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Teatro: Crítica: Humor de A a Z

Alfabeta leva público a gargalhadas na Gávea

 

André Cruz

 

Em cartaz no alternativo do alternativo, às 23h no Teatro Vannucci, o espetáculo começou com 20 minutos de atraso, obrigando sua figura principal (a Professora) a nos conquistar nos 5 segundos de espetáculo. Alfabeta levantou a platéia com muita competência e talento, interagindo com o público e convencendo-os que o bom humor é o melhor remédio.

 

Humor de A a Z é formada por quadros curtos e rápidos que satirizam o comportamento humano, mas com um diferencial das comédias em cartaz no trecho Rio/SP, possui caráter estritamente “Motivacional”. Levando o público através de um Curso de Humor a reflexões sobre o seu cotidiano. Mostrando de forma irreverente e sutil situações vividas no dia-a-dia de pessoas de diferentes classes sociais. Finalizando com receitas para se manter o bom-humor. Gargalhadas, dor na barriga de tanto rir. No palco, Marcos Crazú vive Alfabeta, uma divertida “Professora de Humor”, com texto inteligente e muito engraçado, Sidnei Oliveira acertou ao buscar o bom-humor como referência.

 

Além do carro chefe “Alfabeta” o público se delicia através de outros personagens como Paulinho de Japeri (um adolescente gay que adora o subúrbio carioca), Zulmira (uma vendedora de quentinhas), Chico (nordestino que sonha em ser o ídolo do Brasil), e Claudete (uma agente de saúde comunitária). Marcos Crazú consegue passar credibilidade em todos personagens, faz lembrar Marco “Nanini e Ney Latorraca em Irma Vap” com tanta versatilidade e cumplicidade com o espectador.

 

Márcio Vieira, dirige com competência o espetáculo, e acerta ao usar contrarregras “palhaços” como pano de fundo nas mudanças de roupas do único ator do espetáculo. O cenário de Leonardo Batista é composto de um quadro negro com letras embaralhadas que cumpre bem sua função durante o “Curso Humor de A a Z. O figurino de Jerry Fernando foi uma grande sacada.Fez de Alfabeta uma Dercy Gonçalves da Baixada Fluminense Carioca.Nos demais personagens brincou com o colorido deixando-os atraentes e com requintes de uma mega produção”.

 

É seguramente uma grande sacada montar “Humor de A a Z”, o gênero de espetáculo “entretenimento” que é muito explorado no Rio, tem força para ser a comédia do verão carioca por seu diferencial inteligente em deixar claro que “a felicidade está nas coisas simples da vida”, “a felicidade está no autoconhecimento e na maneira como nos relacionamos com o mundo”.Humor de A a Z nos leva a várias conclusões, uma delas é de que o carioca é tão feliz quanto se imagina e que a felicidade depende mais das relações que estabelecemos e menos do quanto temos na conta bancária para gastar.E como a própria Alfabeta fala: “o bom humor não custa nada e compra tudo”.

 

A ultima palavra fica por conta do espectador que não poupou aplausos, aplausos e vários aplausos! E não era estréia! Não era platéia de amigos! Apenas espectadores que saiam do teatro com a certeza de que o besteirol tem força quando é bem feito com talento e competência.

 

 

Serviço:

Teatro Vannucci

Sex e Sáb às 23h

Ingressos: R$ 40 (sex) e R$ 50 (sáb)

Informações: www.humordeaaz.com.br

 

Marginal ou Popular?

O teatro sempre foi considerado uma arte marginal. Um ambiente freqüentado por desocupados, prostitutas, homossexuais e ébrios boêmios, onde, aos filhos de uma sociedade, não lhes era permitido freqüentar. E, por muito tempo, fazer parte de um grupo de teatro, dava este rótulo para quem o fazia.

Passava longe das cabeças de uma sociedade pequeno burguesa, que teatro fosse algo maior, algo que engrandecesse o ser humano como pessoa, e que a arte de interpretar podia ser algo desfrutada por todos. E na esteira deste rótulo de marginalidade, o teatro seguiu e, resistente como ele só, aos poucos, foi vencendo as barreiras do preconceito.

Hoje em dia, é certo que, muito por conta do sucesso das telenovelas, essa imagem do teatro deixou de ser assim, tão marginal, pois, interessados no sucesso como futuras celebridades de uma próxima novela, pais incentivam os seus filhos a freqüentarem o ambiente do teatro, dando-lhe então, um caráter cada vez mais popular.

Mas, a essência marginal permanece nos arredores de alguns poucos grupos, que ainda preferem que seu teatro seja reconhecido pela sociedade como uma arte marginal, mesmo que entre os seus freqüentadores, não circulem mais, nenhum dos estereótipos de outrora, pois a idéia de fazer um teatro popular acaba indo de encontro a alguma de suas convicções.

Pontos de vista diferentes para uma mesma arte, marginal ou popular, o que  deve sim ser deixado de lado, é essa coisa preconceituosa de que teatro de verdade tem que ser marginal. A arte de interpretar tem que ser o “x” da questão, a forma pela qual cada um vai se dispor a passar sua mensagem, pouco importa.

Nos tempos de agora, burgueses e marginais, cada qual sabe muito bem o quão o teatro é importante como instrumento enriquecedor da alma humana, e não cabe tratar com desdém, nem o lado “A”, nem o lado “B” de uma mesma arte, pois já bastou todo o preconceito enfrentado por aqueles que encararam os olhares tortos de uma sociedade, para fazerem do teatro, uma arte realmente popular, na verdadeira concepção da palavra.

O teatro é a arte do povo, seja ele marginal ou não, pois, em cima do palco, pouco importa a origem do ator.

A polêmica dos incentivos

Vira e mexe surgi na mídia uma nova polêmica em relação a lei de incentivos para custear projetos culturais, engraçado que essa celeuma toda acontece porque artistas consagrados fazem uso da lei para captar recursos e, assim, poder tocar os seus projetos. A polêmica da vez é o ex-ministro da cultura Gilberto Gil. Mas será que ele e os outros tem culpa?

 

Não estou aqui para defender o ex-ministro, nem o artista “a” e nem o artista “b”, estou apenas questionando a legitimidade que tais artistas consagrados tem em se beneficiar da lei para captação de recursos. É óbvio, que tais artistas, tem facilidades em conseguir patrocínios para executar os seus projetos, mas se tem a lei, que mal há em usá-la?

 

Crucificam o direito legítimo que qualquer artista tem, (pois na lei não tem nada dizendo que artista consagrado está fora deste processo) em se beneficiar da lei que permite levantar recursos através de incentivos, quando a questão da polêmica se reduz a lei, que não beneficia quem de fato deveria beneficiar. E quem seria? Os artistas que não são conhecidos, os artistas de circo, de teatro de rua, que lutam para apresentar sua arte ao público.

 

Que a cultura precisa ser fomentada, isso não se discute, mas sair toda hora achincalhando artista “a” ou artista “b” porque ele se valeu da lei, não acho nada justo. Quem conhece o fazer arte de perto, sabe muito bem o quanto custa produzir um espetáculo teatral, fazer um filme, ou até mesmo, entrando do âmago da celeuma, preparar um show musical.

 

O problema é que os grandes patrocinadores, inclusive as empresas do governo, não se mostram nada interessados em custear projetos de artistas desconhecidos e a burocracia que ainda trava as rodas do crescimento do segmento cultural, dificulta ainda mais.

 

Parece que existe um pequeno sinal no fim do túnel com a edição da nova lei de incentivos, que procurou olhar melhor para os setores menos favorecidos da cultura, eu, não boto muito fé, vamos esperar. Só acho que a polêmica vai continuar, com certeza, pois a lei é de incentivos a projetos culturais, isso subentende que qualquer artista vai poder se beneficiar dela, seja ele, Caetano Veloso, Gilberto Gil, ou o Zé da esquina.

Mostra Cena Breve de Curitiba com inscrições abertas

5ª MOSTRA CENA BREVE CURITIBA ABRE INSCRIÇÕES

  

    A 5ª MOSTRA CENA BREVE CURITIBA – a linguagem dos grupos de teatro está com as inscrições abertas até 23 de agosto para grupos interessados em mostrar suas pesquisas estéticas em cenas de até 15 minutos.

    A realização da mostra será de 18 a 27 de novembro no Teatro da CAIXA de Curitiba, incluindo uma pequena temporada no Teatro da Praça, em Araucária.

    A Mostra vem se consolidando como um espaço de troca e experimentação entre os grupos e principalmente com o público que tem a oportunidade de conhecer a diversidade de propostas estéticas apresentadas num formato de cenas curtas, possibilitando em uma única noite ter contato com três concepções teatrais completamente diversas.

    A Mostra é uma realização da CiaSenhas de Teatro. Mais informações, regulamento e ficha de inscrição no site www.ciasenhas.art.br.

 

SERVIÇO:

5ª MOSTRA CENA BREVE CURITIBA

Inscrições de 24 de julho a 23 de agosto

Pelo site: www.ciasenhas.art.br

Informações: 3222-0355/ 9602-7651

A arte de ser um fingidor

Muitos passam anos mentindo sobre si mesmo. Outros passam anos tentando ser o que não são e outros tantos passam anos achando que enganam alguém e não convencem nem a si mesmo. O ser humano vive sempre se enganado, mas só o ator sabe a arte de ser um fingidor.

Só o ator sabe sentir a dor que não sente, sabe rir a gargalhada que não quer dar, sabe ser quem não é e dar a impressão de que é aquele que não é. Só o ator sabe chorar sem sofrer de verdade a sua dor e sabe sofrer por algo como se a dor fosse toda sua.

É assim, o ator é acima de tudo um verdadeiro filtro de sentimentos, capaz de emprestar toda a sua emoção para contar as várias facetas de uma mesma história. Só o ator é capaz de mostrar como pode ser possível, um bandido ter suas razões para o que faz e ao mesmo tempo, mostrar que um mocinho nem sempre é só mocinho. O ator é alguém capaz de esquecer de quem se é para dar lugar à alguém que pouco se conhece.

Pena que alguns acham que seja assim tão simples ser um fingidor e se aventuram em fazer aquilo para o qual não estão preparados. Não é porque se é um fingidor, que se finge simplesmente. A arte de fingir vai muito além do fazer de conta. É fingir que sente aquilo que não se sente, mas sentindo. Isso, só o ator, com a experiência que vai adquirindo durante a sua estrada, é capaz.

E quando se vê um espetáculo onde o ator esbanja a arte de ser um fingidor, aí sim a gente se deixa levar pela história. E ri, se emociona, compartilha cada ação e cada reação do que se vê em cena e sai de alma lavada, certos de que somos tudo aquilo que acabamos de ver.

Felizes aqueles atores que dominam a arte de ser um fingidor, que não poupam esforços para nos convencer de algo que a gente sabe que não é verdade, mas sai convencido de que é. Que nos hipnotiza e que nos conquista com o seu talento de ser um grande fingidor.

Ainda bem que o ser humano pode contar com um fingidor para lhe mostrar o quanto se é patético e boçal, o quanto se é ninguém, o quanto se é mortal, o quanto fingimos ser aquilo que não somos e o quanto queremos viver aquilo que não podemos. Ave, atores com o dom da arte de ser um fingidor, reverencio aqui, a cada um de vocês.

Eu quero o papel principal

Muitos que nem bem começaram a conhecer como se dá o “fazer teatral”, e nem sabem direito o que é interpretar uma personagem, iludidos com a pretensão de figurar como astros das telenovelas, já chegam certos que farão o papel principal da peça.

É sempre isso, que invariavelmente acontece, quando algumas pessoas que querem fazer teatro vão em busca de cursos ou grupos teatrais. Chegam se achando os melhores, que fazem e acontecem, mas quando ficam sabendo que não vão fazer o papel principal, a “brincadeira” acaba.

Acho que a confusão está justamente aí: “brincadeira”. Muitos vão parar no teatro por pura curtição. Pra fazer pose de culto e intelectual, pra se juntar a uma turma legal, pra fazer amigos, pra se libertar, são poucos que realmente encaram o sacrifício que é, o “fazer teatro”. Tem gente que não agüenta nem os ritmos de ensaios. Como pode achar que é ator?

O que precisa ficar claro também, é que teatro além dos muros do colégio, é muito diferente. O Teatro feito nas escolas tem um caráter muito mais pedagógico do que artístico, e ás vezes até pode ter um tom de brincadeira. Já quando se decide integrar um grupo de teatro, deve-se entender logo de início, que o papel principal é o que menos importa.

O que interessa é que quando se decide entrar para a “turma do teatro”, deve-se ter a consciência de que realmente se quer ser um ator e, se dedicar a isso, até mesmo se tiver que ficar nas coxias como contra-regra, ou ajudando nas trocas de figurinos. É preciso, antes de reivindicar o papel principal, ter a plena consciência que teatro é uma arte de grupo

O teatro sempre vai estar de braços abertos, esperando todos aqueles que vão procurá-lo, dispostos a integrar e abraçar essa arte como uma profissão, que por vezes, é quase um sacerdócio, por isso, se realmente é isso que você quer, esqueça essa história de fazer o papel principal logo de cara, quando se vive o teatro de verdade, qualquer papel que se faça, é e será o papel principal.