Artigos Diversos

A função do artista

Mais do que entreter, o artista tem papel fundamental na sociedade, pois é através dele que se é capaz de exorcizar todos os fantasmas da vida comum. Seja lá através da música, do teatro, ou do cinema, são as histórias contadas e cantadas pelos artistas, que refletem toda uma sociedade.

É através da arte que muitas pessoas conseguem mudar os rumos de suas vidas, ou olharem a vida sobre um outro prisma, vide as oficinas culturais em comunidades carentes e as aulas de teatro frequentadas pelo cidadão comum.

Quem pensa em ser artista, deve pensar e ter a consciência de que seu papel na sociedade é bem maior do que aquele que ele representa em cima de um palco. Na maioria das vezes, o artista acaba sendo o "norte" de muita gente.

É claro que os problemas do mundo não podem e nem serão resolvidos pelo artista e sua arte, mas com certeza é através do artista que se retratam os problemas, mostram-se as tiranias, a violência da sociedade, bem com as "neuras", ambições, tristezas e alegrias dos seres humanos.

Mesmo que a sociedade não veja o artista deste jeito,  e ache sempre o seu trabalho de menor importância, a função do artista estará presente ali, na vida de cada um, influenciando de uma forma ou de outra, mesmo que essa sociedade não queira adimitir a importância que o artista tem na vida de cada um.

Por isso, quando lhe perguntarem porque você quer ser ou é um artista, responda-lhe que faz isso não só para exercitar o seu talento, ou massagear o seu ego, diga-lhe que você, enquanto cidadão, faz da arte e através dela, um instrumento de auxílio para uma sociedade melhor, mesmo que esta sociedade não saiba disso.

Triste é a sociedade onde a cultura não é enxergada como um instrumento de crescimento, não apenas cultural e intelectual, mas também como um instrumento de engrandecimento do ser humano.

De expectador à sentimental

Visões externas e nada edificantes sobre o "fazer Teatro" é sem dúvidas, uma quimera na grande parte das pessoas que compôem o dia-dia da vida.Vêm na arte teatral algo sem valor e um significado apenas momentâneo, preferem ser meros espectadores ao invés de conhecer a verdadeira essência que está escondida e ao mesmo tempo exposta nessa tão fábulosa arte.

 

A arte é uma forma de abrir a alma , e , como um fotográfo, revela todas as sensações que não temos coragem de apresentar no limiar dos dias e minutos vivídos. Mostrar e/ou criar um personágem, exige não somente um movimento mecânico de apresentar ao público que  de certa forma existe algum pedacinho de ator e do ser humano que, jás uma "cobaia",  gostosa de se viver tenta convencer e atiçar os sentimentos do expectador.

Ver externamente o Teatro como uma simples expressão de  cultura  ou de um momento de loucura e descontração pra cobrir os problemas vívidos na vida, é algo que ja se tornou clichê, essa manifestação vai além do cultural e  erudito ,talvez se provocarmos a alegria mesclada com o drama de uma obra bem articulada nos propósitos  afins... sem dúvida, marcará a quem achava apenas que a forma de interpretar e de viver o Teatro vivo não é um simples movimento rotineiro , mas desperta e revela no expectador - que não souberá sentir uma emoção mais ampla - a sua revelação interior.

O impacto, sem dúvidas,   terá  verdade.

A pirataria dos textos teatrais

Tal e qual o que acontece com os músicos, quem tem os seus direitos autorais vilipendiados por CD’s e DVD’s vendidos em bancas de camelôs, os dramaturgos também sofrem com a pirataria de seus textos.

 

Não é raro ouvir reclamações de dramaturgos que tem os seus textos montados sem que sejam observados no mínimo, os devidos créditos, quando não fazem pior, surrupiam descaradamente os textos, montam e apresentam como se deles fossem.

 

Não acredito que as pessoas que tomam esse tipo de atitude respeitem o teatro. E não venham me dizer que montar um espetáculo é dispendioso, isso tudo mundo sabe, mas e como ficam os dramaturgos?

 

A pirataria já é um câncer para os músicos, imaginem para os dramaturgos, que sofrem com as dificuldades de verem seus textos montados? Nada é pior, do que saber que seu texto foi montado, ganhou prêmio e sequer teve o nome de quem escreveu mencionado.

 

Acho que a consciência sobre a necessidade de se pagar os direitos autorais dos autores-dramaturgos deveria imperar nas cabeças daqueles que dirigem e/ou produzem espetáculos teatrais, bem como nos dirigentes de teatro e cultural, fazendo com que fosse obrigado apresentar a autorização da utilização do texto.

 

Mas parece que esse cenário está longe de ser mudado. A vida dos dramaturgos continuará sem o devido respeito, pois enquanto não se tomar uma atitude firme e responsável sobre o assunto, tudo ficara como está. Dramaturgos perdendo noites em claro em busca da história perfeita, e diretores e/ou produtores descarados, piratiando as suas obras.

 

O popular também pode ser arte

Não é de hoje que a discussão entre o erudito e o popular toma conta da cena cultural. Prega-se sempre que o sofisticado e o rebuscado, são atributos que representam genuinamente a arte, seja ela, literatura, pintura, música, teatro. Mas, como fica a arte feita para o povo?

Muitos podem atém dizer que não se faz arte verdadeira para o povo, coisa que até concordo. A arte que é entregue ao povo, não passa de arremedo, de engodo, puro entretenimento, e há de convir que a música representa muito bem esse quadro de falta de qualidade artística, basta ouvir o que toca nas rádios.

Mas, partindo do princípio de que tudo que é fruto da criação é a manisfestação pura da arte, o que deve ser discutido é se ela é de bom ou mau gosto. Acho que o resto faz parte de uma discussão infindável. A única coisa que não é e nem pode ser considerada arte, é foto de mulher pelada em revista masculina (mesmo que de vez em quando valha a pena dar uma espiadinha! Por pura curiosidade, não me levem a mal!) Mas, chamar a exposição da anatomia feminina revisada por photshop de nu artístico, chega a ser um acinte à todos os pintores que nos presentearam com as imperfeições dos corpos femininos em óleo sobre tela. Bem, só que isso é assunto para outra hora. A questão é se a arte pode ou não ser popular.

Analisando bem o quadro, pode se notar que o popular pode ser arte, tanto quanto o erudito pode se tornar uma arte feita para o povo, mas é claro que tudo depende de interesses mercadológicos. Se for lucrativo levar a orquestra à favela ou levar o funk para as festas da alta roda (coisa que já acontece), tudo se acerta através do preço que se paga.

Falando em funk, está aí a demonstração de que o popular pode virar arte desde que interesses mercadológicos sejam satisfeitos. Tanto que até já se cogita transformar o funk em patrimônio cultural. Pode?

É isso aí, meus amigos, não vale a pena arrancar os cabelos em busca de fazer a verdadeira arte, aos olhos do povo e aos interesses da mídia, isso não tem lá muito importância. Se a mídia quiser fazer do ballet clássico, do teatro, algo realmente popular, isso acontecerá, enquanto isso, apure bem os seus sentidos e não se aborreça tanto, pois o popular também pode ser arte, mesmo que seja através de interesses mercadológicos e não agrade quem vê a arte de outra maneira.

Ah, e antes que me atirem pedras, quero deixar claro que esse popular não tem nada a ver com a cultura popular, que a manifestação artística de um povo, onde a arte encontra refúgio para se realizar plenamente e o artista se sente completo. Mas essa, coitada, não é assim tão popular, a não ser uma ou outra festa que atende os tais interesses mercadológicos.

Na minha Não!

No espaço subterrâneo do Centro Cultural de São Paulo está em cartaz a peça Navalha na Carne, de Plínio Marcos. O elenco conta com os atores Gero Camilo, Gustavo Machado e Paula Cohen, com direção de Pedro Granato. O local para apresentação é muito bem arquitetado pela simplicidade. Ao entrar, uma “cortina” de fios de plásticos; um dos atores está já na porta para receber o público. A sua frente já se pode ver uma cama redonda de motel e, a sua volta quadro canos de luz; uma porta de ferro muito bem feita que apenas se tinha a parte central e o coração vermelho que piscava metade para cima e depois metade para baixo. Ficamos em forma de arena e, enquanto o público se ajeita nas cadeiras os atores interagem com seus novos vizinhos. Todos a postos. Sob patins, shorts azul claro e uma camiseta regata, ouve a voz imponente de Gero Camilo com a seguinte canção: “ Quando eu digo merda, eu quero dizer Axé...Evoé! Repetido algumas vezes o refrão, o espetáculo se inicia. Merda. Navalha na Carne conta a história do cafetão Vado, da prostituta Neusa Sueli e do homossexual Veludo. A trama se desenrola quando, Neusa chega do trabalho e deve entregar o dinheiro ganho na noite de trabalho a Vado porém, quando eles percebem o dinheiro sumiu e deduzem que foi Veludo que levou a grana, já que ele é o faxineiro do motel. A boa pinta e malandragem do cafetão; a insanidade sã da prostituta e o bom humor do gay transformam a peça em uma comédia apesar de todos os problemas vividos pelo os personagens. A mulher, nesta peça de Plínio, mostra um lado mais sórdido, diferente de “ Quando as Máquinas Param”. A carência e a dificuldade da profissão de Neusa Sueli a deixam presa a um homem que a maltrata, humilha e a deixa a ver navios. Cenas de sexo entre os três atores simultaneamente desvendam a posição de cada um durante o espetáculo. Veludo, apesar de se portar como uma dama, consegue dominar Vado, enquanto Neusa até o fim não passa de um boneco. Quanto a atuação. Gero Camilo é excelente. Tem uma puta potência vocal, presença e sabe lidar bem entre as situação cômicas e dramáticas. Só parei pra pensar durante um momento: “Porque ele só faz personagem homossexuais?” Claro que ele já fez outros tipos de personagens, mas na minha cabeça só me lembrava do marido de Rodrigo Santoro em Carandiru. O cafetão, interpretado por Gustavo Machado é bom. Apenas no inicio do espetáculo que não era possível entender uma só palavra que ele dizia; a fala era rápida e, na hora de pronunciá-las ficou tudo grudado e incompreensível. Já Paula Cohen,achei ela ótima, mas ficou uma dúvida, pelo menos para mim, será que a profissão de Neusa a deixa tão traumatizada, juntamente com a carência afetiva, que ela é uma pessoa inquieta e até pode ser vista como louca ou ela usa drogas para se manter ligada no trabalho? A personagem não parava um minuto, Subia e descia da cama; se deitada parecia que tava ligada na tomada, andava de um lado para o outro. Confesso que ainda não li a peça, agora me ficou mais urgente essa leitura para entender se foi uma interpretação da atriz ou se de fato foi o Plínio quis para sua personagem. Navalha na Carne ficará em cartaz até o dia 19 de fevereiro, de terça a quinta-feira ás 21h. Bye bye, baby!

A americanização de nossa cultura

Outro dia fui ao cinema e observei um fato interessante e ao mesmo tempo preocupante. Nenhum dos filmes em cartaz era nacional, todos estrangeiros, mais precisamente americanos. Nada contra as produções estrangeiras, porém, me preocupa um país que não valoriza sua própria cultura e vive às sombras de outras influências muitas vezes desconhecidas. Me causa estranhamento quando ando pelas ruas de minha cidade e me deparo com jovens curtindo músicas em inglês sem nem mesmo saberem a língua para entenderem o que estão ouvindo. Me preocupa quando as escolas incentivam nossas crianças a comemorarem o halloween e não ensinam sobre nossas lendas como saci perêre, Iara etc.

É realmente preocupante ver outras culturas invadirem nosso país e aos poucos irem tomando todos os espaços que temos. A continuar desta forma, daqui a algum tempo não teremos mais cultura própria, pois ela será simplesmente engolida pela tal globalização (ou diríamos, AMERICANIZAÇÃO?). Penso que é salutar conhecermos outras culturas, até mesmo para o enriquecimento cultural, porém nunca devemos perder nossas bases, nossas raízes, que são nossos fundamentos primeiros. De vez em quando me deparo com produtos importados com nomeclaturas todas em inglês, o que me parece uma imposição que aos poucos vai tomando força.

Por outro lado, olho em volta e vejo um país que não dá a mínima para sua própria cultura, e que faz questão de matar todos os dias o que ainda resta dela. E vejo isso quando ligo a televisão e me deparo com os reality show´s da vida que colocam a cultura como sendo lixo, uma “fábrica de ídolos”, como se um artista, um músico pudesse ser fabricado na frente das câmeras. E o pior é que eles fabricam, e depois, vendem aos montes os produtos destes ídolos à massa popular que me parece ipnotizada com tanto lixo cultural.

Vejo a mídia criar as mulheres frutas e venderem como se fossem produtos culturais, e o povo, o povo simplesmente aceita e engole numa boa, (e ainda fazem uma verdadeira salada...).

Quanto mais olho em minha volta, minha angustia aumenta ainda mais, por ver meu país, minha cultura se definharem a cada dia como que num processo de degeneração contínua. Outro dia vi na internet as famosas pérolas do enem 2009, onde a mídia usa os absurdos escritos nas provas pelos nossos alunos para divertir os próprios alunos, e o pior, é que todos acham graça, como se fosse lindo ser ignorante e medíocre. E analisando a situação, vejo que estamos em um caminho bem complicado, pois como podemos reivindicar respeito e valorização à nossa cultura se nós mesmos cuspimos nela todos os dias? É possível cobrar respeito sem se dar o devido respeito?

Bem, apesar de tudo sou um esperançoso inveterado, e acredito piamente que esse quadro pode se reverter, que a nossa cultura pode sair desse “coma induzido” e se recuperar totalmente. Para isso precisamos de vontade e muito esforço para lutar e ir na contração da tendência à mediocridade cultural que tenta se enraizar em nosso meio. Não podemos aceitar passivamente essa “americanização” imposta a ferro e fogo. Afinal, não podemos ficar “deitado eternamente em berço esplêndido”, precisamos é acordar e lutar pelo que é nosso, antes que seja tarde demais.