Artigos Diversos

Escrever é sempre um desafio

Quando resolvi trilhar o caminho das letras, sempre tive conselhos que me alertavam da necessidade que se tem de se escrever todo dia, mesmo que aquilo que se escreva não sirva para nada. Mas uma coisa ninguém me disse: o quanto é difícil escrever uma história após a outra. Escrever é mesmo um grande desafio.

Quando penso numa história é óbvio que o tema não será inédito, já não há assunto novo a ser abordado, apenas o ponto de vista de quem o aborda. Quem já não falou de amores impossíveis, por exemplo? Quantas histórias de bruxas, vampiros, ladrões, corrupção, angústias, de traição, de medo... E como conseguir contar uma nova história de um tema já tão batido?

É claro que a narrativa, o jeito de contar, a maneira como o autor desenvolve o tema são chaves importantes para tornar a história uma novidade. Mas, confesso que é sempre um grande desafio quando começo escrever uma nova história, mesmo porque, o perigo de se tornar repetitivo, ou o risco de cair na comodidade de trilhar a história por um caminho já consagrado, podem colocar por terra toda a história.

Mas, apesar de toda a dificuldade que é, poder se colocar frente a frente com o desafio de escrever uma nova história com um tema que todo mundo conhece, de uma maneira diferente, tenho que admitir, é estimulante. Quem escreve sabe muito bem do que estou falando.

Agora entendo o porque os mais experientes sempre aconselham quem quer se tornar um escritor, a escrever, escrever e escrever, todo dia, qualquer coisa. É essa disciplina desenvolvida dia após dia que vai dar os subsídios para enfrentar o desafio de estar sempre pronto a superar as dificuldades de se escrever uma nova história.

Bom, e como eu gosto muito de escrever e estou sempre pronto a novos desafios, estou começando mais um ano, com o desafio de escrever todos os domingos um novo artigo para ser publicado aqui no site, mesmo que nem sempre o artigo seja lá muito interessante, afinal de contas, não é sempre que a gente acerta, não é verdade?

Mas como é escrevendo que se aprende a escrever, vou seguindo pelo caminho das letras, traçando minhas linhas e enfrentando os desafios que vão sempre me aparecer.

TÉDIO TEDIOSO

Não há nada pior que o tédio. A palavra em si mesma causa tédio, um leve "muxoxo", se é que se escreve assim. Me causa tédio ir ao dicionário pesquisar a correta grafia. Vou ao teatro e olho sempre ao meu redor. Busco me distanciar do espetáculo para tentar captar o sanguinolento tédio atacando os espectadores. A coisa é tão tediosa que muitos aplaudem e riem por puro tédio. Pura obrigação! Nada mais causa mais nada! Ouvi dizer que o homem atual só reagia a estímulos externos. Agora nem isso. Tudo causa tédio. Causa tédio saber da morte de Isabella; causa tédio saber que o Brasil não consegue cuidar da Amazônia; causa tédio essa crise infernal; causa tédio saber que uma nova novela vem aí; causa tédio saber que amanhã iremos acordar e começar tudo de novo. E sobretudo causa tédio escrever e até mesmo ler esse artigo. O tédio é uma praga que devemos combater com o mais potente dos pesticidas. Talvez a criatividade e o trabalho e bons pensamentos dêem cabo do tédio. Penso constantemente que porra podemos fazer pelo teatro para que ele seja cada vez menos tedioso. Creio que será uma tarefa árdua e constantante, um duro exercício para toda a vida.Digo isso para mim mesmo, quando tenho um exercício prático da faculdade, quando trabalho com atores, quando trabalho como ator para alguém. O mundo corre com uma urgência urgentíssima! O teatro deve acompanhar esse ritmo. Claro, sabemos que teatro é uma arte diferente, é cênica, é ao vivo, é pulsante, seus elementos formadores são imensamente complexos, ali é tudo artesanal, é massa humana de modelar e que toma forma ao vivo aos olhos de todos, mas o tédio faz com que essa forma se torne disforme, derreta e vire um pastiche de si mesma. Algo podre no sentido ruim da coisa. Pois o podre interessa muito ao teatro. Mas a podridão do tédio, das pessoas olhando o relógio, olhando para os lados, esticando os músculos do pescoço não acotece nem mesmo num filminho de Sessão da Tarde! E o teatro não precisa disso, mas de espectadores sedentos, ávidos e atentos.

A arte precisa reagir!

Em um desses dias me peguei diante da TV assistindo ao jornal que me parece ser o mesmo a cada dia, parece que só mudam as datas, pois as notícias são sempre previsíveis: - Assalto, violência, tragédia, morte... E por ai vai. Nesse mesmo instante me veio uma reflexão a cerca da arte. Uma pergunta quase que instantânea se instalou na minha mente, e fico a perguntar a mim mesmo, que futuro pode ter um país cujo povo é bombardeado 24 horas por dia com o mesmo tipo de notícia torpe? Que tipo de adultos teremos daqui a dez, vinte ou trinta anos...? Perguntas por enquanto sem respostas, porém, uma certeza me vem. Mais do que nunca o povo precisa de arte! De todo tipo de arte, para combater essa lavagem cerebral que tem como único objetivo a disseminação do horror e do caos, como forma de atrofiar a mente humana...

Outro dia vi uma reportagem (de quase 20 minutos) que mostrava a vida de “um famoso traficante” dentro da cadeia (pois famoso a mídia o fez), vejam o absurdo! Então pensei, quantos e quantos artistas não batem às portas da TV´s, rádios e jornais todos os dias em busca de apoio para simplesmente divulgarem seus trabalhos e são sumariamente ignorados. Ou seja, temos uma imprensa que transforma bandidos em verdadeiras celebridades e se negam a divulgar coisas realmente interessantes, que possam de alguma forma contribuir para o crescimento e o desenvolvimento cultural da sociedade.

Diante deste sistema caótico que se mostra, penso que é preciso uma reação por parte da nossa arte! Para que a sociedade possa ver que o mundo não se restringe a este monstruoso quadro mostrado pela mídia oportunista e tendenciosa que temos. É preciso, no entanto que os artistas se unam para levarem sua arte ao maior número de pessoas possíveis. É preciso reagir! E reagir fazendo arte, que tem o poder de fazer as pessoas refletirem, pensarem, e assim, também reagirem.

O artista tem diante de si um grande desafio, e não pode se dar por vencido diante das dificuldades impostas pelo sistema... E isso se aplica a arte em todas as suas vertentes. Ao pequeno grupo de teatro que tem dificuldades em conseguir espaço para fazer seus ensaios, ao artista plástico que não consegue expor seu trabalho, ao escritor que não consegue publicar sua obra, ao músico que não consegue demonstrar seu trabalho, enfim...  É preciso reagir! E reagir é próprio do artista, daquele que traz dentro de si não o desejo doentio pela fama efêmera a qualquer custo, mas aquele que traz no peito o amor incomensurável pela arte que faz. O artista que se sente pago pelo simples fato de poder fazer e mostrar sua arte. É preciso vencer as barreiras, pensar diferente, criar novas formas, novos meios de disseminar a arte neste país que adoece a cada jornal, a cada novela, a cada BBB... É preciso ir na contramão das tendências e fazer valer a luta dos mártires do passado que se entregaram por um novo dia.

Mais do que nunca o mundo precisa do artista, do verdadeiro artista. Da arte, da verdadeira arte. Mais do que nunca, a arte precisa reagir!

De quatro no ato

Sou aluno do curso de Direção Teatral e faço parte da equipe que organiza o Projeto Ato de 4 da Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, em Salvador. É um projeto de extensão criado por alunos e consta de quatro cenas independentes de 15 minutos cada e acontece todas as segundas feiras. Fiquei curioso em saber como tudo aquilo se processa. Participei duas vezes do Ato: a primeira quando não era da Escola, em 2003, com uma cena de Hamlet (a cena dos atores) de Shakespeare; a segunda em 2006 com uma cena de O Balcão, do francês Jean Genet. Eu via aquela correria, atrasos, descontentamentos, queixas e críticas as mais diversas. Sempre achei a Sala 5 (local onde acontece o projeto) muito atraente e charmosa. Ter um espaço que comporta 70 pessoas com um espaço livre para se fazer qualquer coisa, alguns refletores, aparelho de som e público garantido e tudo isso de graça! E mais: alguns apresentaram (e apresentam) peças inteiras, que muitas vezes são grandes realizações e fazem sucesso fora da Escola sem pagar pauta! Sei que muitos se queixam da sujeira, do ar-condicionado que quebra muitas vezes, da falta de manutenção. Mas nunca ouvi alguém propor um mutirão para limpar o local, dar uma manutenção, uma cota de doação material e do próprio suor! Isso pode ter ocorrido mas eu nunca vi. Longe de mim tirar conclusões precipitadas ou julgamentos errôneos. Mas voltando ao Ato de 4, creio que o projeto não carece de nada.

Os alunos atores e principalmente diretores é que devem pensar o teatro de forma mais ambiciosa e ousada em todas as suas possibilidades enquanto ciência e instrumento político de modificação do ser humano e da sociedade. Será que o "politicamente correto" em seu mal sentido está tomando conta de tudo? A juventude tem medo de quê? O que se quer discutir? atualmente? O que você gostaria de dizer para a sua comunidade (comunidade real, do bairro, da cidade e da própria Escola de Teatro, não as comunidades virtuais e tolas em sua maioria do famigerado Orkut)? E a pura e simples diversão, item essencial ao teatro, segundo os grandes gênios dessa arte milenar? E o compromisso e a seriedade com as coisas? Não se pode fazer teatro como você assiste TV na sala de sua casa, inteiramente a vontade! Ou pode? Alguns, da turma da relativização das coisas, dirão que pode, que tudo é relativo. Mas relativizar demais não é ficar sobre o muro, carecer de opinião, vestir alguma camisa, defender uma idéia? Ou será que ficar em cima do muro é defender uma idéia?

O que tenho visto é uma mornidão excessiva! Sempre a velha tentativa de acertar, mas sem levar em consideração a platéia. O público é o principal alvo de todo e qualquer espetáculo de teatro. Sem ele não existe teatro, apenas uma punheta egoísta e solipsista. Aquele espaço da Sala 5 é dos alunos, e o Ato de 4 um projeto de experimentação da inúmeras possibilidade contidas na cena. E a velha e boa dramaturgia? Jaz esquecida em algum lugar? E a nova dramaturgia, tripartida, sem fórmulas e na qual tudo pode naquele que a fortalece, será que já perdeu o gás? Creio que não! Todos em busca de fórmulas prontas. Ninguém quer suar a camisa com pesquisa, ensaios exaustivos, um olhar profundo sobre a sociedade que nos cerca e sobre o público da Escola, da Sala 5 e do Ato de 4! Vi muita coisa bacana no Ato de 4; também vi muita cena equivocada. Mas isso faz parte do projeto que se quer experimental, não para projetos acabados e obras primas! Um dos maiores equívocos é fazer uma cena legal, ser aplaudido (a) e pensar que é a Sarah Benhardt ou o Paulo Autran. Até porque eles já morreram; e o Paulo Autran não pensava que era o Paaaaaulo Autran! Façamos cenas de nossas montagens no Ato, como forma de teste, de ensaio aberto. Não é assim que fa o Peter Brook, um dos maiores encenadores que o teatro já viu? Quantos professores inscreveram cenas no projeto? É proibido? Gritemos aos diretores de fora da Escola. Que tal colocar uma cena no Ato? Enobrecer a proposta com o brilho de seu nome e de sua história? Vamos perguntar se a Aninha Franco (dramaturga baiana)não gostaria de escrever uma cena para alguém apresentar no Ato? Vamos indagar o Fernando Guerreiro (diretor de teatro) se ele não gostaria de disponibilizar uma cena de suas deliciosas comédias para o Ato? E a Companhia de Teatro dos Novos (grupo residente do Teatro Vila Velha, de Salvador)? Não poderiam inscrever uma cena? Que tal um mês inteirinho com cenas do módulo I (cada semestre da Escola de Teatro da UFBA é dividido em módulos) de direção e interpretação como forma de avaliação final sob a coordenação do Marfuz (diretor de teatro e professor doutor)e da Iami Rebouças (professora, atriz e mestra em teatro)?

Será que estou sendo ingênuo? Ou o nosso tempo é mesmo o da indiferença e da exacerbada individualidade? Ao invés de apenas criticar, façamos algo para erguer, resgatar, melhorar, desatar os nós da preguiça e da ignorância mental, artística e cidadã.

Trocando sonhos por objetivos

Mais um ano está chegando ao fim e você passou sonhando em entrar para um grupo de teatro, sonhando em produzir um espetáculo, sonhando, sonhando e sonhando e colocando dificuldade em tudo. Só que tudo é possível, por mais impossível que possa parecer, quando se troca sonhos por objetivos, as coisas acontecem.

Houve um tempo que meu maior sonho era poder ganhar dinheiro escrevendo e então eu ficava lá, sonhando, sonhando e sonhando, até o dia em que decidi trocar o sonho pelo objetivo de me tornar um escritor de fato. E hoje, mesmo que ainda não seja um escritor de livros editados e nem consiga ganhar dinheiro com o que escrevo, o objetivo de levar meus textos de teatro, meus artigos e minhas idéias e opiniões ao crivo de outras pessoas, já vem sendo realizado a contento.

Sei que o objetivo de me tornar um escritor não é nada fácil e demanda tempo e a força de um trabalho contínuo e que cada vez que esmoreço, acabo retrocedendo um pouco no caminho que já percorri, por isso, que á cada dia, preciso renovar meus objetivos, pois o tempo de sonhar já ficou para trás.

É certo que nada cai do céu e quem acha que pode ficar sonhando e esperando que alguém venha lhe guindar para tornar realidade àquilo que tanto sonha, pode passar uma vida sonhando e quando pensar em buscar aquilo que tanto sonhou, pode ter se tornado um pouco tarde demais.

Então, já que estamos terminando mais um ano e todo fim de ano marca um tempo de reavaliação e de recomeço, é chegada á hora de trazer seus sonhos ao plano da realidade e torná-los um objetivo de vida para o ano que começa. E muito mais do que acreditar que pode dar certo, ir ao encontro do que se quer, pode tornar as coisas muito mais fáceis.

Bem, acho que já vou ficando por aqui, pois mais um ano consegui atingir meu objetivo de escrever religiosamente todo domingo, um artigo novo, para ser publicado aqui no site do “Oficina”. E como o tempo é de reavaliação e recomeço, preciso dar uma paradinha para realinhar meus objetivos para o ano que logo começa. E aproveito este meu último artigo do ano para agradecer todos aqueles que por mais um ano prestigiaram os meus artigos e esperando por todos novamente no ano que vem, torcendo para que cada um possa tornar os seus sonhos em objetivos para serem alcançados no ano novo.

Um feliz natal e um ano novo com muita arte.

O fantasma do fracasso

Quando se pensa na vida de um artista, só se enxerga o lado do glamour, do estrelato, dificilmente as pessoas pensam, que assim como em qualquer profissão, a profissão do artista, seja ele, cantor, ator, bailarino, está sujeita a altos e baixos e que o fantasma do fracasso está sempre à espreita.

 

Vocês podem perguntar: Mas que pessimismo é esse? Ninguém pensa em ser alguma coisa, achando que vai fracassar. Eu sei, mas a questão não é pensar no fracasso. A questão é que se deve ter sempre em mente, que ele está ali, ao seu lado, pronto a lhe dar o pote, assim que você lhe der a oportunidade.

 

É claro que têm pessoas que estão fadadas ao fracasso. Exemplo disso são as pessoas que se submetem à fama a qualquer preço. Na mesma velocidade que alcançam status de celebridades são jogadas no limbo do esquecimento. E muitas delas, não agüentam a pressão.

 

Como toda profissão, a de artista tem e deve ser levada a sério. Esqueça essa coisa de fama, o seu trabalho contínuo e consistente, o levará até ela. E é esse o antídoto para afastar o fantasma do fracasso, pois quem tem um trabalho de fato, tem sempre mais facilidade de alcançar o espaço.

 

Também é sabido que isso não é garantia de nada. Tem hora que você realiza um espetáculo e ele simplesmente não acontece. Não é porque o seu projeto não vingou, que sua carreira é um fracasso total. Toda história bem solidificada deixa marcas, que são capazes de inibir qualquer tentativa de aproximação deste mal feitor do fantasma do fracasso.

 

Por isso, não se perca em devaneios, achando que quando você for um artista famoso as coisas melhorarão. Esteja certo que as coisas tendem a piorar muito, pois a pressão sob aquilo que você já conquistou lhe obrigará a se manter sempre a frente do que seja considerado o normal.

 

É meu amigo, a vida de artista realmente não é nenhum mar de rosas, por de trás de toda badalação, tem muita ralação para afastar de sua sombra, o tal do fantasma do fracasso. Mas a vida é assim mesmo, aconteceu com todo profissio-nal. Só que aqueles que vigiam o fantasma do fracasso de perto, têm mais chance de alcançarem um sucesso duradouro.