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E viva os festivais!

Não existe nada mais democrático do que um festival e quando se trata de festival de teatro, seja ele amador ou estudantil, de cenas ou de monólogos, isso se mostra muito mais verdadeiro e valoroso, Pois, quantos grupos, atores, diretores, de vários lugares do país, tem a oportunidade única de trocar informações, conceitos e concepções, e ainda por cima mostrar o seu trabalho quando de um festival?

Poder levar o seu espetáculo além de sua aldeia, ou até mesmo dentro dela, inovando, experimentando, ousando, ou simplesmente colocando em cena aquilo que você sempre idealizou, muitas vezes só é possível nos palcos de um festival e muitos, esperam, ansiosos, a realização de cada um deles.

Graças ao deus Dionísio, cada vez mais, mais cidades estão realizando festivais de teatro pelo Brasil afora e muitas das cidades que já os realizavam, vem ratificando as suas exibições, solidificando assim, o movimento por um teatro mais forte, o que por si só, acaba contribuindo de uma maneira geral para todo o segmento teatral.

É claro, que muitos destes festivais, não contam com nenhum tipo de apoio de órgãos governamentais ou de mídia e são, na sua grande maioria, realizados com esforços de algumas pessoas que sabem da importância de um festival para quem faz teatro e precisa desse tipo de intercâmbio, até mesmo para avaliar como anda o seu trabalho.

Não existe lugar mais propício para se descobrir talentos. Quantos atores, diretores, dramaturgos, cenógrafos, iluminadores, sonoplastas, despontaram para uma carreira de sucesso nos palcos de um festival? Mesmo que nem todos os espetáculos mostrem qualidade, um festival de teatro sempre valerá a pena.

Então, a todos aqueles que tem a oportunidade única de participar de um festival, que façam de suas apresentações um momento de engrandecimento de sua arte, independentemente de ganharem ou não algum prêmio, pois num festival, o que vale, é a participação, o intercâmbio e a chance de poder mostrar o seu trabalho.

Agora, desliguem os seus celulares, não fotografem com flash, pois já vai começar em algum lugar do Brasil, mais um festival de teatro. Merda à todos!

 

O tempo é senhor da razão

Nada na vida nos acontece por acaso, nem da noite para o dia. Nem mesmo por um golpe da sorte ou do destino. Tudo o que nos acontece é o resultado de todos os esforços que fomos capazes de fazer para realizar aquilo em que acreditávamos. De toda a decepção, que fomos capazes de suportar quando não atingimos o que desejávamos e de tudo aquilo que conseguimos adquirir e aprender durante a nossa dura caminhada.

Quem pensa que a vida de artista é um mar de rosa, nunca navegou realmen-te por esse mar. Nem sempre se tem a coragem suficiente para enfrentar as suas fortes correntezas que arrastam os mais despreparados para longe de margens seguras. Por vezes falta a coragem para desafiar esse mar, que o mais prudente é permanecer em porto seguro até se sentir realmente preparado para seguir viagem.

Muitos jovens, ávidos por uma aventura, não medem as conseqüências e se atiram neste mar, certos que vão ser capazes de segurar o leme do barco, mas se perdem na primeira tempestade. Nem sempre se precisa ter presa, mas tem de ter a consciência que quanto maior for a demora, mais longo será o seu caminho.

E durante esse longo caminho, por várias vezes, em muitos momentos, ele nos parecerá tão longo e o final tão distante, que se pensará seriamente em desistir. Mas, a esta certa hora, isso já não será mais possível, pois voltar pode ser um caminho ainda mais longo. E como superar esse momento? Com o tempo, pois o tempo é o senhor da razão.

Ás vezes, as decepções e as injustiças são tão grandes, que a emoção nos domina e nos faz achar que nada valeu a pena, que ninguém reconhece os nossos esforços, que não temos talento suficiente para chegar ao topo, que não recebemos o reconhecimento que achamos que deveríamos, e que enfrentamos inutilmente o tal mar bravio.

Mas, o tempo, sempre o tempo, o velho senhor da razão, nos faz ver que tudo valeu a pena, que estão sim, reconhecendo os nossos esforços, que sabem o quão grande é o nosso talento, pois sempre vem um incentivo aqui, um comen-tário nos elogiando ali, um, “parabéns pelo trabalho” acolá, um “continue assim, pois você está no caminho certo”, e pronto, já é o suficiente para nos sentirmos revigorados e plenamente capazes de enfrentar novamente o mar bravio.

É, a vida artística pode refletir somente o seu lado glamuroso, mas tal e qual qualquer outra profissão, é feita de altos e baixos, vitórias e derrotas, sucessos  e fracassos, só precisamos saber escutar a voz do tempo, pois ele saberá nos dizer o quanto o nosso trabalho é bom e vitorioso e o tanto de mar que nós fomos capazes de atravessar.

Ignorância de algumas pessoas em relação ao teatro.

- Com que você trabalha?

- Teatro?

- Eu estou falando trabalho!

Quem nunca passou por essa situação?

Tem pessoas que ainda não vêem teatro como uma profisão. Assim como um médico, um engenheiro, um jornalista  tem que fazer cursos para aprimorar suas técnicas, um ator também precisa.

O fato, é que um ator não pode ser médico - sem fazer cursos -, mas agora um médico pode muito bem fazer "teatro", mas não é chamado de profisão, é chamado de hobbie. Por isso que algumas pessoas acham ainda que o teatro é usado somente para o lazer.

Para pessoas que acham que o teatro é apenas lazer está extremamente enganado, porque o teatro pode alertar as pessoas, ou até mesmo ajudá-las a resolver os problemas que uma determinada sociedade vive. Você deve estar se perguntando: Como?

O Augusto boal, conhecido por "dar voz às platéias" - falecido do dia 2 de março de 2009 -  criu o teatro do Oprimido, dividido em três tipos: teatro imagem, teatro invisível e teatro fórum, mas como esses três tipos de teatros podem ajudar?

O teatro imagem é uma técnica onde procura transformar em imagens cênicas aquilo que interessa ao determinado público alvo, apresenta-se em forma de imagem, ou seja, o grupo de atores mostra a imagem com uma determinada opressão que a sociedade sofre, e os mesmo tem que resolvê-las interferindo nas imagens para chegar a imagem ideal (a imagem com a opressão resolvida).

O teatro invisível é uma forma de encenação na qual apenas os atores sabem que de fato há uma encenação,  o “espectador” torna-se participante inconsciente da representação imprevisível.

O teatro fórum é a principal técnica do teatro do oprimido, no qual personagens oprimidos e opressores entram em conflito de forma clara e objetiva, tudo isso baseado em fatos reais. No primeiro confronto, o oprimido fracassa e o público é convidado a entrar em cena, substituir o oprimido e buscar alternativas para o problema encenado.

Com o teatro do oprimido não vamos acabar com as opressões, mas impõe alternativas para a transformação. O teatro do oprimido não é a única opção.

Quero deixar uma coisa bem clara, não estou criticando as pessoas que usam o teatro em alternativa para o lazer, mas estou criticando as pessoas que acham que teatro é somente para o lazer.

A nova dramaturgia

Quando algum grupo de teatro pensa em montar um espetáculo, pensa logo em algum texto de um dramaturgo famoso. Dificilmente se aposta em um novo dramaturgo. Será mais fácil partir para um espetáculo com um texto de um dramaturgo consagrado? Ou será que não existe uma nova dramaturgia que valha a pena?

 

Os poucos novos dramaturgos que surgem no cenário teatral, estão quase sempre ligados a algum grupo e conseguem assim, ter uma maior facilidade para mostrar os seus trabalhos. E deve-se deixar bem claro que dentre estes grupos teatrais, muitos novos dramaturgos tem se destacado, mostrando que existe sim, uma nova dramaturgia sendo feita.

 

Complicado é para aqueles que não estão ligados à nenhuma companhia teatral, pois parece faltar coragem a certos grupos para apostarem do novo. Existe muita coisa boa sendo produzida em termos de dramaturgia, só que não há espaço para que esta seja apresentada ao público. São raras as oportunida-des que surgem e são poucos aqueles que conseguem mostrar o seu trabalho.

 

A comodidade de remontar por várias vezes o que já foi incansavelmente mon-tado, parece não incomodar certos grupos, que não titubeiam na escolha de clássicos, certos que terão uma bilheteria garantida. Mas, muitas vezes, o público já se cansou tanto de ver a mesma coisa, que desiste de ir ao teatro. E o que poderia ser uma consagração, acaba sendo um fiasco.

 

A nova dramaturgia clama por novas oportunidades e pede espaço para mos-rar que existe. Enquanto os grupos de teatro não abrirem espaço, muita coisa boa vai continuar escondida nos discos rígidos de computadores pelo país afora. A renovação de teatro não se faz apenas com novos atores, se faz também com uma nova dramaturgia.

 

De nada adianta as instituições ligadas à cultura realizarem concursos para escolher novos dramaturgos, se esses premiados novos dramaturgos não conseguem ver seus textos montados, pois os grupos de teatro preferem, por via das dúvidas, optarem pelo que já é tão consagrado.

 

Idéias novas, de gente nova, com um novo olhar teatral, revigora, estimula, incentiva a experimentação, por isso, você que tem um grupo de teatro, pesquise, busque, abra espaço para que o novo dramaturgo possa mostrar o seu trabalho, pois só assim, a nova dramaturgia vai poder mostrar a sua cara.

 

Aos olhos do público ou do crítico?

Sempre que se pensa em colocar um espetáculo nas ruas, muitos fatores são e devem ser analisados. Mas, o que mais interessa é ter a consciência de estar fazendo um trabalho com a mais pura honestidade. Desde a escolha do texto, passando pelo elenco até chegar à direção do espetáculo. E o que se quer afinal? Ora, se quer os aplausos do público!

E é isso mesmo que interessa. Qualquer outra resposta é puro discurso politicamente correto para fugir de eventuais insucessos. Agradar o público é o principal objetivo de quem monta um espetáculo, e não adianta dizer que não. E a palavra da crítica, como fica nessa história? Se vier para ajudar, muito que bem! Mas se tiver apenas o caráter pichador, deixe-a, não lhe acrescentará nada.

Dizer que um espetáculo é bom porque foi aprovado pela crítica é conversa fiada, pois desde quando a opinião e o gosto do crítico traduzem a opinião e o gosto do público? Quantos espetáculos são aclamados pelo público e desprezados pela critica? Se o crítico não entendeu, paciência. O que interessa e sempre vai interessar, é a opinião do público.

Ter a certeza que se fez o melhor que se foi possível (sim, pois ás vezes não se tem recursos para se fazer o mínimo). é o que basta. E tê-lo feito para o público e não para crítica (pois, existem muitas coisas feitas exclusivamente para agradar a crítica) já é o suficiente para justificar a sua produção.

Vise sempre dirigir um espetáculo para conquistar o público. Escreva sempre para conquistar o ator, atue sempre para conquistar a platéia. Esqueça a crítica, pois na maioria das vezes, aos olhos da crítica, nada presta. O “gostar” é uma coisa muito subjetiva na vida das pessoas e não se agrada à todos, não tem jeito.

Se por acaso, algum dia, a crítica lhe “tascar” a lenha, não lhe dê muito importância, continue firme no seu propósito de levar a sua arte da maneira que você ache a mais honesta possível, pois, a crítica... bem... essa, volta e meia também muda de opinião. É só o público aclamar o espetáculo como divino, para o que antes era besta, passar a ser bestial.

Aos olhos do público, não interessa o que vê os olhos da crítica, pois o público é inteligente, sabe discernir o bom do ruim. E é assim que deve e tem de ser, fazer arte para o público, se a crítica gostar, muito que bem, mas se não gostar, paciência!...

O ator e seus fantasmas

Muito mais difícil que possa parecer, estar em cima de um palco interpretando a vida de uma personagem, é enfrentar e ter de conviver e esconder os medos e os fantasmas que atormentam a vida real de um ator. E não é nada fácil conviver com todos eles, pois, o glamour em que foi transformada a profissão do ator torna as coisas ainda mais difíceis.

 

Quando um ator pisa em um palco, o medo de esquecer o texto, o atormenta por todo o espetáculo. O fantasma do fracasso ronda toda a temporada em que o espetáculo fica em cartaz. A opinião pública é sempre aguardada e a crítica, por muitas vezes, apavora. Esses são apenas alguns sintomas que um ator tem de enfrentar.

 

Ser ator requer muito mais que saber interpretar o texto, que saber colocar a voz, que saber comover, emocionar ou fazer rir. Ser ator não é apenas querer aparecer na TV, receber aplausos e elogios. Ser ator é estar preparado para vencer os medos e os fantasmas. É saber que nem todo fracasso é definitivo, nem o sucesso. Muitos não resistem ao primeiro espetáculo.

 

Nada há nada mais decepcionante do que se sentir senhor de si, dono da situação, certo de estar fazendo uma grande apresentação sobre um palco, e, ao final, receber uma crítica, ou vaias e apupos, ou ainda, comentários pejorativos sobre sua atuação, mesmo que você ainda seja iniciante. Por isso, se preparar para esses percalços pode fortalecer a sua carreira profissional.

 

O ator não pode e não deve se achar, acima do bem e do mal. Não pode nunca estar satisfeito com o seu trabalho. Tem que estar sempre buscando melhor. Tem ainda de saber assimilar as críticas e ter a humildade suficiente para se aprimorar cada dia, mais e mais. Só assim, conseguirá reunir as condições necessárias para enfrentar todos os medos e fantasmas que atormentam um ator, e vencê-los todos.

 

Preparar o seu psicológico para o sucesso e para o fracasso, deve ter a mesma medida do que se preparar para atuar e ser um grande ator. Um ator psicologicamente preparado para enfrentar todos os medos e fantasmas, saberá lidar melhor com a carreira tão difícil quanto está. E não perderá o foco quando esses medos e fantasmas rondarem a sua vida.

 

Lembre-se que nem sempre se agrada à todos. O que pode ser bom pra mim, pode não ser bom para você, mas nem por isso, significa que você faz algo que lhe desmereça. Saber vencer os medos e os fantasmas fortalece um ator e o tornará cada dia melhor. E isso vale para o diretor, para o dramaturgo, para o iluminador, para o cenógrafo, para todos.