguir sendo vista com olhos tortos por muita gente. Mas, se ela, ás vezes não chega a ter um grande valor artístico, tem seu valor no auxílio de quem quer levar adiante o ofício de escritor.

 

E só uma certeza nos fica, sempre hão de existir novas histórias originais e suas incansáveis adaptações, com ou sem valor artístico. O que se há de fazer? Adapte-se!

Escrever é tão simples...

Ah... Escrever... Escrever é tão simples como fechar os olhos para dormir. É só se colocar em frente à tela branca do computador, que... puft!... a história aparece por completo. Tudo assim, como num passe de mágica! É o que acham certas pessoas. A visão que alguns têm sobre o texto e quem o escreve, principalmente que o faz para o teatro, é no mínimo turva, para não dizer cega mesmo.

 

É um desdém impressionante! Chega a dar raiva, raiva não, vontade de bater mesmo. Tratam o texto, como... Aliás, muitos nem consideram o texto. Para falar, sinceramente, muitos nem sabem o que estão fazendo no teatro, quanto mais o peso de um texto dentro de um espetáculo. Mas, escrever é tão simples, não é mesmo?

 

Sei que é uma minoria e que estão só de passagem pelo mundo do teatro, pois tem planos televisivos mais urgentes, mas confesso que muitas vezes dá vontade de falar um palavrão. Quando alguém trata o que você demorou dias para escrever, como se fosse nada, o reduzido a uma insignificância de fazer doer, dá vontade de perguntar o que essa pessoa está fazendo no teatro.

 

Tudo isso sem contar a dificuldade de receber os direitos autorais. Mas, se não sabem da importância do texto, como vão saber dos direitos autorais? Quem escreve, vive de brisa, se alimenta das palavras que coloca no papel, não precisa receber pelo seu trabalho. O dinheiro da bilheteria pode ser dividido pelo grupo, mas o dramaturgo não faz parte desse bolo. Dramaturgo não tem fome, não é?

 

Até quem escreve por amor, hobby, ou sei lá o que, precisa de um mínimo de reconhecimento, nem que seja um: “-Que bom o seu texto!”. Só que o que recebem é desdém, desrespeito e desvalorização. Tem gente que não tem noção, brincam de fazer teatro e pensam em fazer do texto o seu brinquedo mais original. Isso tudo, mediante a um: “-Empresta o texto aí pra mim!”

 

Há de se rever os conceitos de como valorizar um texto. É preciso acabar com essa mania de copilar textos para transformá-los em cenas curtas. Se querem apresentar cenas curtas, usem textos curtos. Um texto só tem sentido quando lido e apresentado por completo. Remendar um texto que foi pensado de uma forma é um desserviço para o teatro e não acrescenta nada.

 

Que ao texto, seja dado o seu devido valor, pois, do mesmo modo que não é nada fácil interpretar, deve-se ter a consciência de que escrever um texto é algo muito mais complexo e que demanda bem mais transpiração do que inspiração. Escrever, apenas parece simples, mas não é!

 

Por isso, repensar essa coisa de achar que um texto é uma coisa simplista e quem o escreve não precisa receber por ele, já é um bom começo. Afinal de contas, dramaturgo, também, come, bebe, dorme e precisa ter dinheiro para ir ao teatro.  

O Palhaço

O dia amanheceu chuvoso e frio, o que por si só já estimulava uns minutos a mais de sono. Mas, aquele cidadão já idoso, que era tentado a permanecer mais um pouco embaixo dos lençóis, não podia se dar esse direito. A labuta de todo dia lhe chamava a cumprir suas obrigações. Mesmo com o passar dos anos, ainda se fazia necessária. Como é com outros tantos trabalhadores.

 

Só que ele não era um trabalhador comum. Nem seu trabalho era comum. Aliás, muitos, na verdade, nem consideram que seja um trabalho, mas é! Acho até que o melhor de todos os trabalhos. Só que sem direito a folgas, sem direito a lágrimas, sem direito a adoecer, nem mesmo ficar triste, por mais tristeza que possa sentir. Mas, apesar de todas as adversidades e condições, ele se pôs de pé e saiu para mais um dia de trabalho.

 

Com andar vagaroso de quem já correu muito, ele seguiu calmamente até chegar em seu pequeno camarim. Sim, aquele velho cidadão era um artista! Mas não um artista qualquer, ele era o verdadeiro artista. Calmamente, como tudo que ele fazia, trocou sua roupa de cidadão comum e vestiu o seu figurino de cores vivas e alegres. Nada condizente com toda aquela melancolia estampada em seu rosto.

 

Os cabelos esbranquiçados, o olhar cansado, o rosto marcado, aos poucos iam se transformando em frente ao velho espelho. Cada cor pintada em sua face tinha o poder de rejuvenecê-lo e dar um novo brilho ao seu olhar. Na ponta do nariz enrugado, uma bola vermelha, nos pés, um par de enormes sapatos e sob os cabelos esbranquiçados, uma embaraçada peruca. E refletido no espelho, um enorme sorriso. Um riso de quem irradia felicidade.

 

Então, ele adentrou ao picadeiro, lépido e fagueiro como quem tem uma juventude eterna, meio que destrambelhado, com toda certeza, propositada-mente, pois, sabia que as gargalhadas não demorariam a encher todo o ambiente. E dito e feito. Não demorou muito para que o único som ouvido fosse o som de enormes gargalhadas, sem composturas e desavergonhadas. Pareciam todos, crianças inocentes. Ah, como foi bom!

 

Saciados de felicidades, todos que gargalhavam, deixavam o local com as almas lavadas, ávidos para retornarem o mais breve possível. Enquanto do outro lado, no pequeno camarim, em frente ao velho espelho, quem fez a alegria de tantos, se desfazia do figurino, da maquiagem, e da alegria e voltava a sua vida comum.