Não é de hoje que ouço comentários que dão conta do desrespeito que alguns atores tem com as crianças. Existem espetáculos infantis que demonstram não se importarem em nenhum instante com a presença da criança na platéia. Talvez seja uma coisa até intuitiva, feita sem se perceber, mas é aí que reside o problema.
Muitos atores não tomam o devido cuidado, principalmente com gestos e com a inclusão de cacos em alguns espetáculos infantis. A inserção de gírias e de um palavreado não condizente com o público infantil que está assistindo o espetáculo, podem colocar abaixo algo que tinha tudo para ser um sucesso.
Na apresentação de um espetáculo infantil, muito mais do que tentar fazer caras e bocas para conquistar a criança, há de se prestar a atenção com o texto. Respeitar ao máximo o que autor quis passar com a história é muito mais importante. Seguir o texto na íntegra, por si só, pode ser o sucesso de um espetáculo.
Há de se tentar sempre buscar a excelência quando o assunto é criança, ela merece ser respeitada. Não adianta cenários bonitos, figurinos luxuosos, um texto bem escolhido e com uma história adequada ao público infantil, se na hora da apresentação o ator em cena descamba para a interpretação de cacos e gírias atuais, apenas para fazer graça com a criança.
Na maioria das vezes, quando os atores enchem os espetáculos infantis de cacos e gírias da moda, acaba atingindo somente os pais, que desarmado de censo crítico, se deixam levar pelas “palhaçadas” e caem na gargalhada. Só que nem sempre se consegue atingir a criança, que às vezes, apenas ri porque o pai está rindo e a mensagem proposta, acaba ficando pelo caminho.
Espetáculo infantil não é, nunca foi e nunca será o objeto de experimento para atores. Quem pensa desta maneira, está redondamente equivocado, pois Teatro Infantil tem que antes de mais nada, respeitar a criança como criança, pois ela, somente ela, é o público que se quer atingir.
Será assim, buscando a excelência e seguindo o caminho da seriedade, que se fortalecerá o Teatro Infantil e que se tornará possível transformá-lo em um produto sem contra-indicações para uma criança.
Pode parecer que não, mas você pode encontrar trabalhos muito interessantes longe dos holofotes. Aliás, acho que os melhores trabalhos sempre são feitos longe dos holofotes. Quantos e quantos espetáculos de qualidade são apresentados em pequenas salas sem nenhuma divulgação de mídia?
Já falei por várias vezes em outros artigos, que o artista não precisa viver correndo atrás de uma vaga na televisão, ele tem que se preocupar em fazer o seu trabalho com verdade, pois, só assim, terá o seu trabalho reconhecido. Isso acaba acontecendo uma hora ou outra e a tão sonhada chance na televisão chega, e chega por mérito.
É claro que também existem os artistas que preferem fazer carreira longe dos holofotes televisivos. Cada um sabe melhor a forma pela qual quer transmitir a sua arte. Mesmo porque, a televisão não dá um atestado indiscutível de que o trabalho é de excelência, pois, por muitas vezes, na televisão, vimos trabalhos de pouca qualidade artística e sem nenhum valor cultural.
Talvez, a vantagem de estar sob os holofotes, seja uma maior visibilidade ao trabalho que se faz, bem como o reconhecimento por um número maior de pessoas, isso, com certeza, dará “up grade” na carreira do artista.
A única coisa com a qual discordo é com esse pessoal novo que vem fazer teatro achando que só o caminho da televisão é que é o supra-sumo. Se eles soubessem o quanto se pode ser reconhecido longe dos holofotes, na certa, teriam um outro pensamento e buscariam engrandecer o seu trabalho, para aí sim, depois, se for o caso, chegarem à televisão.
Ás vezes, muito tempo exposto às luzes dos holofotes, pode fazer que um trabalho de boa qualidade, perca o seu foco, por isso, é preciso saber levar seu trabalho à sombra, para depois se acostumar com as luzes fortes dos holofotes.
Então, não se preocupe muito com essa questão, faça o seu trabalho com toda sua verdade e sinta-se sempre sob a luz de um holofote, pois mesmo na sombra existe um público ávido para apreciar o seu trabalho.
Existe certa confusão, principalmente em quem está se iniciando no mundo das artes, entre o que seja um roteiro para cinema e/ou TV e um texto teatral. Muito embora, aparentemente, os dois se utilizem da mesma estrutura de diálogos para contar uma história, eles são completamente diferentes em seus resultados finais.
Enquanto num roteiro é possível apresentar a história de uma forma não linear, onde a descrição de fatos não segue uma ordem cronológica e ainda se é possível utilizar-se de imagens para reforçar a ação, no texto teatral, principalmente, aqueles que optam pela estrutura “Aristotélica”, a história é contada através de uma forma linear, obedecendo a seguinte ordem: exposição, conflito e resolução.
Embora, ambos se alimentem de uma mesma ação dramática, pois colocam os seus personagens em conflitos em busca de suas resoluções, a forma em que eles são apresentados é completamente distinta e não pode ser confundida, pois cada qual representa uma linguagem diferente.
Um roteiro é peça de uma obra áudio-visual, onde além das interpretações dos atores, outros elementos, como imagens, completam a ação, já um texto teatral é peça de uma obra de artes cênicas, onde a dramaturgia está baseada nos diálogos que permeiam as ações e interpretações dos atores.
Muitos diretores de teatro até se arriscam em misturar as duas linguagens, trabalhando artes cênicas com incursões de recursos áudio-visuais. Uns, até organizam espetáculos teatrais partindo de um roteiro e não de um texto dramatúrgico, só que no meu ponto de vista, eles estão criando uma outra linguagem e que não deve ser confundida nem como roteiro de áudio-visual, nem como texto teatral.
Mas, uma coisa precisa ficar bem clara, principalmente para quem está conhe-cendo o mundo das artes, roteiro não tem nada a ver com texto teatral, mesmo que volta e meia eles se cruzem e confundam a cabeça das pessoas, cada um tem a sua praia.
Por isso, se você faz teatro, vai se utilizar sempre de textos teatrais, já se você faz ou pretende fazer cinema, vai sempre se utilizar de roteiros. Mas, se você freqüentar as duas praias, vai ter de saber diferenciar um do outro, pois Roteiro não é Texto Teatral e nem Texto Teatral é Roteiro, ok?
Rubens Correa, esse grande homem do teatro, escreveu um artigo que me comove até hoje. Suas últimas palavras nunca me sairam da cabeça: preservar o cálice, domar o cavalo, estimular o fogo e soltar o menino.
Assisti recentemente ‘Por Trás do Pano’, dirigido magistralmente por Luiz Villaça e encabeçando o elenco, Denise Fraga e Luís Mello, que, para variar, estão brilhantes. O filme conta a história de um ator experiente que contrata uma atriz novata para encenarem Macbeth. Ela se mostra super dedicada, enquanto ele, liga o piloto automático e frisa que o que estão fazendo é só mais uma peça. A partir daí tem início o conflito. E ponto. Não contarei mais nada. É um filme que vale a pena ser visto inúmeras vezes. Uma grande aula.
Quantas vezes você já foi ao teatro e viu o ator ligando o piloto automático? Ele estava no palco apenas de corpo presente, mas com o pensamento lá fora, pensando no que vai comer depois do espetáculo. Já presenciei isso inúmeras vezes. E não eram só atores novatos, não. Eram os tarimbados, que faziam coisas excepcionais antigamente, mas que hoje cairam na mesmice repetindo as velhas fórmulas... E não só atores, mas diretores também.
Como era bom ver o deus Paulo Autran
Quais os motivos que levam determinados atores a entrarem em cena com o fogo brando e feito múmias paralíticas? Por que o teatro não os satisfazem mais. É essa a resposta? Então deveriam se aposentar ou mudar de profissão.
Fico furioso quando estou ensaiando e determinada pesssoa quando está fora de cena, ou em cena mesmo, fica olhando insistentemente para o relógio aguardando pelo fim do ensaio ou quando deixa a porcaria do celular ligado e interrompe a ação para atendê-lo. E quando não atende, temos que aguentar aquela droga tocando até parar. Que amor é esse que a pessoa nutre pelo teatro? Por que uma ligação é mais importante do que a cena que está fazendo?
E por que aquele ator que no meio de um processo criativo, interrompe o diretor para dizer que deu o horário e que determinada cena pode ser solucionada no ensaio seguinte, sendo que a solução poderia ser encontrada naquele mesmo ensaio e talvez 15 ou 20 minutos depois da hora estipulada?
É muito triste saber que isso está acontecendo cada vez mais. Certos atores estão muito moles e consequentemente o diretor também amolece, porque se o diretor for enérgico, é capaz do filho da puta abandonar o espetáculo no ensaio geral. E aí é aquele deus nos acuda.
Mas será que esses merdas tem essa atitude quando estão sendo dirigidos pelo Antunes Filho, Zé Celso ou outro diretor renomado? Claro que não. Porque se fizerem isso, são demitidos na hora.
Vejo muito o entusiasmo dos atores antes de tirarem o DRT, mas depois que recebem esse documento, se sentem os fodões, o centro do universo e com o ego em alta. ‘Agora eu sou um profissional’. Mas de que adianta ser um profissional se não faz juz a isso? Tive alunos de 11, 12 anos de idade que faziam teatro por hobbie, mas que agiam como profissionais e eles, com certeza, deixavam muitos atores com DRT no chinelo.
Tive muita sorte no meu início de carreira. Trabalhei com diretores extremamente enérgicos. Eram mais generais do que diretores. E ai daquele que saísse a linha. Recebia um coturno no meio da cara ou então um sermão que lhe deixava meses com angústia existencial. Confesso que até hoje guardo alguns traumas desta época.
Não sou nenhum pouco a favor de diretores tiranos, mas também odeio atores vagabundos, que não arriscam, que repetem velhas fórmulas, que trabalham sempre com o piloto automático, que olham pro relógio e atendem o celular. Esses, com certeza, deveriam refletir mais sobre o seu papel na arte para aumentar a chama desse fogo brando, ou então, mudar de profissão. Já temos em nosso mercado de trabalho um elenco enorme de molengas. Se você se encaixa num desses itens, deixo um conselho de amigo. Não seja mais um. Faça mais um teste vocacional e escolha outra atividade porque o público que paga pra te assistir não merece ser desrespeitado. E muito menos, o teatro, que muitos, infelizmente, desconhecem sua função.