Artigos Diversos

O Teatro Estudantil

Em tempos idos, o teatro estudantil brasileiro já teve muita importância no cenário das artes cênicas nacional. Tempo de Paschoal Carlos Magno, um dos maiores incentivadores do teatro para estudante. Hoje, mesmo que timidamente, parece que o movimento quer ressurgir.

No Rio Grande do Norte, a Universidade Federal realizou este ano, a 6ª. edição de um Festival voltado só para estudantes, em Santos, em Outubro, ocorreu a 3ª.  do Festival de Teatro Estudantil que leva o nome de Paschoal Carlos Magno. São apenas amostras de que existe um movimento, ainda sem grandes proporções, para que se retome a tradição dos Festivais Estudantis no Brasil.

É claro, que hoje, talvez não se consiga a magnitude dos Festivais dos tempos de Paschoal Carlos Magno, mas pelo menos, existe a iniciativa que sinaliza para uma retomada forte e isso, no momento é o que importa. Além dos festivais citados, há ainda informações de quem em várias escolas do país, muitas peças têm sido encenadas por alunos de várias faixas etárias, e até mesmo pequenos festivais estão sendo realizados.

Mesmo que a maioria dos alunos não tenha o devido talento para tornar-se um artista de sucesso, é possível garimpar nesse tipo de iniciativa, potenciais talentos, que lapidados, tornar-se-ão artistas de grande sucesso. Quantos atores que contam com prestígio nacional hoje em dia, não vieram dos palcos dos festivais realizados por Paschoal Carlos Magno?

Sem contar que a participação de estudantes nesses festivais, acaba despertando o interesse e o gosto pelo teatro e com certeza mais tarde, mesmo que nenhum deles resolva seguir a trajetória de um ator, terá formado por certo, espectadores assíduos do teatro. Só por isso, a iniciativa de realizar festivais estudantis, já terá valido a pena.

Uma pena que ainda são poucas as iniciativas de reavivar o Teatro Estudantil no país. Quem sabe se mais e mais festivais começassem a despontar pelo país á fora, fomentando a arte do teatro e transmitindo cultura para os jovens, o cenário do teatro fosse outro?

Festival é o lugar do novo, do experimento, do arriscar. E que lugar melhor para que se faça isso que um festival estudantil? Que essas poucas iniciativas não percam fôlego e acabem ficando pelo caminho.

O duro trabalho de criação

Quando se vê a peça em cartaz, o livro publicado, a peça escrita, não se imagina o quão duro foi o trabalho de criação até que se chegasse ao resultado final. As noites em claro atrás da palavra perfeita, os ensaios intermináveis até a interpretação ideal, mas quase ninguém leva isso em conta.

O processo de criação é como a gestação de um filho e a tarefa árdua de conceber um trabalho bacana é por muitas vezes desgastante. É a idéia que emperra. É a emoção que não se consegue atingir. Ás vezes, quase que com o trabalho pronto, se percebe que não é bem aquilo que se buscava e tem-se de recomeçar. Não é fácil!

Não estou discutindo a questão da qualidade, ás vezes as pessoas concebem coisas ruins mesmo, mas nem por isso, não tiveram um trabalho duro de criação, mesmo que o resultado final mostre uma total falta de criatividade ou falta de talento. Mas, tem gente que não tem jeito pra coisa, mas isso é assunto para outro dia.

A questão é que todo trabalho artístico passa por um processo muito duro de criação, na maioria das vezes, extremamente exaustivo. É a idéia que não vem. É a palavra que não encaixa. É o gesto que não combina com a personagem, o andar, o se portar, o sotaque, nada combina. São muitas idas e vindas até o produto final, por mais simples que ele seja.

Só que muitas pessoas, depois do espetáculo em cartaz, do livro pronto, da peça escrita, fazem comentários monossilábicos ou críticas do tipo não gostei disso, não gostei daquilo. Tudo bem que a crítica pode falar o que quiser e o artista deve e tem de estar sempre preparado para recebê-la, por pior que seja, mas no mínimo, tem de se respeitar o duro trabalho de criação que o artista teve.

Mas é dificílimo alguém notar e comentar ou mesmo levar em conta, todo esse trabalho duro de criação que o artista tem de passar, não importando qual será o resultado final da arte produzida. Trabalhar com a criação é muito mais complicado do que possa parecer. Até mesmo se tratando de um simples artigo como este.

Por isso, sempre que for assistir a um espetáculo, for ler um livro ou uma peça de teatro, tenha em mente o quão duro o artista teve que dar até chegar ao ponto final, mesmo que na sua opinião o resultado tenha sido uma droga. Lembre-se sempre que sem que se haja o trabalho duro de criação, não se terá nenhum produto artístico, nem bom, nem ruim. 

Curso de Teatro

Muitas pessoas têm muitas dúvidas na hora de escolher um curso de teatro e acabam sendo até mesmo enganadas por charlatões ou cursos sem nenhum profissionalismo que se vendem como "cursos para formar atores com DRT". Sim, eles fantasiam uma glória de diploma no DRT para que os iniciantes - que não fazem e menor idéia de que para obter um DRT basta pagar uma taxa no sindicato e fazer um teste - sejam iludidos pela esperança de ter esse "Diploma" em apenas um ano ou - pasmem - poucos meses.

É por essas e outras que criamos nosso diretório de cursos e escolas de teatro. Assim os proprietários das escolas podem cadastrá-las em nosso diretório com todas as informações necessárias e os alunos podem deixar comentários e dar notas para essas escolas, criando assim uma linha de recomendação de aluno para aluno.

Portanto, se você tem um escola de teatro, clique aqui para adicioná-la em nosso diretório

Se é um interessado em busca de um curso de teatro, clique aqui para procurar uma escola em sua cidade

(Lembrando que para adicionar uma escola de teatro você antes de ser registrado no site e/ou estar logado)

O Preço do Patrocínio

Se até morrer dá despesa, montar um espetáculo não é diferente. Mesmo colocando em prática a proposta de “um teatro pobre” defendida por Grotowski, renunciando ao cenário, palco e qualquer apetrecho que não seja o próprio ator e seu corpo como único suporte para teatralização, não tem jeito. Vai ser preciso botar a mão no bolso, assinar um cheque ou passar o cartão, para pagar alguma coisa. Até porque essa “pobreza” defendida por Grotowski trata-se de despojamento, não significa a pindaíba que a maioria sofredora que faz teatro está acostumada.

Infelizmente, qualquer alma mão-de-vaca tem de admitir que gastar é inevitável. As despesas possuem o seu caráter de imprevisibilidade. Elas surgem de tudo que é lado, quando menos se espera. E é isso que dá raiva! Em cena a atriz torceu o pé? Tem que levar pro pronto-socorro. Vai ser de graça? Mesmo levando a coitada numa cadeirinha feita no braço, depende. Se ela agüentar cinco meses para tirar uma radiografia pelo SUS e o diretor não precisar de uma personagem eternamente manca, tudo bem. Ou então a saída é buscar o dito patrocínio.

O patrocínio é visto como a solução providencial. E no fundo aí está uma grande verdade. Ele pode ser considerado o maná que salva a companhia ou grupo teatral de ficar a ver navios. É a grana, a bufunfa, o capim. Mas nem tudo são flores nem notas de cem reais. Há um lado obscuro do patrocínio. Ele cobra o seu preço. O problema é que submete o teor da peça à aprovação do patrocinador. Nada demais, à primeira vista. Muito natural, por sinal. Só banco o que gosto. Afinal, “eu tô pagaaaandoo!” E ninguém, acredito eu, é idiota o bastante para achar que alguém ou alguma empresa vai gastar seu dinheiro naquilo que possa lhe incomodar. Não, não vai. Nada de comprometer uma zelosa imagem, bancando uma peça “porra-louca” que possa desagradar a clientes ou amigos. Negócios são negócios, arte à parte. É obsceno, mas não é ilegal. Fazer o quê! A arte só tem seu real e imensurável valor na cabeça do artista mesmo. Mas uma questão precisa ser levantada. Peças teatrais interessantes, que possam suscitar alguma polêmica, tratando de questões indigestas, costumam pagar o pato pela sua ousadia, ficando somente no papel.

O cemitério das peças anônimas que foram abortadas por falta de patrocínio está repleto de asneiras, mas também de criatividade. Daí aquela impressão, que paira sobre nossas cabeças, de que o teatro está rançoso e todas as suas propaladas manifestações subversivas não surpreendem nem mesmo nossos avós, ter fundamento. O que está badalado e em cartaz parece tudo igual, com temas batidos e adaptações exaustivas dos clássicos. Nem as velhas apelações surtem mais efeito. Genitálias à mostra e palavrões a torto e a direito, que peninha!, mas já está tão démodé. Felizmente.

Para não se instalar o tédio, renovar é preciso. Só que a renovação carece muitas vezes de textos que geram polêmica e criam mal-estar, para abrir seus caminhos. Porém isso não é uma regra, o que no final das contas é ainda mais triste. Sem se destacar pela polêmica, mas empregando a valiosa criatividade, muitos dramaturgos não contribuem para enriquecer nosso cenário teatral, porque simplesmente têm o seu talento ignorado. Afinal, mais do que arte, o teatro se tornou um negócio. Produtores pouco ou nada comprometidos com a qualidade optam pelo caminho mais fácil e cômodo do sucesso. Montam somente peças estrangeiras para dar maior credibilidade e obter patrocínio. Até porque, quando dizem que lá fora algo é bom, aqui é difícil se contestar. Diarréia de gringo aqui é purê (torço para que algum filósofo esteja de plantão e registre estes meus sábios aforismos).

O fato é que desconfio, quando mega-empresas públicas ou privadas se auto-intitulam grandes patrocinadoras da “cultura”. Podem até gastar toneladas de dinheiro. Mas que cultura é essa de que estão falando? Cultura mesmo no sentido amplo da palavra ou uma cultura com restrições? Há uma grande tentação para quem gosta de pôr o cabresto de mostrar a “cultura” que apenas lhe interessa. A cultura para turista ver e o nativo adotar recheada de alienação. Será que existe espaço para arte cênica que contesta e denuncia? Uma arte que padece da censura que o patrocínio lhe cobra. Desconfie. Da próxima vez que for a um teatro, repare se não está vendo gato por lebre.

Pra que Negar?

Para ler esse artigo, é preciso uma trilha musical. Então, vejamos o que vai ser: um bolero, um axé, um pagode, uma lambada...? Não, nada disso. A trilha musical não deve ser uma trilha musical qualquer. Deve ser uma trilha musical de presença. E para dar aquele toque de “eu sou o dono da cocada preta”, imagine que está na reta final de uma maratona. Agora, coragem, rapaz. Nesse artigo, tudo é possível. Mesmo não estando em forma, eu quebro o teu galho. E, com a tua pança de chope, eu te coloco em primeiro lugar. Atrás dos teus passos, somente o vento. Cornetas estridentes, por favor. Está bem melhor. Não se atreva em terminar essa maratona ao som do Bonde do Tigrão. Tem de ser uma música encorajadora. Daquelas que tiram lágrima de pedra. Ou melhor ainda. Tiram lágrima de sogra em sepultamento de genro. Pois bem, foi fácil mentalizar essa cena com a música, não foi? Não??? Tudo bem, vamos tentar outra vez. Aproveita, que hoje eu estou com paciência. Onde estávamos mesmo? Sim, você correndo a poucos centímetros de se dar bem. A tal música sublime se mostrou tão difícil de encontrar, que já não é nem tão importante assim. Corre mesmo ao som de Florentina, do Tiririca. O que importa é que você está quase chegando lá, o público aplaudindo, a fama finalmente aparecendo e agora dá um break. Isso, pára tudo. Respira fundo. Concentração! Concentração! Beleza. Agora fica roxo, dá um ataque cardíaco e morre.

Com esse final generoso, espero que as prezadas leitoras compreendam por que botei minha cobaia no masculino. E se você esperava vencer uma maratona ridícula dessas, sinceramente me deixou decepcionado. Na verdade, isso não tem nada a ver com uma propaganda de banco insuportável que passava a cada cinco minutos na tv, durante as olimpíadas. E que eu detestava. Não, não tem. Af! Pra que negar? Tem, tem, sim. Mas finalmente as olimpíadas acabaram. E esse foi o jeitinho que encontrei de exorcizar aquela pieguice da minha cabeça. Matando o corredor com cara de pomba-lesa que ia rumo ao sucesso, só porque era cliente de um banco. No mais, essa questão de ter que encontrar a felicidade a torto e a direito, até abrindo conta bancária, é um tema muito interessante.

Existe uma ditadura da felicidade. A negação do sofrimento como parte inevitável da vida. O que gera mais infelicidade, pela frustração de não estar sempre feliz. Também pudera, ninguém agüenta o peso de um mundo cor-de-rosa, que é maquiado, para ser melhor digerido. E se você não acredita em mim, vou logo alertando. NÃO LEIA O TRECHO SEGUINTE DESTE ARTIGO!!!! Pena que não deu pra colocar as letras piscando. E o sinal de alerta, para quem tem o coração de manteiga, pudesse ser ainda mais chamativo. Mas infelizmente, você vai continuar lendo. Ah, vai sim! Sei que vai. A sua curiosidade é demais para se contentar apenas com os primeiros parágrafos. Ah, Humanidade bisbilhoteira! Não mesmo agüenta um suspense. É inevitável que você leia, não é? Só não vai dizer depois que eu não avisei.

A intenção aqui é questionar o conceito que temos sobre os outros, sobre nós mesmos e a sua influência na concepção de personagens. Nada muito aprofundado, já que hoje ainda tenho que fazer a barba. E esse questionamento pode ser um tanto, como é que vou dizer?, um tanto... desagradável. Muitos vivem numa bolha de idealismo. Se for o seu caso, vai ser perfeitamente compreensível não concordar comigo e desejar me conhecer de perto, para poder jogar um tijolo. Saiba que eu entenderia, até porque seria muito azar da minha parte, no meio de quase 200.000.000 de brasileiros, eu topar contigo na rua, você acabar me reconhecendo e ainda por cima ter um tijolo por perto dando bandeja.

O que se costuma seguir é a Lei do Menor Esforço. Quem está em pé senta. Quem pisa na lama bota um sapato. Quem não tem uma boa revista de fofoca lê esse artigo. E essa tendência é usada também para formularmos nossos pontos de vista. Geralmente as pessoas são classificadas em boas ou más, sem meios termos. É como ter uma listinha azul e outra negra em que botamos todo mundo. Ninguém fica fora delas. Por trás disso, há uma maneira maniqueísta de ver os outros. Uma maneira fácil e conveniente, que não requer o esforço e as descobertas nem sempre consoladoras da reflexão. Basta pôr logo um carimbo de bom ou perverso e pronto, a criatura foi taxada. Mas aí é que a porca torce o rabo. Não existe ser humano completamente bom ou mau. Existem sim, os que são muito bons e os muito maus. E que são uma minoria, já que provavelmente você é como eu. Integrante da maioria capaz de fazer suas boas ações e maldadezinhas básicas.

Sob a ótica maniqueísta, o mundo é mais pobre. Vira uma mera redundância. Maniqueísmo é a ação de rotular. Preconceitos encontram terreno fértil neste meio. O espírito humano é muito mais complexo. No teatro, os grandes dramas transcendem o maniqueísmo e apresentam personagens versáteis. Ricos em variados sentimentos, que transitam entre o lado luminoso e sombrio da alma. Aquilo que parece simples é exatamente o contrário. Um dramaturgo sabe da dificuldade de compor um personagem tocante. Aquele que vem a suscitar emoções fortes no espectador e torna-se inesquecível, sendo admirando ou detestado. E me pergunte por que. A resposta agora é fácil. O dramaturgo não consegue atribuir ao personagem uma emoção com verossimilhança, se não por ele, o dramaturgo, nunca foi sentida. Fala com propriedade do ódio quem já odiou intensamente. Do amor, quem já o teve aflorado dentro de si. E, por conseguinte, da dor, da alegria, da inveja, da solidariedade e dos diversos outros sentimentos que, para um bom observador, apresentam-se mesclados.

Um entrave para a elaboração de personagens marcantes é essa teimosia em sermos utópicos. Sim, somos utópicos incorrigíveis. Utópicos até o tutano. E mesmo jurando não ser, somos. Um dos mais nobres esforços do homem é a busca por um mundo melhor. Mas, convenhamos, existem mundos impossíveis de ser atingidos. Quer saber de um deles? O mundo de paz, amor e justiça é uma balela. E agora você deve ter ficado mesmo uma arara com essa minha afirmação pessimista, não foi? Que coisa horrorosa! Se tivesse acabo de almoçar, teria uma indigestão! Como um sujeito pode dizer uma coisa dessas?! Afinal, desde criancinha, a gente cresce perseguindo esse nobre ideal. E agora ele está sendo contestado. Meu castelo de convicções foi abalado e corre o perigo de desabar. Pois bem, agora me diz se não dá uma vontadezinha irresistível de dizer que estou cabalmente errado? Dá, não dá? Então, beleza. Esse artigo é mesmo democrático e você não precisa concordar comigo.

Um mundo de paz, amor e justiça não é possível, porque seria um mundo perfeito habitado por pessoas imperfeitas. Agora que você está sozinho, tête-à-tête comigo, confesse de uma vez por todas que não é aquela pessoa maravilhosa, que afirma ser, quando alguém lhe pede pra falar de si mesmo. “Ai, pessoal, eu sou tão amigo, companheiro, fofo, atencioso, compreensivo e...”. Af! Nessas horas, ao ouvir um comentário desses, eu juro que tenho vontade de vomitar. Onde foi parar o ciumento, o intolerante, o dono da verdade, o egoísta, etc, etc e etc? Está debaixo do tapete, não é mesmo? E nesse momento assoma algo medonho que a gente chama de “politicamente correto”. Um sério trava-olho para o dramaturgo.

O “politicamente correto” é um demérito para a Dramaturgia. Algo semelhante a uma deliciosa torta de óleo de rícino. Bonita por fora, mas com um conteúdo xexelento, que exclui aquilo que os mais recentes donos da verdade não acham adequado. Numa tentativa de impor um moralismo asséptico demais para natureza humana. O bom drama e o “politicamente correto” não se combinam. São como água e azeite, pimenta e rapadura ou Djavan e Tati Quebra Barraco. Na defesa, muitas vezes inconsciente de um mundo estereotipado, cai-se na armadilha da auto-censura. Personagens insossos, tão verdadeiros quanto uma nota de três reais, são talhados, apelando pro Maniqueísmo e abordando superficialmente a natureza humana, reduzida a extremos de bondade e maldade. Interessante abrir os olhos e ver algo a mais que o preto no branco. Uma diversidade de cores, que é fonte inesgotável de emoções, sentimentos e personalidades, que surpreendem e tocam o espectador. Vamos escancarar o que achamos bom, mas também o que elegemos condenável nos outros e em nós mesmos. Pra que negar? Assumir que não somos criaturas infalíveis não é fácil, pois acaba melindrando o orgulho. Porém é uma atitude libertadora que nos torna mais conscientes do que somos e pode nos levar não a um mundo perfeito, mas efetivamente a um mundo melhor.

A descentralização dos incentivos

Não é de hoje que essa questão dos incentivos culturais causa divergências. Cada vez mais tem ficado claro que esse método de incentivo que existe hoje em dia, está mais do que ultrapassado, pois sempre acaba beneficiando as pessoas que já estão na mídia, quando deveria contemplar justamente os que estão fora dela.

Não cabe aqui discutir a questão do talento do artista ou da importância e relevância do projeto, a questão é o método centralizador que acaba naturalmente selecionando os que têm mais mídia, e por conseguinte, dão maior visibilidade aos patrocinadores.

Os artistas dos grandes centros acabam se beneficiando em detrimento  dos artistas que moram em regiões mais afastadas. Ou será que não existe nenhum projeto que mereça um incentivo longe das capitais? O que acontece é que não é viável para que nenhuma empresa investir num projeto de um "Zé" qualquer. Qual retorno ele lhe traria? Mas a Lei não é para beneficiar o artista? Ou só os famosos é que são artistas de verdade?

Os próprios métodos de incentivos culturais lançados pelos governos, de certa forma, também são bem centralizadores e é claro, acabam beneficiando os artistas das grandes cidades. Mais uma vez, quero deixar claro aqui, que não se trata de uma questão de talento, que isso fique bem claro. A questão é a captação dos incentivos que acabou se desviando no caminho.

Acho que a regionalização poderia contribuir bastante para diminuir as desigualdades nesta questão. Digamos que o governo de um Estado ou até mesmo o Governo Federal lance um edital de incentivo, a subdivisão em microregiões, contemplaria projetos de todos os cantos e não só de um lugar, e por conseguinte, acabaria contemplando artistas que estão muito longe da mídia.

Pois é o que acaba acontecendo quando os editais centralizam a participação de projetos, aqueles das grandes cidades acabam levando vantagem, até mesmo porque, as condições de quem mora nos grandes centros são completamente diferentes das de quem mora no interior.

Mais uma vez, desconsiderando a questão do talento, vejo que a descentralização dos incentivos passa por começar a premiar projetos de artistas novos, que realmente precisam de incentivos para tocarem seus projetos, pois os artistas que já dispõem da mídia são capazes de agregar patrocinadores que os auxiliem em seus projetos, já aquele "Zé", acaba sempre sendo relegado a um segundo ou terceiro plano e tendo que arcar com suas próprias forças, os projetos que deseja montar.

O fato é que essa Lei de incentivos que está em vigor, acaba sempre premiando aquele que tem mais condições para tocar a sua arte, enquanto aqueles que realmente precisam de incentivos, têm de vender balinhas no sinal para tocarem seus projetos.